terça-feira, 25 de janeiro de 2011

DICA (69)

MOSTRA DE TEATRO, ÓPERA BUFA COM AR-CONDICIONADO E OS DOIS LADOS DA QUESTÃO
A abertura da X Mostra de Teatro Paulo Neves, ocorrendo no Teatro Municipal de Bauru poderia ter transcorrido de forma normal, só com aplausos e beijos. Isso realmente ocorreu, mas o assunto da noite foi o ar-condicionado que, como previamente anunciado, permaneceria desligado, quebrado e inoperante. Pior que tudo, no meio da apresentação da primeira peça da noite, a “O que aconteceu a Peter Palmer”, a atriz principal Lívia Jabbour (filha do editor do JC) saiu do palco às pressas e quase desmaiou na coxia, devido ao calor excessivo no local. Peça interrompida, Paulo Neves explica os motivos no palco, bafafá nos bastidores, falatório geral e antes da entrada do público para a segunda peça do dia, “Antígona”, Talita Neves surge diante da fila e explica que a peça ocorreria com portas abertas após a entrada do público, para tentar ventilar local. Suamos um bocado, resistimos e aplaudimos tudo ao final, seguida de outra fala emocionada de Paulo. “Eu só peço uma coisa: me dê condições. Trabalho com respeito, dignidade e ética. O problema daqui não é só o ar, tentem usar o banheiro”, disse.

Paulo tem razão em reclamar. Suas peças são marcadas com um ano de antecipação. Estava ciente de que o ar não funcionaria, quando funcionários tentaram convencer o prefeito de que esse fato causaria problemas. Esse, passando por cima da decisão de secretária e funcionários autorizou os espetáculos ("Parece que o prefeito faz de propósito para ir fritando aos poucos futuros demitidos", me diz um amigo presente). Deu no que deu. Decisão tomada, que se arque com as conseqüências. Vi Thiago Neves dizendo que a verba para restauro do ar foi aprovada há mais de 45 dias e nada foi executado. Burocracia em ação, deficiências cruciais do serviço público inoperante. Falta ação corajosa de alguém com poder de canetar e decidir: Faça-se já. Medrosos, esperam decisão jurídica e tudo prossegue a passos de tartaruga. Existiam outras alternativas para realização da Mostra, todas de alto custo (teatros da USC e USP, por exemplo), mas Paulo insiste pelo teatro, custo reduzido, porém de precárias condições (falta luz, faltam equipamentos básicos, falta limpeza...) e mais que isso, ali tudo leva o pomposo nome de Celina Alves Neves, matriarca do teatro em Bauru, mãe de Paulo e avó de Talita e Thiago. Incoerência ocorrer em outro lugar. Ele insistiu e o prefeito consentiu.

Paulo apregoa estar cansado de tantas ocorrências negativas nesses dez anos. Por outro lado está prestes a inaugurar o Espaço Cultural, rua Gerson França, com espaço para 40 pessoas, dando vida e luz para a antiga escola de datilografia de sua mãe. Seu cansaço advém de todos os lados. Entrevistado ao vivo por alguém sem prévio preparo, lhe perguntam: “Quem foi Antígona?”. Ele não agüenta mais isso e responde: “Não sabe? É o novo atacante do Flamengo, vai jogar ao lado do Ronaldo Gaúcho”. Por falar em Antígona, num certo momento da peça, Creonte não aceitando um sepultamento digno para o irmão de Antígona, quando fica sabendo que o mesmo ocorre, não podendo perder a autoridade proclama: “Tragam o culpado. Foram os subversivos, esses enterraram o criminoso e com certeza subornaram os guardas”. Faço uma precária analogia com a situação vivida no teatro e vislumbraria um texto novo, da seguinte forma: “Esse ar, sempre ele, com certeza foram os subversivos, esses de língua ferina, danificaram a aparelhagem, subornaram os guardas. Esses os culpados”.

Em tempo 1: João Jabbour, do JC estava na platéia vendo a atuação da filha e sua ação foi rápida, dando tempo do jornal noticiar o fato na coluna Entrelinhas de hoje (Injustiça afirmar que a Admistração passada nada fez, pois o ar estava reparado e em funcionamento na passagem de governo). Leiam no http://www.jcnet.com.br/detalhe_entrelinha.php?codigo=200155

Em tempo 2: Hoje, na continuidade da Mostra, 19h, sob direção de Silvio Selva, "Cindy e a Galera" e 21h, com adaptação de Caleb Patrício, "Guimarães Rosa.com.br". Ambos amigos e ladeando a última foto desse post. Bato cartão por lá novamente hoje, levando junto um leque, esse emprestado de minha mãe.

11 comentários:

Anônimo disse...

é meu querido, cultura e meio ambiente são sempre as ultimas coisas que os governantes se preoculpam, pois se fizer uma pesquisa com o povo esses itens nem aparece.

As preocupações do povo são as de sobrevivência e as que veem na mídia , exemplo : segurança (veja as casas no Brasil e lá fora pra se ter uma idéia do pânico que temos de ser roubado), saúde ( le-se tratar as doenças), emprego (pelo menos com carteira assinada), asfalto (pro carro novo comprado de prestação), crexe (pra mãe trabalhar), etc...

saudades

Marcelo Cavinato

Claudia disse...

Será que precisam de um PHD para o conserto do ar condicionado?
A que ponto chegamos...
Abraços

Wellington Leite disse...

Oi Henrique!
Lembro-me de minha passagem como produtor inexperiente de shows lá no Teatro Municipal: politicagem e atraso de pagamento aos músicos.
A dificuldade de quem mexe com cultura na cidade de Bauru é sem-limites.
Uma pena.
Abração
W.Leite

Anônimo disse...

Henrique

Não deu pra sentir saudade do Losnak. Mas quando o Pedro assumiu senti saudade do Vinagre. Depois, por mais que isso me doa, cheguei a querer sentir saudade da inoperância, mas querendo fazer do Pedro quando via a doutora não vindo para fazer nada. Que mais posso querer agora? Quem virá. No mínimo teria que ser alguém com conhecimento da classe artística, que conheça a realidade estrutural, que goste de frequentar o teatro e todos os espaços públicos onde se oferece cultura na cidade. É o mínimo. Ela já nao administra mais, pois diz uma coisa e o prefeito outra. Teria vergonha.

Cláudia C.

Anônimo disse...

Meu caro,

Quero te dizer uma só coisa com a maior brevidade possível.

Paulo Neves, Thiago e Talita Neves sabiam de todas as condições do teatro antes de adentrarem a semana. Isso foi-lhes comunicado semanas antes. Ele assumiu o risco e hoje dá uma de santo, jigando toda a culpa no prefeito, no teatro e até nos funcionários.

Ele sabia e para não pagar mais nos outros palcos, preferiu e exigiu que sua mostra ocoresse no Municipal. Não faz sentido o discurso de desconhecimento proferido por ele no final do espetáculo de ontem. O desmaio da atriz assim sendo pode ser creditado a culpa de quem? Me diga.

HTF

Anônimo disse...

Tudo bem, mas o banheiro fedorento não necessita de licitação, existe um adesivo em uma parede falando da última dedetizzação: foi no Governo do Vinagre. DIzer que o dismaio foi culpa do paulo neves, tudo bem, mas ainda falando do governo anterior, lembro que deixaram o arcondicionadoi funcionando e chega o Pero romualdo e a doutora e não fizeram nada. Pra ser secretario tem de frequentar o local o Pedro e a doutora, NUNCA FREQUENTARAM o teatro...

Anônimo disse...

penso muito no vazio da discussão que fica em torno do banheiro e da culpa de quem (aliás, que conceito esquisito para seres humanos imaginarem que tem tal poder pra determinar...). paulo neves é uma pessoa que merece muito respeito e o conceito de TEATRO MUNICIPAL é o que deveria estar em pauta. pensar em município, em direitos (e, obviamente, deveres) do cidadão... quem sabe não conseguimos uma sociedade culturalmente ativa? ana bia andrade

Anônimo disse...

gente,

Que bobeiragem discutir se Paulo errou ou não, o fato é que a situação lá perdura já faz um tempão e quase nada foi feito de efetivo nos últimos anos. Nos jornais de hoje parece que muita coisa está sendo licitada e algo novo pinta no ar. Será? Devemos acreditar? Talvez. Paulo é grande demais, movimenta algo grandioso, que ninguém faz igual na cidade. Polêmico como todo agente social, não está nem aí se o que vão achar dele é positivo ou não, ele continua fazendo, produzindo. A maioria das críticas vem de gente que nada produz ou tem inveja de quem realmente faz. Errar todos nós erramos em todos os momentos de nossas vidas. Paulo acerta errando e erra acertando. Ele faz e isso me basta. E faz muito e faz bem. Espezinhar a situação do teatro e da área cultural de Bauru é algo que todos deveríamos fazer, pois nada mais acontece de produtivo por lá. E quando tentam fazer, tem uma turma que tenta continuar não fazendo nada. Cuidado com esses.

Alvarenga

Unknown disse...

Baixaria atribuir culpa à maior vítima!!

Mas o mundo dá voltas...
Na volta do mundo, o Paulo é responsável por dinamizar uma escola de teatro, instigar a curiosidade e o interesse pela leitura das Grandes Obras, construir no corpo dos seus alunos atores e atrizes (...) e muitas outras responsabilidades.

É responsabilidade da SMC e do Prefeito manter o Teatro Municipal em condições de uso, e ponto final.

A responsabilidade da arte, através das suas diversas linguagens, é ampliar a nossa capacidade de ver, perceber, interpretar e representar esse mundo em que vivemos.

Pena que a reação da secretária foi de simplesmente tentar cancelar a semana.

Que bom que o Prefeito Rodrigo não foge de suas responsabilidades, e assim manteve a X Semana, com o ar condicionado "meia-bomba".

Só falta agora atribuir a culpa do estupro à vítima!

Alberto-Capoeira

Anônimo disse...

PARABÉNS, HENRIQUE, POR SUAS PALAVRAS....
PRECISAMOS ATIVAR NOSSAS VOZES...
ABRAÇÃO
MADÊ CORRÊA.

Anônimo disse...

CULTURA BAURUENSE - A TRAGÉDIA ANUNCIADA


A Cultura não pode sobreviver isolada e voltada sobre um único umbigo com seus títulos acadêmicos. Diante de tantos fatos, de tantos entra e sai, de tantos mandos e desmandos é certo que muitas questões mereceriam uma abordagem mais crítica.

Onde estão os recursos destinados à cultura? Estão fiscalizando a política, definindo, juntamente com os agentes culturais, formas de fiscalização de modo que tanto a liberação dos recursos, quanto o seu uso cumpram com os princípios dos projetos e da própria política cultural, garantindo a transparência do processo? Estão definindo critérios e processos avaliativos para as licitações aprovadas com o objetivo de garantir qualidade àquilo que é levado ao público?

A pasta da cultura poderia diversificar e não priorizar somente um setor ou gênero, mas garantir que os recursos e instrumentos definidos pela política contemplem todo o espectro da produção local. Todos os que se preocupam e trabalham na gestão cultural sabem muito bem que as coisas não são uma maravilha, e que muitos “Administradores Públicos” ainda acreditam que intervir na cultura é uma espécie de “ação entre amigos”, que trabalhar com cultura é levar os grupos que representam para uma espécie de clínica estética para ornamentar o patetismo de suas convicções. São estes que insistem em pensar querer confundir a classe cultural, exclusivamente, com as eternas promessas eleitoreiras; para estes, intervirem no crescimento da classe artística é montar um enorme palco em praça pública e não oferecer uma programação digna e nem qualidade técnica para o evento.

Observando o mundo além das aparências, vemos opressores e oprimidos em todas as sociedades, etnias, gêneros, classes e castas, vemos o mundo injusto e cruel. Temos a obrigação de inventar outro mundo porque sabemos que outro mundo é possível, mas cabe a nós construí-lo. Com nossas mãos procuramos manter a coerência, pois o mais importante é contribuir para um debate tão necessário para a valorização da cultura e sua conseqüente transformação em instrumento de elevação da auto-estima e da criatividade da sociedade bauruense.

É fundamental que todos os envolvidos na gestão da cultura saibam que ela é a mais alta expressão dos nossos valores e da nossa história, por isso deve ser encarada como necessidade básica da cidadania. Saber conduzir o processo de elaboração de uma política pública de forma organizada e norteada por princípios claramente definidos é condição necessária para se tratar a cultura como ela merece.

O presente artigo é um instrumento de reflexão diante da necessidade de valorização da nossa cultura. Que possa contribuir pelo menos com a polêmica, pois é dela que se alimentam aqueles cuja pretensão é tornar os produtos da nossa rica cultura elementos familiares e constantemente presentes no nosso cotidiano.


Kyn Junior é Produtor Executivo, Publicitário e bauruense