sexta-feira, 11 de outubro de 2013

OS QUE FAZEM FALTA e OS QUE SOBRARAM (52)


A CORAJOSA GABRIELA LEITE FOI EMBORA ONTEM E PRECISO ESCREVER DELA
Sextas são dias supostamente mais alegres, pois vésperas de dias de folga, remanso e descanso. Ontem quinta à noite numa péssima notícia a morte de uma pessoa querida, próxima e conhecida da maioria dos brasileiros. GABRIELA LEITE ficou conhecida nacionalmente por ser uma liderança dentro do segmento das prostitutas brasileiras. Sem arrependimento pelas opções que a vida lhe sugeriu, enfrentava tudo e todos na defesa dessa e de outras causas, uma batalhadora. Ouço muito que jogadores de futebol são pessoas com pouca consciência política e da mesma forma ouço isso dos que estão metidos (sic) na prostituição. Gabriela se não foi considerava uma ovelha negra dentre os que estão nessa luta, tem tudo para ser reconhecida como um baluarte na luta pela conquista dos direitos básicos dessa categoria.

Sabia muito bem se aproveitar dos momentos quando surgiam no horizonte. Inesquecível quando a grife DASLU estava evidenciando desfiles e mantinha o charmoso shopping na marginal Pinheiros atraindo a atenção das classes A e B, ela e os seus criaram numa ótima sacada a grife DASPU, a das putas. Ela que já era conhecida, não saiu mais de cartaz. Virou celebridade. Não posso dizer ter amadurecido muito após aquilo, pois a conheci anos depois, mas do pouco contato que tive, percebi ali uma personalidade forte, sempre sabendo muito bem o que queria, como queria e ao lado de quem. Empreendeu a boa luta, inclusive nessa última, pela sobrevivência, após anos atrás tomar conhecimento de estar com um câncer. Foi a Ana Bia quem me apresentou a ela e isso só me foi possível pela proximidade com a minha cara metade. Com ela conheci também Flávio Lenz, seu marido, jornalista e irmão da poetisa Ana Cristina César. Um belo casal, interação mais propícia nunca vi. Entendiam-se pelo olhar. Estive com eles em várias oportunidades.

Fiz um texto no hotel Paris, lá na praça Tiradentes, centro do Rio, reduto de boêmia e prostituição. Cheguei lá junto do Latuff e desfrutamos do lugar, onde a ONG DaVida (eles dois no meio dela) conseguiu provisoriamente uma sede. Certo dia, Ana e Gabriela ficaram a beber por horas num botequim da Gomes Freire, coração da Lapa, enquanto eu e o Flávio fomos assistir um show do Marcos Sacramento no teatro João Caetano. No mesmo lugar estive junto de Ana e meu filho numa festança de aniversário da Gabriela, andar de cima do sobrado, reunião de gente alegre, festiva, cabeças pensantes e inquietas. Subi algumas vezes as ladeiras de Santa Tereza para vê-los no santuário onde moravam, com vista privilegiada para toda a cidade. Nada assustava aos dois, nem os tiros ao lado. Como posso me esquecer do dia quando o quarteto assistiu a um dos dias de desfile carnavalesco de dentro da sede do Calouste Gulbenkian, onde de madrugada saímos meio que embebecidos a procura de uma estação do metrô. Seu livro, o “Filha, mãe, avó e puta”, resenhado também por mim aqui e depois transformado numa bela peça de teatro, tendo seu papel encarnado pela bela Alexia Deschamps, foram outros momentos.

E foram tantos os bons momentos, todos cheios de ótimas recordações, que acredito não consiga reuni-los todos num curto texto, nem se lembrar de todos. Nem consigo movido pela emoção rememorar do dia em que conheci Gabriela (quando foi mesmo Ana?). o fato é que eu e Ana estamos aqui do lado de cá do Brasil e Gabriela morreu do lado de lá. Uma distância imensa, compromissos que nos fincam desse lado e uma grana curta a impossibilitar uma viagem aérea de última hora, com elevados custos. Tudo isso para explicar para nem sei quem, que nessa sexta, um tanto triste para os que gostavam dela, amargo sabor de veneno na garganta, dos motivos de não poder estar no Rio nesse momento e abraçar todos os que estão reunidos junto de sua derradeira despedida corporal. Ficamos aqui, eu e Ana, alquebrados pela dor de mais uma perda, dessas pessoas insubstituíveis no jogo da vida. Cada um tem as suas peças imexíveis, para mim, Gabriela é uma delas. No momento em que o mundo reacende o fogo do conservadorismo, do preconceito embutido em mentes até então vistas como sãs, gente como a Gabriela são imprescindíveis, pois não deixam a peteca cair. O mundo sente a falta de pessoas corajosas, dessas que não deixam as oportunidades escaparem e quando lhe espezinham contra atacam imediatamente. Quer qualidade melhor que essa? Minha mãe era assim, vapt vupt, Gabriela idem. Não tem como não sentir saudade de gente assim.

Leiam tudo o que acabei escrevendo dela clicando no link a seguir:http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search?q=gabriela+leite

4 comentários:

Anônimo disse...

O H.P.A.onde voce achou essa PUTA mulher maravilhosa.
Lázaro Carneiro

Anônimo disse...

Puta vida!... Essa mulher é uma puta federal... Gostei!...
Ademar Aleixo

Anônimo disse...

MEU QUERIDO FELIPE CARVALHO ME REPRESENTANDO A CONTENTO.
ANA BIA ANDRADE

Ana, acabei de falar com Flavio. Entreguei a unica rosa como me pediu.
Apesar de triste foi perceptivel seu olhar e humor nesse momento
Estamos a caminho para sepultar estou escrevendo para que saiba que apesar de perceber a dor de todos ainda existe momentos de humor e descontracao no mesmo local
Recebemos a noticia de q a gabriela recebera uma praca publica em dua homenagem
O deputado Jam Wtllis e Marcelo Freixo estão tambem por aqui
E para um encotro do destino ela sera velada proximo ao local que meu pai foi velado

Anônimo disse...

Só hoje fui saber que a Gabriela Leite, uma liderança na luta pelos direitos das prostitutas, havia falecido. Tive a grata satisfação de conhecê-la em 2010 na companhia de Henrique Perazzi Aquino. Leia sobre ela aqui: http://mafuadohpa.blogspot.com.br/2010/04/memoria-oral-79-gabriela-daspu-e-o.html

Carlos Latuff