sexta-feira, 25 de outubro de 2013

CARTAS (112) e MEUS TEXTOS NO BOM DIA BAURU (252)


SEM PEÇAS DE REPOSIÇÃOcarta publicada hoje, 25/10/2013 na Tribuna do Leitor, Jornal da Cidade – Bauru SP:
Dessa vez quem partiu foi o professor e socialista católico Isaias Daibem. Dele queria ressaltar algo dentre tantas coisas boas realizadas ao longo de sua vida. Conseguiu vivenciar situação cada vez mais difícil nos dias de hoje. Colocou em prática durante toda a vida o ser socialista e conseguir praticar isso junto da resistência católica. De uma escola onde pontificaram os freis Leonardo Boff, Tito e Beto, além do nicaraguense Cardenal, Plínio de Arruda Sampaio e de um dos poucos resistentes ainda dentro da cúpula da igreja, o bispo Casaldaliga, o nosso Isaias atuou na mesma linha. Quem mais consegue manter acesa essa chama nos tempos atuais? Dentro do atual discurso católico, raros são os que mantêm, não só o discurso, mas a prática da defesa do povo, não só rezando por ele, mas propondo sua plena libertação. Esse o grande perigo. Isaias nunca se afastou desse ideal de vida. Continuou frequentando as missas dominicais e todos os redutos de luta e de resistência na cidade. Deve servir de exemplo para todos os que hoje se cagam de medo de um contato mais estreito com o povo. Isaias sabia muito bem fazer esse e outros meios de campo, jogava sempre para a frente, mesmo na última partida de sua vida, onde escalado, posto para jogar era pouco acionado. Parece que tinham medo de lhe passar a bola e ele permanecia ali esperando. O passe não chegou a contento até o dia em que foi levado para o ambulatório. Com a bola nos pés poderia ter dado outro destino para essa partida, essa que estamos vendo rolar hoje na política bauruense. Não preciso nem dizer que vai fazer falta, pois as peças de reposição disponíveis já não sabem atuar com tamanha desenvoltura e sabedoria.

ISAIAS E O SOCIALISMO RELIGIOSOtexto será publicado amanhã no Bom Dia Bauru, sábado, 26/10/2013:
Recebo pelo e-mail algo de um padre midiático católico, Paulo Ricardo de Azevedo Jr (www.padrepauloricardo.org) afirmando para suas multidões algo assim: “tire essa doença socialista de sua cabeça”, “o socialismo é corruptor na sua essência” ou “a lógica do sistema deles é ter sempre alguém mais igual que os demais”. Seu site não permite críticas, todas são sumariamente deletadas, só os elogios são publicados. É mais ou menos dessa forma que o debate é estabelecido em todo o seio religioso no mundo atual. 

Pregação de intolerância a olhos vistos, sem nenhuma possibilidade de diálogo, mundo cada vez impregnado de um tal de pensamento neoliberal, tido como sua única alternativa. Para esses o socialismo é ideia macabra e assassina, já o capitalismo é beatificado.
Nem sempre foi assim. Na quinta passada faleceu em Bauru um dos que ao longo de décadas pregava na prática o contrário. Seu nome, Isaias Daibem, um que conseguia maravilhosamente conciliar isso de ser uma pessoa religiosa e estar inserido dentro da concepção socialista. Não basta reza para salvar o povo (do que, hem?). É preciso querer e estar disposto a instrui-lo e promover de fato sua libertação. Religiosos praticaram isso décadas atrás no país. Cito os irmãos Boff, os frei Beto e Tito, Cardenal, Arns, Helder Camara, Casaldaliga e outros.

A igreja mudou, o mundo mudou para pior. Porém, alguns continuaram pregando como ontem, não sabendo fazer diferente do que sempre fizeram. Remam até hoje contra a maré, resistem, persistem, insistem e provam nas pequenas coisas o quanto é ridículo e sem sentido essa desinformação entupindo o mundo atual, cada vez mais bestificado, intransigente e enfronhado no mais novo formato divino, o da adoração ao deus dinheiro, esse acima de tudo e de todos.

Volto para minha aldeia e para Isaias. Não foi nenhum profeta, frequentava seu culto semanal, acreditando ser possível mover o povo crente num caminho onde as injustiças sociais fossem vencidas, irmanando luta em conjunto contra elas. Contrário ao acirramento de ideias se viu minoria, porém nunca esmoreceu na luta por dialogar (a razão contra a imbecilização). Ele não tinha medo das mudanças, os de hoje se borram.

A DESPEDIDA NO CEMITÉRIO: Um dos filhos, DANIEL DAIBEM (na foto junto dos pais) fez uso da palavra na beira do túmulo e deu uma aula de como ser Isaias, de tudo o que aprendeu com ele ao longo de sua vida e tranquilizou a todos os presentes com uma frase final, que era bem o estilo de como o seu velho pai gostaria que todos estivéssemos naquele e em todos os momentos seguintes de nossas vidas: "FIQUEM BEM!". 

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