O "SUMIÇO DA SANTA", LIVRO DO JORGE AMADO E AS REVERÊNCIAS TODAS AO ESPÍRITO BURLESCO DO CARNAVAL
- “A terra tem donos, uns poucos, contam-se nos dedos das mãos; poucos, porém implacáveis”.
- “Mesmo no exercício ilibado da religião nestes tempos de inflação e crise, torna-se obrigatório saber virar-se, defender-se, dar um jeitinho à moda brasileira, sem o que não haverá a sopa dos pobres, e a da paupérrima família paroquial se fará rala e pouca”.
- “Falar por falar não custa esforço nem dinheiro”.
- “Quem mais sabe menos fala, o alarde e a jactância são recursos dos néscios e dos charlatões”.
- “...as razões dos poetas, como as rimas, são por vezes cabalísticas”.
- “Viver do jeito em que o povo vive não é um milagre e dos maiores?”.
- “Vives dizendo que o voto de castidade dos sacerdotes é excrecência medieval, ato político da antiga Igreja reacionária que servia aos ricos, que hoje é diferente. Mais dia menos dia um Concílio prafrentex derrubará essas bobagens e o amor já não será pecado, nem mortal, nem venial, será a graça de Deus. Os padres brasileiros não esperam esse concílio revolucionário, resolveram esse assunto na malemolência, sem teses teológicas, sem recorrer à luz dos doutores da doutrina, com a cara e a coragem, do jeito que Deus gosta. Deus fecha os olhos e sorri, nunca levantou os olhos para condená-los, e os recebe em seu seio quando morrem, quase sempre em odor de santidade”.
Esse e todos os demais livros do Jorge Amado são bons demais para serem relidos nesse momento, quando uma turba conservadora investe contra o Carnaval, contra a alegria da boêmia, do viver despregado de qualquer religião, ou mesmo com algum atrelamento a ela, mas sem levar muito sérios dogmas e regimentos que dizem para nos abstermos de tudo. Cada frase escolhida a dedo desse livrinho pode ser sabiamente utilizada contra o que pregam os preconceituosos, os que tentam a todo custo fazer com que vivamos uma vida de manada. Eu vivo, assim como Jorge fez durante toda sua vida, no meio da contramão, nos desvios e nem por causa disso fazendo nada demais, somente tento curtir a vida ao meu modo e jeito. Não sei se essas fotos aqui publicadas, lá no Bar d’Lemão, antigo Saudosa Maloca, véspera do Carnaval possuem um forte elo de ligação com o texto em si desenvolvido até agora, mas quero uni-las mesmo assim. Eu promovo sempre a união do provável e do improvável.
Eu celebro a vida em lugares como esse, ao lado de gente como essas, ouvindo o que esses cantam, requebrando o corpo e a mente (minha mente requebra, sabiam?) ao embalo de seus acordes, bebericando algo servido por alguns desses, como no mesmo prato desses todos cujas fotos estão ilustrando esse texto. Não me verão em templos religtiosos, pois os templos atuais, mesmo o papa católico insistindo em fazer com que possa despontar uma oxigenação, o discurso de todos eles me dói na alma, muito triste, pobre e fanático, bitolação desnecessária e frustrante. Então eu não ligo mais para o que apregoa o som vindo desses templos todos, aboli de dar atenção a textos desvirtuados de antigos escritos bíblicos e continuo dando muito mais valor para escritos ao estilo de Jorge Amado, Saramago, Galeano, Chomski, Faoro e mesmo outros velhinhos como os sempre atuais Marx, Kafka, Sartre, Bakunin, Nietzsche e tantos outros. Nesses bares eu celebro a vida, eles meus templos divinos, onde celebro a vida. Nesses escritos que leio, meus deuses, o da sabedoria e da sapiência.
Naquela noite no d’Lemão, uma pá de gente alegre, bonita, querendo requebrar o corpo, muitos levantaram-se de suas mesas e foram desavergonhadamente cantar no microfone, outros fizeram o mesmo para dançar na pista e o fizeram mesmo quando a música parou de tocar. Quer coisa mais inebriante que isso? Quer contagio mais energizante que isso? Quer agitação mais saborosa do que uma saindo das mesas dos bares e tomando as ruas? Eu ainda quero crer que gente que frequenta bar, na sua imensa maioria pensa pra frente, não se atrela a conservadorismo besta , pedante, autoritário e ignóbil. É dessa forma que me começo a me afastar do facebook. Só falta voltar a pegar em livros e livros, ocupar meu tempo livre não com besteirol advindo das redes sociais, mas de algo concreto. Meu filho e Marcão fazem de tudo para me recuperar. O AAA deles é proposto com livros e bares. Esse povo cantante lá naquela noite, Denise Fagnani no vocal, Issac Ferraz no vocal e violão, Laranjeira no pandeiro, com canja de Má Veloso e Denise Amaral, não sabem o quanto me fazem de bem para esse ser em quase início de recuperação.
Assim como Jorge Amado profetiza em uma de suas frases, que o religioso brasileiro sabe contornar, saber fazer a coisa do jeito que deve ser feito, desplugando-se de um monte de coisas prescritas e impossíveis de serem realizadas na prática, nós, os que abolimos de seguir ensinamentos reducionistas, temos que trazer de volta uma pá de gente que se perdeu ao longo desses anos e preferiu a carolice a continuar vivendo desfrutando do que ela nos oferece. É disso que gosto, de andar com gente dessa laia, igual à minha. E VIVA A NOITE, O QUE ENCONTRO NELA E OUTRO PARA O SUMIÇO QUE DERAM NA SANTA....
3 comentários:
Henrique
Essa Denise Amaral é uma das melhores vozes que existe nessa cidade desde sua fundação.
No Jornal da Cidade de hoje ela foi agraciada com a Entrevista da Semana. Veja como ganha a todos pela simplicidade, aliada de cantar tudo e com uma qualidade invejável.
http://www.jcnet.com.br/Geral/2014/03/entrevista-da-semana-denise-cristina-de-oliveira-denise-amaral.html
Alvarenga
O Gilberto Pupo Ferreira Alves tbém estava presente! Foi muitooooo legal!
Má Vellozo
meu caro Henrique
Desnecessário essa pregação anti religiosa.
Assim como acho desnecessária esse escrito do Jorge Amado sobre os padres que desrespeitam os ensinamentos e fazem algo por debaixo do pano. Se escolheram serem padres não podem demonstrar fraqueza.
É o que penso.
Carmen Francisco
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