quinta-feira, 13 de junho de 2013

DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (52)

ESPORTE – ATUAÇÃO DA MÍDIA EM MEGAEVENTOS ESPORTIVOS
Esse o tema de um debate patrocinado pelo CACOF – Centro Acadêmico de Comunicação da UNESP Bauru, dia 12/06/2013, das 19 às 22h com a participação dos professores JOSE CARLOS MARQUES, MAXIMILIANO MARTIN VICENTE e HENRIQUE PERAZZI DE AQUINO. Convidado pelo diretor de Comunicação da Cacof, Pedro Borges, lá estive e minha apresentação precedendo o debate foi essa:
“Quero fazer dessa minha participação algo com uma diferenciada conotação. Sendo crítico da atuação da mídia tupiniquim num todo, como se apresenta hoje, exponho aqui um ponto de vista segundo essa concepção. Vivemos hoje num mundo cada vez mais assumindo posições conservadoras e favoráveis a grupos econômicos de poder, colocando em risco liberdades individuais e os direitos mais elementares, levando a reboque o das minorias. O fundamentalismo avança, seja ele o religioso, cada vez mais pernicioso e o econômico, cada vez mais excludente e sempre visando a defesa e falando sempre em nome de um tal de “mercado”. Tudo em seu e para seu nome. Combato isso e atuo noutra linha. Procuro em tudo o que faço demonstrar o quanto esses são perniciosos e perigosos.

O campo esportivo, foco e tema desse debate não foge disso, pois está inserido nesse contexto. A mídia num todo, a grande mídia, seja a daqui como a da maioria dos países a dominar o cenário mundial estão praticamente inseridas nesses grupos de poder. Elas são o próprio poder em alguns casos. E quando não o são agem como se fossem. Suas ações são todas voltadas somente com um único e exclusivo intuito, o lucro. Fazem de tudo por ele, passam por cima de legislações, praticam uma deslavada corrupção, tráfico de influência, tudo para continuarem lucrando e muito. O esporte, infelizmente virou um negócio e o denominado megaevento, também foco desse debate idem. Sendo um negócio, o que mais se vê é o esporte estar submetido às regras do evento e não o contrário, o evento estar submetido ao esporte. Exemplo simples: nossos jogos de futebol são hoje transmitidos pela tevê às 22h, um horário comprovadamente inviável, tanto para quem vai ao campo, como para o trabalhador que assiste tudo em casa.

Da Copa do Mundo, algo que acredito discutiremos aqui, não entendo como a cidade de São Paulo precisou construir outro estádio se ali existe o Morumbi, que com uma reforma básica poderia receber jogos. Quem muda isso são os interesses e não os esportivos. Lanço uma pergunta. Um país como a Alemanha ou a Inglaterra se submeteriam a todos as condições impostas pela FIFA para receber uma Copa, como o fizeram o Brasil e a África do Sul? Eu mesmo respondo, não. E não é porque já possui estádios bons, porque sei que a FIFA encontraria motivos para promoção de grandiosas reformas, mas a mentalidade é outra. Aqui o buraco foi mais embaixo e isso não é culpa do Governo Federal petista, dos tucanos, dos peemedebistas, dos democratas, etc, a culpa é de algo mais do que entronizado na nossa cultura, o levar vantagem, o misturar o público com o privado. Estava semana passada em Salvador BA e acompanhei o imbróglio entre as baianas do acarajé e os organizadores da Copa das Confederações e da Copa do Mundo. Não só o estádio está cedido para os organizadores, mas uma extensa área no seu entorno e lá eles legislam como querem, passando por cima de todas nossas leis. Mudaram o trânsito de uma forma que até os taxistas, os maiores conhecedores de qualquer cidade estavam mais do que perdidos, desorientados. Com muita pressão popular foi revertido a questão das baianas, pois eles, os organizadores não querem se passar por ruins em tudo. Ceder os anéis para não perder os dedos.

A questão tem vários detalhes, que depois podemos discutir mais detalhadamente, mas o importante é algo que tiro disso tudo. A insensibilidade de quem organiza é monstruosa e tudo visa um só objetivo, desmedido lucro. Essa insensibilidade graça por tudo quanto é canto. Nossa constituição garante que as ruas são espaço do povo, mas por exemplo, vindo para nossa aldeia, Bauru, onde hoje participei hoje de uma Audiência Pública, pois uma tal de Associação dos Comerciantes do Calçadão proíbe certos tipos de manifestações artísticas por lá. Proíbe uma e permite outras, tudo ao bel prazer, passando por cima da Constituição. Tanto envolvendo os mega como os mini eventos, o que prevalece sempre é o interesse financeiro.

E qual o papel da mídia diante de tudo isso? Percebem-na espezinhando o sistema que garante isso. Não, pois a mídia se beneficia disso tudo. Quando não a mídia mantém empresas para organizar eventos. Tudo junto e misturado, mas só entre eles. Grupo fechado, os menestréis da opulência e da prepotência. Por tudo isso, enxergo o papel da mídia nos megaeventos como tendenciosa, pois só notícia o que lhe interessa e de uma forma mais do que perigosa, pois envolvida até a medula nos mesmos, faz deles meros joguetes ao seu bel prazer. Eles criam eventos bestas, tudo para auferir lucro e o povo cai na deles. Meses atrás recebemos o velocista jamaicano, campeão dos 100m rasos para uma apresentação, uma corridinha na praia, tomando toda a parte matinal da TV Globo num domingo. Quem patrocinou aquilo, quem lucrou com aquilo? Enquanto isso, o objeto de minha paixão, o Esporte Clube Noroeste, cujas partidas não perco e não perderei nem na terceira divisão do paulista, está a mingua. Ele, o Noroeste, representa hoje o lado B de Bauru, já o lado A, o basquete do Pasqualotto, reúne o lado empresarial da cidade, patrocínios mil. O interesse do capital mudou de lado na cidade, mas nunca abandonou a fome pelo lucro. Com isso estou pronto para ser questionado. Obrigado a todos e todas”.


OBS.: No site da FAAC algo sobre o evento:http://www.faac.unesp.br/#N,627  O debate foi por demais interessante e ao final, confesso ter saído do local todo pimpão, pois fui rodeado por alunos, interessados em continuar falando, não sobre megaeventos, mas sobre futebol em praças de pequeno porte (Itápolis, Jaú, campo do Juventus, futebol varzeano e José Trajano). Para minha surpresa fui até convidado a contribuir para um TCC a envolver as histórias populares de Bauru e região. Gostei da experiência.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Henrique,


tudo bem? Espero que sim.


Henrique, envio esta mensagem para agradecer, em nome da Atlética, da Febre e do Cacoff, a sua participação no nosso evento acadêmico.

Ela contribuiu e muito para que todos saíssem de lá com interrogações, reflexões e novas convicções sobre o assunto.


Atenciosamente,


Pedro Borges
Diretor de Comunicação
Associação Atlética Acadêmica Unesp Bauru