QUANDO DOIS DINOSSAUROS SE ENCONTRAMSempre me dei muito bem com este tipo de dinossauros. Não posso afirmar categoricamente estar essa espécie em extinção, pois vejo muitos iguais a ele ainda circulando pela aí e aprontando das suas. Estes aqui, militância comprovada de algumas décadas, estão nas ruas e lutas desde que me conheço por gente. Pode ver pra crer, fazer o teste São Tomé e com certeza a resposta será a mesma, gente de responsa, lutadores das causas sociais e com firme posicionamento de uma vida. São destes que, a partir do momento quando optaram por ingressar nessa atividade, a envolvê-los dos pés à cabeça, dela não mais sairão. Está escrito na fisionomia, está certificado em seus currículos, a opção pela defesa intransigente dos trabalhadores, onde estes estiverem.
Na tarde desta quinta, 19/09, sem que fosse preciso marcar, ambos se encontraram por acaso num local de panfletagem, defronte a unidade da Paschoalotto das Nações Unidas, ali ao lado de onde um dia foi a Embratel. E quando Claudio Lago, digno representante do PT e Paulinho Pereira, digno representante do PSTU, ambos a dignificar a esquerda bauruense e brasileira se encontraram, não ocorreu choque algum e só e tão somente uma confraternização no meio da rua. Pararam tudo por alguns instantes e trocaram figurinhas, ou seja, colocaram as conversas em dia.
Gente como estes dois são o que existe de mais valoroso hoje na continuidade da luta empreendida nas entrenhas deste país, pois são destes poucos que nunca mudaram de lado, não fazem acordo com a parte contrária e sempre estão em algo mais do digno, algo sempre sem decepção. Não existe manifestação nesta cidade, na defesa de algo onde seja necessário a presença, onde com alguém como eles, o ato se fortalece, pois bem, tenham todos a certeza, lá estarão, Lago e Paulinho. Poderia citar outros tantos, porém, o motivo dessa escrevinhação foi o reencontro na beirada de uma calçada, destes e o lugar não poderia ser outro, uma panfletagem política, na defesa do que sempre estiveram envolvidos. Gente assim, como estes dois são a cara da resistência política ideológica nesta cidade. E tenho dito. Orgulho incomensurável de ser amigo de ambos e não só acompanhá-los, mas seguir os mesmos passos.
Ciente de que, morando nas imediações, questão de cem metros, ligo para um destes considerados pra lá de gente boa, o Fernandão Ilustrações, o chargista mór do único jornal diário e impresso da Terra do Sanduíche, o JC. Numa deferência toda especial, disse que naquele dia não sairia mais de casa, mas se prontificou a dar uma passadinha. Ou seja, sentou conosco e a prosopopéia dali irmanada foi de grande consistência e consideração.
Na mesa, rodeada de curiosos, falamos todos e tudo um pouco. E por fim, papo nunca encerrado, só adiado para outras contendas, sempre a certeza mais que absoluta: estar com gente da estirpe do Fernandão é pra lá de bom. Gente assim preenche nossos dias. Ainda mais como se deu, desgastado num final de dia, cansado e necessitando de estar ao lado de gente positiva, com algo mais a nos passar - diria mesmo, regarregar -, ter estado no Marcinho e ter conseguido trazer para junto de nós, o imortal da charge bauruense para nossa mesa é destes indescritíveis momentos.
Ele e Marmitão, duas lendas... |
Que dizer de Fernandão? Amante de um motor de duas rodas, conhece tudo do assunto, sem se deixar levar por modismos e grupos, bandos tresloucados. Voa por aí com sua moto, mas com os pés no chão. Artista mais que reconhecido do traço, possui já a sapiência de enxergar longe. Lê, ouve e assisti tudo já com um olhar no gato outro no presunto. Tira seu ácido humor dessas intempéries do dia a dia e o faz com maestria, algo só conquistado após anos e anos de experiência. De tudo hoje que o JC ainda publica, recorto e guardo as charges dele, pois sei ser algo em extinção. Daqui bem pouco tempo, creio eu, pelo adiantamento do estragamento vivenciado, nem isso mais teremos para nos deleitar. E como ainda o temos, nada como trazê-lo ao bar e desfrutar bocadinho de sua convivência.
É com gente assim que ando, circulo pela aí e gosto de ser visto. São os meus eternos personagens, dos quais extraio as mais boas histórias por mim relatadas. Tiro fotos dele, sem seu consentimento e sei, mesmo mequetreficas, não causarei rubor, nem ele ficará bravo comigo, pois o danado é daqueles que sabe tocar a vida, ele e seus gatos, ele e suas motos, ele e seu refinado traço, que tantas vezes abrilhanta pedidos insólitos destes amigos do Bauru Sem Tomate é MiXto. Noite de quinta, um bar com gente conversadeira, espairecendo para continuar na lida e luta, tendo sentado ao seu lado alguém como o Fernandão, é como se tivesse ganho na loteria. E não ganhei?
* Ouço a história nomentos atrás. Não a interpreto e sim, a compartilho como a ouvi, sem tirar nem por. As conclusões deixo ao encargo de quem as lê.
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