OS “VÉIOS”, SUAS INTRIGAS, QUESTIUNCULAS E CAPITULAÇÕES
“Véio”, exatamente dessa forma minha mãe, hoje falecida, Eni Perazzi de Aquino costumava me denominar quando ficávamos conversando longamente juntos. O tempo passou e hoje, aos 53 anos e olhando uma foto tirada ontem num restaurante, que Rose Barrenha espalha pela internet, tenho que cada vez mais concordar, sou um “véio” e assumido. Não existe como voltar no tempo, infelizmente. Sou sim, um velho encrenqueiro, cheio de manias, cacoetes, carcomido pelo tempo e não abrindo mão de minhas convicções. Mas não sou só isso, pois sou também afável, palatável, atencioso, carinhoso e até benevolente. Depende muito da situação e dos interlocutores. Não consigo mais ficar dourando a pílula e quando me deparo com gente pífia em argumentos e cheia de razão, daí meu pavio é mais do que curto, subo nas tamancas. E por causa disso sou taxado de tudo. Desde intransigente esquerdista pelos mais à direita, como de benevolente pelos mais à esquerda. Verdadeiro fogo cruzado.
Vivemos tempos em que comunistas voltaram a ser admoestados (ainda não caçados – ufa!). Uns dizem que, mesmo os que não o são, mas os defendem são perniciosos. Quanta besteira. Ser comunista, na acepção da palavra é algo tão puro, tão singelo, de uma dedicação extrema para uma causa, a de todos, a de que ninguém deve mesmo ter mais do o outro. Um mundo igual, onde as oportunidades sejam concedidas a todos e todos possam usufruir de tudo. Não era isso que um tal de Cristo pregava. Pois bem, o comunismo idem. Estou lendo um lindo texto sobre uma pessoa comunista na acepção da palavra, o gentleman guerrilheiro jornalista JOAQUIM CÂMARA FERREIRA (pesquisem sobre ele, nada lhes direi) e lá uma frase contundente: “O comunismo, o comunismo dá alegria. Minha devoção é semelhante à dos primeiros cristãos, prontos a morrer pela sua religião”. Não sei se já foi o tempo, mas hoje em dia faltam, pessoas abnegadas, brigando pela causa coletiva e sobram individualistas, lutando por si só. Eu me encanto com a luta dos que ainda assumem serem comunistas e continuam na lida, mesmo com todas adversidades e admoestações.
Se ser comunista é coisa de “véio”, acho que os tempos atuais estão piorados, pois falta ideologia de luta nas pessoas e sobra uma pasmaceira de ficar dizendo amém a poderosos de plantão. Até eu caio nessa e sou cobrado por uns. Dia desses travei um bate boca com outro macanudo bom de briga, o produtor cultural KYN JUNIOR, conhecido de tempos idos, um respeitando o outro, mas nem por isso sem espezinhamentos cruzados. Kyn, assimilando uns golpes, eu outro, me diz que está criando um blog, o “Buraco do K.H.” (que na verdade seria ‘cagá”, unindo as iniciais do seu nome e do meu). Não fica nisso, diz também dar início aos “Personagens Chancelados – O Lado A de Bauru”, alusão ao que faço profissionalmente, vender chancelas e promovendo perfil de gente abastada, endinheirada, colunáveis e cheios de poder. Por fim, criará o “Som do Kym – O que rola na meu CD Room”, dizendo-se moderno com isso, pois como faço Som do HPA – O que rola na minha vitrolinha, isso, segundo ele é coisa de gente com visão ultrapassada. Aguardo ansioso o início para rirmos juntos, eu descrevendo os do meu lado, ele os que ele considera do seu. Sinceramente acho que falará de gente que não tem nada a ver com ele, mas tudo bem, daremos boas risadas juntos.
Dei mais uma ideia para ele, a de que juntos procuremos os donos dos jornais locais propondo uma seção quinzenal, ou seja, numa semana ele posta um texto com sua ideia, mais voltada na defesa do neoliberalismo e como resposta, noutra entro eu com a defesa do socialismo. Ficaríamos nessa troca de raras “gentilezas”, cada uma na sua e deixando os leitores loucos. Seria uma ótima oportunidade de ver quem tem mais garrafas vazias para vender. O fato é que discuto e em alguns caso volto atrás. Eu e Kyn ficamos duas semanas sem conversar, tudo por causa de posts no facebook e ontem quando ele posta uma foto nossa num bar, eu indo ao seu encontro comemorando os seus 49 anos, fingindo briguentos, eis que um amigo em comum, Orlando Alves, observando a reconciliação saca essa: “Ufa! A terceira guerra mundial foi cancelada”. Sou assim, temperamental, emotivo, mas sei atar e desatar (será?) relações. Quero muito continuar brigando pelos meus ideais, mas não quero ser fraticida de forma desnecessária. Tolero alguns, o Kyn um desses, assim como ele me tolera. Nossa tolerância não é zero, ainda bem. “Véios” são assim mesmo, sabem o momento de capitular (sem se vergarem), de recuar para dar um próximo passo mais acertado e assim tocamos nossas vidas. Viver dentro do capitalismo me faz agir assim. Não me avilto com isso e nem ele, estamos no jogo.
Coisa mais triste é ficar debatendo sobre ditaduras, como essa militar, 50 anos em 1º de Abril, eu defendendo a Venezuela, Cuba, Criméia indo para Rússia, bolivarianos, zapatistas, FARC e do outro lado Kyn contra tudo isso e dois fatos para constatação e comparação. No primeiro o STF remete para a 1ª Instância o processo contra o deputado tucano Azeredo, um que sozinho desviou mais que o mensalão todo. Deixa claro que o se ele pode, petistas idem, mas o STF não age assim e aí a prova do caráter de exceção daquele processo, agora mais que comprovado. No outro o que ocorre hoje no Egito, regime sendo construído com o que existiu de pior nas ditaduras sul-americanas dos anos 1960 e 1970, disposto a eliminar fisicamente a oposição. E chega ao ponto, tanto lá como cá, de receber aplausos de liberais laicos e a emite do país. Lá também estão acreditando que os militares se limitarão a uma breve intervenção para expulsar do poder as massas demoníacas e recolocar elites esclarecidas no poder (sic). Eu não caio mais nessas.