segunda-feira, 10 de junho de 2013

DROPS – HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (89)

TRANÇANDO PALHAS DE COQUEIRO E DEIXANDO A VIDA LHE LEVAR
Algo sempre me chamando muito a atenção quando viajando são as pessoas que trombo pela aí. Atento observador, principalmente das não merecedoras de notas, as quase e as totalmente invisíveis. Perco-me envolvido com tudo o que diz respeito justamente a esses. De tudo o que observei nesses seis dias passados em Salvador BA, um personagem me faz relatar aqui algo vivenciado junto de sua magnetizante pessoa.

Kleber é seu nome e nada mais sei dele, onde mora, seu sobrenome, idade, etc. Surge diante de mim e Ana quando estávamos bebericando algo numa noite quente no Rio Vermelho, o boêmio bairro soteropolitano. Vem do nada e quando o vejo está diante de nós, dou-lhe pouca atenção. Carrega consigo algumas cestas feitas de palha trançada e uma enorme tartaruga, com seu corpo em formato de um espaço para guardar objetos  Faço um gesto de não estar interessado e ele se afasta.

Cabelos compridos ao estilo rastafári, negro, o observo melhor na mesa do lado, com um feixe de longas palha e não só vendendo algumas peças de artesanato já prontas, mas prontificando-se a montar outras ali, diante da pessoa. Lá, duas moças também bebericando algo, ele se mostra mais ousado e oferece um brinde a uma delas, uma rosa feita com palha de coqueiro. Monta tudo diante da indiferença de ambas. Desfia a palha com uma incrível habilidade e em poucos minutos uma bela rosa, com cabo e tudo é entregue a uma delas, sendo logo a seguir depositada em cima da mesa.

Elas agradecem e como nada havia sido combinado de pagamento, antes da formalidade da despedida, faço um sinal a ele e peço que volte à minha mesa. A flor montada ali, a forma tão sutil como a entregou havia me cativado. Pergunto pelo preço e diante da hesitação dele em por um, digo que quero presentear minha parceira com uma e ofereço R$ 10 reais. Aceita prontamente e enquanto monta a de Ana conta fazer isso desde criança e que, para conseguir as melhores palhas sobre no alto dos coqueiros, algo que também afirma fazer desde criança. Pergunto-lhe das possibilidades de sua renda com isso e me diz não seguir um ritmo diário de trabalho, mas que se fizesse conseguiria R$ 100 ou mais por dia. “Não saio pelos bares todos os dias. Quando a coisa aperta, a necessidade está à porta, reúno as folhas, algo já feito e saio mostrando para os turistas. Não entro nos bares, vivo oferecendo aos que estão nas calçadas”, nos diz. Dos turistas,algo mais, afirmando serem os brasileiros quem de fato dão valor ao que faz, poucos estrangeiros.

Não aceita comer conosco, diz estar tudo bem com ele e aos nos mostrar um grilo anteriormente feito, algo que nos encantou pela quantidade de dobras na palha, pergunta se não gostaríamos de vê-lo fazendo um beija-flor. Na afirmativa questiono do preço, que teria somente R$ 20 reais. Aceita tudo pelas três peças e em novamente alguns minutos, diante de nós um belo pássaro. Não parou de falar um só instante, sobre sua arte, sua eterna motivação, seu jeito de levar a vida, deixando-a acontecer e dela usufruindo algumas benesses. Quando nos demos conta, já o tínhamos pago, trocado efusivos apertos de mãos e ele já caminhava suavemente por entre as mesas, desaparecendo diante de nós da mesma forma que surgiu, do nada. Certamente foi uma das tantas pessoas diferenciadas encontradas pelas ruas de Salvador, dessas que nunca mais esquecerei na vida.

3 comentários:

Anônimo disse...

HENRIQUE
Eu tenho este grilo, comprei em Americana,sendo vendido no farol, bacana, exitem outros tipos de mundos possíveis de se viver, fora do trabalho com hora marcada, então existe uma esperança.
EDUARDO COIENCA - AMERICANA SP

Anônimo disse...

Muito legal esta história...e aí, meu querido amigo, tá se esbanjando na Boa Terra?
Ademir Elias

Anônimo disse...

a rosa é muito linda ! e o querido artesão fez de coração. e meu amor me deu de presente. obrigada. ana bia