terça-feira, 7 de outubro de 2008

BAURU POR AÍ (06)

ANDRÉ, DE BAURU, DO CINE-CLUBE, ESTUDANDO CINEMA EM "BEIJING", NA CHINA
André Ricardo Ferreira, 27 anos, estudou Desenho Industrial na UNESP de Bauru e até semanas atrás era o vice-presidente do Cine Clube de Bauru. Amante de cinema, conseguiu emplacar um sonho. Em 03/09 embarcou para a China, onde é um dos alunos da Beijing Film Academy, a principal escola de cinema da Ásia. Meses atrás havia descoberto que o governo chinês oferecia bolsas de pós-graduação para estrangeiros, incluindo pagamento de mensalidades, moradia, material didático, plano de saúde e uma bolsa de US$300 por mês. Fez a inscrição, correu atrás e ficará quatro anos em solo chinês. No primeiro ano estudará o idioma mandarim e nos três seguintes, cinema. Ele acaba de abrir um blog, onde repassará suas impressões do país, de tudo um pouco, do que vai presenciando e, principalmente, de cinema chinês. Amigos em Bauru receberam o primeiro relato, transcrito aqui de forma resumida (o texto integral está postado no blog - ele apanha com os acentos no teclado chinês):

"Oi pessoas!Gostaria muito de poder ter tido tempo e oportunidade de escrever um email relatando cada passo da minha estada em Beijing... Fazem pouco mais de duas semanas que aqui estou, e agora, depois de emprestar um laptop de uma amiga que viajou (e que está todo em chinês) posso com calma enviar um resumo.(...) Hoje vejo que o choque cultural que a China contemporânea me apresenta, é na verdade estimulante aos sentidos e agora o plano se multiplicou manifestando-se num mestrado. Cheguei em Beijing no dia 16 de setembro. Fui um dos brasileiros selecionados pelo governo chines a receber bolsa de estudos integral, sem gastos e inclusive com salario para realizacao de mestrado. Estou estudando na Beijing Film Academy, a maior escola de ensino audio visual daÁsia. Primeiro terei um ano de intensivo de mandarim e depois realizarei mestrado sobre a produção audiovisual independente na China contemporânea. Esse foi um processo lento e estressante, realizei muitos exames, enviei documentacoes diversas, cartas de recomendações, projeto de pesquisa, cumprindo ao maximo a complicada exigência burocratica, sem exceções.

Já no aviao com destino a Beijing, os sentimentos eram estranhos. Estava feliz, mas ao mesmo tempo tenso por deixar por talvez 4 anos a minha familia, por iniciar uma nova vida e por tudo o que isso podia representar. Atravessei continentes com um senhor ao meu lado que falava pouquissimo ingles, que foi sempre super gentil, e que por milhares de quilometros arrotou insistentemente ao meu lado. O voo da Air China fez escala em Madri, e la, na sala de transferencia do aeroporto, vi que eu e uma moca eramos os unicos sem descendencia oriental evidente que se encaminhavam a Beijing, entao resolvi falar com ela. Era uma brasileira chamada Tarsila, professora de Portugues na Universidade de Pequim. Ela foi simpaticissima, inclusive me ajudando no aeroporto, a pegar o onibus e ate me parando um taxi assim que chegamos no distrito de Haidian. Economizei e senti um alivio muito grande, obrigado Tarsila.

A China que me foi apresentada ate agora eh grande, de arquitetura diversa, ousada e prepotente, repleta de parques, de arvores uma cidade cenografica lindissima.Para se ter uma ideia, nos muitos quilometros que percorri de onibus e que me deu a primeira imagem, inesquecivel, da China, a estrada a cada cerca de 5 metros tinha as laterais ornamentadas com vasos floridos.Eh claro que tenho consciencia que esse caminho provavelmenteassim o eh porque eh por onde os estrangeiros em epoca olimpica passariam, mas isso em nada modificou a beleza do que vi. Paisagem verde, jardins muito bonitos, construcoes ultra-sofisticadas, carros, bicicletas, motos eletricas, ciclovias, tudo numa paisagem extremamente plana, sob um ceu cinza. Entrei no taxi sem falar chines, com o endereco escrito em mandarim (agradeco ao pessoal do restaurante Li Chen) em minhas maos. O motorista nao falava ingles e era BEM antipatico, mal educado mesmo, bem diferentede muitos chineses que acabei conhecendo. Pelo menos fui deixado em frente da universidade, gastando cerca de 17 yuans (+/- 4 reais).

A universidade eh grande com varios predios cinzas, dos muitos departamentos existentes, um paisagismo bem-pensado que torna o lugar aconchegante. No caminho entre a entrada da faculdade e os alojamentos, fui ajudado por duas pessoas que falavam ingles, entao foi tudo muito facil. Ao chegar no apartamento adorei. Meu quarto, o numero 613, tem banheiro, tv, ar condicionado, aquecedor, cofre eletronico, telefone e limpeza diaria por conta da universidade. O alojamento eh duplo mas fiquei alguns dias sozinho ate meu colega de quarto aparecer. Ele se chama Patrick, eh da Suecia, simpatico e acho que nos daremos bem. Fora ele, fiz colegas da Croacia, Tunisia, EUA, Coreia, Nigeria, Armenia, Mexico, Malasia, Alemanha, Austria, Inglaterra e Brasil, sem dizer eh claro da China. A estudante brasileira na universidade chama-se Ana, ela esta estudando chines por aqui, e esta sendo desde o inicio muito solicita, simpatica, gentil e amiga, me ajudando bastante nesses primeiros momentos onde voce se sente super perdido, impotente.
Os primeiros dias foram estranhissimos, por estar sentindo aquele imaginavel choque cultural mas tambem por nao conseguir me comunicar.Mesmo falando ingles, fazer as coisas mais basicas como comer, telefonar e usara internet foram tarefas muito, muito complicadas. Agora, aos poucos vou percebendo as coisas, reconhecendo caracteres, me sentindo um pouco mais orientado. Meu dia-a-dia resume-se a estudar de manha o mandarim, ou Putonghua, em Pin Yin (transcricao fonetoca dos caracteres para letras latinas) e tambem ter tardes e noites divididas entre o mandarim e conhecer um pouco da cidade. Na verdade o que acho o momento mais esperado do dia eh o almoco, tanto por adorar comer comida chinesa, quanto pela experiencia culinaria e cultural que aqui o eh.(...) No dia-a-dia come-se carne de frango, porco,vaca, peixe, camarao, carneiro, a maioria com muito arroz e legumes diversos.Bebe-se tambem muito cha, muito gostosos, e eh claro sem acucar,como um cha chines deve ser. A comida que experimentei em Beijing eh repleta de cores, novidade em odores, sabores, mas tambem repleta de pimenta e oleo. Como questao de sobrevivencia ja aprendi a pedir comida sem pimenta...Tenho muita, muita coisa ainda a dizer, a lembrar e escrever, por isso vou finalizar sem um fim.

Criei um blog em http://www.thebeijigner.blogspot.com/, o qual sempre que possivel atualizarei com o que de novo acontece por aqui. Abracos e sorte a todos.

Ps: desculpem-me pelos erros que devem existir, mas nao estou com mais paciencia para revisar nada hehe".

André Ricardo - Laboratório Filmes Cine Clube Aldire Pereira Guedes M.A. student at Beijing Film vocemeachou@hotmail.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei saber das novidades do André. Sempre num lugar diferente!!! Ele vai longe.
Andréia