domingo, 25 de agosto de 2024

MEMÓRIA ORAL (309)


PORQUE AMO ESTE MEU AMIGO, CARIOCA, O LIVREIRO DA FEIRA
Escolhi uns livrinhos para comprar hoje na banca do Carioca, o livreiro da Feira do Rolo e de um deles, meus comentários. "A Guerra Conjugal", do curitibano Dalton Trevisan é reralmente uma de suas obras mais instigantes. Escolhi este, primeiro pela promoção de hoje, dia de chuva, quando o livreiro não traz seus filés - mas este não seria um? - e promove promoção, de 3 por R$ 10. Impossível a parada. Essa é uma edição da Record, com essa linda capa a demonstrar a legenda da contra-capa: "As mil e uma batalhas da minha, da tua, da nossa ilíada doméstica".

 Por si só, a sequência de fotos, tiradas no começo século passado, em forma de cartões postais, chama a atenção. Chamou a do Carioca. Ele, como se sabe, ao comprar livros, antes de trazê-los para revenda, limpa um por um e me dizia: "Neste parei pelas fotos. Não conheço o autor, mas fui ler, depois de seguir a sequência das fotos. Era um casal sendo conduzido para a cama. Gostei, são contos curtos e me fez rir muito". Pronto, era o que me bastava. Ele, o livreiro que lê - algo também raro hoje em dia -, se interessou pela capa e seguiu leitura adentro. Daí, a partír disso, estabelecemos uma conversação que poderia - e deveria - continuar por longo tempo, mas ele hojeestava agitado e vendendo mais do que em domingos anteriores e eu, fazendo campanha para meu candidato a vereador, Claudio Lago, que presenciou parte da prosopopéia e só não ficou com livro para leitura, pois nessa curta campanha, sua vabeça gira mais do que pião na mão de menino. 

Fico mais do que contente quando me deparo com histórias deste naipe e no caso do CArioca, elas se repetem a cada domingo. Sua banca ali defronte a Associação dos Aposentados é um lugar único, que deveria ser preservado e tombado como bem imaterial bauruense.

O QUE VEM A SER FEIRAR NUM DOMINGO, QUALQUER DOMINGO, LÁ PELOS LADOS DA FEIRA DO ROLO
Enfim, o que me leva para a tal da Ferira do Rolo todo domingo? O principal motivo é sempre o mesmo, ver e rever pessoas, conversar e desta forma, trombando e sendo trombado, vivendo intensamente os momentos, que só se repetirão no domingo seguinte. Tudo ali é único, talvez por causa disto, costumo repetir para quem me dê um pouco de atenção, ser ali o lugar mais democrático dentro desta insólita Bauru. Passo e vivencio embates mil durante a semana e para estravazar tudo, tentar recolocar tudo no seu devido lugar, preciso sempre de uma compensação, daí entra a inda para feira, mais precisamente na do Rolo, onde permaneço a maior parte do tempo. Saio do meu mundinho vivenciado a semana inteira e adentro este mundão de imensas possibilidades, do quel não consigo - e nem quero - mais me separar. Se querem me ver triste, me peçam para permanecer em casa numa manhã dominical, abdicando de descer pra feirar. Pronto, meu dia estará problematizado.

Desta feita, o faço como sempre para essa reenergização e depois, para junto de meu dileto amigo Claudio Lago, neste momento concorrendo para uma das 21 vagas de vereador em Bauru e eu, o ajudando no que posso. Ciente do quanto ele se faz necessário estar por lá, para não deixar aquela Casa de Leis desandar de uma vez, percorro com eles todos os lugares possíveis e imagináveis. E na manhã de domingo, como eu e ele já fazemos a algum tempo, feiramos. Ele já é bem conhecido por lá. Marcamos de nos encontrar logo cedo e nem preciso dizer do lugar, pois ele bem sabe onde me encontrar. Estava, como sempre, fuçando livros na Banca do Carioca. Ele bem que tentou me retirar de lá para circularmos juntos, o que demorou um bocadinho de tempo para acontecer.

Por ali mesmo, ali paradinho, os reencontros são muitos e se permacesse ali paradinho, vendo as pessoas pararem e a circular defronte a banca já seria suficiente para ganharmos o dia. Até o amigo Branco, artesão e funcionário público municipal em Arealva passou por lá. Vem pra feira procurar peças de decoração e desta feita deixou sua esposa num evento religioso, com hora marcada para ir buscá-la, permanecendo todo o tempo mergulhado nas entranhas do lugar. Trombamos e colocamos as conversas em dia. Estamos juntos num projeto a contar algo da deniminação "Cidade das Águas", mas junto do Lago, revivemos algo de como nos conhecemos, mais de 40 anos atrás, já vivenciando algo petista, ele lá e nós do lado de cá.

Quem nos aborda numa curva da feira foi o Marco Ali, que dois anos atrás esteve com o pessoal do bloco do Tomate, produzindo o som pro bloco do Tomate descer a Batista. Ele, assim como nós, gosta de acordar cedo domingo e vir por aqui. Nos parou para contar do CRAS, onde atua hoje na Prefeitura, locado no distrito rural de Tibiriçá e de um belo projeto social envolvendo adolescentes do distrito. Isso tudo rendeu uma boa conversa, ladeada pelo amigo vascaíno, um baita negão, quem nunca lembro o nome, nordestino, que por uns anos morou no rio, em Alcântara e sempre que o abordo, me abraça sorridente, feliz com a vida, pois depois de rodar o país, diz não existir lugarmelhor do que o encontrado aqui. Neste domingo nos apresentou outros donos de barracas no Rolo e armamos juntos, um furdunço bem animado ali no centro de convergência do lugar, a esquina mais agitada do lugar, a encruzilhada da Gustavo com a Julio Prestes.

Na barraca da Andréia, o suco de laranja natural e sempre uma conversinha pra lá de política. Hoje, ela também quer ser vereadora, estava acabrunhada, quando nos deparamos com a Camys Fernandes e a fizemos descer o capuz do agasalho, soltando os cabelos e sorrindo pro mundo. Tristeza, algo que todos podem possui dentro de si, tem que ser deixado pra depois da feira. Só de ver a Andréia sorrindo novamente já foi pra ganhar o dia, mas tinha mais. Sempre tem muito mais na feira, algo incontornável em cada novo passo naquele lugar mais que único. Quem acompanhava a mim e Claudio Lago eram mais dois do metiê petista, Alexandre Gasparotti Nunes e Bruno Eloy, descendo e subindo a feira. Na curva da ruas Rio Branco, outro de porte inquestionável para o lugar, Montinegro Monti, baita batalhador e sofredor, pois ouve diariamente as pisadas na bola - que são constantes - do Pittolli na bestialidader que se transformou a Jovem Auri-Verde, só para ajudar nas denúncias de suas irregeularidades. Não temcomo não ir dar um fraterno abraço nele todos os domingos.

Depois vieram outros, muito mais, como os irmãos, um nos Correios, outro morador de Rio Claro, filhos do maior vendedor de amendoim do Noroeste, herdeiros da receita e com espírito libertário. Finalizando a ronda com uma parada para comer uma contracoxa de frango, feita pelos Pequeno's Bar e finalizando tudo com o casal, o artesão Nelson Justino e sua linda esposa, Aparecida de Fátima, porém, estes por tudo o que representa Nelson para mim, merecedor de um texto à parte, só para ele. Assim começo sempre meu domingo e circulando com Claudio Lago, fazendo a ronda, maravilhando nossos domingos. Saímos de lá iluminados para tudo o mais que se apresentava num frio domingo, quente por dentro e pelas andanças e reencontros propiciados.

JUSTINO E APARECIDA, TORNARAM A FEIRA MAIS ALEGRE
Nelson Justino é conhecido em toda Bauru pelo seu trabalho como artesão em madeira. Entalha, corta, recorta, cola e monta réplicas de ônibus, caminhões e carros diversos, vendendo-os em praças públicas. Toda quarta está na Feira do Vitória Régia. Faz isso há muitas décadas, tendo também viajado para exposições variadas por aí. 

Vive de seu árduo trabalho e neste domingo, desceu e subiu a feira da Gustavo abraçadinho de sua esposa, Aparecida de Fátima. Pela simpatia irradiada pelo casal, algo mais que os cumprimentos de praxe. Paramos para uma conversa e ela, muito sorridente, diz ter sido ele, 40 e tantos anos de casadoso motivador de ter vencido a depressão, pois um escorado noutro seguem juntos, vencendo todos os obstáculos da vida. Juntos ali na feira representavam, além da bela declaração de amor, algo singular, quando abraçados no meio do furdunço, descem lá do alto do Parque Vista Alegre, onde moram, só para ocasiões mais que especiais, como a deste domingo, quando ao serem vistos, despertam algo singular nos que o rodeiam, a vontade de ir conhecê-los e ouvir suas histórias. 

Justino é meu velho comnhecido, já escrevi dele em outras oportunidades e neste domingo revi sua companheira de vida, me certificando de que, não existe tristeza e depressão quando se tem alguém do lado nos elevando pras alturas. O casal iluminou a movimentação deste domingo na feira da Gustavo.

No meio de tantas histórias de vida eu adoro navegar...

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