MEUS TEXTOS NO BOM DIA BAURU (161, 162, 163 E 164)
SOVIÉTICOS NA CRACOLÂNDIA E NO BARREIRINHO – publicado BOM DIA BAURU em 28/01/2012
Observando as insanidades cometidas pelos governos paulistas, com Alckmin no Pinheirinho e Kassab na Cracolândia, onde até o Judiciário esteve a serviço da especulação imobiliária predatória, baixa um desalento em qualquer ser sensível. Primeiro a ação da Polícia Militar, com sua peculiar truculência e depois, sem retaguarda, as ações sociais. Só pode dar no que deu. Atos revelando o aflorar da insanidade no lado mais cruel do sistema capitalista. Os tempos atuais seriam piores do que décadas atrás? Por que isso? Tento responder ao meu modo e jeito. Tínhamos num passado não tão distantes no planeta várias experiências em curso. Leio absurdos sobre o fracasso da implantação do socialismo e todos ditos pela boca dos que fazem e dão tudo de si pelo capitalismo. Só por isso essas análises, mais tendenciosas que sérias, deixam a desejar. Faço a minha, fundamentada. Curta e grossa. A presença do império soviético no mundo, sem levar em consideração tudo o que de bom ou de ruim possa ter trazido para a humanidade, sempre foi um fiel na balança. O mundo estava polarizado e essa presença por si só ajudou no fortalecimento da esquerda ocidental. São inegáveis as mudanças profundas e benéficas mundo afora. O mundo ocidental, sentindo o bafo dos soviéticos no cangote era mais sensível, existia mais inclusão social. Se do lado de lá podia, tudo servia de espelho para que ocorresse também aqui. Inegável isso, histórico, diria. Hoje não mais. O bloco soviético escafedeu-se e poucas décadas depois o mundo virou uma terra de ninguém. Prevalece uma espécie de vale tudo, o dinheiro tem que ser conquistado mais e mais, sem levar em consideração a forma ou os meios. Não pensem que em Bauru é diferente. Igualzinho ao resto do mundo. Aqui, por exemplo, um vereador representa claramente o mercado imobiliário predatório e já até aventa possibilidade de não mais disputar eleições, tudo porque seus negócios estão em alta. O Pinheirinho de Bauru por enquanto é só o Cerrado, mas pode piorar.
DRIBLANDO A BUROCRACIA – publicado no BOM DIA BAURU em 04/02/2012
Lembro de uma história contada pelo cineasta alemão Werner Herzog numa entrevista, algo contra a burocracia a emperrar tudo. Dizia que quando começou tudo era mais complicado, as câmeras inacessíveis, celulóide caro e os laboratórios caríssimos. Hoje com uma simples câmera digital se filma tudo. Naquela época não e ele para realizar seu sonho roubou uma câmera da Universidade de Munique e saiu a fazer o que gosta, dando no que deu. Dela saíram dez filmes, todos cultuados atualmente. Sabe qual o conselho que ele adora dar aos que ainda o escutam: “Só posso lhes ensinar a assaltar e falsificar documentos. Quando estava na Amazônia peruana filmando FitzCarraldo deparei-me várias vezes com acampamentos militares. Eles sempre tentavam me impedir de trabalhar. Exigia que apresentasse licença de filmagem. Sabe o que eu fiz? Regressei a Lima e falsifiquei documentos. Forjei papéis me autorizando a filmar. Copiei as assinaturas deles com muito zelo e enchi os documentos de carimbos. Os que me paravam olhavam aquelas assinaturas, aqueles carimbos e aqueles escritos todos em alemão e me deixavam passar”. Adoro cada vez mais esses atos de insubmissão, insubordinação, ou seja, lá o que for. O jornalista Tarso de Castro agiu do mesmo jeito na Rede da Legalidade, anos 60, defendendo o governo gaúcho de Brizola. Estavam ante um impasse de duas birrentas autoridades, um general e um cardeal, que não queriam fazer um acordo com o governo. Tarso resolveu a questão. Ligou primeiro para o general, como se a mando do cardeal e pediu um encontro, alegando ser bom atenderem ao pedido governamental. Na concordância do encontro, fez o mesmo com o cardeal, como se a mando do general. Do encontro, fez-se o que era o mais sensato e antes regateado por ambos, capitularam. Ao me deparar com as dificuldades atuais para realizar algo mínimo, lembro dessas duas histórias e me ponho a executar proposituras e artimanhas rocambolescas para que tudo dê certo. Contra a burocracia (ou seria burrocracia?) tudo é válido e justo.
DESBUROCRATIZANDO A VIRADA E O POUPATEMPO – publicado no BOM DIA BAURU em 10/02/2012.
Escrevi aqui semana passada dos malefícios da burocracia a nos escravizar. Além disso, execro os atuando em cargos públicos e pouco fazendo, mesmo com ampla possibilidade de transformarem, buscarem o novo. A “Virada Cultural” em Bauru não foi conseguida só porque o deputado e o vereador do partido ligado ao Governo paulista estiveram empenhados. O Secretário de Cultura, Elson Reis tirou a bunda da cadeira, foi à luta, visitou gabinetes, ralou e quando todos o alertavam da impossibilidade, provou o contrário. Aplaudo em pé quem tenta, insiste e consegue. Dos que desistem de cara, resta o escárnio. A burocracia é mesmo aviltante. Durante quatro anos fui o Diretor de Proteção ao Patrimônio Cultural de Bauru e vivenciei isso no meu dia a dia. Papéis e mais papéis, indo e voltando, ligações para lá e para cá e muita coisa sendo conseguida após muito suor. Fiz das minhas e delas não me arrependo. Conto uma. O Poupatempo estava em fase de construção e o Governo do Estado queria restaurar três carros ferroviários, os mesmos que hoje, são a coqueluche do lugar. Ótima idéia, esbarrada numa documentação de posse definitiva desses bens. Nós, da Prefeitura não a tínhamos e para conseguí-la muita burocracia. Corria-se contra o tempo. Na pressão tomei uma decisão isolada. Disse a todos, meus superiores e o pessoal do Governo Estadual que tínhamos o tal papel. Dessa forma, o restauro foi feito. Tudo pronto e nada dessa documentação definitiva aparecer. Não existia. Mais dois anos de labuta até tudo ser resolvido. Se tivesse medo, de cara teria dito a verdade a todos e os carros estariam até hoje apodrecendo no pátio. Menti e não me arrependo. Imaginem minha dor de consciência se tudo continuasse “como dantes no quartel de Abrantes”. Lembro de Wallace Sampaio, então secretário do Desenvolvimento, o Vinagre da Cultura, o prefeito Tuga, o pessoal do Estado, todos me cobrando. Revelo hoje a verdade. Assim toco minha vida, arriscando e fazendo, buscando o difícil, sem medo de ser feliz. Virando e se virando. Uma dose de irresponsabilidade ajuda de vez em quando.
SAIOTE E DE PERNA PELUDA – publicado no BOM DIA BAURU, hoje, 18/02/2012
Tento aqui e agora traçar um difícil paralelo entre os festejos de Momo e um ilustre representante da Semana de Arte de 1922, precursora da vanguarda modernista no país e completando 90 anos (velhinha, com corpinho jovial) esse mês. Do Carnaval, a liberação masculina em alguns poucos momentos, onde alguns barbados põem para fora seu lado de saiote e rendas. Sou de um tempo aqui em Bauru quando existia o Bloco das Solteironas. Dava de tudo um pouco, desde os assumidos, os no armário e os brincalhões. O bloco não mais existe, mas ver hoje um homem de saia nas ruas parece assustar mais que no passado. Estaríamos regredindo e mais conservadores? Isso de homem de saia assusta esse país não é de hoje. Flávio de Carvalho (1899/1973), múltiplo artista, expandiu o Modernismo e apresentava-se como “delegado antropofágico” do movimento. Controvertido em quase tudo que fez na vida, mas nada supera ao passeio de saiote, blusa e sandálias de couro pelo centro paulistano, em 1956 na rua Barão de Itapetininga. Imaginem um homenzarrão, montado e vestido para causar. Quem teria “peito” (sic) de fazer isso hoje em dia? O que fez passa longe da discussão sobre homossexualidade. Irreverente, reformador, inquieto, revolucionário e versátil, propunha com o traje uma alternativa para os de terno e gravata. Tinha até uma armação de arame a garantir o distanciamento entre o corpo e a roupa. Denominou tudo de “new look tropical” e dessa forma entrou para a história. Sua obra vai muito além, pois é considerado uma das mais importantes personalidades da arte moderna do século XX. Na rua, amigos como Assis Chateaubriand fugiram do pau. Saiu sozinho. Lembro dele nesse início de Carnaval, pois o que mais me chama a atenção é o praticante do Bloco do Eu Sozinho. É o sair fantasiado, sozinho, com a cara e a coragem. Esso Maciel, um exemplo dessa rara resistência. Um viva a esses de espírito mais que liberto, tentando diminuir um pouquinho com a provincianização dominante dentro do ser humano atual. Medo do que, ô meu!
FINALIZANDO: Hoje, um carnavalesco sábado, duas atividades, ambas marcadas para o mesmo horário, 16h. Um dilema me acomete. No estádio Alfredo de Castilho um jogo do Noroeste, que hoje pode alcançar a vice liderança da Segunda Divisão paulista. No SESC um show de uma boa música argentina, com o grupo "Pallerapantalóm", com balanço afro latino. No Noroeste a possibilidade de rever amigos e mais amigos e no SESC a de rever o Felipe França Gonzalez, do DIFUSA FRONTE(I)RA, do Núcleo de Integração Brasil-Argentina, patrocinador do show e que me prometeu trazer CDs latinos, principalmente argentinos e chilenos. E daí não sei o que fazer? A onipresença não é me é possível.
sábado, 18 de fevereiro de 2012
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2 comentários:
henrique
não precisa explicar nada.
não te vi hoje no campo do noroeste.
foste no sesc, né!!!!!!
ganhamos do barbarense de 2x0 e já somos os vice líderes.
quarta jogo em são paulo contra o barueri e depois outro fora.
perdeste um bom jogfo, pois o time está se encontrando e acredito que subiremos.
será que o ricardo teixeira vai mesmo sair da cbf após mais esse escândalo?
seus artigos no bom dia estão muito bons, sempre polêmicos e feitos para cutucar e incomodar.
Eduardo, o primo
HENRIQUE
Não ouse ser tão liberal com o carnaval, o Brasil avança a passos largos para um estreitamento da visão liberal. O conservadorismo está tomando conta de tudo.
Leia os dois editoriais do Jornal Da Cidade aí de sua cidade hoje e depois volte a pensar seriamente no assunto.
Faz duas semanas que não publica no Bom Dia Jaú. O que acontece
Fernando Cruz
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