terça-feira, 28 de outubro de 2008

UMA CARTA (20)

CARTA ABERTA: DOIS BETOS, DOIS RELIGIOSOS E DUAS POSTURAS
É pura coincidência, mas ela veio bem a calhar. Ambos são conhecidos pelo apelido de Beto, religiosos, ligados à religião católica, escritores e adoram, além da escrita e da religião, se meter em política. Ambos também o fazem, seguindo um direcionamento pessoal, que lhes conduzem as vidas. Mas é exatamente a partir daí, que surge um distanciamento, de idéias e de opiniões. Um deles possui uma vida toda dedicada para as causas sociais, a luta a favor dos menos favorecidos e contra as injustiças desse mundo desigual e injusto, além de estar umbilicalmente ligado a movimentos da dita esquerda. O outro nem tanto, escreve também muito bem, mas seu sacerdócio esteve restrito a regiões mais abastadas da sociedade e o discurso condiz mais com esse público, sem uma conotação de transformação, luta e resistência. Enfim, o posicionamento de um é bem diferente do outro. Questão de como encaram o mundo à sua volta. Não que isso possa desmerecer a um ou a outro. Cada um na sua, cumprindo o seu papel, até porque ambos possuem fiéis seguidores, justamente pelo posicionamento assumido. Ambos Betos rezam missa, não gostam muito de batina e se um possui programa de rádio o outro já exerceu cargo público. Ambos viajam bastante e falam muito disso em seus textos, fazem belas citações nesses escritos (demonstrando uma erudição divinal), só que um atinge muito mais a faixa da classe média para cima e o outro faz o oposto. Deve ser essa a missão designada para cada um. Um numa trincheira, outro noutra. Ambos possuem sua causa e a justificam com bons motivos. Um está mais ao lado dos que mais possuem e o outro nunca se colocaria ao lado dos que detém o poder oligárquico. Um até toma posicionamentos favoráveis às mudanças, mas no frigir dos ovos pende para o lado das minorias privilegiadas. Ambos devem enfrentar problemas mil dentro da hierarquia da atual igreja, muito pelas escolhas que fizeram. Produzem textos apaixonantes, com grande poder de convencimento, mas quem lêem a ambos, sabem muito bem diferenciá-los. Sendo assim, por mais que possa existir semelhanças, se parecem muito pouco. Deu para entender a diferença entre os dois Betos? Deu para sacar, que mesmo modernos, antenados, um luta por mudanças e o outro pisa no freio? Se já entenderam, sinto que o que me fez escrevinhar isso tudo foi só para explicitar a minha preferência por um dos Betos. Como ambos foram corajosos, um a ponto de fazer parte do staf do Governo Lula e o outro de assumir publicamente no Horário Eleitoral votar num candidato mais à direita (não do Pai Nosso), eu, dentro de minhas limitações, assim como ambos fizeram, assumo que o Beto de minha preferência é o frei e não o padre, o cujo nome é escrito com dois "t"s. Questão de preferência e de postura pessoal. Por tudo o que esse sempre representou na minha vida, não poderia deixar passar esse momento.

PS: Para aqueles que me acreditavam incrédulo, eis que me posiciono: devoto de Frei Betto. Amém!

5 comentários:

Anônimo disse...

Oi Henrique
Sobre os Betos, o seguinte comentário:
O Frei é um intelectual de esquerda maravilhoso.
O outro também é muito inteligente, mas cometeu um erro grosseiro: quis mobilizar a juventude abastada da "high society" bauruense que ouve suas missas e alguns leitores e admiradores, mas só deve ter conseguido uns 50 votos para aquele que caiu (além de um belo puxão de orelha da diocese).
E aí fica a pergunta: além do Lugo no Paraguai, qual religioso conseguiu se eleger nos últimos anos? Quase nenhum, não é?
Normalmente, parece que os eleitores não gostam dessa mistura de religião (uma utopia a ser perseguida) e a política (sempre tida como suja).
Abração!
W. Leite

Anônimo disse...

meus caros
Lembro aqui de outro.
Um padre foi eleito pelo PT na Barra Bonita e tentou se reeleger depois pelo PCdoB (sic), mas como fez um pífio governo, voltou para as hostes dos de batina.
Inesquecível, também, o Cardenal, da Nicaragua, mas tanto esse, como o frei Betto são de outra estirpe, bem diferente da do padre bauruense.
texto bom.
Paulo Lima

Anônimo disse...

Meu caro H.P.A,
certa vez fiz uma brincadeirinha com meus filhos a respeito dos betos em questão.

Quando o beto direitoso chegou da alemanha e assumiu seu posto junto a burguesia catolica bauruense com espaço generosissimo no jornal, meu filho adolescente e membro da u.j.s ficou feliz por ver o padre beto escrevendo em um jornal de bauru ,ja percebendo seu equivoco tratei de esclarece-lo que esse padre beto nao é o frei beto vitima da ditadura.
contei a ele a origem de ambos, e falei um póuco sobre a hierarquia da igreija
ele me perguntou qual a diferença entre padre e frei eu respondi que quando o nome for beto a diferença é enorme.
um forte abraço. lazaro carneiro

Anônimo disse...

Queria muito poder escrever tudo o que penso, mas sou conhecido e não vai pegar bem. Seria mais duro com o padre.
CPG

Anônimo disse...

Caro professor Henrique Aquino,outro dia ao fazer a leitura do Jornal da Cidade
corri para Tribuna do Leitor, alí deparei-me com artigo " Os betos.......................,
que maravilha Henrique, vc. possue o dom de escrever com simplicidade, mas de
forma eloquente, esclarecedora, sp. democrático, mas mostrando quem é Frei Beto,
e o Padre Beto, até então tinha um conceito de socialista que defendia o proletária
do. Parabéns companheiro cristão.
UM FORTE ABRAÇO.
Gaspar Moreira