sábado, 1 de junho de 2013

MEUS TEXTOS NO BOM DIA BAURU (229, 230 E 231)

A CARA DA CLASSE MÉDIA – publicado edições 18 e 25/05/2013 (por um lapso saiu publicado duas vezes o mesmo texto)
Como seria hoje a vida da classe média brasileira? A única resposta que posso dar é simples, bastando mera observação no padrão vivido pela maioria dos seus integrantes, onde se constata algo bem nítido, quase como uma espécie de osso após fratura exposta. Trata-se de um “vulcão explodindo em desperdício”. Dentro do atual sistema, todos são induzidos a caminhar tendo certo padrão de comportamento, todos muito parecidos, um cópia do outro. Nossa classe média é louquinha de pedra para ter o mesmo padrão dos do degrau de cima a ela, os mais abastados. Entrando no jogo, seus representantes fazem de tudo, iguaiszinhos a uma obcecada manada em busca de bestas status de reconhecimento. Para ostentar ser o que não se é, tornam suas vidas bem mais difíceis. Entram de olhos fechados num ciclo vicioso quase sem volta. Aceitam tudo o que lhes é imposto, quase como um pacote pronto. Os ideais de posse são tudo, necessidade de reconhecimento a qual quer custo e o carro zero é mais importante que a despensa cheia de alimentos. Pagar a conta são outros quinhentos e comer bem mero detalhe. Vale mesmo as observações vindas dos iguais: “Como os Pereira estão podendo!”.Tudo passa a ser um ciclo vicioso de gastos em cima de gastos, ciranda que não acaba mais. Escravos das novas posses, o carro zero, bugigangas eletrônicas, roupas de marca, restaurantes, viagens, etc. Escravidão e precipício gerando contas elevadas de telefone, prestações impagáveis de roupas, juros exorbitantes de cartão de crédito e mais e mais. Viver passa a ser pagar dívidas, quase um beco sem saída. Saídas existem, mas poucos são os que abrem os olhos e aceitam pacificamente um retrocesso (sic). Como ninguém quer transformar nada, revolucionar e lutar pelo novo, o moto contínuo do precipício segue altaneiro. Já, para os que apostam em combater o consumismo com bom humor, sempre existem boas alternativas para fugir dessa cruel máquina de moer carne humana. Conto algumas delas aqui na semana que vem.

INVERTER A SITUAÇÃO – publicado edição de 01/06/2013
O ofício de ser classe média no Brasil é para endoidecer gente sã. Sabe aquela música do Dominguinhos: “Ah, isso aqui tá muito bom, isso aqui tá bom demais, quem tá fora quer entrar, mas quem tá dentro não sai”. Eles, os médios tupiniquins não se contentam em ser o que são e querem porque querem se parecer com os abastados e no esforço repetem situações esdruxulas e ridículas. Mas nem todos ali qualificados querem subir esses degraus, se mostrar abastados e com o cérebro no piloto automático. A grande receita é inverter isso tudo e andar na contramão. Divinal isso de preferir viver sem grandes aparências, simplesmente tornando a vida mais agradável. Se tudo caminha nessa corrida desenfreada por conquistar, ter, mostrar, aparecer, exibir, expor, nada como inverter a equação. Fazer isso é simples, mas não é fácil, pois a conspiração contra quem age assim é imensa. Tente seguir algo como: deixar o carro na garagem, andar de bicicleta, preparar a própria comida, cuidar da própria casa e do próprio corpo, não tomar dinheiro emprestado, cancelar a assinatura da tevê a cabo, tênis o dia inteiro nos pés, abandonar roupas de grife, rejeitar o economês, repudiar as rodinhas dos tais “forças vivas” e a melhor de todas, sair dos trilhos e mijar fora do penico. Ou seja, estar fora do proposto e imposto contexto. Não vai ocorrer o abandono do consumo, mas ele não será ostensivo, nem expositivo. Nesse contexto, o lazer mais trivial é curtir a natureza, explorar o verde e voltar a frequentar bibliotecas públicas, ler nas praças e coletivos. Frequentemente isso é possível de graça e recompensador, sem grandes arroubos. Cidadania não é consumo, pois há uma diferença crucial entre estimular o consumo e referendar a lógica do consumismo. Isto requer um pouco de criatividade e muita coragem para contrapor-se à lógica reinante, que fomenta o reducionismo perverso de confundir consumo com cidadania.

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