quinta-feira, 10 de outubro de 2013

BAURU POR AÍ (91)


ELES, OS GRANDES ARTISTAS DESSA VIDA, EQUILIBRISTAS DA FÉ – LÁZARO, MARIZA E KYN JR
É tão gostoso quando vejo alguns dos meus amigos envolvidos em atividades mundo afora, metidos em proezas, onde além do trabalho, promovem a divulgação do que de melhor temos dentro de cada um de nós. Num mundo cada vez mais individualizado, cheio de competições esdrúxulas, muitas delas sem sentido nenhum, banalidades sem fim, demonstrações de irracionalismo e preconceitos a cada intervenção, o meu louvor eterno para os que botam o bloco na rua e saem por aí, batem com a cara nas paredes, mas conquistam seus espaços. Gente que faz isso merece ser enaltecida, reverenciada. Gente do bem, desses que até precisam terem seus trabalhos sendo divulgado por aqui, mas já ganharam o mundo. São verdadeiros cidadãos do mundo, seus nomes já estão inscritos pela aí, flanam pelo mundo e marcam presença por onde passem. Cito dois casos aqui e relembro outro. Semana passada estive no Teatro Municipal com meu pai e revi o Átila e a Rosi, mestres no ofício da mágica e sai de lá encantado, pois tive o prazer de ver o espetáculo que eles apresentam país afora e em Bauru, quase que uma primeira vez. Tantos não atuam como eles. Mais por aí do que por aqui.

Mariza Basso e Kyn Junior dispensam apresentações. A Cia Teatral criada por ela e tão bem dirigida por ambos, com a mão certa e bem focada dele no direcionamento dos espetáculos que produzem para o mercado do país todo, consegue na semana passada voltar aos palcos cariocas com o novo produto da dupla, “O Sapato que sabia andar”, a adaptação do livro do poeta Luiz Vitor Martinello, que após estrear em Bauru e algumas poucas cidades da região, bateu asas e foi parar em São Paulo, depois no SESC Tijuca, coração suburbano do Rio de Janeiro. Vê-los esbanjando alegria em terras cariocas, a foto deles em Copacabana e ao lado da estátua do Drummond é como se fosse uma espécie de conquista em terras distantes, um reconhecimento sempre necessário. Esses dois voam longe, levam o nome da cidade para bem longe e pedem pouco em troca. No Rio foram auxiliados por uma espécie de embaixador bauruense na capital carioca, o fotógrafo Rui Zilnet (hoje também embaixador do América, o segundo time de todo carioca) e além das apresentações, sempre recheadas com o calor humano do subúrbio mais cálido do mundo, ferveram nos contatos para outras possibilidades. Eu tenho que confessar que quando vejo a foto de qualquer profissional de Bauru estampada no jornal, tirada num congresso profissional mundo afora lembro sempre dos artistas, que fazem o mesmo, o tempo todo, ininterrupta divulgação de sua aldeia para confins distantes.
Quem também me enche de orgulho (e deveria sê-lo cidade afora) é o poeta Lázaro Carneiro, um macanudo enfiado lá nos altos no Bela Vista, aposentado da CPFL e que após levar choques elétricos a vida toda, leu Nietzsche, desparafusou os carunchos da carapinha e deu de poetar para os daqui e para os de longe. Nós todos nos surpreendemos com esse negócio de escrever, Lázaro sente isso na pele essa semana, pois seus escritos viajam ao sabor do vento, de um lugar para outro, sem que ele consiga domar o destino e o rumo desses endiabrados escritos. Estão pela aí e algumas vezes surpreendem, como o ocorrido com ele dias atrás. Recebeu um telefonema de Brasília, capital federal e do outro lado um representante de uma tal de Confraria dos Bibliófilos do Brasil, comandada por José Salles Netto. Era um convite para que um dos seus poemas fizesse parte de um BESTIÁRIO. O matuto aceitou ter seu poema incluso no livro, mas foi conferir o que viria a ser esse tal de bestiário e viu que é uma espécie de catálogo dos animais por ordem alfabética. Ou seja, o pessoal lá de Brasília reuniu poetas do país todo cujos temas são animais e escolheram um dele, um que versa sobre o bichinho caçador e comedor de formiga. E assim o “Soneto do Tamanduá” está no livrão, capa dura, contendo nomes famosos da literatura nacional, como Olavo Bilac, Cassiano Ricardo, Lêdo Ivo, Augusto dos Anjos e tantos outros.

Lázaro é modesto, circula pouco com o livrão debaixo do braço, mas Bauru precisa saber disso. Eu tomei conhecimento da história lá no 5º SLAM, quinta passada e não me seguro nas calças. Vou repassar o negócio aos quatro ventos, fazer com que Bauru fale disso, da mesma forma que falam hoje de mais um filme sobre Pelé, cuja infância dele deve ser retratada com algo sobre Bauru. Lázaro é um poeta social, escreve de amor, mas escreve de cólera, de alegrias, mas não esconde nossas mazelas para debaixo do tapete. Quando escreve sobre os animais ou sobre a vegetação cobrindo nossa região, o cerrado, pulsa sobre nossas diferenças, as injustiças provocadas pelo homem, cutuca e espezinha os poderosos de plantão. Esse diferencial o torna um ser mais do que especial, um ser incomodado e sempre inconformado. E quando algo dessa lavra sai por aí, tem algo reconhecido, o mínimo que posso fazer é ressaltar seu papel, apontar o dedo para eles e afirmar serem os grandes representantes do Lado B de Bauru, gente que ao seu modo e jeito cavam o seu espaço e conseguem louros, pois tem qualidade, tem a luta transformadora dentro de si. Gente como ele, Mariza, Kyn, Átila, Rui, Vitor e tantos outros são desbravadores. Eu sou mesmo um privilegiado, esses aí são todos meus amigos. Preciso é me espelhar mais neles e assim sendo, continuar cavando também brechas permitidas e não permitidas, propondo, cutucando, mostrando e fazendo. É com esses que eu vou. Erro mas acerto.
OBs.: O título do texto faz uma clara alusão à musica "Artistas da Vida", do Gonzaguinha.

7 comentários:

Anônimo disse...

Henrique

Valeu H.P.A.

Lázaro Carneiro

Anônimo disse...

lindo, lindo , lindo , vc merece Rui, Mariza Basso Formas Animadas, Kyn Junior e o grupo todo merece ... bjs a vcs
vera Nilce Cordeiro Correia

Anônimo disse...

Henrique,
seu texto me emociona por vários motivos, um deles porque Mariza Basso faz parte de uma história profissional muito linda que construí em Bauru nos idos da década de 1990, quando acompanhei o nascimento da grande atriz que é, na época dirigida por outra pessoa muito especial, que é o Evaldo Barros.

Depois de alguns anos, reencontro Mariza ao lado deste ser magnífico e determinado, o Kyn Junior, quando realizavam a segunda edição do Festival Internacional de Bonecos de Bauru, o qual não participei, mas voltei ao terceiro, onde acompanhei e registrei o resultado da competência desta dupla maravilhosa, que agora nos contemplou, no teatro do Sesc-Tijuca, no Rio, com o espetáculo "O sapato que sabia andar", do também não menos incrível Luiz Vitor Martinello, a quem também admiro tanto.

Mas, neste contexto, aparece uma nova e incrível personagem, Vera Nilce Cordeiro Correa, que recebeu em seu apartamento, em Copacabana, este maravilhoso e querido grupo de Bauru de tantas histórias. Obrigado Vera pelo carinho que dispensou aos meus amigos.

Obrigado Henrique!

Rui Zilnet

Anônimo disse...

Obrigado, incansável historiador de nossa Bauru e região!

LUIZ VITOR MARTINELLO

Anônimo disse...

Obrigado, Mariza Basso & Kyn Junior e toda a companhia teatral Mariza Basso Formas Animadas, Obrigado, Rui Zilnet, mestre da fotografia, E como disse Wellington Leite, salve Lazaro Carneiro, poeta do cerrado! Salve Evaldo Barros, que encenou na década de 80 os poemas de Os anjos mascam chiclete!Salve Bauru!

LUIZ VITOR MARTINELLO

Henrique disse...

Obrigado de coração Henrique, em nossas vidas escolhemos esse caminho e aí como você mesmo descreve fazemos o que mais gostamos, TRABALHAR....Bjs.

KYN JUNIOR

Anônimo disse...

Querido HPA, sempre nos divulgando! Obrigada querido Henrique.
Mariza Basso