MEMÓRIA ORAL (111)
DOIS ATOS NO MESMO DIA, OBJETIVOS SIMILARES
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Sábado, 15/10, tempo fechado pelos lados de Bauru com chuvas intensas caindo a qualquer momento e dois atos marcados para a região central da cidade. No primeiro, um Ato de Protesto contra a provável privatização da Saúde Municipal, quando a Prefeitura, por intermédio de sua Secretaria de Saúde tenta fazer vingar a aprovação na Câmara de Vereadores um famigerado Projeto de Lei criando a Fundação Regional de Saúde. Na verdade isso será um enxame de verba pública federal, desistimulando o SUS -
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Sistema Único de Saúde, fragilizando ainda mais as relações trabalhistas, privatizando mais um serviço público e feito a toque de caixa, em algo com muita coisa a ser explicada e entendida. No segundo, numa reprodução do que acontece nacionalmente, um Ato contra a Corrupção, combinado pela internet e agitado principalmente por jovens, focando nos malefícios da corruptela num todo e a busca de se desviar do foco buscado pelo pessoal ligado ao “Can
sei”,
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com a inclusão de temas locais, afinal, “a revolução deve começar na própria casa”. O primeiro marcado para às 10h e o segundo para às 15 hs.
No primeiro, o local escolhido é o Calçadão da rua Batista de Carvalho, cruzamento com a rua Treze de Maio, local onde todos os sábados o vereador Roque Ferreira – PT mantém uma banca de livros da vertende petista “Esquerda Marxista”. Ponto conhecido e local das últimas concentrações com temática social ocorridas na cidade. Além desse ato, na chegada, o advogado e idealizador do movimento Resgate Bauru, Carlos Augusto de Carvalho, aproveitando o som trazido pelos organizadores do movimento,
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fala também sobre sua iniciativa popular de reduçã
o salários dos vereadores. Ali, uma banca, vários militantes com pranchetas a coletar assinaturas contra a Fundação de Saúde e duas faixas buscando o apoio popular nesse sentido. Cinco cartazes feitos a guache e papel cartão, iam mais a fundo, denominando o que estava sendo criado de “Afundação” e buscando o entendimento de algo ainda não muito bem esclarecido: “Qual o motivo da pressa do vereador Marcelo Borges em querer aprovar a toque de caixa a Afundação Regional de Saúde?”.
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Nada começou antes das 10h30 e antes disso o fotógrafo do Jornal da Cidade já havia feito alguns cliques e bateu em retirada. Na organização, muitos funcionários públicos, principalmente ligados à Saúde Municipal, o Sinserm – Sindicato dos Servidores Municipais e o pessoal ligado ao gabinete do vereador Roque Ferreira. Em torno deles, alguns famosos militantes das questões sociais no município. O megafone passava de mão em
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mão e nas falas, a questão da Fundação a predominar, tendo Carlos Augusto a fazer um contraponto, fazendo a defesa e chamamento para seu abaixo-assinado. A grande sacada do Ato foi despertar na população, com poucas informações sobre o que vem a ser essa tal de Fundação. O que todos tem certeza é de que a Saúde no município deixa a desejar e a maioria das perguntas dos que paravam para tomar conhecimento era: “Mas isso não será bom para a Saúde? Me explique melhor”. E isso foi feito por todos, indistintamente.
Permanecendo mais tempo entre os manifestantes, um repórter e um fotógrafo do diário Bom Dia, coletaram muitos
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dados, mas pouco foi reproduzido na edição do jornal no dia seguinte. Fiscais da Prefeitura tentam estragar o brilho da manifestação, dizendo ser proibido o protesto com pregação de cartazes. No ajuntamento de argumentos, mesmo eles estando em número de quase dez pessoas são demovidos de continuarem no triste propósito, mais usual nos tempos ditatoriais e saem de cena como chegaram, sem serem percebidos. Movimentação intensa até pouco antes do meio dia, quando tudo foi sendo desmontado e eis que surgem caminhando pelo calçadão, o vereador Marcelo Borges, o líder privatista, junto de dois colegas, de uma legenda supostamente socialista (sic) e ironizam a manifetação. Numa atitude de boas relações entre parlamentares, Roque fica para o
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bate-papo e a ele junta-se padre Beto, que subindo a Batista tambem adentra na rodinha de final de feira. Uma garoa cai sobre a cidade no exato momento do fim do ato, parece que demarcando a trégua estabelecida para sua realização.
A mesma trégua não foi conseguida no período da tarde, pois pouco antes das 15h cai sobre Bauru um toró daqueles de alagar o centro. Chuva ininterrupta,
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dessas a desmobilizar qualquer organização. Da mesma forma que veio forte, depois de uns quarenta minutos se foi e a partir daí surgem dos mais variados lugares algumas pessoas e começam a se aglutinar diante do coreto da praça Rui Barbosa. Dois cinquentões e o restante jovens, principalmente os aglutinados a partir do facebook, através do lema “Acorda Bauru!”. Uma conversa foi estabelecida e como ninguém acabou arredando pé, outros foram se juntando. Algumas faixas de pano confeccionadas para o evento foram desfraldadas e a seguir surgem outras cinco em folhas craft, pintadas com guache.
Um tem a idéia de fixá-las no gradil do
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coreto e o local fica maravilhosamente enfeitado, parecendo uma árvore de Natal. Surgem mais pessoas, aproximadamente umas trinta e um taxista vendo a movimentação aproxima-se e faz questão de deixar sua mensagem: “Que ótimo vocês estarem aqui e falarem também dos problemas de Bauru. A imprensa daqui só quer divulgar algo sobre a corrupção de longe, mas quando resvala em figurões daqui, fogem do pau”. Destacado num dos cartazes, desses citados pelo taxista, com sua frente voltada para a matriz católica
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está escrito: “Corrupto é tudo igual, em Brasília, em SP ou Bauru: E o lesa Bauru da Associação Hospitalar?”. Novos cartazes são feitos, com embalagens de guache surgindo da bolsa de uma jovem e papel de outro, despontando dois bem elucidativos: “Quem cala conscente” e “Somos indignados pela apatia do povo”.
Quase 18h e uma nova chuva cai sobre a cidade, forçando todos a se agruparem dentro do coreto, surgindo daí uma espécie de espaço aberto para um falatório, ou seja, uma apresentação de propósitos, interesses e alcances. Um fala sobre a importância do entendimento dos motivos de não se aceitar a
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privatização da Saúde como está sendo apresentada, outro argumenta que a privatização não deu certo em nenhum lugar do mundo e a partir daí os mais jovens deslancham e mostram definitivamente sua cara e coragem. Foi um belo festival de idéias, demonstrando que ninguém ali está sendo conduzido por direcionamento outro, que não o de por fim ao estado de coisas lamentáveis gerado pelas muitas corrupções (e corruptores), conhecidas por todos.
Eis que um pede a palavra e desfere: “De nada adiantará essa nossa
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movimentação, pois não será acertando algo aqui e acolá que consertaremos nada. A corrupção está alastrada e só existe mesmo um jeito de reverter isso, é alterando o sistema. O sistema é que é podre”. Uma outra jovem começa falar e é insuflada a proferir a palavra que parecia engasgada na sua garganta: “O culpado de tudo é o sistema capitalista. Não existe como efetuar remendos nele, pois não tem cura”. O aplauso foi geral e a chuva continuava caindo do lado de fora do coreto. .
A chuva de pequenos pronunciamentos continuou de forma cada
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vez mais incisiva. “Eu para fazer política não preciso estar dentro de um partido político, aliás abomino isso”, disse um. “Ninguém aqui vai ser conduzido por ninguém”, “Precisamos começar mudando a nossa atitude diante do mundo, para propormos a
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mudança dos outros” e “Eu estou mais indignado com os que ficaram de vir aqui hoje e não o fizeram, do que com os que combatemos. Se falo que vou, tenho que ir, mesmo debaixo de chuva”, concluiu outro. Da ampliação do debate algo mais, com a definição do reencontro já para a próxima segunda, 17/10, quando os vereadores votarão o projeto da Fundação e mais que isso, quando outros problemas da cidade de Bauru foram sendo levantados, como o DAE, transporte urbano, etc, a definição que os próximos locais de encontro serão defronte esses lugares, a Prefeitura, o DAE, a EMDURB, o escritório político do deputado e assim por diante.
O dia ia escurecendo quando todos passaram seus e-mails para uma lista e um
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dos presentes ficou encarregado de enviar a todos, promovendo a partir daí uma intensa troca de recados. “A internet é o ponto de aglutinação, para iniciarmos a conversa, definirmos o assunto do dia e depois sairemos para as ruas”, disse outro, prontamente aceito por todos. Pouco antes da dispersão, a
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idéia do nome para o movimento veio de outro, devendo levar em conta algo transcrito numa das faixas, "Indignados com o Sistema”, algo assim. Não precisou nem colocar em votação, pois a concordância foi geral. Bauru quase escura, um que saia, da turma dos mais velhos, muita coisa já tendo presenciado faz questão de dizer: “Saio animado, mas não tenho motivos para ficar exaltado. Já me decepcionei muito com outras concentrações que deram em nada e torço muito para tudo dar certo, porém, pela vivência, aguardo. Não me animo mais antes do tempo”.
Obs.: Foi intencional a não citação dos nomes da maioria dos participantes. Mais dos dois atos no http://www.protestojovem.com.br/ .
6 comentários:
"Tenho Orgulho de você Henrique.Sem rasgação."
Marcia Pestana Mota
Sr Henrique:
Acabo de ler isso abaixo nos jornais:
"Protestos contra as grandes empresas e o setor financeiro resultaram em cenas de violência hoje (15) em Roma, com carros incendiados e gás lacrimogêneo sendo disparado pela polícia contra os manifestantes".
Em Bauru ocorrerá algo desse tipo?
Isso não preocupa?
L.P.J.
henrique vamos marcar e fazer a materia do gasparini desde inicio ok com varias fotos etc..
att
mario roberto cândido
Não sei quem possa ser LPJ, mas respondo que esse tipo de provocação é simplista demais. Não se analisa o que ocorreu recentemente em Roma dessa forma. Existe todo um contexto e os que protestavam estavam no seu papel. Polícia é polícia no mundo todo, paga pelo estado para defesa do mesmo. Ela respoonde aos impulsos desse estado. Em Nova York outra truculência gratuita contra o povo. Isso se repete por tudo quanto é lugar. A repressão não respeita direitos mínimos dos cidadãos e esses quando aviltados de forma sucessivas reagem. Deu no que deu. Aqui não temos clima para isso, pois nem o coreto ainda lotamos, mas cresceremos e hoje, segunda é uma prova de fogo para todos, quando tentaremos mobilizar um grande número de pessoas para protestar contra a tentativa dos vereadores em aprovar algo impopular e injusto.
Henrique - direto do mafuá
Caro Henrique - grato pela mensagem da MEMORIA ORAL 111 - você está ligado nesse tema e tem passado para nós todos com muita propriedade. Parabens-Isaias
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