terça-feira, 20 de setembro de 2011

FRASES DE UM LIVRO LIDO (52)

UMA FORMA BEM ESPECÍFICA DE VIAJAR, CONHECER LUGARES E PESSOAS
Hoje fiz uma coisa e a relato aqui. Comprei um livro de presente para Ana Bia, mas não vou entregá-lo de imediato e o motivo é somente um: preciso ler antes. Trata-se do “Terra, Mar e Ar – Peripécias de dois turistas Culturais”, do casal Ruy Castro e Heloísa Seixas (Cia das Letras SP, 1º edição, 2011, 216 páginas). Escrevo hoje, 16/09 e daqui para frente vou anotar as frases que mais gostei. No exato dia em que terminar, publico no blog, faço uma dedicatória e o entrego. Veremos quanto tempo demoro nessa empreitada. O tema é instigante. Em 2007 fui com o Marcão para Buenos Aires só para ver Chavéz num discurso no Ferrocarril, esse ano novamente por lá visitei o Página 12, Madres Praça Maio, Urquiza FM, livros na Avenida Corrientes, etc. Isso sem falar em 2008 na visita à Cuba. E nas idas ao Rio só para percorrer os caminhos dos sebos. O interesse que tive nesse livro foi por sempre ter agido assim e acredito que, para mim as viagens só tem sentido dessa forma. Não faço turismo, quando vou para algum lugar, traço planos de vasculhar algo existente por lá, exatamente o que o casal Castro e Seixas fazem. E não é lindo isso? Vamos às frases:
- “Acordar numa cidade que não a nossa é sempre uma experiência e, não importa de onde você venha, acordar em Veneza é uma experiência difícil de superar”, pág. 11.
- “...são 70 mil turistas por dia em Veneza, para engrossar uma população residente de apenas 270 mil. (...) sob o peso desses exércitos que marcham de tênis e botas sobre ela, não admira que a cidade esteja afundando”, págs. 12 e 13.
- “Mas, o que é ver tudo em Veneza e, mais ainda, em 6 ou 8 horas? (...) É uma façanha, considerando que escritores como Goethe, Mark Twain, Proust. Hemingway, Ezra Pound e Mary McCarthy passaram um bocado de tempo nela, nos séculos XVIII, XIX e XX, e não viram tudo”, pág. 13.
- “...alguma coisa, nos tetos e paredes do Rezzonico, faz com que, ao passar por aqueles espelhos e se ver refletido de tênis, jeans e camiseta, você se pergunte, como eu fiz, se não estará mais bem vestido para um rodeio em Barretos do que para um bordejo em Veneza”, pág. 14.
- “Não gosto muito de cidades modernas – tenho um certo trauma de Brasília”, pág. 17.
- “Mas Berlim, como o Gabinete do Dr Caligari, é assim: nada é o que parece ser”, pág. 19.
- “A frase deliciosamente machista, passou pela minha cabeça outro dia durante uma viagem à Itália. Não a frase em si, mas uma adaptação, que seria assim: ‘Italiano não liga para antiguidade. É que nem nós cariocas com paisagem’. Nos dois casos, porque as temos demais”, pág. 44.
- “Numa cidade em que as línguas mais faladas são, pela ordem, espanhol, spanglish e inglês, falar em português talvez seja mesmo chique – mais isso só porque o querido Bobby Short nunca o ouviu falado por José Sarney” (sobre Nova York), pág. 57.
- “Você já esteve, muitas vezes por toda Manhattan, conhece cada buraco e é íntimo das suas íntimas bruebas – mesmo que nunca tenha ido lá. Sua passagem foi o ingresso do cinema; neste estava incluída a hospedagem; e o tempo de vôo foi um imperceptível clique que jogou a sala no escurinho, prateou a tela e iluminou sua vida”, pág. 66.
- “Quando temos alguma viagem em vista, tentamos ver filmes que se passam nas cidades que vamos visitar, ou que tenham alguma relação com ela”, pág. 81.
- “Apesar da exagerada fama de grosseria dos parisienses, os franceses continuam a ser um dos povos mais formais do mundo. Isso foi uma coisa que a Revolução, com todo o blá-blá-blá pelo fim das hierarquias e privilégios, não liquidou”, pág. 99.
- “Viver nababescamente faz parte do emprego de rei em qualquer parte, e há vários reis vivendo assim até hoje, em países em que a monarquia não corre o menor risco”, pág. 107.
- “O irônico é que se vivesse ali hoje, Robespierre, que gostava de se tratar, teria como vizinhos Louis Féraud (roupas), Longchamps (malas), Cartier (perfumes), Lacoste (toda a linha do jacaré) e outras griffes cujas Maison tornam a rue Saint-Honoré muito mais um cenário de revista Vogue do que um ninho de revolucionários de 1789”, pág. 116.
- “Quem se defronta com um prédio, paisagem ou obra de arte depois de tê-la visto muitas vezes estampada em livros tem um estremecimento”, pág. 126.
- “O metrô de Moscou é seguramente o mais deslumbrante do mundo. E, para quem pensa que seu luxo é remanescente da Rússia czarista, uma informação: ele foi construído nos anos 30. Stálin queria que as estações de metrô parecessem palácios (seriam os palácios do povo). E conseguiu”, pág. 131.
- “Eu não moro no Rio. Eu namoro o Rio, disse certa vez Tom Jobim. (...) desde 1808, quando o príncipe regente d. João surgia no meio da rua ou o imperador d. Pedro podia ser visto a desoras entrando numa casa da rua do Lavradio, o povo do Rio acostumou-se a roçar cotovelos com os poderosos – e a não levá-los muito a sério”, pág. 154.
- “Esse é um dos grandes charmes do Rio: reduzir qualquer pessoa, por mais cheia de vento, a si mesma. Não importa quão momentaneamente em voga, ninguém consegue se sentir importante demais diante de tanta beleza. (...) No Rio, o simples fato de saber que a História não nos esperou para começar é suficiente para nos por no nosso devido lugar”, pág. 155.
- “Além do show da natureza, há também um espetáculo humano a se apreciar no Rio e que parece resistir a todas as modernidades. Um exemplo: provavelmente nenhuma outra praia do mundo tem idosos tão saudáveis e bronzeados como Copacabana”, pág. 158.
- “Na volta ao Rio, sempre que possível venho de janela, poltrona A ou F, longe de asa. E, todas as vezes, de dia ou de noite, ali pela altura do trigésimo minuto de vôo ponho-me em alerta. Lá embaixo, a partir da baia de Marambaia, vai começar o espetáculo que, quanto mais visto e amado, mais me deixa de boca aberta. E, depois de cinco minutos de deslumbramento olhando lá de cima – ilhas, praias, montanhas, barcos, o porto -, chego à cidade que, todo prosa, me habituei a chamar de minha, mas que, na verdade tenho de repartir (o que faço com orgulho) com todos os brasileiros”, pág. 160.
- “Coisa boa é fazer turismo sem sair da própria cidade. É perfeito para quem mora em um lugar onde muitos gostariam de passar as férias. Andamos pelas ruas do Rio com alma de turistas”, pág. 163.
- “...já superei a mania de restaurantes de nariz empinado, principalmente se estiverem na moda. Da mesma forma, não espero mais em filas de restaurantes – tenho medo de morrer de velhice numa delas – e muito menos naqueles a que se vai para ver e ser visto. Restaurante bom é aquele em que a comida é saborosa, a que se pode ir a pé, em que os garçons nos dão um tapinha na barriga e chamam pelo nome e o chef – digo, cozinheiro – aceita fazer algumas alterações no prato para acomodar o seu paladar. (...) E que seja freqüentado por pessoas como você e eu, que não estamos ligando para ninguém, e não por colunáveis a fim de exibir o último modelito. (...) Prefiro os restaurantes que se possa ir de bermudas, sem prejuízo de quem quiser ir a rigor. (...) Há restaurantes cujo forte não é a comida, mas a clientela. E, embora algumas clientes sejam altamente comestíveis, prefiro dar um tchauzinho de longe e entrar, feliz, no botequim mais próximo”, págs. 182 e 183
- “Botequim, você sabe, é um lugar perto de sua casa, a que se vai para berber, comer e conversar fiado, em pé ou sentado, calçado ou desclaço, vestido ou moderadamente pelado, exigindo-se uma mistura equitativa de homens e mulheres, bacanas e vadios, sóbrios e bebuns. Pelo menos essa é a receita do botequim carioca – o autêntico berço da baixa gastronomia mundial”, pág. 183.
- “Os esnobes podem torcer o nariz, mas além de instigante, tem antecedentes ilustres. Alguns dos momentos mais decisivos da História aconteceram no que hoje poderíamos chamar de botequim. O cristianismo, veja só, nasceu ao redor de uma mesa, em Jerusalém, com treze homens bebendo vinho, mastigando uns pedaços de pão e fazendo planos para os 2 mil anos seguintes”, pág. 184.

OBS.: Nessa semana fiquei no Rio de domingo, 18/09 a 22/09 (trabalho, trabalho e trabalho) e tenho histórias vividas ao lado de pessoas das mais queridas e revendo lugares indescritíveis. Não via a cara de praia. Nunca fui lá para isso. Conto um pouco aqui nos próximos dias.

3 comentários:

Anônimo disse...

Hum... Um livro que não fica incentivando viagens para Miami, Disney, acredito que as madames não vão gostar nem um pouco, pois gostam mesmo é de voltar com as malas mostrando os adesivos dos santuários de compras.

Um belo tema. Vou ver se acho por aqui.

Silvio - Jaú

Anônimo disse...

Odeio restaurantes que não aceitam uma modificaçãozinha sequer no seu cardápio. E gosto também de ir de bermudas e chinelos de dedo a esses lugares.

Paulo Lima

Anônimo disse...

amor da minha vida
tenho a certeza de que já somos e continuaremos a ser masi um casal de viajantes terramarear. em qualquer lugar deste planeta - ou mesmo de outros - sempre dando tudo certo ao nosso modo, e sendo felizes que é muito do que importa nesta vida. beijo da ana bia