quinta-feira, 5 de agosto de 2010

BEIRA DE ESTRADA (06)

TIOZINHO, PERSONAGEM DO POSTO CAPELINHA - Publicado na Revista do Caminhoneiro nº 269 Junho/Julho 2010 (Edição Especial Dia do Caminhoneiro - tiragem de 100.000 exemplares)
Um posto, uma antiga festa, hoje não mais realizada e um personagem a deixar saudade em todos que por lá passavam. O posto é o Capelinha, muito conhecido no interior paulista, localizado no trevo da cidade de Dois Córregos, entre Jaú e Brotas. A festa é que ali no espaço do posto foram realizadas movimentadas Festas do Caminhoneiro, agitando toda a região e atraindo gente dos mais diferentes locais. Iniciada em 1978, tomou proporções assustadoras e teve fim ainda no auge, por não mais comportar com segurança o aumento de afluência de público. Não existe caminhoneiro que a tenha freqüentado, que não direcione palavras saudosas, com histórias mil sobre os cantores e histórias ali vividas. Numa delas, Daniel, o famoso cantor sertanejo, dali de perto, de Brotas, começou cantando ainda menino, sem a companhia de João Paulo, numa das primeiras. O que por lá se passou permanece na imaginação de todos como algo de bom, talvez a ser revivido num futuro sempre incerto.

Do posto, muitas histórias, não só da festa, como de uma intensa vida estradeira pulsada no seu perímetro. Numa delas, nunca esquecida, principalmente pelos caminhoneiros e gente ligada às estradas é a envolvendo Tiozinho, um andarilho negro, que por lá aportou ainda nos anos 90, permanecendo ali por mais de dez anos. Uma pessoa que veio do nada e caindo nas graças dos funcionários e do proprietário do posto, acabou ficando. Virou figura lendária e uma espécie do lugar. Tiozinho morou primeiro debaixo de umas frondosas árvores no fundo do posto e ajudado por caminhoneiros, sempre solidários, ergueu uma barraca há uns cem metros do lado esquerdo do posto. Não existia quem por lá passasse a não perceber sua presença. Aquele homem barbudo, ali ao lado da mesma, durante boa parte do dia era algo que não passava despercebido. E a ajuda vinha de forma seguida, com sacolas de roupas, comida e até uma lona nova, quando foi erguida uma barraca maior, com mais espaço.

Palmiro Guirro, 75 anos, dono do posto, forneceu comida a Tiozinho durante todo o tempo e tentou continuamente tirá-lo daquele lugar. Levou-o para asilos, buscou outros lugares, mas nada conseguiu. Tiozinho queria mesmo era continuar ali, livre como um passarinho, vivendo de frente para a estrada, junto de seu cachorro e umas peças de metal, que retorcia e ornamentava seu corpo. Foi levado para os hospitais quando doente e sempre retornava para sua barraca. A peregrinação de caminhoneiros sempre se fez presente. Nunca ninguém conseguiu lhe arrancar o nome, nem de onde vinha. Nesses momentos era de pouca conversa, como não aceitava comer no restaurante ou no posto. Saia da barraca nos horários estabelecidos por ele e de posse de um baldinho de plástico cheio, voltava para comer só e debaixo de sua lona.
Certa vez encafifou que queria tocar sanfona. Tanto falou, que um caminhoneiro acabou por lhe presentear com uma. Dona Zezé, funcionária do posto há 16 anos, conta que foi a maior alegria de sua vida. Tocar, ela diz que ele não tocava direito, mas foram meses musicais por ali. De outra feita, um oficial de justiça veio com uma intimação para retirá-lo do local, mas sensibilizado por caminhoneiros, voltou sem executar o prescrito. Depois ficou doente, um tétano, provocado por bichos de pé e do hospital não voltou com vida. Sua morte ocorreu antes da duplicação da pista, o movimento do posto arrefeceu, mas todos a passar por ali, ainda costumam desviar o olhar para os lados de onde estava sua barraca. Ela foi retirada de lá há uns oito anos e até hoje é motivo de prolongadas conversas. Tiozinho tem seu nome mais do que inscrito no imaginário popular dos caminhoneiros do Capelinha.

OUTRA COISA - UM ABSURDO: Acho na internet um dos maiores absurdos eleitorais. Numa escola da grande SP, cabos eleitorais e gente ligados ao programa dos candidatos tucanos posicionam crianças numa escada da escola onde estudam e os incitam a gritar o nome de um candidato. Na inocência, elas gritam "Lula, Lula, Lula...". O capataz pede para parar tudo e direciona para passarem a gritar "Geraldo, Geraldo..." e a seguir "Serra, Serra...". Se isso não é crime eleitoral, não sei o que poderia ser. Esses são os métodos tucanos de fazer campanha eleitoral. Vejam esse vídeo, clicando na linha a seguir:
http://www.youtube.com/watch?v=VcAHF0gEhpw&feature=player_embedded

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