segunda-feira, 31 de março de 2014

RETRATOS DE BAURU (154)


PITTOLI, UM DOS LÍDERES DA COMISSÃO DA VERDADE EM BAURU

Hoje é o dia que antecede aos 50 anos do Golpe Militar de 1964. Amanhã, 1º de Abril, fatídico Dia da Mentira, a data dessa grande mentira que foi impingida à nação por 21 longos anos, com repercussão reverberando até hoje nos seus rumos políticos. A data redonda não sugere comemoração nenhuma, afinal o legado do regime militar é hediondo, onde os milicos aliados a uma cruel elite, a mesma que infelicita esse país desde sua origem, propiciaram para todos nós momentos de muita angústia, desespero e lamentação. Nada melhor do que reverenciar no dia de hoje um dos que a combateram empunhando corajosamente armas, sendo também um dos responsáveis pelo país ter saído das trevas.


CARLOS ROBERTO PITTOLI é conceituado advogado, também capitão reformado do Exército e hoje coordenador da Comissão da Verdade de Bauru. Militou durante o período militar na Vanguarda Popular Revolucionária, a famosa VPR, junto a Carlos Lamarca e Darcy Rodrigues. Foi preso, torturado e viu sua vida em risco. As recordações são as piores possíveis, mas ele não é de se lamentar, altivo, tocou seu barco como pode e superando as adversidades sobreviveu e soube anexar conquistas ao feito da resistência. Esteve preso em um batalhão localizado em Praia Grande, comandado por Erasmo Dias. “Ele me ameaçou de morte com o revólver na minha cabeça”, contou Pittoli. Anos depois, militando no PSB foi convidado e o fez concorrendo ao cargo de Governador do Estado pela sigla. Saiu-se bem e isso fortaleceu sua fibra, resistência e garra para continuar buscando a verdade sobre o nefasto passado no período militar, uma das causas de sua vida. Morou no popular bairro Gasparini, periferia da cidade, onde suas ruas são todas em homenagem à profissões dos trabalhadores e lá conquistou algo, fazendo questão de expor por alguns anos em seu cartão de visita, o título de Aposentado, tendo ali como ilustração uma rede armada entre dois coqueiros. Soube sempre dar a volta por cima, bem sucedido nunca abandonou as origens e à disposição para a luta, como hoje quando para falar sobre esses 50 anos, da tribuna da Câmara dos Vereadores de Bauru, entre tantas coisas ressaltou algo com esse teor: “Lembro aqui de Iacanga, onde minha esposa trabalhou. Lá havia 700 propriedades décadas atrás e hoje 300. A população pouco mudou, mas a concentração de renda mostra que algo não vai bem”. Pittoli é um atento e audaz esgrimista, desses que dá tremendo orgulho chamar de amigo.

OBS: Essa história também está sendo publicada hoje no facebook como o 403º Personagem sem Carimbo - O Lado B de Bauru.

domingo, 30 de março de 2014

ALGO DA INTERNET (82)


OS “VÉIOS”, SUAS INTRIGAS, QUESTIUNCULAS E CAPITULAÇÕES
“Véio”, exatamente dessa forma minha mãe, hoje falecida, Eni Perazzi de Aquino costumava me denominar quando ficávamos conversando longamente juntos. O tempo passou e hoje, aos 53 anos e olhando uma foto tirada ontem num restaurante, que Rose Barrenha espalha pela internet, tenho que cada vez mais concordar, sou um “véio” e assumido. Não existe como voltar no tempo, infelizmente. Sou sim, um velho encrenqueiro, cheio de manias, cacoetes, carcomido pelo tempo e não abrindo mão de minhas convicções. Mas não sou só isso, pois sou também afável, palatável, atencioso, carinhoso e até benevolente. Depende muito da situação e dos interlocutores. Não consigo mais ficar dourando a pílula e quando me deparo com gente pífia em argumentos e cheia de razão, daí meu pavio é mais do que curto, subo nas tamancas. E por causa disso sou taxado de tudo. Desde intransigente esquerdista pelos mais à direita, como de benevolente pelos mais à esquerda. Verdadeiro fogo cruzado.

Vivemos tempos em que comunistas voltaram a ser admoestados (ainda não caçados – ufa!). Uns dizem que, mesmo os que não o são, mas os defendem são perniciosos. Quanta besteira. Ser comunista, na acepção da palavra é algo tão puro, tão singelo, de uma dedicação extrema para uma causa, a de todos, a de que ninguém deve mesmo ter mais do o outro. Um mundo igual, onde as oportunidades sejam concedidas a todos e todos possam usufruir de tudo. Não era isso que um tal de Cristo pregava. Pois bem, o comunismo idem. Estou lendo um lindo texto sobre uma pessoa comunista na acepção da palavra, o gentleman guerrilheiro jornalista JOAQUIM CÂMARA FERREIRA (pesquisem sobre ele, nada lhes direi) e lá uma frase contundente: “O comunismo, o comunismo dá alegria. Minha devoção é semelhante à dos primeiros cristãos, prontos a morrer pela sua religião”. Não sei se já foi o tempo, mas hoje em dia faltam, pessoas abnegadas, brigando pela causa coletiva e sobram individualistas, lutando por si só. Eu me encanto com a luta dos que ainda assumem serem comunistas e continuam na lida, mesmo com todas adversidades e admoestações.

Se ser comunista é coisa de “véio”, acho que os tempos atuais estão piorados, pois falta ideologia de luta nas pessoas e sobra uma pasmaceira de ficar dizendo amém a poderosos de plantão. Até eu caio nessa e sou cobrado por uns. Dia desses travei um bate boca com outro macanudo bom de briga, o produtor cultural KYN JUNIOR, conhecido de tempos idos, um respeitando o outro, mas nem por isso sem espezinhamentos cruzados. Kyn, assimilando uns golpes, eu outro, me diz que está criando um blog, o “Buraco do K.H.” (que na verdade seria ‘cagá”, unindo as iniciais do seu nome e do meu). Não fica nisso, diz também dar início aos “Personagens Chancelados – O Lado A de Bauru”, alusão ao que faço profissionalmente, vender chancelas e promovendo perfil de gente abastada, endinheirada, colunáveis e cheios de poder. Por fim, criará o “Som do Kym – O que rola na meu CD Room”, dizendo-se moderno com isso, pois como faço Som do HPA – O que rola na minha vitrolinha, isso, segundo ele é coisa de gente com visão ultrapassada. Aguardo ansioso o início para rirmos juntos, eu descrevendo os do meu lado, ele os que ele considera do seu. Sinceramente acho que falará de gente que não tem nada a ver com ele, mas tudo bem, daremos boas risadas juntos.

Dei mais uma ideia para ele, a de que juntos procuremos os donos dos jornais locais propondo uma seção quinzenal, ou seja, numa semana ele posta um texto com sua ideia, mais voltada na defesa do neoliberalismo e como resposta, noutra entro eu com a defesa do socialismo. Ficaríamos nessa troca de raras “gentilezas”, cada uma na sua e deixando os leitores loucos. Seria uma ótima oportunidade de ver quem tem mais garrafas vazias para vender. O fato é que discuto e em alguns caso volto atrás. Eu e Kyn ficamos duas semanas sem conversar, tudo por causa de posts no facebook e ontem quando ele posta uma foto nossa num bar, eu indo ao seu encontro comemorando os seus 49 anos, fingindo briguentos, eis que um amigo em comum, Orlando Alves, observando a reconciliação saca essa: “Ufa! A terceira guerra mundial foi cancelada”. Sou assim, temperamental, emotivo, mas sei atar e desatar (será?) relações. Quero muito continuar brigando pelos meus ideais, mas não quero ser fraticida de forma desnecessária. Tolero alguns, o Kyn um desses, assim como ele me tolera. Nossa tolerância não é zero, ainda bem. “Véios” são assim mesmo, sabem o momento de capitular (sem se vergarem), de recuar para dar um próximo passo mais acertado e assim tocamos nossas vidas. Viver dentro do capitalismo me faz agir assim. Não me avilto com isso e nem ele, estamos no jogo.

Coisa mais triste é ficar debatendo sobre ditaduras, como essa militar, 50 anos em 1º de Abril, eu defendendo a Venezuela, Cuba, Criméia indo para Rússia, bolivarianos, zapatistas, FARC e do outro lado Kyn contra tudo isso e dois fatos para constatação e comparação. No primeiro o STF remete para a 1ª Instância o processo contra o deputado tucano Azeredo, um que sozinho desviou mais que o mensalão todo. Deixa claro que o se ele pode, petistas idem, mas o STF não age assim e aí a prova do caráter de exceção daquele processo, agora mais que comprovado. No outro o que ocorre hoje no Egito, regime sendo construído com o que existiu de pior nas ditaduras sul-americanas dos anos 1960 e 1970, disposto a eliminar fisicamente a oposição. E chega ao ponto, tanto lá como cá, de receber aplausos de liberais laicos e a emite do país. Lá também estão acreditando que os militares se limitarão a uma breve intervenção para expulsar do poder as massas demoníacas e recolocar elites esclarecidas no poder (sic). Eu não caio mais nessas. 

sábado, 29 de março de 2014

UM LUGAR POR AÍ (49)


MAIS UM INVISÍVEL BAURUENSE, ESSE HOSPITALIZADO, A FRASE DO RENATO POMPEU E O LIBERTY HOTEL
Ontem escrevi aqui da Cláudia, hoje mais um personagem das ruas e sarjetas. Muitos são os que ficam perambulando pelas ruas do centro bauruense, incógnitos, anônimos, sem rosto, sem eira e nem beira. Quase nada sabemos de nenhum deles. Conheço muitos que nos abordam nos sinais, chegam quietos justamente quando paramos o carro, de cabeça baixa pedem algo. A grande maioria é conhecida de todos os motoristas que circulam diariamente pelos semáforos. Muitos viraram uma espécie de clientes, alguns rendem longos papos, mas na imensa maioria das vezes não passam disso, uma rápida conversinha até o sinal fechar. Hoje a carinha de um deles está estampada nos dois jornais.

Esse SENHOR da foto tem nome e sobrenome, mas internado num dos hospitais da cidade, nem ele mesmo soube dizer o seu e com seu rosto estampado nos jornais, talvez o mistério possa ser desvendado: Quem é ele? Onde mora? De onde veio? Para onde vai? Eu, circulando com meu carro, ora subindo a Antonio Alves e ora descendo a Araújo Leite, o via quase que diariamente no cruzamento com a Rodrigues Alves. Chegava com um jeito resignado, meio que envergonhado, na maioria das vezes descalço ou com chinelo de dedo, calça arriada no meio das canelas (algo que sempre notei nele), barba por fazer e pedindo, mão estendida. Fala sempre muito baixa, algo difícil de ser entendido, pedia algum e até praguejava quando da recusa. Renovava constantemente suas vestes, o que, a meu ver era um sinal de que não dormia nas ruas. Nada mais sei dele, nada mais a maioria dos que conversavam com ele deve saber. Hoje ao abrir os dois jornais sua carinha lá estampada e com um recado: “FAMESP tenta chegar a algum conhecido desde que o paciente deu entrada no Base – Um paciente entre 55 e 60 anos está internado desde o dia 19 de maço no Hospital de Base (HB), sem identificação. O paciente não sabe informar seus dados pessoais e nem o de seus familiares. O homem foi para o hospital após ser encontrado na rua desacordado. Qualquer informação deve ser fornecida à assistente social Cláudia Coelho, pelo telefone 31043564 ou pelo email sersocial.hb@famesp.org.br ”. Eu o conheço, mas desconheço tudo dele e da imensa maioria dos que circulam pedindo algo no centro da cidade. Esse SENHOR (na ausência do seu nome, prefiro o chamar dessa forma) é um dos tantos invisíveis de Bauru.

A FRASE DO POMPEU É DE UMA PRECISÃO CIRÚRGICA - RENATO POMPEU era um jornalista como poucos, desses que praticamente não existem mais, dinossauros em extinção. Estava meio que marginalizado nos últimos tempos por causa de seu texto ácido, agudo e preciso, sem espaço nas publicações atuais e encontrando um pouco seguro num texto mensal de página inteira para a Caros Amigos (algo também em Carta Capital e Retratos do Brasil). Lá escrevia o que queria e como queria. Um primor que merece ser transformado em livro. Seu blog, outra preciosidade: http://renatopompeu.blogspot.com.br/. Bonachão, mas cheio de problemas por causa dessa inconstância da profissão, teve um piriquipaque e faleceu meses atrás. Leia isso: http://www.carosamigos.com.br/index.php/cotidiano/3879-morre-o-jornalista-renato-pompeu. Uma perda irreparável para o jornalismo e por um único motivo: não existem mais peças de reposição disponíveis no mercado com a mesma verve. Quer dizer, o time daqui para frente jogará com um jogador a menos, talvez fazendo uso de um reserva que não supra as deficiências do time. A revista em sua edição de março, nº 204 publica uma homenagem a ele na sua habitual página, com um texto escrito pelo historiador e diretor da Caros, o Wagner Nabuco e no título uma de suas frases mais significativas sobre o jornalismo nos tempos atuais: “NO BRASIL, FAZER UM BOM JORNALISMO JÁ É SER DE ESQUERDA”. Sim, diante de tudo o que vemos sendo publicado, a forma como, quem ainda consegue publicar como antigamente é considerado de esquerda, mesmo que muitos não o sejam. Não achei o texto dele disponibilizado num link para leitura e, dessa forma, os que quiserem ler o texto terão que dirigir-se à banca mais próxima e comprar um exemplar. Vale totalmente a pena.

EU, JANGO GOULART E O HOTEL LIBERTY EM BUENOS AIRES – Gosto de certas coincidências na vida. Hoje fico sabendo de uma comigo. Lendo a última edição da Revista do Brasil (www.redebrasilatual.com.br), março 2014, nº 93, entrevista com JOÃO VICENTE, filho do ex-presidente JOÃO GOULART, com o título “Histórias Mal Contadas”, texto de Vitor Nuzzi, sobre os cinquenta anos depois do golpe e como Jango até hoje ainda representa um enigma político. “Sua morte no exílio alimentou mistérios. Para João Vicente, investigar é uma obrigação para o país”. O texto é muito bom, mas não é disso que quero escrever. Quero falar de algo onde estive presente e Jango também, o Hotel Liberty na capital argentina. Como já é sabido, quando Jango saiu para o exílio passou alguns meses em Buenos Aires e ali hospedou-se o tempo todo no Hotel Liberty. Veja o trecho narrado pelo filho: “Fomos morar na Argentina em 1973. Fomos morar primeiro no hotel Liberty, antes de alugar um apartamento, tínhamos alguns amigos. O senador (Zelmar) Miquelini, o deputado (Héctor) Gutiérrez Ruiz, que foram sequestrados e mortos (em 1976, em Buenos Aires), se reuniam com o pai lá. A gente já sabia que havia agentes... (...) às vezes, ele (Jango) ia lá no Liberty tomar um uísque, e quando a gente estaciona o porteiro normalmente vai lá abrir a porta do carro. Quando nós chegávamos, o porteiro saia disparado, porque o carro podia explodir. (...) Quando o pai foi para a Europa, tinha lá em Paris os amigos que mandavam remessas de remédios de nova geração. Mandavam por via aérea para o Liberty. Ali que ele se reunia. Ele conhecia todo mundo. O endereço do contato era ali. As reuniões com exilados muitas vezes também eram realizadas no hall desse hotel. E foi aí que, segundo o Neira Barreiro, eles trocaram um comprimido”.

Vou com a Ana todo mês de julho (fui nos últimos quatro anos) acompanhando ela num congresso anual de Design. Ela no Congresso, eu nas ruas. Por três anos ficamos no Liberty, um que caiu no nosso colo totalmente por acaso. Era para ficarmos num em frente, chegamos e era horrível, olhamos para o outro lado da rua e Ana resolveu tudo. Hoje não ficamos mais lá, achamos outro mais barato e mais perto do movimento da Corrientes, do lado de cima do obelisco. O Liberty (http://www.liberty-hotel.com.ar/) fica do lado de baixo, mais precisamente na Corrientes 632, possui um bom serviço, atendimento idem, já conhecíamos até o pessoal do serviço, mas mudamos. Hoje ao ler o texto na revista me bateu aquilo que sempre bate nessas situações: Terei eu ficado num mesmo apartamento que Jango? No halll com certeza e no mesmo lugar de algumas de suas clandestinas reuniões. O hotel não deve ter mudado muito de lá para cá. Tradicional, o que mudou, com certeza foi o procedimento que antes tinham com um governo militar e duro ao extremo e hoje com um liberal. Triste saber que foi lá que trocaram os medicamentos de Jango. Se voltar esse ano para lá já penso numa bela pauta para uma matéria, as lembranças de Jango com alguém do hotel (o gerente está lá faz décadas) e talvez até ver os registros do ex-presidente na sua estadia. Vejam isso: http://www.liberty-hotel.com.ar/portugues/ubicacion.htm#. Não vejo a hora.

sexta-feira, 28 de março de 2014

DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (63)


CLÁUDIA, UMA DAS INVISÍVEIS DAS RUAS BAURUENSES e A HISTÓRIA AINDA NÃO REVELADA DO GOLPE E DOS GOLPISTAS PELO INTERIOR PAULISTA (O CASO DE PIRACICABA)

Eu aqui nesses personagens escrevo de quem eu conheço, de quem eu conheço pouco, de quem eu conheço bastante e de quem eu não conheço nem um tiquinho. Para escrever de alguns personagens gostaria sim de saber muito mais do que escrevo, mas com alguns tenho uma dificuldade enorme em conseguir obter alguns dados. E como quero continuar escrevendo assim mesmo de certas pessoas, faço um esforço danado para produzir algumas linhas e nelas eu despejo uma carga imensa de sentimento recolhido, de algo latente, pulsante e prestes a explodir. Qualquer saída às ruas torna-se uma verdadeira sessão de tortura quando ao se deparar com gente largada pelas calçadas, pedintes com aquela carinha de fome diante de você numa fila de casa lotérica, ou mesmo adentrando um banco para pagar uma conta atrasada. Impossível permanecer indiferente e não querer ajudar, fazer algo, mas nem sempre isso é possível. Na produção do texto dessa personagem foi mais ou menos dessa forma, uma velha conhecida, de3ssas que cruzamos constantemente pelas ruas, nem ao menos a cumprimentamos, a saudamos, mas a enxergamos e sabemos que vive nas ruas, mas e daí e se logo na virada da esquina, quando nem bem ainda esquecemos a fisionomia dessa e já surge outra e mais outra. As pessoas sensíveis sofrem muito mais.

CLÁUDIA é moradora de rua e nem sei se o nome dela é esse mesmo, quanto mais seu sobrenome. Vive perambulando dia e noite pela região central da cidade, em andrajos e falando sozinha. Desce e sobre ruas, veste-se com o que lhe dão, lava-se nem sei quando, demonstra sofrer de algum distúrbio mental. Circula o dia todo e difícil quem não a conheça na região central da cidade. Em alguns momentos já a vi falando alto com alguns, talvez por medo ou receio de aproximações. Hoje voltei a vê-la, com um cabelão todo esgrouvinhado e do mesmo jeito de sempre, numa penúria de dar gosto. Muitos já devem ter tentado tirá-la dessa situação, eu nunca, mas me padeço toda vez que a vejo. Resolver isso é um tormento, pois não se trata só dela e sim de uma legião, crescente, os tais invisíveis aos olhos da maioria. Cláudia sobrevive aos trancos e barrancos e a história que tenho dela foi de algo ocorrido no dia do desfile do bloco Bauru Sem Tomate é Mixto, em pleno sábado de Carnaval. Nós todos reunidos lá na praça Rui Barbosa, ela se aproxima observando o barulho e começa a se interessar pela coisa. Tatiana saca e a convida para se aproximar, ela chega e é toda pintada. Na sequência ganha uma camiseta do bloco. Ela toda feliz desfila conosco e até canta alegre e pimpona. Terminado o desfile nem sei para que lado foi. Só hoje fui revê-la e estava do mesmo jeito de sempre, suja, olhar distante e cheirando mal. Alguém sabe onde ela dorme? Onde guarda suas coisas? Se seu nome é esse mesmo? Mais e mais perguntas e todas sem resposta, como sem resposta é algo sobre o futuro de tantos iguais a ela vivendo comas migalhas que lhe são atiradas. Cláudia continua sobrevivendo. É só o que sei dela.
Obs.: As fotos dela foram tiradas com o celular de Tatiana Calmon e por Neiva Santos.

NO COMEÇO DA MANHÃ - 50 ANOS GOLPE MILITAR E A IMPRENSA - Dia 1º de Abril, dia da mentira é a data fatídica para uma triste recordação, a dos 50 anos do atentado às liberdades nesse país. Muita coisa saindo pela mídia. Destaco duas. Na primeira, a excelente REVISTA DO BRASIL (www.redebrasilatual.com.br), com a edição 93, março 2014, com a capa 'GOLPE NUNCA MAIS', textos que são um primor. Essa revista é distribuída gratuitamente pelos sindicatos ligados à CUT e nela um resumo dos mais instigantes sobre o Golpe. Aqui em Bauru pode ser conseguida ali na Central Sindical da rua XV de Novembro. Edição histórica para ser lida e guardada. Já a edição que chega nas bancas amanhã da CARTA CAPITAL (www.cartacapital.com.br), com conteúdo especial sobre o tema traz na capa "OS 50 ANOS DO GOLPE", pelo que já vi e li pela internet, uma edição para ser guardada, divulgada, espalhada e mostrada em praça pública. É o que de melhor estou vendo sobre uma séria discussão sobre o tema. Vale a pena ter as duas em casa.

Ainda sobre o golpe, algo que ainda está muito mal explicado é como se processou as engrenagens, as entranhas desse golpe pelo interior paulista. Aqui mesmo em Bauru ainda temos muitas coisas não reveladas, gente que patrocinou, bancou os ditadores, fez e aconteceu se beneficiando com o regime de exceção e hoje, passados 50 anos, estão mais do que caladinhos e não possuem a mínima vontade de revelar o algo podre do passado. Isso não só aqui, mas pela maioria das cidades brasileiras. Tomo conhecimento de que na cidade de Piracicaba um grupo de pessoas faz um sério levantamento sobre o tema e tenta lançar um livro. O mesmo sofre um cerceamento e após isso, pela união dos seus idealizadores, talvez a obra saia. A história deles lá em Piracicaba é a mesmíssima história de muitos outros lugares. Aqui em Bauru ainda não vi nada sendo feito nesse sentido, um levantamento sério com dados e nomes de pessoas e empresas, de quem esteve por detrás do golpe. Leiam sobre o caso Piracicaba e vamos refletir sobre o que também não teria acontecido em Bauru: http://www.kickante.com.br/campanhas/piracicaba-nos-tempos-da-ditadura-0
MUNDO AO CONTRÁRIO, POR EDUARDO GALEANO: Alguém consegue ter um sono tranquilo com tanto iniquidade solta pelo mundo? Eu não durmo direito já faz um bom tempo. Quando você tem consciência de certos procedimentos, seu sono vai para as cucuias. Vejam do que escrevo, assistindo o vídeo com EDUARDO GALEANO escancarando um bocadinho mais da podridão humana nesse "mundo de merda" (frase dele): https://www.youtube.com/watch?v=vM7FP0nMFK0.

quinta-feira, 27 de março de 2014

CHARGES ESCOLHIDAS A DEDO (78)


AS COISAS QUE VEJO DE MINHA JANELA - NAÇÕES COM RODRIGO ROMEIRO
Comecei a bater papo hoje com uma pessoa que vê um mundo dos mais picantes e diferenciados de sua janela, uma visão de quem se debruça no parapeito e observa o que acontece abaixo de seus domínios. Altura das Nações Unidas, quadra 17, esquina com a Rodrigo Romeiro, ali um prédio espelhado e bem na esquina um dos mais tradicionais pontos de prostituição bauruense, hoje dominado pelos travestis. Morando do outro lado da rua, num local privilegiado, que não devo identificar (seria uma casa? Um prédio? Um bangalô? Um quiosque?), uma distinta pessoa permaneceu por alguns anos observando o movimento do local, privilegiada por ótima posição, bem "de frente pro crime", como no samba de Bosco e Blanc. Uma espécie de camarote e quando o sono foge, ou o barulho das ruas invade sua sala, sai para a sacada e presta a atenção na sua origem, movimentos outros e disso tudo um relato contundente sobre uma das esquinas com maior agitação na noite bauruense. Vejam alguns trechos do que consegui salvar da conversa:

“Na solidão noturna do meu quarto procurava a sacada e ali observava as pessoas lá embaixo, isso durante longos anos. A maioria, mesmo acompanhada, pelo ritmo de suas vidas estavam é sozinhas. Sozinhas e a mercê de outras pessoas, umas que usam a exploração humana como meio de vida. Falo de gigolôs e traficantes. Acabei me tornando íntimo de cada um deles, mesmo não estado lá, pois observada cada passo dado. Via tudo, as constantes brigas, o tráfico, o aceito não aceito adentrar um carro, a ida a um local qualquer para satisfazer o desejo reprimido, as idas e vindas, os afetos, tapas e tudo o mais. E não pense que os carros que param ali são populares, nada disso, de cada dez só uns dois são populares. A maioria é carrão. Ali perto, onde antes foi um estacionamento, existe um terreno e ali já aconteceu de tudo. Ficou muito tempo aberto. O entra e sai era constante. O faziam por um buraco lateral e iam ali para sexo, fumar, injetar, traficar, beber e tudo o que se possa fazer num terreno baldio longe dos olhos dos indiscretos. Já vi gente que vinha até de bicicleta, acertava os detalhes com alguém lá na esquina e vinham juntos para o terreno. Até que um dia de tanto os vizinhos reclamarem fecharam os buracos na cerca em volta do terreno e o pessoal foi procurar outros lugares. Termina um e começa outro.

Agora tudo rola num terreno ao lado daquela casa onde é uma sede de um partido político. Mas nada disso é assim tão interessante, pois isso acontece por todo lugar. Isso não é novidade daqui. Essas pessoas todas lá embaixo, percebo que mesmo não querendo, na maioria das vezes são induzidas, conduzidas e acabam entrando no mundo não só do sexo, mas da droga. Deve ser difícil passar uma noite toda ali na esquina, aguentando de tudo, gente de tudo quanto é tipo parando o carro, gente suja, gente limpa. A droga acaba acontecendo e depois chegam os outros problemas, se aproximam as outras pessoas. A vulnerabilidade delas acaba por submetê-los a todo tipo de violência e na noite acontece de tudo. A violência é só uma das facetas da noite por essas ruas. Tinha um casal, o homem era o gigolô da própria esposa. Acho que eram casados, vinham juntos, ele de longe observando ela na esquina. Via ela sair e quando voltava do programa, ele já estava esperando e ficava com o dinheiro dela. Repetia isso a noite toda. Frequentaram parte dessas ruas por muito tempo e sumiram de um dia para outro. Nunca mais os vi. Teve até uma senhora de uns 60 anos, que chegava sempre cedo, por volta das 7h da manhã e ficava abordando os homens esse horário. Hoje se você andar desse pedaço até o Vitória Régia vai encontrar muita gente parada nas esquinas. Aqui dá de tudo.

Se eu pudesse fazer algum tipo de cobrança para as autoridades seria sobre o tráfico. Muitos jovens se perdendo bem cedo, cada vez mais cedo. Muitos não vêm para cá ganhar a vida com a prostituição, mas sim com tráfico. A prostituição sempre existiu, mas o que pega mesmo hoje é o tráfico. Esse é muito cruel, destrói as pessoas. Uma degradação triste de ser presenciada. Não existe nenhum ponto de prostituição ou mesmo de droga aqui na Nações que não existe outras pessoas por trás. Sempre tem alguém tomando conta das meninas lá na esquina. Elas são vigiadas por muitos olhos. O duro é ver que não tem como terminar com isso. De certa forma vou te afirmar algo até triste, mas os moradores até se sentem seguros com a movimentação, pois ninguém que atua dessa forma na rua gosta de ver polícia por perto. Eles fazem de tudo para resolver as pendências lá deles entre eles mesmos e sem a presença da polícia. Eles detestam quando dá polícia. Brigas acontecem a todo instante e de todo tipo. Uma mais feia que a outra. Muitas mortes já ocorreram nesse pedaço, desde travestis, prostitutas e mesmo com gigolôs. Fala-se disso quando do acontecimento, mas depois, passados alguns dias é como se nada estivesse ocorrido, tudo volta ao normal.

O que diminuiu mesmo foram a ação dos aviõezinhos, os meninos que circulavam de bicicleta, pequenas criaturas e ficavam rodando o tempo todo, levando e trazendo. Isso não vejo mais. Vejo daqui de minha janela eles escondendo de tudo e por tudo quanto é lugar. Desde os canteiros da avenida, guias de sarjetas, quintais e jardins, terrenos, buracos em paredes, tudo. Guardam num lugar, depois vão pegando e repassando. A polícia deve saber de tudo, impossível não saber, pois todo mundo sabe e comenta. Quando ela chega faz um estardalhaço e depois de alguns dias tudo volta ao normal. Mas já esteve pior. Uma vez incendiaram até uma casa abandonada, perto do prédio da Encol, esse que não foi concluído e virou outro lugar perigoso. Brigaram lá na casa e colocaram fogo em tudo, devia ter muito lixo lá dentro. Eu vejo tudo, mas é tudo muito distante, não tenho binóculo e não distingo ninguém, são vultos distantes, personagens de um teatro de horror. Vivem como zumbis, chegando quando a noite já desceu, não saberia identificar o rosto de nenhum deles, mas sei o que fazem, vejo fazendo. Teve uma moça lida, copinho bonito, ficou grávida, teve o nenê e menos de dois meses depois já estava de volta. E depois quando já é noitão, cada vez menos gente nas ruas, eles invadem as ruas, fazem sexo nos portões, necessidades. A diferença do cafetão e traficante para o usuário do crack é que esses acham que até nós moradores estamos invadindo o espaço deles. O usuário não tem opção, pede de tudo, comida, pequenas coisas, tudo para vender e consumir a droga. Todo mundo vê isso e isso não é privilégio de minha janela”.

Seu relato foi exatamente assim como o escrevi, vapt-vupt, cuspido de uma só talagada, com veementes pedidos para não deixar pistas de sua identificação. Ninguém gosta de se expor para os perigos debaixo de suas janelas.

quarta-feira, 26 de março de 2014

INTERVENÇÕES DO SUPER-HERÓI BAURUENSE (69)


GUARDIÃO OBSERVOU DILMA, AS ADMOESTAÇÕES TODAS E DEU SUA INTERPRETAÇÃO DE TUDO O QUE FOI VISTO E DITO
Ontem foi um dia surreal em Bauru. A Nova Esperança acabou transformando-se na capital da República, com a vinda da presidenta Dilma Rousseff, que por duas horas ali permaneceu entregando apartamentos do projeto Minha Casa Minha Vida. Choveram elogios e críticas, saraivada intermitente e carregada de efeitos colaterais. “Ninguém em sã consciência pode reclamar de projetos como esse do Minha Casa Minha Vida, que entrega apartamentos para os menos favorecidos a custos baixos. Mas muitos reclamam, esperneiam e veem o diabo no projeto. Eu vejo, mas só nos casos de gente mal intencionada desviando grana de algo tão salutar para seu próprios bolsos e do papel nada interessante das empreiteiras cada vez mais sacanas. Esses não merecem perdão, muito menos trégua, já do projeto e de quem o idealizou, só aplausos. São mais de dez mil casas só em Bauru, quer coisa melhor que isso?”, diz Guardião, o super-herói bauruense, após sobrevoar o bairro onde Dilma esteve em solenidade.

Existe hoje no país uma turba acostumada a ver tudo de ruim em todos os atos vindos lá do Governo Federal, mas muito mal acostumados a continuarem fazendo vista mais que grossa para atos mais que insanos advindos de gente cujas suas preferências recaem. Daí começa aquela interminável briga, quando um defende as posições do governo Dilma e outros só criticando e espezinhando. “Um tendel difícil de entender, recheado de muito preconceito, deixando claro a existência de um cada vez mais latente ódio de classe. Ou seja, não estão tolerando ver os menos favorecidos começarem a ter as coisas e dando apoio a quem lhes favoreceu. A internet virou mais que briga de rua e no meio disso tudo e para a Dilma sobra de tudo, rasgados elogios de um lado e os mais ignóbeis adjetivos do outro. Dessa confusão sobra para todo mundo e até as interpretações sobre o que é dito aos microfones, parece que é compreendido de forma diferente”, continua Guardião.

O super-herói acompanhou todo o discurso de Dilma lá de cima da imensa tenda armada no meio dos prédios e hoje ao abrir os jornais viu lá estampado: “Presidente promete universidade federal de medicina para Bauru” e “Dilma promete implantar curso de medicina em Bauru”. Levou o maior choque e foi rever em sua memória telepática e com um HD de memória de última geração o que de fato Dilma havia dito: “Vou estudar a viabilidade da implantação do 16º curso superior na cidade de Bauru”. Daí, querendo entender dos motivos dessa tentativa de confirmar o que de fato não foi dito saiu-se com essa: “Colocaram palavras na boca da mulher. Escreveram o que não foi dito de fato. Fizeram uma interpretação distorcida e tentando dessa forma amarrá-la à causa bauruense de uma vez por todas”. Dito isso, Guardião continuou acompanhando o que mais está sendo dito sobre sua passagem. “Teve gente que torceu para cair o helicóptero, outro a chamou de vaca, criticaram o vermelho de sua blusa como uma forma de campanha eleitoral antecipada. Nem essa cor ela mais pode fazer uso, como não pode mais ter segurança, pois outro disse que o visto foi exagerado. Outro não queria apartamentos e sim mais empregos, menos buracos e água nas torneiras. Teve de tudo e continua tendo, uma esbórnia bem a caráter para a confusão mental a que estamos todos submetidos, diante de quem morre de amores e quem a detesta de paixão”, sacramenta nosso homem de capa e espada, meditando diante das iniquidades humanas.

“Coxinha ou não coxinha, o fato é que os apartamentos estão sendo entregues e quem até ontem morava num barraco, hoje não mora mais. Quem pagava aluguel, hoje começa pagar baixa prestação de imóvel próprio. E quem vivia reclamando de que o atendimento médico nos PAs era um horror, já conta com cinco e mais sete médicos cubanos estão chegando para deixar os que fazem consultas em meros três minutinhos de orelha em pé. Teremos sempre os que reclamam de tudo e os que começam a viver uma situação melhor e mais digna. Um pensa de um jeito, contra até mesmo a melhoria, outro já sendo beneficiado, gosta muito do seu novo estado de vivência. Imagine de que lado eu posso estar?”, deixa no ar uma sacana pergunta, esse bom observador de nossas maledicências. E bate rapidamente em retirada ver se o piso antiderrapante que a Dilma pediu para ser colocado nas escadas dos prédios lá já estava e testá-lo antes que alguém acabe levando um indevido tombo. “Fui”, disse batendo as asas.

terça-feira, 25 de março de 2014

ALGO DA INTERNET (82)


OS MALUCOS NO FACEBOOK POR CAUSA DE DONA DILMA EM BAURU E DEPOIS DISSO, QUE FAÇO?
Ontem, exatos 23h33, entro no facebook para ver minhas atualizações antes de deitar e percebo um clima pesado, admoestações à vista, tudo por causa da visita da presidenta da Repúblçica hoje à Bauru. Do outro lado, um amigão do peito, GILBERTO TRUIJO me escreve algo: “TEM UNS CARAS MALUCOS HÁ ESSA HORA NO FACE”. Concordo e respondo assim: “SE BOBEAR A GENTE APANHA”. Ele responde: “ESSE HORÁRIO O IRRACIONALISMO ESTÁ EM VOGA”. Tenho que concordar e para explicitar o instigo com isso: “NEM ENTRO EM DISCUSSÃO MAIS COM DESCONHECIDOS. DOS CONHECIDOS TASCO LÁ UMA PROVOCAÇÃO E SAIO, NEM LEIO O QUE ME RESPONDEM...”. Sua resposta uma preciosidade: “EU IDEM. UM PM CONHECIDO DISSE QUE NA ÉPOC DOS MILITARES NÃO TINHA BANDIDO FAMOSO. CITEI CARA DE CAVALO, CABO BRUNO, ERASMO DIAS, BANDIDO DA LUZ VERMELHA E OUTROS MILITARES E CAI FORA”.

Não são somente eu e Truijo os que evitamos discussões estapafúrdias via internet, pois além de lermos algo em forma de admoestação, poucos são os que de fato estão dispostos a ouvir, discutir e debater. Na maioria desferem o que pensam e ainda pregam o reio nos adversários, inimigos, ou seja como encaram os que não concordam com tudo o que cospem boca afora.
De manhã, a coisa parece estar mais amena. Será?
Agora são exatos 12h20, estou nos preparos para ir até o bairro Nova Esperança ver a presidenta de perto e só por postar isso já me chove uma saraivada de impropérios. Eu vou e daí? Posso não concordar com ela numa pá de coisas (alguém concorda com alguém em tudo?), mas isso não me impede que queira ir lá ver como é o aparto de montagem, a tal recepção para um presidente no exercício do seu mandato.

COMPROMISSOS PARAM QUANDO A PRESIDENTE VOAR DE VOLTA PARA SEU NINHO:

1.) Assim que sair de lá e quero ir ver a cara nova do MUSEU FERROVIÁRIO, reabrindo hoje suas portas com uma nova roupagem. O Museu esteve fechado durante esta semana (18 a 22) para que fosse realizada a reestruturação das ambientações das salas de exposições. A nova formatação das salas engloba novos painéis fotográficos e objetos relacionados à ferrovia e que fazem parte do acervo do Museu. O horário de atendimento é de terça à sexta-feira, das 8h30 às 12h e das 13h30 às 17h, e aos sábado das 8h30 às 13h30. O Museu Ferroviário Regional fica na Rua Primeiro de Agosto, s/n, Centro, telefone (14) 3212 8262.

2.) Depois vou lá no SESC ver se ainda consigo dois ingressos para assistir o show do NANDO REIS amanhã. Deixei para última hora e agora tenho que ver se houveram sobras. Sei que o SESC bomba com seus shows, pois o preço é barato e a demanda nessas oportunidades é das mail altas. Da última vez que vi Nando Reis foi também aqui em Bauru e fez um duo muito bom com nada menos que Fito Paes.

3.) De lá vou parlar com o amigo Leandro Gonçalez, meu guru quadrinheiro. Quero ver como será o COMIC FAN FEST por esses dias lá na Gibiteca, um evento reunindo gente antenada com os HQs, algo que sempre gostei. E dessa vez quero muito aproveitar a rara oportunidade e conhecer a tal da poetisa Thina Curtis, sobre esse negócio desse gosto que não nos abandona de HQ.

4.) Se ainda der tempo tem mais, pois também quero espiar o evento do Colégio D'Incao, que todo ano bato cartão, a SEMANA LATINOAMERICANA, todos os dias com bons debates. 4ª Semana Latino Americana – Começou ontem, dia 24/03/2014 - com Carlos D'Incao - Atualização do Sistema Econômico de Cuba. Obs.: por motivos de saúde o palestrante Luiz Carlos Prestes Filho não poderá comparecer. Assim a palestra "Coluna Prestes e a História do Brasil" foi cancelada.

5.) Talvez um cinema na saída, um chopp lá Brecha ou um prolongado papo com o professor Clodoaldo Meneghello sobre os preparativos para o repúdio aos 50 Anos do Golpe Militar de 64, lembrado sempre por mim no dia 1º de Abril, o Dia da Mentira. Olhem o link com a programação: http://www.unesp.br/portal#!/observatorio_ses.

E depois ainda tenho que trabalhar. Começo pela Dilma...
OBS.: SOU UM TRICOTADOR DE MARCA MAIOR E ADORO VER GENTE TRICOTANDO - Hoje, dois tricotearam a vontade enquanto algo sério rolava num evento. Tirei algumas fotos lá no evento da Dilma e a mais interessante foi a do papo fluindo de uma maneira aparentemente prazerosa entre o prefeito Rodrigo e a Dilma. Pareciam amigos de longa data, tricotaram por um bom tempo enquanto os discursos rolavam no microfone. Que isso traga proveitos para Bauru. Sintam o brilho nos olhos de ambos com a conversa.

segunda-feira, 24 de março de 2014

MEMÓRIA ORAL (158)


MYRELA, A QUE VEIO DE LONGE - A HISTÓRIA DA PRIMEIRA RAINHA TRANS DO CARNAVAL DE BAURU
Novidades é o que não faltam no Carnaval Bauruense. Muitas esse ano e dentre elas algo mais para ser reverenciado com jubilo, o fato de mais uma barreira ter sido quebrada com o desfile da primeira Rainha de Bateria Trans numa Escola de Samba. Feito esse preenchido por uma até então desconhecida na cidade, MYRELLA MASSAFERA, 21 anos, vinda de Curitiba especialmente para desfilar na Imperatriz da Grande Cidade. A história dessa nova personagem, paparicada por muitos, merece ser contada, detalhes ressaltados e a partir daí, sendo desvendados os caminhos percorridos por muitas iguais a ela, viajando longas distâncias, desdobrando-se de formas pouco usuais e inusitadas, tudo para abrilhantar festas e a partir daí, também terem a possibilidade de com uma exposição diferenciada de seus nomes, começarem trilhar novos caminhos, possibilidades outras. Conheçam um pouco de como isso tudo se sucedeu.

Por sorte Myrella conhecia alguém em Bauru, um porto mais que seguro, facilitando sua chegada. Seu nome, Elisângela Silva, hoje repositora na loja da Wal Mart na cidade e também Mestre de Tamborim do bloco carnavalesco Pé de Varsa e que, anos atrás havia morado em Curitiba e conhecido Myrella em casas de shows daquela cidade. “Por que não vem pular o Carnaval aqui e aproveita para desfilar no Pé de Varsa?”, foi o convite feito de amiga para amiga. Prontamente aceito, os detalhes foram sendo traçados em poucos dias e algumas semanas antes da festa ter início, Myrella aqui aportou e já na rodoviária Elisângela a esperava. Hospedagem garantida começaram as visitas nos ensaios e a passista, que trouxe consigo o samba no pé começou a ser observada por gente de outras paragens. Vaga garantida no bloco, num dia de ensaio acabou visitando o ensaio de um vizinho, o Lagoa do Sapo. Lá quem a observa e a convida para o desfile numa escola de samba foi o presidente desta, José Carlos Zotino. Novas possibilidades e por sorte, gente prevenida vale por dois. “Não vim despreparada, trouxe a fantasia que iria sair no Pé de Varsa e outra de reserva. Foi minha salvação e com essa sai na Imperatriz. E olha que até então nunca tinha desfilado em nenhum Carnaval, aqui o primeiro”, conta Myrella.

Uma trans com o samba no pé, prontinha para ser encaixada em situações diversas, aceitando convites, improvisos e vagas surgidas no desenrolar da trama. Pedro Valentim é diretor da Imperatriz e assim define o que aconteceu: “Em reunião que a Imperatriz da Grande Bauru teve em Junho, bem antes do carnaval decidimos que iriamos homenagear no nosso Enredo as Entidades que materializam o 'Sincretismo Religioso Africano' que sofre uma perseguição brutal de Igrejas Evangélicas Pentecostais e de setores de nossa sociedade. Ao mesmo tempo definimos que na mesma linha deveríamos atacar a homofobia ao pôr pela primeira vez no Sambódromo uma rainha de bateria ‘transexual ou gay’. Fizemos isso e o público gostou. No nosso carro alegórico do ‘abre alas’ o que representava o Exu, outro gay, também muito aplaudido. Essa foi e continuara sendo a meta da Imperatriz, quebrar preconceitos e paradigmas”. Quebrou mesmo, Myrella foi capa do Caderno Cultural do Jornal da Cidade, fotos suas em ambas as apresentações bombaram em sites, blogs e nas redes sociais. Daí nada melhor do que conhecer um pouco mais dessa tão instigante pessoa, mostrar a que veio e como fez para já chegar prontinha da silva aqui em Bauru.

Para a amiga Elisângela isso não é novidade nenhuma. “Convivi com ela lá no Paraná e quando a convidei sabia que iria explodir e fazer muito sucesso, arrasar corações. E agora conto mais, ela gostou tanto daqui, que já fala em se mudar para cá. Portanto, preparem-se”, resume. Myrella é claro não nasceu com esse nome, mas não faz questão nenhuma de lembrar o de batismo, pois se fez com esse. “Sempre gostei desse e o escolhi por acaso. Sou de Itararé, interior paulista, sai de lá muito nova, acompanhando minha mãe, até que um dia nos mudamos para Curitiba. Minha mãe conheceu meu padrasto, que considero mais que um pai, devido ao apoio deles em tudo o que faço e lá pelos meus dez anos já tinha definido o que queria para minha vida. A transformação foi rápida e quando meu padrasto soube de uma aventura minha, nos reunimos em casa e acabei resumindo tudo com um, ‘eu gosto de homem’. Minha maior alegria na vida veio após isso, vi minha mãe chorando, mas no dia seguinte me disse que estaria sempre ao meu lado, me aconselhou e aconselha muito até hoje, mas nunca me abandonou”, conta. A história de Myrella é a história de muitas iguais a ela, a prematura revelação e a partir daí duas situações, ou o apoio familiar ou o abandono. Dois destinos pela frente e no seu caso, o amparo foi decisivo para ser o que é hoje, consciente e ciente dos percalços todos, mas sempre tendo mais do que um ombro amigo ao seu lado.

A história mais triste, parecendo sina em pessoas iguais a ela foi dos motivos para ter abandonado a escola. “Não consegui terminar o primeiro grau. Num ano meu número na classe, por uma dessas coincidências da vida era 24 e quando a professora estava no 19, 20, 21 eu já estava trêmula e a gozação era eminente. Aquilo calou fundo em mim, desisti de tudo e com treze anos acabei indo morar com uma cafetina. Daí vieram as primeiras aplicações de hormônios, algo que faço até hoje, tudo para ter meu corpo bem definido e a voz feminina”, conta. Quem é de fora do meio pode achar isso anormal, mas o padrão na maioria dos trans de sua idade é essa, o início precoce. Silmara Aparecida Arruda, a mãe, 41 anos, instaladora de rejunte em construções conta mais sobre isso: “Um impacto a primeira notícia, mas ela só tinha a mim e daí abracei sua causa. Tenho orgulho de falar dela hoje, somos unidas nessas questões. Ela reina para mim, é minha estrelinha. Não tenho total conhecimento do que ocorre com ela em suas viagens, então, além dos conselhos, torço muito. Acompanho as lutas todas onde já se meteu e também as conquistas”. Outro a apoiar e aconselhar é Kleber Silva, 43 anos, pintor de paredes e padrasto. “Sou tão grata a ele que, quando vamos para Santos, casa dos seus parentes, ele vai à praia comigo, fica junto, não tem vergonha de me apresentar aos seus colegas de trabalho. Em todos os lugares sou sua filha. Quer coisa melhor?”, explica Myrella.

A caminhada não foi fácil, fez de tudo um pouco até definir e ser o que é hoje. Promotora de vendas, operadora de caixa em supermercado, atendente em panificadora, cabelereira e maquiadora (“isso sou até hoje, atendendo clientes em casa”, conta), além de por alguns anos ter sido obreira da Igreja Adventista. “Fiquei lá alguns anos até que um dia, num acampamento com outros adolescentes, um menino na barraca ao lado me ajudou a montar a minha e aconteceu de novo. Não houve jeito, sai da igreja e vi que não poderia ser outra coisa na vida”, conta. Ela e a mãe antes da entrada do Kleber em suas vidas passaram poucas e boas, inclusive fome e inesquecível o dia em que tinham somente um chuchu para comerem. “Foi barra, mas superamos isso juntas”, diz. O tempo passou, da casa da cafetina vieram os shows em casas noturnas de Curitiba, culminando com algo bem peculiar hoje em dia. Quando se quer saber algo mais sobre alguém basta um clique no google e lá o rol do que existe em seu nome, espécie de Curriculum Vitae dos tempos modernos. No caso de Myrella lá estão vários links dos vários shows onde já se apresentou e até um com o dia em a gravaram ensaiando junto a Imperatriz em Bauru, diante de uma bateria ainda em formação. Esse, até a presente data são os seus cartões de apresentação.

Myrella diz querer mais e faz de tudo e mais um pouco para explodir, ou seja, fazer sucesso. Essa viagem para Bauru não foi em vão, existia nela algo como uma espécie de luz no final do túnel, um algo novo, possibilidades sempre despontando no horizonte. Nas fotos espalhadas pelo seu e outros facebooks, compartilhadas de um lado a outro, além dos comentários sempre cheios de todo tipo de interesse, espera surgir o algo mais transformador em sua vida. Faz questão de lembrar em vários momentos de certa semelhança com a atriz Tatá Werneck, a ‘Valdirene’, da novela há pouco terminada na TV Globo, ‘Amor à Vida’, algo pelo qual confessa, motivo para ser constantemente abordada e também assediada. Ela se diverte com tudo isso e espera usufruir mais e mais. A vida só com os shows não mais a satisfaz, pois os cachês são baixos e os custos com a produção de roupas, por exemplo, cada vez mais altos. Isso, segundo ela “algo um tanto desanimador”. Gosta do que faz, mas o retorno é baixo demais, daí desponta em sua cabeça um algo novo, ainda desconhecido. “Outro dia me colocaram em contato até com um famoso cineasta pornô carioca, o Damazo, especialista em filmes com a temática travesti. Até topo fazer, mas precisa ser algo profissional, compensador para ambos os lados”, confessa sem medo de macular sua imagem. Daí a pergunta de minha lavra: “E no que ela se difere de muitas outras em busca do sucesso?”. Eu mesmo respondo: “Nada. Ela, mais uma na luta e na lida”.

Na avenida do samba em Bauru, local de onde ela foi muito notada e inicialmente entrevistada, o que mais chamou a atenção foi a marcante presença, rodeada de muitas pessoas e quando já sem fantasia, sempre junto de inseparáveis bolsas, duas originais Louis Vuitton (“ganhei de minha mãe”, conta). Além da torcida, Myrella possui seu lado de fé, dedicação exclusiva à Umbanda, a qual frequenta desde os seus 16 anos. “Fui convidada por uma amiga hoje na Itália, Mônica Ravache. Quando lá percebi ser uma religião que aceita o diferente acabei buscando muito de minha força nela. Lá eu me sinto mais eu, acredito muito no eu posso ser para depois poder ensinar. Isso hoje está muito vivo dentro de mim, essa religiosidade integrada ao querer buscar esse caminho que me levará a algo duradouro, pleno. Confio nisso”, resume. Uma menina sonhadora, cheia de planos, não sabendo muito bem como decididamente fazer para alcança-los, mas ciente de que nada cairá dos céus.

O Carnaval terminou, ficou mais oito dias em Bauru e depois bateu asas, pegou o ônibus da mesma empresa que a trouxe, a Princesa do Norte e voltou para sua Curitiba. Retomou sua vida de antes, reviu os seus, saiu em busca de seus amigos, contou as novidades a todos, continua ouvindo de tudo (“menos rap e rock”, diz), em contato com as novas amizades e espalhando por todos os lugares o algo novo trazido desse lugar tão distante do seu habitat, até então desconhecido, mas hoje, mais do que um a mais em sua trajetória. Talvez volte um dia para Bauru, talvez alce outros voos para lugares incertos e não sabidos. Tudo na vida dessa intrépida Myrella é um suspense daqui para frente, sempr4e foi assim. Capricorniana, 59 quilos, 1m65, na flor da idade, inveterada devoradora de strogonoff, seu prato predileto, agora a 1ª Rainha Trans de Bateria de uma Escola de Samba de Bauru, quiçá do interior de São Paulo e talvez de todo Estado. Mas o que esse título pode representar para tão sonhadora pessoa?, lhe pergunto. “Eu tento, não desistirei de continuar tentando. Muitos acreditam em meu potencial, eu sei de todas as dificuldades pela frente. Dou o melhor de mim”. Presença forte e marcante, seu dia chegará e como na antiga música de Zé Rodrix, que talvez ela nem conheça, o refrão diz tudo: “Quando será o dia da minha sorte / Sei que antes da minha morte / Eu sei que esse dia chegará / Mas quando será”.

OBS.: Essa a segunda história de quatro carnavalescas não aproveitadas entre as produzidas para matérias virtuais da revista AZ!. Aguardem, mais duas no prelo...

domingo, 23 de março de 2014

O QUE FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (43)


DESABAFOS E CONTEMPLAÇÕES DOMINICAIS DO HPA

DESABAFO 1 - ALGO MAIS QUE TRISTE DE UM DIA MUITO TRISTE PELOS LADOS DO ALFREDÃO - Perdemos mais uma e isso não é mais novidade. Perdemos, aliás, quase todas, dentro e fora de campo. O Noroeste não se ajuda principalmente fora de suas quatro linhas. Quando tudo parece caminhar para algo mais salutar, nos é revelado, em forma de drops, aos poucos um algo mais do que acontece nos bastidores desse centenário time. Não existe resistência que se segure diante de tanta adversidade. Ontem, na derrota por 4x1 para o São José, sem comentários, time apático dentro e fora de campo, ainda mais depois da hecatombe ocorrida na sua parte intestinal, quando se toma conhecimento de como são tratados internamente as transações de atletas (ontem um goleiro, hoje um para o Grêmio). Diante de tudo o que vi pelos lados do Alfredão na tarde de ontem, algo me marcou e acredito tenha sido um dos únicos a presenciarem a cena. Lá pelos 40' do primeiro tempo, um time sem nenhum poder de fogo em campo, já sendo derrotado por 2x0 e quem eu vejo saindo de campo, pegando sua almofada e se dirigindo aos portões, SEU RAJA, quase perto dos 80 anos. O percebo de cabeça baixa, desanimado além da conta e o chamo pelo nome. Ele se volta para mim e diz que vai embora, não está aguentando mais suportar o presenciado em campo. Diz mais: "Estou passando mal, não estou bem". Ofereço-me para levá-lo em casa, ele diz não ser necessário e vai embora caminhando em passos mais que lentos, cabeça baixa e pensamentos distantes. Seu Raja é um dos dignos torcedores desse time, um que não arreda pé nem nos seus momentos de debilidade na saúde. Ontem não resistiu, foi embora mais cedo. Aquilo acabou com a minha tarde até mais que a derrota em si. E me pergunto: "O que estão a fazer com o nosso glorioso Noroeste esses que se dizem os únicos salvadores da pátria?". No final do jogo, o Jota da AuriVerde tenta entrevistar dr OMAR HADDAD, outro baluarte do time e esse nem consegue responder as perguntas. Está meio que fora do prumo, sentimentos mais do que abalados e suas frases são monossilábicas, irreconhecíveis para uma pessoa tão altiva, alegre, jovial e positiva. Deve ter passado tão mal quanto seu Raja e tantos outros em mais uma tarde para ser esquecida pelos lados do Alfredão. Seu Raja, dr Omar e nós todos não merecemos isso. Tenham todos um bom domingo...

CONTEMPLAÇÃO 1 - BAURU POR AÍ - DARCY RODRIGUES NA FOLHA DE SP, EDIÇÃO 22/03/2014, TEXTO DE CRISTINA CAMARGO. VALE MUITO A PENA A LEITURA: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/03/1429216-minha-historia-capitao-que-deixou-exercito-para-entrar-na-luta-armada-lembra-de-atritos-com-dilma.shtml

DESABAFO 2 - ‘ODEIO RODEIO’, DO CHICO CÉSAR E O DO MARY DOTA EM PLENO FUNCIONAMENTO - Não tenho esse CD aqui pelos lados do mafuá, mas gostei dessa música desde que a ouvi pela primeira vez. Toda vez que a quero ouvir entro no youtube e ali várias versões. CHICO CÉSAR a gravou somente num CD promocional com duas músicas e essa ODEIO RODEIO já se transformou num clássico para todos aqueles que não gostam nem um pouco do tipo de música tocada nesses lugares e menos ainda da ação contra os animas ali realizadas. Hoje rola lá pelos lados do Mary Dota mais um ‘grandioso’ (sic) rodeio, estilo mais que duvidoso de difusão cultural (sic). Chico reconhece o preconceito na música, cita Barretos e outros lugares onde é venerado esse negócio de rodeio, mas não perdoa e nem perde a oportunidade, desce a lenha e com a devida razão. Minha crítica, se é que vale para algo é somente uma, detesto ver o poder público envolvido em patrocínios para eventos dessa natureza. Minha praia é bem outra, meus gostos idem e não vejo motivos do poder público incentivar, não só um tipo de música mais do que de gosto discutível, como eventos dessa natureza. Para quem não conhece a música está aqui cantada por seu autor: https://www.youtube.com/watch?v=nzOKMBmwH6M

CONTEMPLAÇÃO 2 – Vai começar no finalzinho desse mês o IV FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO DE BONECOS, algo único, belo, singelo e cheio de atrações que veremos somente uma vez na vida aqui por Bauru e só por isso, imperdível. Mais detalhes no: http://www.bonecogiraboneco.blogspot.com.br/

DESABAFO E CONTEMPLAÇÃO 3 – FESTAS E UMA DELAS NECESSITANDO DE NOSSA COLETIVA AJUDA – Gosto de festas, sou festeiro e adoro ficar falando delas aqui nos meus espaços. Não me peçam para ficar alardeando algo para festas onde prevaleça algo preconceituoso ou mesmo contrariando os tempos onde vivemos. Exemplo, de Rodeio não gosto e vejo neles algo que poderia muito bem ser evitado. Nele acho imperdoável a participação de dinheiro público. Se empresários querem investir nisso que o façam, mas por absoluta conta própria. Festas de caráter religiosas, outro exemplo, gosto de algumas, a maioria passo ao largo. Já vi muitas sendo realizadas em espaços públicos, mas sem apoio financeiro. Quando ocorre o apoio financeiro para uma, abre-se uma perigosa exceção e daí por diante todas poderão requerer o mesmo. Um espaço público como o Sambódromo ou uma praça pública, por exemplo, podem sim ser cedidos para eventos dessa natureza, já o Teatro Municipal acho perigoso. Daí falo da festa que me fez escrever isso. Ocorreu em Bauru por 19 anos uma grandiosa festa religiosa, a FESTA DE OGUM. Ela teve um breque e hoje poderia muito bem ser incentivada, valorizada e estimulada, pois representa um segmento religioso vinculado aos primórdios do país, algo lá da cultura africana trazida para nossos dias. Ótimo isso, ainda mais porque serve muito bem para dissipar a discriminação que alguns segmentos religiosos fazem questão de fazer junto aos da umbanda e candomblé. Dito isso, ouço o clamor de EVANDRO DE OGUM para que o ajudem a voltar a realizar a festa. Sim, acredito que algo possa ser feito, o evento sempre ocorreu em abril, mas levando em consideração o que já aqui escrevi, acredito mesmo que isso poderia fluir do próprio seio umbandista, com cada um deles dando o seu quinhão para essa realização e o espaço ser cedido pelo poder público. Por que não sentar numa mesa e conversar sobre o assunto? Evandro de Ogum e Elson Reis são meus amigos e gostaria de ajuda-los no sentido de fazer com que Bauru possa voltar a ter festa tão nobre. É o que posso propor nesse momento.

sábado, 22 de março de 2014

UMA MÚSICA (105)


A MARCHA QUE ACABOU VIRANDO “BOSTA” EM BAURU

Rita Lee é minha profética cantora. Ouço muito aqui pelos lados mafuentos uma divinal música de sua lavra, a “TUDO VIRA BOSTA”. Vejam a força da letra: “O ovo frito, o caviar e o cozido/ A buchada e o cabrito/ O cinzento e o colorido/ A ditadura e o oprimido/ O prometido e o não cumprido/ E o programa do partido/ Tudo vira bosta./ O vinho branco, a cachaça/ O chopp escuro/ O herói e o dedo duro/ O grafite lá no muro/ Seu cartão e o seu seguro/ Quem cobrou ou pagou juro/ Meu passado e meu futuro/ Tudo vira bosta./ Um dia depois/ Não me vire as costas/ Salvemos nós dois/ Tudo vira bosta./ Filé mignon, champignon, Dom Perignon/ Salsichão, arroz, feijão/ Mulçumano e cristão/ A Mercedes e o Fuscão/ A patroa do patrão/ Meu salário e meu tesão/ Tudo vira bosta./ O pão-de-ló, brevidade da vovó/ O fondue e o mocotó/ Pavarotti e Xororó/ Minha éguinha pocotó/ Ninguém vai escapar do pó/ Sua boca e seu loló/ Tudo vira bosta./ Um dia depois/ Não me vire as costas/ Salvemos nós dois/ Tudo vira bosta./ Um dia depois/ Não me vire as costas/ Salvemos nós dois/ Tudo vira bosta/ A rabada, o tutú, o frango assado/ O jiló e o quiabo/ Prostituta e deputado/ A virtude e o pecado/ Esse governo e o passado/ Vai você que eu tô cansado/ Tudo vira bosta./ Um dia depois/ Não me vire as costas/ Salvemos nós dois/ Tudo vira bosta”. Assistam esse link: https://www.youtube.com/watch?v=kvJ6rsiwHDk&feature=kp

Essa tal de MARCHA DA FAMÍLIA COM DEUS E PELA LIBERDADE tinha tudo mesmo para virar bosta. E virou. Para começo de conversa não existe o mesmo espírito que motivou a ida para as ruas em 64. Aquela turba conservadora já não é a mesma de antanho. Hoje existem uns, mas muito desconectados e com propostas dispares. Aqui em Bauru leio hoje pela Entrelinhas do JC, que a marcada para sábado passado, remarcada para hoje, foi cancelada e o que me espanta é a citação dos seus organizadores, os “carecas”. Esse tais carecas não seriam uma reedição do Nazismo? Sim, são eles mesmos e pelo visto nem a mais frenética direita brasileira topa se associar a esses lunáticos. Essa Marcha hoje tem uma conotação das mais tristes, bem ao estilo de uma classe média, comprando a briga pelos do degrau de cima aos seus, como se fossem deles. A luta empreendida por esses até parece grandiosa quando a pessoa analisa o que está sendo discutido via internet, redes sociais, mas ela representa muito pouco dentro do universo populacional brasileiro. A grande massa brasileira não pensa e nem age com a mesma linha de pensamento e ação (ufa!).

Veja o que a jornalista, antes direitista, hoje mais arejada Barbara Gancia, da Folha SP disse à revista Brasileiros: “Hoje em dia ou você é saudosista do regime militar ou, sei lá, do Pol Pot, entende? Gente, onde estão os moderados? Há um tempo, Jair Bolsonaro era patético, mas não é mais. Até o Erasmo Dias está na voz da molecada. Alias, a juventude classe média-alta fala desses caras em a menor vergonha. Tem muita gente que sente saudade ‘daquela ordem’, como se aquilo fosse ordem. (...) Acho que muitas pessoas tem realmente medo de mudanças, sentem-se ameaçadas por essa gente que está ficando numerosa e entrando no aeroporto, no shopping center, em espaços que antes eram ‘delas’. (...) Tem muita só interessado em ‘Fora Dilma’, ‘Fora Alckmin’, ‘Fora Haddad’, uma reivindicação totalmente ridícula porque essa gente foi eleita. Tem tanta coisa pra pedir no Brasil. (...) Impossível continuar não se percebendo o outro, não perceber o tamanho da desigualdade e não se comover, não se sensibilizar. (...) No Brasil, quem tem privilégios precisa abrir mão de coisas que a gente ainda não entendeu. (...) A gente precisa abrir mão de um estilo de vida que já se foi, o estilo da casa grande e senzala. Caso contrário, isso aqui é uma democracia fajuta, de araque, uma economia que não é uma economia de mercado de verdade, mas dominada por três, quatro grandes corporações”.

Fiz questão de postar a fala da Barbara para demonstrar que nem mesmo os que antes tinham uma visão tão fechada, discriminatória, truncada, excludente o fazem por todo o tempo e instante. Havendo um pouquinho só de reflexão, de bom senso, querendo realmente construir algo de melhor para esse país, não tendo tudo como uma questão fechada, de puro ódio de classe, num certo momento a ficha irá cair. Isso aconteceu com a jornalista e hoje um dos seus slogans preferidos é esse: “BASTA DE CASA GRANDE E SENZALA”. Por isso eu sou daqueles que desmereço tudo o que possa ter de positivo nessas tais Marchas ocorrendo por esses dias. Todas são retrógradas, bestiais e não propõe nada de novo, querem a volta do velho, do arcaico, de um regime de exceção, repressão e até falta de liberdades individuais. E colocando a culpa toda numa só agremiação política, no caso o PT, estão prestando um desserviço para o país, pois na verdade, todos os partidos são iguais e o sistema político é que está mais do que falido.

Por tudo isso, fico feliz da vida quando percebo que essas marchas viraram bosta.