Mafuá do HPA

MEUS TEXTOS NO BOM DIA (71 e 72), UM RADIALISTA E UM FILME CAPIXABA

A MICRONÉSIA EXISTE – texto publicado BOM DIA, edição de 01/05/2010
A Micronésia é um país esquisito. É uma nação que não tem opinião própria, pois aqueles que estão nos seus mais importantes cargos preferem seguir os ditames de uma nação maior a lhe ditar normas e condutas. É, na acepção da palavra, uma “maria vai com as outras”. E escolheram seguir os preceitos recomendados pelos Estados Unidos da América. Não comercializam nem seus próprios produtos sem consultarem a opinião desse abalizado consultor. A classe dominante daquele país (dizem que um gigante adormecido) e seus asseclas batem palmas. O povo inerte assiste a tudo meio que amortecido por drogas vistas na TV e em púlpitos variados. Bestificados nada conseguem fazer. Estão envolvidos com um problema maior que isso tudo, o galã da novela das oito vai largar a namorada porque a mãe não a aceita. A enviada do Olimpo, Hillary Clinton, representando o país condutor esteve por lá dia desses e lhes indicou algo sobre o caminho do bem. Disse que aquele país até seguia no caminho certo, porém como estava para receber um presidente vizinho, o Chávez, da Venezuela, foi recomendado em alto e bom som, que esse além de não ser confiável, deveria ser repudiado. Veio dizer isso do vizinho da Micronésia, pregando a discórdia e a inimizade entre irmãos. Pelo visto a Micronésia repudiará Chávez, pois não conseguem enxergar que o que os “irmãos do Norte” são bons mesmo é em pregar a desunião entre os de sua influência, para dessa forma, dominar melhor. É histórico isso, sempre fez parte do processo entre dominado e dominador. O Brasil na era FHC agia pior que a Micronésia.

A MICRONÉSIA E A IMPRENSA – texto publicado BOM DIA, edição de 08/05/2010
Fui escrever aqui sobre uma hipotética Micronésia e sou cobrado na rua sobre sua existência. Confirmo, afinal ela está no meio de nós, os ditos democráticos. Cutucamos o erro alheio e não enxergamos os nossos, tão ou mais escabrosos aos denunciados. Volto de uma viagem à Vitória ES e de lá trago algo nesse sentido. Um jornalão local reproduz a coluna semanal do jornalista Elio Gaspari. Ela não circula justamente na semana em que ele criticava algo ocorrido naquele estado. Cobrados, os diretores do jornal respondem ter ocorrido uma falha, ela não foi recepcionada em tempo de ser publicada. Isso é coisa que ainda só achava ser possível na Micronésia, mas resiste e persiste por aqui. Outro fato é o que vi no último dia 03/05, Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. A ANJ – Associação Nacional de Jornais reproduz nos jornais associados um imenso anúncio com os dizeres: “Liberdade de Imprensa, por alguém que vive num país sem liberdade de imprensa”. E lá uma fala tendenciosa da blogueira cubana Yoani Sánches, no velho estilo de expor algo, sem mostrar o outro lado da questão. No dia seguinte vou ao lançamento de um livro sobre o dramaturgo Plínio Marcos e lá cobro de um famoso articulista de jornal da terrinha se ele escreve sem autocensura, as limitações do veículo onde atua. “Todos fazem isso. Nossa liberdade é limitada, ninguém escreve mais nada com total liberdade. Imagine eu escrever algo negativo envolvendo a empresa do dono do jornal”, diz. Falar de Cuba é fácil, enxergar o próprio umbigo é outra coisa. Mais Micronésia impossível.

PS.: As duas ilustrações, a lá de cima é do Ares e a de baixo, do Millor, ambas giletadas da internet.

OBS.: Algo sobre a Micronésia e seu criador (ou divulgador, sei lá!). Estive em Vitória ES, de 27 a 30/04 e fã de rádio, sintonizei num programa apresentado na Universitária FM (http://www.universitariafm.com.br/ ), de segunda a sexta, das 11 às 12h, o “Ponto de Vista”, do radialista Nami Chequer, também vereador pelo PC do B. Já tinha lido sobre o programa no site Vermelho (nem toda mídia é marrom – http://www.vermelho.com.br/ ) e ao ouvir as contundentes opiniões do Nami, notei que estavam muito próximas das minhas. Ele não aceita essa submissão brasileira aos EUA (“a imprensa brasileira é o maior dinossauro solto dentro do Brasil. Eles e a elite. O maniqueísmo deles é assim: sendo amigos dos americanos tudo bem, o contrário, pau nele. O mundo não é mais assim” – ouvido em 06/05), o boicote à Cuba, que falem mal de Chávez, Correia e Morales. Bateu uma empatia. Que falta faz um programa de rádio nesse estilo em Bauru (por lá ele também é unico). Tentei até achar a rádio para conhecê-lo pessoalmente, mas cheguei meia hora depois de encerrado o programa. Ele brinca muito com esse negócio da Micronésia, um hipotético país que vive submisso e sem opinião própria. Comprei a idéia e lhe presto uma homenagem com esses meus dois textos. Explico aqui o motivo do plágio. Em certos momentos é salutar ironizar para se fazer entender e para melhor passar a mensagem. Comunico a ele meu procedimento e digo também, que sempre que puder, estarei a ouvi-lo aqui da distante Bauru. Em tempo: tanto lá como cá, a única rádio onde ouvi MPB de qualidade foi na de universidades, lá mantida pela UFES -Universidade Federal de Vitória, aqui pela UNESP e USC. No último dia que escutei seu programa, encerrou com algo assim: “A gente volta amanhã com o coração quente e a cabeça fria”. Por minha causa, a Micronésia do Nami acabou aportando aqui em Bauru.

Algo mais de Vitória. Assisti por lá, em 30/04, no único cinema de filmes de arte e cult daquela cidade, o Metrópolis, também dentro do campus da UFES, ao último filme do Sérgio Bianchi, "Os Inquilinos" (um soco no estômago, como todos seus filmes) e na saída algo inusitado, presenciado de camarote. O lançamento na sessão seguinte de um documentário, o "Geração Gota D'Água", retratando o movimento estudantil capixaba nos anos 70, ocorrido ali dentro do campus da UFES, conhecido pelo caráter constestador contra a ditadura militar e os desmandos sociais da época. Dentre os líderes estudantis, Paulo Hartung, hoje governador do estado. Numa imensa fila, conheci de vista gente de toda uma geração, reencontrando-se ali e com papos do tipo: "Por onde tu anda? Puxa, faz mais de 20 anos que não te vejo". Transportei-me para minha Bauru e penso que o mesmo poderia ser feito por aqui. Retratar esse período é contar parte de nossa história, ainda pouco conhecida. Mais interessante ainda seria rever essas pessoas, o que faziam na época e onde estão localizadas hoje. Mudaram de lado ou continuam na luta? O melhor de um documentário desse tipo é resgatar isso. Fica a idéia para os do lado de cá. Da fala do diretor extrai algo: "Nos dias atuais, há uma espécie de letargia da classe estudantil. Ninguém vai para as ruas protestar. O sentimento de rebeldia com causa foi anulado, infelizmente". Rapidamente cai o pano. Está feita a homenagem.