segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

CHARGE ESCOLHIDA A DEDO (36)

UM EDITAL PARA PUBLICAÇÃO DE LIVROS EM BAURU e UM LIVRO SENDO PARIDO EM REGINÓPOLIS
Ambas boas notícias. Encerra-se depois de amanhã, dia 02/02 o prazo final do Edital de "Chamamento para publicação de livros", iniciativa da Secretaria Municipal de Bauru. Segundo o edital serão cinco volumes, com 1000 exemplares cada, subsidiando escritores bauruenses dentro dos temas, poesias, crônicas, contos e ensaios literários. As inscrições são feitas pessoalmente, sem previsão de prorrogação e passarão por análise de uma comissão a ser formada pelos organizadores. Deverão ser entregues, além da ficha de inscrição, indicação etária da obra, exemplar impresso da obra e sua versão em CD. Cada obra poderá ter no mínimo 20 e no máximo 150 páginas. A idéia é boa, inédita, mas ainda não inteiramente concretizada, pois diante de um cargo sujeito às incertezas do momento, ao final do edital, um lembrete alerta para prováveis adiamentos e não realização: "Fica reservado à SMC a faculdade de cancelar ou revogar, de acordo com o seu interesse, ou anular o presente Edital de Chamamento, sem que caiba aos participantes direito a qualquer indenização".

Mesmo com o lembrete, gostei da iniciativa e preparei duas obras de minha lavra, mas não contava com o inusitado da vida a me dificultar a entrega dos trabalhos. Meu sogro, Sr Zé Pereira (retratei ele aqui num Memória Oral, circulando pelos sebos cariocas junto do meu filho), um retinto advogado carioca, amante inveterado de livros, aos 81 anos está entrevado numa UTI carioca, sedado e cá estou ao lado de Ana Bia. Preferi deixar de lado a seleção dos meus textos para estar aqui e disso não me arrependo. Outras oportunidades virão e como sempre, acabei também deixando tudo para a última hora. Fica a dica para muitos outros que possuem obras no prelo. Das incertezas do cargo cultural do município, me parece que o que está a acontecer com a atual secretária é o mesmo que acabou de ocorrer com o técnico do Noroeste após uma acachapante derrota de 5x1. As idas e vindas, disse-me- disses desembocarão em algo inevitável, faltando um encontro entre a secretária Janira e o prefeito Rodrigo, adiado pelos dois lados, para a tomada de decisão, que todos sabem já existir. O depois é um incógnita de difícil resposta.

Por outro lado, comunico aqui em primeira mão algo que estou envolvido até o pescoço, com grande jubilo e contentamento. Meu grande amigo, Fausto Bergocce, reconhecido artista gráfico brasileiro, reginopolense de nascença e coração, acaba de concretizar a realização de um velho sonho. Conseguiu fechar patrocínio para escrever um livro sobre sua cidade natal, Reginópólis e fui convidado por ele a escrever toda a parte histórica. Ele está na fase final da reprodução de todas as fotos, imagens, registros de personalidades em aquarela e estou num vai e vem constante naquela cidade em busca de construir o texto histórico a fundamentar o livro, uma vez que os registros existentes até então, são insuficientes para recontar o vivido por lá. A história ainda permanece na mente das pessoas que a viveram e esse resgate é algo inebriante, de muito contato pessoal. Estamos eu e ele, numa corrida contra o tempo e fazendo algo, com grande dedicação, para entregarmos um belíssimo livro de arte para a cidade. A previsão não deve ultrapassar o próximo mês de junho. E por falar em Fausto, algo mais dele. Como já comuniquei aqui ele acabou de ter seu nome inscrito numa Galeria de Artistas Gráficos brasileiros, tendo sua mão marcada em ciumento numa calçada da fama e um longo depoimento, feito em forma de entrevista, registrado para a posteridade no evento denominado "Sábado da Memória das Artes Gráficas", iniciativa da Biblioteca de São Paulo. Aqui três fotos do grande momento. Fausto tem história para contar, é dos grandes do traço nacional, uma pessoa simples e envolvente, que faz e acontece ao seu modo. Estar ao lado dele nessa iniciativa é algo que muito me dignifica. Em tamanho maior um desenho do Fausto, como será o making-off das primeiras páginas, em primeira mão publicada aqui.

Amanhã conto aqui uma historinha vivida em Reginópolis e que mostra bem como andam as mudanças de comportamento das cidades pequenas nos dias atuais.

domingo, 30 de janeiro de 2011

DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (48)

DITADURA MILITAR ACABOU FAZ TEMPO, MAS O PAÍS AINDA TEME O FANTASMA FARDADO
Eu devia ter no máximo uns quatorze ou quinze anos, anos 70, em plena vigência da ditadura militar, estudava na Escolinha da Rede, a Aurélio Ibiapina, da Extinta RFFSA, cursava o ginásio e junto um curso técnico, com especialização em Metalurgia (que nunca exerci na vida). Um meninão, mas já lia o Pasquim e começava a entender um pouco dos porques da vida. Tenho uma lembrança de algo que fiz e na época com muito medo, cagaço mesmo. Meus pais já moravam ali pertinho da praça Washington Luiz, a da igreja Nossa Senhora Aparecida, rua Araujo Leite, à caminho do centro de Bauru. Ouvia regularmente pelo rádio um programa de variedades no rádio, apresentado por Flávio Pedroso. Do programa não me lembro o nome, pouca coisa, mas do que fiz, isso lembro muito bem. Um ato de ousadia. O programa permitia que o ouvinte falasse ao vivo, pedindo e oferecendo músicas. Aproveitando disso, arquiteto um plano. Vou até a praça, onde num dos cantos tinha um orelhão, ainda com fichas. Ligo, peço a música ao vivo e Flávio como sempre fazia, pergunta para quem ofereceria. Tremendo que nem uma vara verde, temendo ser descoberto, respondi rápido e sai correndo sem olhar para trás: "Essa ofereço para o pessoal do Partido Comunista".

Fiz só isso e morri de medo de que pudesse ser descoberto. Já entendia viver numa cruel ditadura militar e essa foi minha demonstração de descontamento e irreverência. Isso nunca me saiu da memória. Mas o que quero concluir com esse meu medo do passado é que mesmo após décadas do fim da ditadura, o povo brasileiro ainda continua com medo de suas Forças Armadas e prestando uma reverência absurda de receio do que "eles" ainda possam fazer conosco. O fantasma fardado persiste a assustar o país e esse continua sendo um dos motivos pelos quais o país ainda não conseguiu ser o que deveria ser de fato. Escrevo isso nesse exato momento, pois muitos ainda denominam o que ocorreu com o país em 1964 de "revolução", quando é mais do que evidente não ter passado de uma quartelada. Pior que tudo é constatar a grande maioria dos países latino americanos que tiveram sob o tacão de ditaduras militares conseguiram com o passar dos anos responsabilizar os algozes pelos crimes cometidos. O Brasil não. Nenhum de nossos governantes após o fim da ditadura ainda teve coragem suficiente para aprofundar o debate sobre os crimes dos anos de chumbo. Acredito que Dilma poderá fazê-lo, mas com um ministro da Defesa como Nelson Jobim, um civil fazendo o jogo duro dos velhinhos do Clube Militar, se ocorrer será algo que deverá ser parido a fórceps. A presidente Dilma visita a Argentina (um país que corajosamente puniu todos seus algozes) e pede para ter um encontro pessoal com as Madres de la Praça de Mayo. Esse encontro é emblemático e tem muito a ver com o medo coletivo brasileiro. Torço para que ela dê os passos necessários para resolver isso de uma vez por todas.
Em tempo: Texto inspirado em editorial de Mino Carta, "O fantasma fardado e outras histórias", revista semanal Carta Capital, edição 631.

sábado, 29 de janeiro de 2011

DOCUMENTO DO FUNDO DO BAÚ (18)

UM GESTO DE REBELDIA NA VISITA DE BRIZOLA EM BAURU, 1992
Nessa semana como já descrito aqui no mafuá estive no saguão da Câmara de Vereadores deixando um livro sobre ética para o pastor presidente, o SAKA AHI, Ó MEU! Para os que me conhecem sabem muito bem que faço isso desde há muito tempo. Após a entrega fui trabalhar na região e lembrei de outra entrega nos mesmos moldes da feita agora. Relembro ela abaixo.

Sempre fui brizolista. O PDT com a sua cara é algo bem palatável, nem sombra do destino atual da sigla, ainda mais aqui em São Paulo nas mãos de um sindicalista de meia pataca, o Paulinho, da Força Sindical, também deputado federal. Brizola foi dos nossos maiores políticos e uma das coisas que mais lhe trouxe dores de cabeça foi as escolhas de gente para estar ao seu lado. Muitos trairam a confiança e lhe apunhalaram da forma doída e contínua. Cito três, os maiores, Garotinho, Cesar Maia e Marcelo Alencar, todos políticos cariocas. Mas a trairagem ocorreu Brasil afora. Não digo só trairagem, mas escolhas mal feitas, de gente a engordar o partido, mas que na maioria das vezes trouxe péssima reputação. Gente que de socialista não tinham nada

Aqui em Bauru corria o ano de 1992 e Izzo Filho, o prefeito em final de mandato escolhe o PDT como seu novo partido. Queria eleger seu sucessor, mas perdeu para Tidei de Lima. Ainda não tinha mostrado o seu outro lado, que veio à tona no seu segundo mandato. Nesse ainda inspirava confiança, apesar das ações populistas e pessoas ao seu lado despontando com interesses bem outros que só os políticos. Um verdadeiro balaio de gatos. Observava tudo isso e ao ficar sabendo que Brizola estaria pessoalmente em Bauru, produzi um extenso material, com recortes de jornais e um carta de duas páginas, datada de 15/03/1992 (cópias e fotos ao lado - cliquem nelas para lerem ampliadas). A festa da filiação foi no Teatro da USC - Universidade do Sagrado Coração e mesmo sem ter sido convidado fiz questão de lá estar. A festa foi o que dela se esperava, algo surreal, preparado com esmero pela equipe izzista. Fiquei só a observar, mas atento mesmo à fala de Brizola, que veio à cidade junto de Neiva Moreira, seu fiel escudeiro no partido, Jacó Bittar, então prefeito de Campinas, também recém filiado ao partido, Maurício Côrrea, ministro da Justiça e Airton Soares, político da resistência ao regime militar e oriundo da vizinha Pirajuí. Vibrei com Brizola e em algo que não me esqueço jamais. Após os salamaleques ele foi caminhar pelo pátio da USC e lá depara-se com um jovem e seu violão. Deve ter sido algo preparado, pois esse cantou algo do regionalismo gaúcho, encantando o visitante.

Aproveitei esse momento e puxei conversa com alguém por quem possuia idêntica admiração, Neiva Moreira, outro membro da Internacional Socialista e da mesma cepa de Brizola. Entreguei-lhe o envelope e disse do seu conteúdo, não sem antes dizer de minha admiração por ambos. Trocamos algumas palavras e uma delas relembro muito bem: "Tenha certeza, entregarei a ele no vôo de volta e lerá tudo com a devida atenção". Tenho certeza que o fez. Brizola sabia que podia contar com uma imensa legião de fiéis admiradores espalhados país afora, que lhe auxiliavam nessas horas. Izzo Filho foi somente mais um que teve que engolir em seco, pois passado pouco tempo, estava em outra barca, bem distante dos rumos pregados por Brizola.

Essas fotos me foram mostradas pela primeira vez na Secretaria Municipal de Cultura, depositada em arquivos embrionários do hoje MIS - Museu da Imagem e do Som, nos anos em que lá atuei. Sob a guarda de Orlando Alves, um dedicado guardião de fotos, peças e equipamentos de grande valor, cuida hoje de uma melhor catalogação disso tudo. Escaneei algumas e as publico hoje. Sei que foram remetidas ao MIS, pela então Assessoria de Imprensa de Izzo, para que fossem guardadas. O critério do fotógrafo da época, que não sei o nome, foi de registrar Izzo em todas as fotos, deixando de lado outros lances mais significativos. São aproximadamente umas vinte e talvez o único registro dessa passagem por Bauru. Aqui meus agradecimentos a Orlando Alves e um algo mais para finalizar. Gestos de rebeldia são sempre perpetuados com galhardia. Deixo aqui outro registrado. Eduardo Goldenberg, meu colega blogueiro, carioca da Tijuca, brizolista como eu, teve o prazer de ter diante de si um microfone da TV Globo e desferiu isso, que está postado no Youtube para a posteridade. Cliquem a seguir, leiam o texto e divirtam-se um bocadinho com a rebeldia do Edu:

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

MÚSICA (70)

"NÃO SOU CANDIDATO A NADA...", PLATAFORMA (BOSCO E BLANC), JUNTO DE UM ELOGIO E UMA CRÍTICA AO SR PREFEITO
Ontem deixo o livro para sr Saka ahi, Ó meu! lá na portaria da Câmara e um gaiato me questiona aqui no blog se não faço isso motivado por interesses outros, talvez o de me lançar candidato a vereança. Lembro de um velho post feito aqui mesmo nesse mafuá, em 28/04/2008, quando também instigado respondi da seguinte forma: "Dia desses um gaiato me vendo sair em matérias nos jornais e dando entrevistas no rádio, meio que desconfiado acabou perguntando: "Você não é candidato a nada, não?". Respondi a ele cantando um velho samba do Bosco e do Blanc, "não sou candidato a nada...". Acho que deu para ele entender. Esse eu canto inteirinha e tenho o LP no meu mafuá desde os tempos em que ainda tinha cabelo no cocoruto". Repito a dose hoje e junto a letra da música, que garbosamente cantarolo nessas ocasiões:
"Não põe corda no meu bloco,/ nem vem com teu carro-chefe,/dá ordem ao pessoal./ traz lema nem divisa/ que a gente não precisa/ que organizem nosso Carnaval./ Eu não sou candidato a nada,/ meu negócio é / meu coração não se conforma./ O meu peito é com contra/ e por isso mete bronca/ nesse samba-plataforma:/ por um bloco/ que derrube esse coreto,/ por passistas a vontade/ que não dancem o minueto,/ por um bloco/ sem bandeira ou fingimento/ que balance a abagunce/ o desfile e o julgamento,/ por um bloco/ que aumente o movimento,/que sacuda e arrebente/ o cordão de isolamento". Ouçam e vejam João Bosco junto de Elis Regina esmerilhando em: http://www.youtube.com/watch?v=MpUTXIYvfZQ

Para que esse texto não fique curto demais, aproveito o ensejo para comentar duas coisas sobre nosso prefeito, Rodrigo Agostinho PMDB. Primeiro um elogio, um afago de alguém que gostou de algo feito por ele. Saiu no Diário Oficial do município de ontem a publicação do decreto de desapropriação da denominada Casa dos Pioneiros, aquela que cito como "a última das remanescentes dos primórdios de Bauru, o último exemplar ainda a resistir". Os herdeiros serão indenizados e a partir daí algo de mais difícil execução. A mesma está em pé até hoje por milagre (mesmo não acreditando neles) e sua recuperação será de alto custo, pois será uma espécie de reconstrução, alicerçada no respeito a planta orginal, dentro do que reza o patrimônio histórico. Depois outra etapa, também importante: O que será feito do prédio? O que ocorrerá lá? Instiguemos o sr prefeito para que algo de cultural valor seja lá implantado. Meu segundo tópico é algo lido hoje no Caderno de Cultura do Jornal da Cidade, um entrevista com o sr prefeito, após depoimentos de agentes culturais, "No limbro artístico". Li a entrevista toda e gostei muito da abordagem do prefeito, achando que o jornal usou no título uma crueldade diante de tudo o que foi falado, com o "Bauru consome pouca cultura". Levando em conta só a frase, prefiriria olhar pelo outro lado da questão. Sem desmerecer funcionários da Cultura, que abnegadamente continuam atuantes, perguntaria: Como consumir muita cultura se ela praticamente inexiste, pelo menos no lado público municipal? Não seria melhor afirmar faltar incentivo para a cultura na cidade?
Cada um fazendo a sua parte no quinhão cultural da cidade, todos ganhariam. Rodrigo sabe muito bem tudo o que precisa ser feito e até com quais pessoas isso seria possível. Optando por continuar tudo como está, continuará a aceitar imposições partidárias e da iniciativa privada para o cargo máximo na Cultura do município. Seria a continuidade do caos.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

FRASES DE UM LIVRO LIDO (45)
UM PASTOR PRESIDENTE, O COMEÇO DE UM MANDATO E UM PRESENTE, UM LIVRO SOBRE ÉTICA
O pastor presidente de nossa Câmara Municipal de Vereadores, Roberval Pinto Sakai PP, está em pleno desenvolvimento daquilo que alguns denominam de transformação e resgate interno da Casa de Leis bauruense. De início demite uma pá de servidores que prestavam serviços a Casa, os tais cargos de comissão, de livre escolha do mandatário mor. Nomeia um novo Chefe de Gabinete ligado à sua religião e espera a poeira abaixar para nomear outros nomes. Interrompe um serviço em andamento de implantação da informatização da Câmara e diz estar prestes a promover outro dentro de normas palatáveis. Dos cargos em comissão que possuía dentro da Prefeitura, todos negociados com a Administração, nem uma linha. Continuam ou não atuando? E se saíram de lá, onde estariam?
O fato é que seu cargo é alvo de uma atenta observação da cidade num todo e sua eleição, ocorrendo da forma como se sucedeu, deixou no ar questões sobre a ausência de procedimentos éticos. Estive em sua posse junto de dois amigos e protestamos exatamente em cima dessa questão. Uns nos chamaram de “Os três Patetas”, termo garbosamente assumido pelo trio e também de “Os três Porquinhos”, pelo simples fato de jogarmos um pouco de sal grosso nas escadas do prédio, com o intuito de possibilitar ares descarregados por aqueles lados. Hoje, na seqüência entrego para sua Assessoria um livro, o “Histórias sobre Ética” (editora Ática SP, 1999, 128 páginas), com textos de autores variados, todos versando à sua maneira sobre o tema.

“Muitas e muitas vezes é na solidão da consciência de cada um de nós, homens e mulheres, pequenos e grandes, que certo e errado se enfrentam. E a ética é o domínio desse enfrentamento. (...) Ninguém nasce sem senso ético. Ética se aprende: aprende-se em casa, na escola e na rua. (...) As pessoas tem constantemente de optar entre diferentes valores e condutas diferentes”, afirma Marisa Lajolo, no texto “Entre o bem e o mal”, na apresentação do livro.
Dentre os autores, La Fontaine (“A razão do mais forte vai sempre vencer, é o que adiante vocês hão de ver”), Machado de Assis (“Propôs-me um negócio, uma troca de serviços; ele me daria a moeda, eu lhe explicaria um ponto da lição de sintaxe”), Moacyr Scliar (“Não tínhamos nenhum respeito, nenhuma estima por aquele fracalhão repelente”), Lygia Fagundes Telles, Voltaire (“Denúncia irônica dos desmandos sociais e a representação impiedosamente ridícula dos poderosos”), Lima Barreto (“A desinteligência não tardou a surgir; os mortos eram poucos e não bastavam para satisfazer a fome dos vivos”), Lourenço Diaféria (“Às vezes até os doutores cortam a perna errada. Tecnicamente, não passara de um trabalho de equipe concluído bisonhamente. Lamentável, porém compreensível”), Artur Azevedo (“...incrível e atualíssima inconstância ideológica”) e outros.

Junto ao livro esse texto escrito a mão na primeira página: “Caro pastor presidente Sakai: Esse livro não é meu. São relatos com lições múltiplas e variadas, todas sendo repetidas no dia-a-dia. Não insistir nos erros aqui relatados é duro exercício diário. Algo a ser construído numa vida inteira, desde os cueiros até a morte. Entender isso tudo e não cair em tentação é algo que deveria ser inerente a todo homem público. Faça o melhor uso possível. HPA”.

Dentro do livro, um outro texto em folha solta, pouco maior, também escrito à mão, com os seguintes dizeres:
“Caro pastor presidente Sakai:
Não me julgue mal. Protestar faz parte da natureza humana. Não sou daqueles a dizer Amém a tudo. O país hoje, tão pujante e cheio de possibilidades é também muito sacana. Muitos galgam o poder só para tirar uma casquinha. Esses os piores, de que lados estejam. E isso ocorre em todas as instâncias possíveis e imagináveis. Faz-se de tudo pelo poder, sempre disputadíssimo.
O ocorrido na eleição da Câmara é só mais um flash de tudo o que continua acontecendo por aí afora. Um amigo me critica por pegar no seu pé. “Mas e os outros? Não vai também cutucá-los?”, me diz. Tento ao meu modo ampliar ao máximo os cutucões.
No caso da eleição da presidência da Câmara, fique frio, nada contra a sua pessoa ou a sua igreja. Mas tudo contra os que são eleitos para fiscalizar e acabam administrando cargos dentro da administração fiscalizada. E mais, tudo contra também aos que sobem nas tribunas só para as moções de júbilo aos de sua crença e loteia cargos de sua influência com os mesmos.
O livro sobre ÉTICA é algo assim como um toque, uma regra de conduta a ser trilhada. Algo bíblico, de grande valia para o cargo agora exercido por ti. HPA”.
Entreguei hoje isso tudo para sua assessoria e foi só. Algo de grande valor para o início de atividades num novo cargo, a ser exercido nos próximos dois anos. Que a grande valia seja exercida na prática. Só isso.
Em tempo: Entrego tudo na portaria da Câmara, manhâ de hoje, pouco antes das 9h00. O livro foi adquirido na Banca do Carioca, Feira do Rolo, dois domingos atrás, lido e entregue a quem possa dele fazer uso com mais sapiência.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

ALGO DA INTERNET (41)

BIENAL DA UNE, EMIR SADER E UM ALGO MAIS, DOIS VIAJANTES SOCIAIS
Durante toda semana passada (de 18 a 23/01/2011) ocorreu na cidade do Rio de Janeiro a 7☼ Bienal da UNE – União Nacional dos Estudantes. Dois foram os locais escolhidos para sua realização, o Aterro do Flamengo e a Lapa. Estudantes do Brasil todo e também de alguns países latinos estiveram reunidos sob o lema “Brasil no Estandarte, o Samba é meu combate”. A grande homenageada no evento foi a diva do samba Beth Carvalho. Discussões mil, show gratuitos foram se desenrolando no decorrer da semana e os resultados podem ser conferidos no site http://www.une.org.br/ .

Estava no Rio, podia até ter comparecido durante a semana, mas o trabalho me afastou da esbórnia. No sábado, 22/01, 15h, numa grande lona armada no aterro, denominada de Buteco Literário, lá estive a presenciar a palestra “Política cultural no Brasil – Esquentai nossos pandeiros e iluminai os terreiros, estando no comando do microfone o cientista político EMIR SADER. Circulei o local todo, antes passei no Museu da República e vi uma mostra com obras inspiradas na arte de Hélio Oiticica (lá assinada a presença de vários estudantes representando Bauru), consegui até um diploma de participação (sic), comi junto a galera, rodei nas muitas e movimentadas rodas de discussão, algumas grandes aglomerados estaduais. Nada posso opinar sobre as decisões políticas da Bienal, pois delas permaneci distante. Vi foi gente no uso do microfone, contra e a favor do aborto e da maconha. O que posso opinar foi sobre a fala de Emir, do qual gosto muito. Algo contundente sobre romper a barreira da cultura popular e de elite. Emir é mestre em demonstrar que não basta o acúmulo de conhecimento, quando isso não está transformado em prática e que devemos estar todos muito bem preparados para continuar a disputa hegemônica dentro do governo Dilma, que possui os dois lados, o da direita e o da esquerda em plena disputa. Foi bom a moçada ouvir isso de alguém com a lucidez do Emir. Na saída fui abraçá-lo e disse ser de Bauru e que o leio no site da Carta Maior (http://www.cartamaior.com.br/ ), junto de um bauruense que gosto muito, Beto Maringoni. Sorriu e me disse: “Sim, mas lá tem outro bauruense da mesma cepa, o Azenha”. Concordei. Mais dele no seu blog: http://www.cartamaior.com.br/templates/blogMostrar.cfm?blog_id=1&alterarHomeAtual=1

Extrai algo mais da Bienal, duas coisas por sinal. Em ambas, um breve relato de minha parte. No primeiro, revi uma pessoa que avistava por aí já faz certo tempo. Hamilton montou um negócio de revenda de camisetas para movimentos sociais, a Dom Camisetas e ele roda o país todo, onde estiverem ocorrendo congressos, festas, eventos de caráter social e lá monta sua barraca a oferecer em varais uma infinidade de estampas sobre os mais variados temas, desde Che, Lênin, MST, Mafalda, Chávez, Zapatismo, Marx, Henfil, Lennon, Lulismo e outros temas. Preços módicos. Para conferir algo mais sobre a mambembe história de Hamilton, basta uma clicada no site http://www.domcamisetas.com.br/ . Trouxe a minha e achei a idéia dele, a de unir sua linha de pensamento com algo que o possibilite viajar, conhecer pessoas, trocar constantemente idéias, das melhores. No segundo relato, uma banca só de documentários de movimentos sociais da América Latina, desde o Panelaço Argentino, o da questão da água boliviana, muita coisa chavista, o das fábricas ocupadas no Brasil, greves mil, todas filmadas por um argentino, Carlos Pronzato, radicado em Salvador BA. Outro mambembe social, que além de dirigir, monta e sai vendendo país afora seus filmes, da Lamestiza Audio Visual. Para conhecer um pouco do seu trabalho basta clicar no http://www.lamestizaaudiovisual.blogspot.com/ . Também trouxe meu filme e assim como no das camisetas, bateu aquela identificação imediata. Quem me dera poder acompanhar como eles fazem, o pulsar dos movimentos sociais em plena erupção, onde estiverem acontecendo. São felizes e não sabem, pelo menos para mim. Fazem o que gostam, sem aquele papo chato que ouço do lado de cá: Um dia já fui de esquerda, depois amadureci, criei juízo, capitalizei. Fujo desses.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

DICA (69)

MOSTRA DE TEATRO, ÓPERA BUFA COM AR-CONDICIONADO E OS DOIS LADOS DA QUESTÃO
A abertura da X Mostra de Teatro Paulo Neves, ocorrendo no Teatro Municipal de Bauru poderia ter transcorrido de forma normal, só com aplausos e beijos. Isso realmente ocorreu, mas o assunto da noite foi o ar-condicionado que, como previamente anunciado, permaneceria desligado, quebrado e inoperante. Pior que tudo, no meio da apresentação da primeira peça da noite, a “O que aconteceu a Peter Palmer”, a atriz principal Lívia Jabbour (filha do editor do JC) saiu do palco às pressas e quase desmaiou na coxia, devido ao calor excessivo no local. Peça interrompida, Paulo Neves explica os motivos no palco, bafafá nos bastidores, falatório geral e antes da entrada do público para a segunda peça do dia, “Antígona”, Talita Neves surge diante da fila e explica que a peça ocorreria com portas abertas após a entrada do público, para tentar ventilar local. Suamos um bocado, resistimos e aplaudimos tudo ao final, seguida de outra fala emocionada de Paulo. “Eu só peço uma coisa: me dê condições. Trabalho com respeito, dignidade e ética. O problema daqui não é só o ar, tentem usar o banheiro”, disse.

Paulo tem razão em reclamar. Suas peças são marcadas com um ano de antecipação. Estava ciente de que o ar não funcionaria, quando funcionários tentaram convencer o prefeito de que esse fato causaria problemas. Esse, passando por cima da decisão de secretária e funcionários autorizou os espetáculos ("Parece que o prefeito faz de propósito para ir fritando aos poucos futuros demitidos", me diz um amigo presente). Deu no que deu. Decisão tomada, que se arque com as conseqüências. Vi Thiago Neves dizendo que a verba para restauro do ar foi aprovada há mais de 45 dias e nada foi executado. Burocracia em ação, deficiências cruciais do serviço público inoperante. Falta ação corajosa de alguém com poder de canetar e decidir: Faça-se já. Medrosos, esperam decisão jurídica e tudo prossegue a passos de tartaruga. Existiam outras alternativas para realização da Mostra, todas de alto custo (teatros da USC e USP, por exemplo), mas Paulo insiste pelo teatro, custo reduzido, porém de precárias condições (falta luz, faltam equipamentos básicos, falta limpeza...) e mais que isso, ali tudo leva o pomposo nome de Celina Alves Neves, matriarca do teatro em Bauru, mãe de Paulo e avó de Talita e Thiago. Incoerência ocorrer em outro lugar. Ele insistiu e o prefeito consentiu.

Paulo apregoa estar cansado de tantas ocorrências negativas nesses dez anos. Por outro lado está prestes a inaugurar o Espaço Cultural, rua Gerson França, com espaço para 40 pessoas, dando vida e luz para a antiga escola de datilografia de sua mãe. Seu cansaço advém de todos os lados. Entrevistado ao vivo por alguém sem prévio preparo, lhe perguntam: “Quem foi Antígona?”. Ele não agüenta mais isso e responde: “Não sabe? É o novo atacante do Flamengo, vai jogar ao lado do Ronaldo Gaúcho”. Por falar em Antígona, num certo momento da peça, Creonte não aceitando um sepultamento digno para o irmão de Antígona, quando fica sabendo que o mesmo ocorre, não podendo perder a autoridade proclama: “Tragam o culpado. Foram os subversivos, esses enterraram o criminoso e com certeza subornaram os guardas”. Faço uma precária analogia com a situação vivida no teatro e vislumbraria um texto novo, da seguinte forma: “Esse ar, sempre ele, com certeza foram os subversivos, esses de língua ferina, danificaram a aparelhagem, subornaram os guardas. Esses os culpados”.

Em tempo 1: João Jabbour, do JC estava na platéia vendo a atuação da filha e sua ação foi rápida, dando tempo do jornal noticiar o fato na coluna Entrelinhas de hoje (Injustiça afirmar que a Admistração passada nada fez, pois o ar estava reparado e em funcionamento na passagem de governo). Leiam no http://www.jcnet.com.br/detalhe_entrelinha.php?codigo=200155

Em tempo 2: Hoje, na continuidade da Mostra, 19h, sob direção de Silvio Selva, "Cindy e a Galera" e 21h, com adaptação de Caleb Patrício, "Guimarães Rosa.com.br". Ambos amigos e ladeando a última foto desse post. Bato cartão por lá novamente hoje, levando junto um leque, esse emprestado de minha mãe.