SEXTA É DIA DE ROMARIA SERTANEJA DE RAIZ
Para um grupo seleto de pessoas a sexta-feira é mais do que sagrada. Todos saem de suas casas, numa espécie de romaria, isso a exatos cinco anos, dirigindo-se para a Rua Benedito Eleutério, vila Pacífico, sede da GREB – Grêmio Recreativo Energético de Bauru, onde das 19h até à meia noite (nos últimos tempos tudo tem se estendido até por volta da uma da manhã), ficam envolvidos numa espécie de culto, um congraçamento do qual não conseguem se distanciar. Uma espécie de vício. É que lá, cedido graciosamente pelos dirigentes da agremiação, foi criado e acabou por se perpetuar como atividade permanente o “Espaço Cultural Sertanejo do GREB”.
Para um grupo seleto de pessoas a sexta-feira é mais do que sagrada. Todos saem de suas casas, numa espécie de romaria, isso a exatos cinco anos, dirigindo-se para a Rua Benedito Eleutério, vila Pacífico, sede da GREB – Grêmio Recreativo Energético de Bauru, onde das 19h até à meia noite (nos últimos tempos tudo tem se estendido até por volta da uma da manhã), ficam envolvidos numa espécie de culto, um congraçamento do qual não conseguem se distanciar. Uma espécie de vício. É que lá, cedido graciosamente pelos dirigentes da agremiação, foi criado e acabou por se perpetuar como atividade permanente o “Espaço Cultural Sertanejo do GREB”.
Mas o que seria isso? Explico. Por iniciativa de um abnegado amante da música sertaneja de raiz, Antonio Morales, ou simplesmente Tony, 60 anos, funcionário público aposentado do DAE – Departamento de Água e Esgoto de Bauru, também violeiro nas horas vagas, hoje fazendo dupla com Márcio, foi criada a noite onde a música sertaneja de raiz é preservada e enaltecida. Com o passar dos anos, foi conquistando cada vez mais gente e hoje, duplas de toda a região vem para se apresentarem, sempre com uma freqüência de público das melhores.
“Veja, hoje são dezessete duplas. Eu vou recebendo todos e faço uma divisão de quantas músicas cada dupla pode tocar na noite. Hoje são três para cada e além de Bauru, temos gente de Duartina, Piratininga e Arealva. Isso aqui é um lugar familiar, briga nem pensar. E também ninguém ganha nada, aqui não se paga nem para entrar, muito menos para sair. Quem ganha é só o homem da cantina. Duas semanas atrás quem veio aqui foi o Mathias, da famosa dupla Matogrosso & Mathias. Veio e encerrou nossa festa. Nesse dia a casa bombou”, conta um emocionado Tony, com um olho na conversa e outro na seqüência de apresentação das duplas, pois além de organizar tudo, também apresenta.
Percebo que quando o assunto é para falar do que ali acontece, Tony pega gosto e vai discorrendo aos poucos, nas idas e vindas ao palco, para apresentar uma nova dupla. “Trabalhei no DAE e me aposentei por lá. Coordenava o serviço de medição de água, o feito hoje pelos Correios. Comecei com três funcionários e terminei com 33. Aposentei e não parei. A viola está no sangue. Comecei isso aqui e acho que não paro mais. E nem quero”, prossegue. Na euforia das histórias revividas, ouço somente um lamento, uma mágoa, quando diz: “A Cultura de Bauru não valoriza muito gente daqui da terra. Já pedi o Centro Cultural, para fazer uma homenagem aos violeiros e nada consegui. Olha aquele ali (me diz apontando para Tião Camargo), esse é uma enciclopédia viva do sertanejo, sabe tudo, mas também sofre pela falta de valorização. E daí continuamos por aqui, toda sexta”.
Acabo me aproximando de Tião Camargo, ou Sebastião Laerte Fabro de Camargo, 58 anos, compositor, violeiro, proprietário de auto-escola, radialista, aposentado da CPFL e petista de carteirinha. “Eu gosto só de sertanejo raiz. Veja o estilo que predomina lá na Expo (Exposição Agropecuária de Bauru), o sertanejo universitário. É tudo igual, pega um Zezé de Camargo, você ouve a primeira do disco e não precisa ouvir mais nada. Já um Tião Carreiro, cada música conta uma história, cada uma tem um estilo diferente. Não existe comparação. Esse pessoal estragou tudo”, desabafa.
Tião é tão ligado nessa questão da raiz, que além de divulgar o estilo nas rádios AMs, acabou por enveredar até pelas ditas piratas e se puder ainda continua a fazê-lo, tudo para perpetuar a raiz, possuidora de público cativo. Criou um blog, onde acaba disponibilizando tudo o que vai digitalizando. É o http://www.saudadesertaneja.blogspot.com/ . “Veja o sucesso da música Cabocla Teresa, de 1935, cantada até hoje. Que música dessas aí do sertanejo universitário será lembrada daqui há 50 anos? Nenhuma”, diz já exaltado.
Ouvindo tudo, Tony espera Tião parar de falar, concorda com tudo, mas se mostra mais eclético. “O sertanejo raiz é que é o que gosto, o que canto, mas não menosprezo outros estilos. Semanas atrás veio aqui uma cantora e pediu para cantar algo da Alcione, um sambão, deixei e ela foi aplaudida em pé. Noutro veio um desses cantores modernos, cantou o tal sertanejo universitário e agradou a alguns. Dou espaço para todos. Tenho minha preferência, luto por ela, mas procuro entender um pouco da modernidade. O samba também sofre isso. É evidente que o samba da antiga, de um Paulinho da Viola, Cartola é muito melhor do que o que alguns fazem hoje”, me explica.
O último a se apresentar é justamente Tony e seu parceiro. Canta algumas e um sucesso que todos acompanham, a “Boate Azul”. O relógio postado em cima do balcão da cantina marcava 0h30 minutos quando cantou a última e desceu do palco para despedir-se de alguns casais, que não arredam pé do lugar sem antes cumprimentar Tony por ter proporcionado a eles uma noite tão agradável. Ele mesmo, junto da esposa e amigos, começam a desmontar todo o aparato, guardando-o até a próxima sexta, quando a trupe voltará ao palco. Na despedida me faz um convite: “Vai lá na Agrifan, a feira do pequeno agricultor, em Agudos, pois essa valoriza a verdadeira música de raiz. Lá vai ter um Festival só de duplas de raiz. Quer conhecer um pouco de gente da região toda, aparece por lá”. Pessoas como Tony e Tião não querem mais nada do que continuarem fazendo o que gostam e ao lado de gente que os entenda. E isso eles fazem e muito bem feito.
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