O LIVRO DO PLÍNIO, SEU AUTOR, UM DEBATE E UMA VIDA MARGINALIZADA
Escrever de Plínio Marcos é algo a me tocar profundamente. Primeiro por trafegar na contramão de todos os padrões dominantes. Tudo o que fazia tinha como pano de fundo algo intocável. O que ele gostava de escrever não era sobre a classe operária, também esquecida dos grandes textos brasileiros. Ia mais fundo, retratava os invisíveis, os mendigos, os putos, os que se encontravam na sarjeta, na mais completa marginalidade, vilipendiados e explorados de todas as formas imagináveis e possíveis. E ver isso dói. Até hoje pescoços são retorcidos diante de seu texto. Eu, pelo contrário, seguidor fiel do seu estilo, tento ao meu modo seguir um dos seus preceitos que mais me tocam: “opção pelos que berram nas arquibancadas sem nunca influir no resultado”.
Escrever de Plínio Marcos é algo a me tocar profundamente. Primeiro por trafegar na contramão de todos os padrões dominantes. Tudo o que fazia tinha como pano de fundo algo intocável. O que ele gostava de escrever não era sobre a classe operária, também esquecida dos grandes textos brasileiros. Ia mais fundo, retratava os invisíveis, os mendigos, os putos, os que se encontravam na sarjeta, na mais completa marginalidade, vilipendiados e explorados de todas as formas imagináveis e possíveis. E ver isso dói. Até hoje pescoços são retorcidos diante de seu texto. Eu, pelo contrário, seguidor fiel do seu estilo, tento ao meu modo seguir um dos seus preceitos que mais me tocam: “opção pelos que berram nas arquibancadas sem nunca influir no resultado”.
Sua biografia, “BENDITO MALDITO’’, foi lançada em Bauru, na Jalovi dos Altos, com a presença do autor, Oswaldo Mendes, amigo pessoal de Plínio. Fui lá, em primeiro lugar para conhecer Oswaldo e depois para presenciar um debate, entre ele e duas pessoas daqui, o professor e diretor de teatro Paulo Neves e o professor e jornalista Zarcillo Barbosa. Todos conviveram com Plínio. Foi a melhor coisa que fiz na semana. Oswaldo além de falar com propriedade da vida e obra do marginal Plínio, fez algumas projeções de como ele agiria hoje diante desse nosso atual momento.
“Plínio repudiaria esse negócio de receber alta indenização por ter combatido a Ditadura. Ele fez isso, criou caso, sofreu o diabo, mas nunca que iria querer grana como repararação pelo que fez. Ele mesmo disse que fez por merecer, provocou os caras e a reação era certa, veio como tinha que vir. Hoje, um famoso cartunista de temas infantis briga por milionária indenização, que diz ser inferior a outro cartunista. Só pensam na grana. Nada mais. Plínio possuía uma coragem própria não mais existente hoje. Fazia tudo de moto próprio, sem estar escudado. Punha a cara para bater. Quem faz isso hoje? Todos os que ainda brigam, estão escudados por sindicatos, instituições, ele não, era ele e só. Respondia por seus atos, tendo como resultado a vida da forma como todos conhecem que viveu. Ele me cutucava e fazia isso com todos. Dizia para deixarmos de ser Polyanas. Imagine hoje, ele vendo a situação atual do teatro, onde tudo gira em torno de leis de incentivo, tudo bancado pelo Estado. Estamos vivendo de bolsas, benesses estatais. Os pobres e os da classe cultural. Somos uma sociedade domesticada. O bom mesmo seria ocorrer uma limpada, acabar com essas leis todas que só beneficiam os mais importantes autores, atores e núcleos do Rio e São Paulo. Ele que sempre abriu o teatro para dar voz a quem não tinha, hoje não teria uma porta sequer para apresentar sua obra”, disse.
Paulo Neves não se conteve e expôs sua situação, onde o Teatro Municipal lhe abre as portas uma vez por ano, por uma semana e quando precisa reapresentar algumas peças, “a negativa é de que não existem datas, mas tudo está fechado, luzes apagadas, estagnação total. Já para os stand-ups, os péssimos trabalhos com atores chinfrins globais, as portas estão sempre abertas. Onde vou apresentar uma peça na cidade com 22 atores no palco se não for lá? Falta sensibilidade”. Sinohue, um professor de Literatura na platéia, vai mais fundo: “Não temos um teatro na cidade. Ele não é usado condignamente. E agora, o negócio na cidade é o tênis. A cidade respira tênis. É para rir, não?”. De Zarcillo, o abordo numa roda e questiono sobre a dita liberdade de imprensa hoje, reclamada desde muito antes dos tempos do Plínio. Pergunto se ele consegue escrever o que pensa, sem fazer uma auto-censura. “Não, ninguém consegue. Não vou escrever sobre algo envolvendo o dono do jornal onde escrevo”. É isso, todos sabem até onde podem ir. E assim vivemos, bem distantes de algo vivenciado na própria carne por “desvairados”, como Plínio Marcos.
Ele ia além, não tinha medo de cara feia, comprava brigas homéricas, enfrentava sozinho essas estruturas todas. Ouço de todos que faz uma falta danada, que ninguém mais age como ele, que alguém como ele é primordial para as instituições democráticas. Olho para os lados e constato, alguns ainda fazem isso (naquele ambiente vejo dois, Paulo Neves e o próprio Oswaldo), mas são cada vez mais marginalizados, menosprezados e ignorados, considerados loucos, desvairados, bestalhões. Plínio não só faz falta, como deixou uma lacuna sem que uma peça de reposição nos tenha sido oferecida.
Ele ia além, não tinha medo de cara feia, comprava brigas homéricas, enfrentava sozinho essas estruturas todas. Ouço de todos que faz uma falta danada, que ninguém mais age como ele, que alguém como ele é primordial para as instituições democráticas. Olho para os lados e constato, alguns ainda fazem isso (naquele ambiente vejo dois, Paulo Neves e o próprio Oswaldo), mas são cada vez mais marginalizados, menosprezados e ignorados, considerados loucos, desvairados, bestalhões. Plínio não só faz falta, como deixou uma lacuna sem que uma peça de reposição nos tenha sido oferecida.
Ana Bia comprou o livro. Leremos, mas o mais importante disso tudo é continuar agindo baseado naquela vivência. Ler, achar bonito e não colocar nada daquilo em prática é aceitar isso tudo de ruim que nos é imposto. Plínio me instiga a remar contra a maré, dar murro em ponta de faca, andar na corda bamba e mijar fora do penico. Farei isso o resto da minha vida.
OBS.: Se tem um político que respeito, admiro e não teria problemas nenhum em votar é a Deputada Estadual carioca CIDINHA CAMPOS - PDT/RJ. Uma brava senhora, que como vinho, vai ficando melhor com o acréscimo dos anos. Ela trava uma luta diária dentro da ALERJ - Assembléia Legislativa do RJ contra os bandidos também lá instalados e os muitos de fora. Da tribuna, em cada fala sua, uma denúncia nova a estarrecer os que ainda acreditam na honestidade. Seus últimos pronunciamentos são históricos, únicos no parlamento brasileiro. No seu site www.cidinhacampos.com.br uma Galeria de Vídeos para dignificar o político brasileiro.
4 comentários:
henrique
é sempre muito bom saber que tem muitas pessoas que encantam o mundo com coragem pessoal. você é uma delas. beijo da ana bia
olá, Henrique.
O livro é fabuloso...estou amando...
adorei o lançamento tbm...
uma pena nossa classe artística tão defasada...
eu fiz questão de ir com meu filho q não conheceu o Plinio Marcos mas
q já está interessado em lê-lo e assistir algum espetáculo dele....
Adorei rever o Oswaldo Mendes....o conheci a mtos anos...
beijão e parabéns pelo seu trabalho no blog...
MADÊ CORRÊA
Henrique,
Assisti algumas montagens do Plínio Marcos (Barrela, Dois perdidos numa noite suja, Navalha na carne, O abajur lilás, etc.) No final ele sempre aparecia para debater com a platéia. Que sorte a minha!
Assisti também a luta deste santista durante os duros anos da ditadura, com a maioria dos textos censurados e proibidos, vendendo os livros que escrevia nas portas dos teatros paulistanos.
Quando eu morava em Santos, não foram poucas as vezes que o encontrei na zona de meretrício do cais do porto, com certeza, buscando inspiração para suas obras.
Um abração
Egberto Cavariani - ex-Bauru Chic
Gosto muito da Cidinha e mais ainda do Plínio. Boas lembranças.
Rosana
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