DIÁRIO DE CUBA (53)
DIA DO EMBARQUE DE VOLTA
Chegou o dia! Triste, mas após 19 dias (27/03/2008 – quinta) circulando como mochileiros em Cuba, eu e Marcos Paulo acordamos em desconsolo, pois teríamos que estar no aeroporto por volta das 13h. Na TV, o anúncio do “Fórum Sulamericano contra o Terrorismo Midiático”, que acontecia na Venezuela de 25 a 30/03/2008 (ai que vontade de lá estar). Nos slogans algo instigante: “ser pobre é ser delinqüente – ser esquerda é crime – repetição de mentiras como se fossem verdades – terrorismo contra o povo”. Isso tudo está mais do que dissimulado pelos meios de comunicação de nossa América, a nos falsear uma liberdade de imprensa inexistente.
Nada programado para este desenlace. Eu, como sempre, quero (e vou) dar uma última andada pelas ruas e vielas no entorno do hotel. Curtimos como se fosse o nosso primeiro café da manhã na ilha, com aqueles ovos mexidinhos na chapa, onde reclamei muito da gordura em excesso, mas que neste dia me parece já um tanto distante. Mala praticamente pronta, levo runs e charutos para presentear amigos. Para mim, trago uma camiseta do Che, mas o que trago de verdade, isso dentro de mim é a certeza de que o socialismo sobrevive e é mais do que possível, viável e uma das únicas soluções para tirar o povo, a massa da miséria e subserviência imposta pelo capitalismo, boníssimo para uns poucos e cruel para a grande maioria. A experiência cubana está mais do que consolidada e eles não tem porque retroagir em nada.
Ceder é retrocesso, é se adequar à crueldade perpetrada contra o ser humano dentro do regime capitalista. Me dá um contentamento muito grande essa resistência cubana. Aqui se prova que um outro mundo é possível.
Na volta do café, Lula e Chávez estavam reunidos num encontro em Recife PE e das falas da TV extrai que os dois países iriam refinar petróleo também no Equador, aumentando a auto-suficiência latina, exportando cada vez mais o óleo pronto para consumo. Marcos ao meu lado pergunta: “Será que a TV Globo transmite isso ao vivo?”. Ele sabe a resposta. É não, mas a TV Brasil tem a obrigação de fazê-lo. Convenço Marcos a dar um último passeio pelas ruas. São lugares conhecidos e parecíamos dois bobos olhando atentamente para detalhes dos lugares e as pessoas. Queria muito voltar para a convivência dos meus, o trabalho, mas queria muito poder voltar mais vezes a essa Cuba, já muito amada antes e após esse contato, muito mais. Um sonho de trazer o filho para perambularmos por essas ruas. Queria muito que ele conhecesse isso aqui bem antes de ter algum tipo de vontade de ir para os EUA, por exemplo.
Fechamos nossa estada no hotel às 11h45 e saímos do hotel às 12h. Pegamos um táxi oficial para o Aeroporto Internacional José Marti, numa viagem de 25 km, passada toda olhando em desespero pela janela. O percurso deve ter ocorrido em no máximo uns 20 minutos, onde falamos com o motorista sobre Fidel, Lula, do sonho do retorno para os 50 Anos da Revolução (não se concretizou) e da Cuba de ontem e de hoje. Ao chegarmos entregamos o valor combinado, mas ele nos devolve outro tanto, que havia sido entregue a mais. Eis a diferença. Na vinda, num táxi em SP queriam nos cobrar um valor a mais (excessivo, roubo declarado e explícito) por cruzarmos divisas municipais e agora, em Cuba nos devolvem o que, por engano, entregamos a mais. Depois de todas as experiências que tivemos o prazer de presenciar, Cuba continua reservando para os turistas, outro tanto inimagináveis dentro do mundo capitalista de onde viemos (e voltamos). É isso que me encanta, o policial que não te pede propina, o garçon sem a gorjeta, o andar despreocupado pelas ruas (as mais seguras do mundo), sem crianças esmolando pelas ruas, uma educação que é um primor, uma saúde eficaz, esporte para todos e uma simplicidade, que há muito foi perdida no capitalismo.
As experiências vividas no aeroporto e um grande susto no embarque, conto no próximo post.
OBS DE OUTRO ASSUNTO: Viajo amanhã cedo para uma semana no Rio de Janeiro. Não interrompo os posts deste Mafuá, mas se não tiverem a regularidade costumeira, no retorno, em 18/07 entram no eixo. E para os que ainda não sabem, hoje, 08/07, DILMA ROUSSEFF em Bauru. Vou vê-la e conto aqui na sequência...
quinta-feira, 8 de julho de 2010
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8 comentários:
Companheiro Henrique:
Há uns 2 anos fui pesquisar notícias de meu amigo cubano Omar Olazabal da Mundo Latino, quando encontrei o seu blog.
Passei a acompanhar as suas postagens sobre Cuba e me identifiquei com tudo que você escreveu.
Estive duas vezes em Cuba e espero voltar muitas outras. Cuba me transformou e passei a ser menos consumista e a valorizar o convívio entre as pessoas, a cultura e o lazer.
Se me permite um pequeno relato: na primeira que fui à Cuba era o primeiro mandato de Lula e ouvia algumas críticas ao nosso presidente. Já na segunda vez com o aprofundamento das relações entre os dois países, só ouvi fartos elogios e pedidos de desculpa dos que haviam antes criticado.
caro Marcelo Kurk
Agradecido com as palavras. Esse Diário foi sendo estendido porque essa viagem de 19 dias, realizada em 2008 não me sai da cabeça. Quero muito revivê-la, talvez em breve. Foi algo marcante em minha vida, tanto que a prolongo. Mais dois posts e chega ao fim. Discuto muito a questão cubana aqui no blog e pessoas como ti são sempre bem vindas.
Poderíamos até tentar combinar um grupo para uma ida coletiva para lá. Que acha?
Eu e o Marcos Paulo, que lá estivemos juntos, não renegamos em nenhum momento a hisória de Cuba e a continuidade de um regime, que continuo considerando o mais viável para o mundo atual. Assistimos recentemente uma entrevista com o José Dirceu para a Marília Gabriela e num momento ela lhe pergunta sobre Cuba, as reformas, como o regime está hoje. Ele, sentindo-se acuado diz que as reformas virão. Entendo que muitos atuam hoje como o Zé, renegando o passado e aceitando as tais reformas. Que reformas seriam essas? Eu continuo a defender Cuba como ela é e sem ter medo dos enfrentamos em questionamentos como os feitos a ele.
Não me envergonho do que Cuba é hoje e da defesa que faço do regime atual. Abomino a defesa do senador Suplicy no caso Yoani Sanchez. Ele posicionou-se contra Cuba e favorável a ela. Eu continuo exatamente ao contrário e na defesa intransigente de Cuba como é hoje.
Nos falamos mais...
Também gostamos muito de Omar Olazabal (Será que ele chegou a ler o que escrevi por aqui?)
Henrique - direto do mafuá
Henrique:
Já havia mandado para o Omar o post em que ele está na foto.
Eu também vi a entrevista do Zé Dirceu. Foram comentários para satisfazer o público geral e não comprometer o projeto eleitoral. Sabemos que o Zé apóia totalmente a Revolução Cubana.
Já o Suplicy consegue irritar com tamanha ingenuidade. Sei que foi advertido por dirigentes do PT, disse que estava com boas intenções e depois se calou sobre o assunto.
Conte comigo em uma ida coletiva à Cuba. O Marcos Paulo me conhece daqui de SP, temos uma amiga em comum, a Lilian.
Essa semana comprei uma enorme bandeira do Brasil, em uma liquidação de fim de Copa, que vou guardá-la para quando puder realizar meu sonho de participar com o povo cubano do 1º de maio na Praça da Revolução.
FINALMENTE UMA BOLA DENTRO DE CUBA COM A LIBERTAÇÃO DE MAIS DE 40 PRESOS POLÍTICOS.
UFA! ERA UMA VERGONHA ISSO...
J.
Vergonha é país dominado pelo capitalismo onde as pessoas encaram com naturalidade e com total normalidade, crianças e adultos dormindo nas ruas, vergonha é ver milhões passando fome, vergonha é país com educação zero, vergonha é país sem cultura, sem identidade, vergonha é país onde o tráfico, a violencia proliferam.
Vergonha é tb ver hipocritas escreverem de forma anonima como vc caro J.
Marcos Paulo
Comunismo em Ação
caro anônimo J.:
Cuba é boazinha demais e aceitou a proposta da liberação dos traidores. Já, os EUA, mantém em cárcere privado cinco presos políticos cubanos, pelo simples fato deles terem demonstrado ser favoráveis ao regime do seu país. Vergonha é a permanência desses cinco nunca prisão mais do que ilegal.
Pra voce nem um abracito envio.
Identifique-se...
Henrique
“Esta noite milhões de crianças dormirão na rua, mas nenhuma delas é cubana”
(Fidel Castro)
E se alguma criança adormecer na rua é porque quer ver as estrelas......
Nota: O vídeo que vão ver foi filmado em Cuba pelo controverso Michael Moore.
É sobre o sistema nacional de saúde cubano.
Cuba, onde as crianças não têm acesso a Play Stations (pelo menos com facilidade).
Nem se sentem inferiorizadas por não vestirem roupas de marca.
Onde os supermercados não apresentam 60 marcas de manteiga diferentes.
E a TV não mente a publicitar que os Danoninhos ajudam as crianças a crescer.
Os carros de luxo não abundam.
Nem as malinhas Louis Vuitton.
Mas têm talvez o mais avançado sistema de saúde de todo o planeta.
E um sistema de ensino ímpar, em que os professores ensinam e os alunos aprendem, com rigor e disciplina, onde não há lugar para Escolas Novas, estatísticas aldrabadas, pseudo-universidades e Novas Oportunidades da treta.
E pleno emprego.
E as ruas seguras, livres de criminalidade e de drogados
Invejo-lhes, aos Cubanos, a falta de liberdade.
Falta de liberdade para assaltarem idosos e crianças.
Falta de liberdade para agredirem professores dentro das escolas.
Falta de liberdade para dispararem contra polícias.
Falta de liberdade para desrespeitarem o seu semelhante.
Falta de liberdade para os políticos corruptos que enriquecem à sombra do erário público.
Cuba, onde tantas coisas faltam, principalmente as supérfluas, as inventadas pelo capital na sua necessidade de se reproduzir.
Mas onde abundam a solidariedade, a fraternidade e, principalmente, a humanidade.
Gosto de ti, Comandante.
E desejo-te longa vida.
Do fundo do coração.
Cuidem-se!
PASCHOAL MACARIELLO
Si, probablemente lo sea
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