UMA PEQUENA CRÔNICA DOMINICAL NA FEIRA
Tinha decidido permanecer neste domingo o maior tempo possível dentro do meu cafofo, ou melhor do meu desorganizado e também bagunçado mafuá. Aproveitaria esse final de semana para colocar alguma coisa em ordem. Fiz isso boa parte do dia de ontem e da manhã de hoje, mas por volta das 11h, arrio a sela e caminho os 400 metros que me separam da feira dominical, ou melhor, precisamente da Feira do Rolo. Circulo e como faço sempre, estaciono na barraca de livros e achados do Carioca. Trago um, primeiro para não voltar de mãos abanando, o "Saber Cuidar - Ética do humano, compaixão pela Terra", de um dos meus gurus religiosos, o frei Leonardo Boff. A paga é pouca, meros R$ 3 reais. Vasculho livros e CDs e sempre acabo por reencontrar pessoas queridas. E é por esse motivo que volto sempre. Os livros são meros detalhes.
Na frente da banca, seu Justino, que antigamente circulava pela cidade em cima de uma lambreta e fazendo consertos mil, numa espécie de "Marido de Aluguel". Após a aposentadoria, fez de tudo, desde reparos hidráulicos a elétricos, mas o que mais lhe deu fama foi com seu quase inseparável violino. Ainda toca, pouco, mas fabricar como antes, parou, como encostou a lambreta, a pedido de filhas e netos. Coisas da idade. Reconhecido pelos do lado de dentro da banca, pára para um papo e algo chama a atenção. Seu porta celular é único, feito por ele mesmo, uma peça rara e de reconhecida utilidade. Em alumínio e incrustrado com uma espécie de jóia, que na verdade não passa de uma vistosa bijouteria, o acessório vem acoplado à sua cinta e abre e fecha facilmente. Proteje o aparelho de trombadas e tombos. Mesmo a pedidos, disse não fazer outro igual para ninguém.
Do lado de dentro da banca, dona Enys, uma aposentada professora de Educação Física, apaixonada por livros e como eu, frequentadora assídua da banca do Carioca. Com a bolsa cheia de livros e revistas comprados, só não aceita um gole da cerveja, que o dono da banca busca de barracas ali perto. Como não bebe, não entra na divisão e assim, gasta menos. Ela dá palpites para os compradores sobre a escolha dos autores escolhidos e já é personagem obrigatória naquele espaço. Pede informações sobre a Festa do Biscoito de Pocinho do Rio Verde, que todo ano ocorre em julho lá pelos lados de Caldas MG (meu pai tem uma casa por lá). Imprimo para ela uns roteiros no computador e isso é motivo para prolongarmos o papo e a cerveja (que ela só observa - um dia a convenceremos). Nisso aparece um moço com a camisa do Botafogo carioca e desponta nosso único papo sobre a Copa do Mundo (ela já não acabou?): o gol do Louco Abreu. Após receber uma ligação da mãe informando que o almoço já está na mesa, despeço de todos meio correndo (a contragosto) e ainda presencio na entrada da feira um senhor que bebeu demais sendo levado pelo SAMU. Por isso, bebo pouco nas manhãs de domingo, venho a pé e ainda consigo encontrar o caminho de volta, que necessariamente passa por cima dos trilhos (tropico mas não caio). Imagina chegar em casa num caminhão do Corpo de Bombeiros, após passagem pelo Pronto Socorro? Por enquanto, tô livre dessa.
OBS.: Deu para perceber dos motivos de gostar tanto de estar na feira dominical? Gente, esse o motivo, quero ver e estar com gente. E agora, de barriga cheia, com a macarronada na mama fgazendo efeito, tento resistir ao sono e continuar a arrumação prometida e nunca cumprida.
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