UMA DICA DE LEITURA (57)
O LIVRO DE MEMÓRIAS DE DARCY RODRIGUES - MINHA VERSÃO
"Na próxima quarta-feira, 12 de maio, estará sendo lançado o livro “SARGENTO DARCY, LUGAR-TENENTE DE LAMARCA”, com prefácio assinado pelo Doutor Paulo Abrão Pires Junior, Presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Darcy Rodrigues é natural de Avaí-SP, e reside na cidade de Bauru. Durante o regime militar, juntamente com o Capitão Carlos Lamarca, abandonou o IV RI de Quitáuna, em Osasco e engajou-se na resistência armada contra a Ditadura Militar. Preso no Vale do Ribeira saiu do país em 15 de Junho de 1979, trocado com outros 39 companheiros, libertados em troca do embaixador da Alemanha Ocidental. O livro começara a ser comercializado de forma itinerante na cidade de Bauru. Como se trata da história de um sargento rebelde, que abandonou a carreira militar com a intenção de lutar pela liberdade do povo brasileiro, companheiro e aliado de um capitão, achamos por bem, iniciar a comercialização do livro no “General’s Bar”, localizado na rua Monsenhor Claro esquina com Aviador Gomes Ribeiro, a partir das 19 horas. O livro tem 240 páginas e custa R$ 20,00. Foi escrito por Antonio Pedroso Júnior, o Chinelo, autor de "Subsídios para a História da Repressão em Bauru" (1979), "Porões Sem Limites" (1999), "Márcio, o Guerrilheiro" (2003) e "Subversivos Anônimos" (2007)".
Recebo esse texto via e-mail. Do livro escrito pelo indigitado autor nada sei, mas lerei a tal obra com todo o carinho e atenção. Fui amigo pessoal de ambos, primeiro do dito escritor, mas não nos falamos há anos. Acredito que quem se diz de esquerda, da velha e aguerrida esquerda não pode concordar com Chalitas e Skafs atrelados à partidos ditos esquerdistas. Manteve um blog (Chinelo Neles) e dali fazia ironias gratuitas e infortuitas à todos da administração Tuga, algo de péssimo gosto, tanto que ele próprio fez questão de deletar tudo (passou um borrão no que escrevinhou). Prefiro me manter o máximo possível de distância do autor do livro. Tempos depois fez acusações infundadas a respeito de sete pessoas que trabalhavam na Cultura municipal, dentre elas esse que vos escreve. Existe um processo vigente (alguns já foram definidos favoravelmente aos antes acusados) e um dia a sentença reparadora será proferida. Aguardo e a divulgo tão logo seja pronunciada. De Darcy, fui amigo de fato e de direito, trabalhamos juntos na administração Tuga, viajamos juntos para Três Lagoas, Sorocaba e o Rio de Janeiro. Fui convidado por esse para escrever um livro de memórias. Fiz várias entrevistas e as guardo com carinho. São relatos preciosos. Tinha um problema pela frente. Percebia que Darcy não queria tocar em alguns temas e assim sendo, um perigo. Como não falar de tudo. Algo superficial ou parcial sobre tão conturbada vida não seria de bom alvitre. Tem males que vem para bem. Darcy preferiu se distanciar de mim e foi se abrigar nos braços da pessoa que mais falava mal de sua pessoa. Estão tão próximos, que um escreveu o livro da história do outro. Coisas da política, que não me meto e passo longe, bem longe. Mesmo não acreditando no "todo poderoso", dei graças ao céus. Não acredito em uma obra inconclusa ou com omissões. Tomara que o texto produzido não omita os fatos que inicialmente Darcy insistia em não querer tocar.
Quer queira ou não, não existe como negar que a vida de Darcy precisava ser contada, pois a parte de sua formação, desde sua infância em Avaí e depois Três Lagoas é das mais dignificantes. A entrada para o Exército e depois o envolvimento com o grupo de Lamarca mais ainda. O restante até o desenlace do exílio é rica e alguns detalhes ainda desconhecidos. Do exílio em Cuba, ele tem boas recordações e acreditava estar recebendo embasamento para retornar ainda mais fortalecido e aguerrido. Do período após o retorno, começam algumas contradições. Como um verdadeiro revolucionário, atuando ao lado de alguém que pregava a luta armada para derrubada do regime vigente pode trabalhar ao lado de pessoas tão distantes disso, como Izzo Filho? Só mesmo Darcy para nos explicar isso. Seu livro sai quase junto do lançamento do documentário de Sílvio Tendler, o "UTOPIA E BARBÁRIE" ( vejam o triller: http://www.youtube.com/watch?v=8bEMCvk510U , nele uma fala de Che Guevara, para pensar: "Não se pode confiar no imperialismo, nem um tantinho assim"), cujo depoimento dado por Darcy deve ter sido incluido. Participei da entrevista de Darcy, dado à Tendler, em 2008, na casa da filha de Darcy em Sorocaba. Os filmes do cineasta continuam todos a nos demonstrar algo bem simples: um outro mundo é possível, porém cada vez mais difícil. A questão hoje é se estívessemos diante de uma nova possibilidade como a que Darcy esteve engajado, ele estaria envolvido nela com a mesma intensidade da ocorrida no passado? Leio muito sobre engajamento juvenil e amadurecimento com a chegada da idade (que seria isso?). Por fim, algo que ouvi no lançamento do livro sobre o Plínio Marcos, dito pelo autor Oswaldo Mendes: "Plínio não aceitaria ser reparado com alta indenização e alto salário por algo provocado por ele. Ele procurou e encontrou, sabia disso e daí não aceitaria ser indenizado" (não sou contra as indenizações, mas discutí-las se faz necessário). Essas respostas serão dadas nos próximos capítulos e depois do lançamento do livro. Com a sua leitura poderemos responder algumas delas.
OBS.: As fotos foram tiradas quando da entrevista de Tendler com Darcy, numa tarde de 2008 em Sorocaba SP.
terça-feira, 11 de maio de 2010
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13 comentários:
Henrique
Acabo de ler.
E de tudo o que li, prefiro ficar com uma frase que vi lá no triler do filme indicado por ti
" O verdadeiro cidadão não é o que vive em sociedade. É o que transforma a sociedade"
Augusto Boal
E a transforma sempre, ininterruptamente.
Daniel Carbone
HENRIQUE
Ontem enviei esse meu texto para os de minha lista, justamente sobre o lançamento do livro. Recebo elogios e críticas e as divido com seus leitores:
As definições de coveiro segundo o dicionário da língua portuguesa são: 1 Indivíduo que abre covas para cadáveres; enterrador. 2 Aquele que contribui para a ruína, queda ou desaparecimento de qualquer coisa.
Pois bem, esta semana estará sendo lançado na cidade o livro com a biografia do ex-sargento e ex-guerrilheiro(e bota ex isso) Darcy Rodrigues. Sua história já é bem conhecida, Darcy era o sargento que abandonou junto com Lamarca o quartel em busca da luta revolucionária no Brasil, o problema é que tempos mais tarde abandonaria também toda a luta, toda a consciência, toda honra e memória daqueles que caíram como o saudoso comandante Lamarca.
Claro que não é justo colocar Darcy como o único coveiro do Lamarca e todo um ideal de uma geração, mas é um dos que hoje enterraram o idealismo e vivem de politicagem no aparelho do estado que tanto lutaram contra, porque não me venham com aquela historinha que o problema eram os militares, estes foram acionados para defender o estado capitalista, depois que não se fez mais necessário, saíram de cena. O estado hoje continua o mesmo, capitalista, as pessoas continuam morrendo de fome, sem saúde, sem educação, uma tremenda merda mesmo, e estes senhores, sobreviventes, se penduraram nas indenizações e se tornaram os macacos a pularem de galho em galho nas negociatas do nosso estado.
Para os que foram para o exílio como o Darcy, enquanto Lamarca e demais guerrilheiros caíam em combate, me recordo de uma frase do grande comandante Fidel Castro: "Se eu perder na luta revolucionária, eu tento novamente, mas se Batista cair será para sempre", e Fidel fez exatamente isso quando fracassou sua primeira tentativa no quartel Moncada, foi preso, depois foi para o exílio no México, e mesmo sem recursos, tentou novamente até conseguir.
Mas estes senhores que se gabam hoje em dizer da luta passada no Brasil, eu confesso que sempre tive inveja de não viver aquela época, e ao contrário destes senhores que ficaram vivendo no exílio esperando um dia a anistia para voltarem e fazerem o que fazem hoje, eu gostaria de ter estado ao lado do Lamarca quando caiu, e se vivo saísse, voltar a tentar e tentar. Mas trocaram os fuzis pelos santinhos eleitorais.
Ver estes senhores hoje envolvidos nas picuinhas políticas, briguinhas de ego, politicas obscuras, enquanto as pessoas continuam sofrendo e os proprietários do país continuam mandando no Brasil, é para entristecer, no mínimo, era melhor que pessoas como o Darcy permanecessem em silencio e deixar que a história semeasse a memória de grandes feitos, porque isso que fazem é jogar tudo no mais profundo esquecimento.
"Pioneiros para o Comunismo, seremos como Che Guevara"
"Comandante, Ordem!
ordem sobre esta terra,
nós faremos guerra,
se o imperialismo vier"
"Ódio e Morte para o Imperialismo Norte Americano!"
Hasta La Victoria Siempre
Marcos Paulo
Movimento Comunismo em Ação - A RETOMADA
Henrique,
Não vou questionar as reais intenções do lançamento de um livro em ano de eleição. Acredito que errar é humano e como todos o autor, bem como o personagem principal da trama ja o fez e irão fazer por outras vezes.
Agradeço pelo email que você me enviou, o que desmontra seu apreço por mim e pelo meu mano. Posso dizer que estou contigo.
Já que errar é humano, porque tentar fazer de alguém uma pessoa sem falhas, essa pessoa não existe!
Grande Abraço
Pessoal
Por favor, considerem os problemas psicológicos resultantes de dias de tortura.
Pelo que sei, a convivência familiar com o sr. Darcy também foi bastante prejudicada, não somente a sua atuação política.
Por ser próximo da família, prefiro não me identificar.
HENRIQUE OBRIGADO PELO CONVITE VOU FAZER O POSSIVEL PARA ESTAR NESTE LANÇAMENTO UM GRANDE ABRAÇO
MAURÍCIO PASSOS - PEDERNEIRAS
De todos os comentários, quero comentar o terceiro, provavelmente feito por um dos filhos de Darcy, Jorge ou Yuri, pois fiz questão de enviar o texto que publiquei para conhecimento de ambos (antes que alguém o fizesse), por quem tenho muito apreço. Não sei qual dos dois está respondendo, mas na sua resposta, algo a demonstrar que entendeu o que fiz. Isso me basta. Ao ler que está comigo e que ninguém é inviolável, todos acertamos e erramos, acredito não ter sido inconveniente. Foi um posicionamento diante de algo que ocorre e por ter tido uma pequena participação lá atrás.
Um abracito a ambos
Henrique - direto do mafuá
Henrique
Voce fala em omissões no livro, mas não fala quais.
Quais seriam?
Sim, concordo que num livro desse tipo não deveria faltar nada, principalmente sobre a vida de uma pessoa com a vivência política do retratado. Se isso ocorrer a obra fica totalmente comprometida, perde o sentido. Estamos cheios de obras feitas por encomenda, feitas somente para enaltecer a pessoa.
Na vida do capitão Darcy, quando contada não devem ser omitidos fatos que o desabone e só engrandecer nos fatos onde foi grandioso. Muita gente cairá de pau se isso ocorrer, pois ele é pessoa pública nacional.
Outra coisa, que li aqui num outro comentário. Estamos num ano eleitoral e o Darcy é candidato a deputado. É uma obra com cunho eleitoral ou não? Teve essa finalidade ao ser lançada neste momento?
Sr Henrique, poderia me responder a esses questionamentos.
Obrigado
Carlos Silva
Caro Henrique.
O site do PDT [o qual administramos] dá uma nota sobre o livro do Comte. Darcy.
http://www.pdtsp.org.br/
Abraços.
Não foi possível ir no lançamento do livro do Darcy.
Que pena!!!!!
NILMA
REPRODUZO AQUI MATÉRIA DO BOM DIA DE ONTEM, 17/05, COM AFIRMAÇÃO DE QUE AS POLÊMICAS ESTÃO RETRATADAS NO LIVRO. PONTO PARA O LIVRO. LEREI E FAREI OUTROS COMENTÁRIOS:
Domingo, 16 de maio de 2010 - 22:02
Guerrilheiro conta a sua história
Biografia relata a participação de Darcy Rodrigues na luta armada contra a ditadura
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Cristina Camargo
Agência BOM DIA
No recém-lançado “Sargento Darcy - lugar-tenente de Lamarca”, o memorialista Antônio Pedroso Junior, autor da biografia do ex-guerrilheiro Darcy Rodrigues, 68, afirma que dificilmente quem vê o homem baixo, grisalho e de aparência calma circulando pelas ruas centrais de Bauru imagina as ações que ele protagonizou na luta armada.
O capitão da reserva do Exército mostra livro recém-lançado: ações polêmicas (Foto: Cristiano Zanardi/Agência BOM DIA)
É verdade, parece estranho associar a imagem do Darcy de hoje a do militar que abandonou o Exército ao lado do capitão Carlos Lamarca. Ele mesmo resistia a contar tudo.
O ex-guerrilheiro admite que aceitou lançar sua biografia agora por causa da candidatura a deputado federal pelo PDT.
“Antes pensava que poderiam julgar mal, achar que queria negociar com a história”, afirma.
Nascido em Avaí, o agora capitão da reserva que mora em Bauru escolheu a carreira militar como caminho profissional que fazia sentido para o menino crescido com espírito nacionalista.
Esse espírito o levou a não aceitar o golpe militar de 1964 e a fazer parte do grupo de militares que resistia.
A aproximação de Lamarca no quartel de Quitaúna, em Osasco, deu força ao grupo, que em 1968, com o endurecimento da repressão e já ligado à VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), abandonou o Exército.
“Qualquer militante revolucionário que fosse preso seria submetido às maiores e mais ferozes torturas, com a finalidade de dar informações sobre as organizações armadas”, lembra Darcy.
Lamarca, que então já tinha em Darcy seu principal aliado, deixou o quartel numa kombi carregada com 63 fuzis, três metralhadoras, uma pistola e munição.
O livro recorda que o plano era mais audacioso. A VPR atacaria o Palácio dos Bandeirantes, o Quartel do Segundo Exército e a Academia da PM, além de descontrolar o tráfego aéreo.
A dificuldade de estrutura abortou a ideia. Entre as ações de guerrilha que contaram com a participação de Darcy está a “ação expropriatória” do cofre de Adhemar de Barros, levado de uma mansão com U$ 2,5 milhões, dinheiro para a luta armada. Na biografia, Pedroso conta também a ação mais polêmica. Num dos assaltos a banco comandados pela organização de Lamarca, o gerente e um segurança perseguiram os guerrilheiros num táxi. Para interromper a perseguição, Darcy atirou no taxista Cidelino Palmeira do Nascimento, que morreu.
A morte do taxista, pouco divulgada pela militância de esquerda, hoje é citada pelos divulgam posições contrárias às indenizações pagas aos ex-guerrilheiros.
A SEGUNDA PARTE DA ENTREVISTA DE DARCY DADA AO BOM DIA DE ONTEM AQUI REPRODUZIDA:
Presos foram trocados por embaixador
Darcy Rodriges e José Lavechia algemados após captura no Vale do Ribeira (Foto: Arquivo Pessoal)
Darcy foi preso em abril de 1970, junto com José Lavechia, numa área rural do Vale do Ribeira, onde a VPR treinava táticas de guerrilha, após os dois perderem contato com o grupo.
Segundo ele, entre 15 e 20 mil militares e policiais foram deslocados para caçar a organização.
“Passei 57 dias preso, tendo sido torturado até horas após o sequestro do embaixador alemão, pelo qual fui trocado junto com outros prisioneiros políticos”, conta.
Foi levado junto com os outros presos para a Argélia e depois exilou-se em Cuba, onde viveu dez anos. Ele afirma que o tempo atenua as lembranças e hoje o impacto é menor.
Não esquece, no entanto, o sofrimento familiar provocado por sua prisão.
Em Cuba, para onde foram pouco antes dos maridos deixarem o Exército, as mulheres e os filhos de Darcy e Lamarca viviam juntos.
Móveis deles foram guardados na casa do pai de Darcy, em Bauru.
“Minha mãe ouvia toda noite o noticiário. Enquanto todo mundo dormia, ela soube da troca dos presos políticos pelo embaixador”.
Pedroso conta que o mais surpreendente foi ver o respeito dos ex-militantes.
Mas, no livro, também toca em pontos delicados, como a acusação de que Darcy violentou uma militante, desmentida pelo memorialista, as ameaças de agressões contra companheiros em discussões, entre eles a presidenciável Dilma Rousseff, e a participação no segundo governo do ex-prefeito Izzo Filho, que foi marcado por denúncias de corrupção.
PARA NÃO DIZEREM QUE FUI PARCIAL, REPRODUZO AQUI O TEXTO DO JORNAL DA CIDADE, 12/05 SOBRE O LIVRO DO DARCY:
12/05/2010 - Cultura
Darcy Rodrigues ganha biografia
Novo livro de Antonio Pedroso Junior, “Sargento Darcy, Lugar Tenente de Lamarca”, será lançado hoje à noite, a partir das 20h, no General’s Bar.
Quinta publicação do memorialista, a obra retrata o cenário de perseguições instaurado pelo regime ditatorial no Brasil, a partir da narrativa da trajetória do Sargento Darcy Rodrigues. O biografado abandonou a carreira militar para lutar contra a ditadura militar. Em consequência, foi preso, torturado e banido do Brasil, permanecendo exilado por 10 anos em Cuba.
Natural de Bauru, o autor mora hoje em Sorocaba e escreveu ainda “Repressão em Bauru”, “Porões Sem Limites”, “Márcio, o Guerrilheiro” e “Subversivos Anônimos”. Atualmente, está trabalhando em um próximo livro sobre a história dos 42 ferroviários demitidos da Estrada de Ferro Sorocabana, em 1964, por serem participantes ativos da União dos Ferroviários da Estrada de Ferro e líderes de movimentos reivindicatórios da ferrovia.
O General’s Bar fica na rua Monsenhor Claro, 10-3. A entrada é gratuita.
Olá, queria comprar esse livro, como faço? Onde encontro, não achei na estante virtual.
abs
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