domingo, 26 de outubro de 2008

MEMÓRIA ORAL (51)

ÚLTIMOS MOMENTOS PRÉ-ELEITORAIS
A campanha do 2º Turno em Bauru assumiu ares de uma acirrada disputa. O candidato do PSDB/DEM, Caio Coube não levou a eleição no 1º Turno e viu sua situação se complicar quando Rodrigo Agostinho, do PMDB/PT, assume a dianteira e dela não mais de afasta. A cada divulgação de novas pesquisas, a distância entre ambos só aumentou, assim como o desespero de integrantes do grupo ligado ao já considerado eleito por antecipação. Nos derradeiros momentos, o clima esquentou, com o surgimento de novidades a cada momento, tudo com o intuito de reverter a situação. Uma constatação: nas ruas e nos carros, a do Caio possui maior visibilidade. Reflexo talvez da própria região central.

No último dia de campanha nas ruas, sábado, 25/10, uma nova pesquisa apregoa que a distância entre ambos já supera os 15%, exatamente o número do Rodrigo. O horário eleitoral no rádio e TV estavam encerrados, restando a campanha nas ruas, com as carretas e caminhadas. O termômetro na cidade também está elevado, passa dos 35º, o sol bate forte e ferve os miolos daqueles que parecem não entender e, muito menos aceitar a reviravolta. Abrir e-mails nesses dias é encontrar textos e mais textos clamando pelo voto em Caio: "a vitória da ignorância sobre a democracia", "quando um empresário tradicional, com um passado respeitado por todos, que tem a coragem de ver sua vida privada exposta...", "precisamos de pessoas preparadas, acostumadas a liderar..." e "embora longe de Bauru, tenho familiares trabalhando na Tilibra...". Fotos montagens mostraram Rodrigo em situações para lhe prejudicar o desempenho. Sei que devem ter ocorrido de ambos os lados, mas na minha caixa de e-mails só recebi de gente pedindo voto no Caio e ironizando o Rodrigo, como na montagem dele junto aos gays.

Um site local, o Vivendo Bauru, comprou uma briga na defesa do grupo ligado ao seu mediador, Renato Cardoso, desqualificando Rodrigo. Choveu no molhado, quer dizer, se indispôs com um monte de gente. Renato cutucou duramente o outro lado e quando questionado, disse estar sendo perseguido, "até com ameaças de morte", diz ele. Deve ter exagerado, tanto no que havia dito, como na reação do outro lado. "Esses momentos pré-eleitorais são propícios para a criação de uma indisposição difícil de ser dissipada. Você cutuca o adversário agora, a eleição acaba amanhã, mas a mágoa fica. É preferível ouvir e falar muito pouco", me orienta um conhecido, matreiro político, preferindo não se identificar, dando uma visão exata do momento vivido pelos grupos adversários.

Fui para as ruas no sábado. Os jornais anunciam a ocorrência de duas caminhadas, ambas no Calçadão da rua Batista de Carvalho. A de Caio, às 10h30 e a de Rodrigo às 13h00. Tudo previamente combinado para que os cabos eleitorias não se encontrem. Circulo pelas ruas por volta das 11h00 e o clima é calmo. O primeiro a encontrar é Roque Ferreira, recém eleito vereador, junto com a esposa. Esse vive um ótimo momento e a cada passo dado, pessoas vem lhe abraçar e dá-lhe cumprimentos. Nos poucos minutos ao seu lado, uma família faz questão da baordgaem, só para apresentar a filha, que queria muito conhecê-lo.

Subo a Batista e logo cruzo com o professor Vitor Martinello, que sempre votou com os tucanos, mostrando-se reticente com os destinos da ideologia no mundo moderno, explicitando a teoria defendida por ele: "A ideologia está com os dias contados. Não existe mais. Hoje, uma pessoa é adversária de outra, desce a lenha nele e amanhã estão juntos e nós ficamos sem entender nada. Acabou o compromisso ideológico. O que vai valer daqui para a frente é a honestidade. Vamos votar na honestidade dos candidatos, nada mais". Vitor fala para uma roda de pessoas, que cresce a cada momento, todos ligados no tema e nos destinos da cidade, tais como: Pedro Valentim, professor Reginaldo, Nelson Fio, Arnaldo Geraldo, Ubijara do Senai e outros.

A caminhada dos tucanos passa um tanto esvaziada, sem grande motivação. O candidato Caio não os acompanha naquele momento. Com a passagem do grupo e o tempo existente até a do Rodrigo, alguns do grupo decidem tomar uma cerveja num dos bares do centro. No caminho, Pedro Valentim, que no dia seguinte havia conseguido, por iniciativa sua suspender os direitos políticos do presidente da Câmara de Vereadores, ouve num tom de ironia, algo que não é levado muito a sério por esses lados: "Cuidado, hem! Qualquer dia você acaba com a boca cheia de formiga". O bar do Nélson Ret, na quadra um da Gérson França é o escolhido. O dono acolhe a todos com seu jeito falastrão e comunicativo, tocando seu bar com um lema, que também vale para o momento político da cidade: "A porta por onde se entra é a mesma por onde se sai".

Rojões espoucam no ar. Não se sabe de que lado estão. Arnaldo, solta o seu veridicto: "Isso não deve ser de nenhum dos lados. Isso deve ser coisa de corintiano, que joga hoje e deve voltar para a 1ª Divisão. A festa hoje é deles e amanhã será nossa". Dito isso, todos voltam para a rua. Numa movimentada esquina, um grupo ligado à Rodrigo espera a começo da caminhada, que está atrasada. Folhetos com os últimos resultados da pesquisa são distribuidos e até um cachorro está paramentado com a indumentária do 15, o nº do Rodrigo. Em todos, um contentamento de que a vitória está mais próxima do que possam imaginar.

Rodrigo demora a aparecer. A fome clama fundo e a turma na esquina continua esperando pacientemente. Faz barulho e demonstra não desistir tão cedo. Cansado decido ir almoçar, pois o relógio já passa das 15 horas. Passo por um camelô empunhando uma bandeira do Rodrigo. São sinais da adesão generalizada. Depois fico sabendo que Rodrigo veio só, com a namorada, por volta das 16h, juntando-se ao seu grupo. Em ambas manifestações, a constatação de que as caminhadas finais não foram tão expressivas assim. O mesmo não se pode dizer das carreatas, que movimentaram a cidade toda. Foi uma barulheira danada.
Pouco mais havia ainda a ser feito. Preferi assistir a vitória corintiana, com aquelas imagens cheias de muita emoção, de um time que retorna democraticamente para a divisão da elite do futebol brasileiro. Declarações explícitas de amor a um time de futebol, que ainda não podem ser comparadas com as vividas em nossas eleições. À noite, tentando se desligar totalmente do tema eleitoral, vou assistir Chico César, no encerramento do Circuito SESC de Artes, no show FFF (Francisco, Frevo e Forró). O último contato com a eleição foi rever Roque e a esposa, cantando o "Caminhando", do Vandré ("quem sabe faz a hora, não espera acontecer"), junto de uma galera predominantemente universitária. No dia seguinte, hoje, domingo, dia do pleito, acho que será só para sacramentar o que já está mais do que selado.

HPA (escrito na manhã do domingo, 26/10 e publicado na tarde do mesmo dia, após votar, mas sem nada saber sobre como anda a votação. São quase 16h e a eleição ainda rola por aí).

3 comentários:

Anônimo disse...

Vc é craque mesmo!
É o cronista do cotidiano da nossa cidade. Escreve com muita elegância e não deixa de dizer o que pensa.
Meus parabéns, vc é muito CHIC!
Egberto.

Anônimo disse...

Amigo Henrique:
parabéns pelo seu blog. Agora que entrei, após receber este seu e-mail. Isso aí... bommesmo. Esse tipo de blog é legal porque vc tem posicionamento sério, inteligente e sensível. E não tô exagerando, não!!! Já estou acompanhando o seu blog, porque, agora, na política, sou apenas eleitor.
Eu tbém tô com um blog novo na praça. Mas o meu fica no mundo dos negócios, pois estou tratando do meu ganha-pão. Dá uma olhadinha e me fala o que achou:

www.blogdoispontos.blogspot.com.

Entre tbém no meu site:

www.humanizabrasil.com.

Tô com um projeto bem legal: a Escola de Governo. Vamos marcar para conversar a respeito.

Abraços
Tech

Anônimo disse...

oi querido,

homenagem merecida.
vindo a santa cruz, venha me ver.

beijos

tania guerra