DOIS REGISTROS DE
GENTE ENVOLVIDA COM O CARNAVAL E ALGUMA REPERCUSSÃO
REGISTRO 1 - “Estou
com vontade de abandonar o Carnaval e nunca mais desfilar na bateria. Não temos
valor nenhum”, Markinho Pires, um dos batem pesado na bateria da Tradição da
Zona Leste, descontente com a pontuação dada a eles pelos jurados do Carnaval
de Bauru.
O QUE ACHO DISSO:
Markinho é cria de dois bambas do samba, Geraldão Pires, noroestino de boa
cepa, batuqueiro do Pé de Varsa, Vila Falcão até na alma, eterno maquinista da
Maria Fumaça bauruense, ferroviário da Noroeste do Brasil e Néia Pires,
sambista de igual teor, funcionária pública da Secretária Municipal de Cultura
e uma sorridente destaque do Pé de Varsa desse ano. Ela, a mãe do Markinho vai
passar por uma delicada cirurgia daqui há pouco mais de uma semana e o seu
desfile, mesmo dizendo tudo bem, teve a marca pessoal dos Pires, a de se dizer
sempre presentes no cenário do samba onde ele estiver. Conheço o Markinho dos
tempos lá na Maria Fumaça, quando seu pai o fazia entrar na fornalha da velha
carvoeira para limpá-la. Essa família respira ferrovia e samba e vila Falcão,
mesmo não morando mais lá. Nem sei onde o Markinho trabalha hoje, mas o via
sempre nas festas da Sangue Rubro e no estádio sofrendo com o Noroeste,
viajando nos jogos distantes e sempre com um tambor na mão. Aprendeu o ofício
de batuqueiro com esmero, afinco e o vi em algumas oportunidades lá na quadra
da Tradição, coração do Mary Dota, substituindo o Mestre Cocão, quando esse
trabalhando à noite não podia comparecer aos ensaios. Sempre fez bonito,
aprimorou o que mais gosta de fazer na vida e faz bem feito, disso não tenho a
menor dúvida.
De sua fala tenho a dizer, depois de tudo isso o que escrevi, ele
deve reconsiderar a quase decisão de abandonar o Carnaval, mas diante de tantas
reclamações esse ano, o pessoal lá da Cultura, responsável pela escolha dos
jurados deve ouvir essa voz se alevantando das escolas, um murmúrio não só de
choro, lamúria, mas de elogio que merece ser melhor entendido. Se o secretário Elson
Reis for sensível, coisa que sei ser, dará ouvidos a algo vindo de gente como
Markinho. Ontem ouvi de um jurado de bateria algo tão bonito de cada escola, um
resumo tão profissional, tão cheio de detalhes de cada uma, que seria ótimo se
isso pudesse chegar ao ouvido de cada escola. Vejo com o Elson como podemos
fazer para que o pessoal das baterias escute uma voz do outro lado, de como
enxergou a participação de cada bateria na avenida. Seria tão bom não perder
essa oportunidade. A Tradição ficou em quarto lugar na classificação das escolas de samba.
REGISTRO 2 - “Há
alguns anos, a Mocidade Alegre adotou uma medida – a mais inovadora entre as
escolas de samba de S. Paulo – que, parece-me, está no DNA criativo dos seus
carnavais: extinção da figura do carnavalesco, e organização de uma comissão de
carnaval, nos moldes do que fora adotada pela escola de samba Beija-Flor, no
Rio. A cadeia criativa de uma escola de samba é pulverizada em ampla escala, capilarizada em uma extensa faixa
territorial e flexível nas suas tomadas de decisão. Sua criação é coletiva e
colaborativa, e a “expropriação” criativa é individual, na figura do
carnavalesco. Essa contradição paralisa o impulso criativo da escola.”,
professor Juarez Xavier, docente Unesp Bauru e responsável pelo projeto Neo
Criativa, que atuou junto da Coroa Imperial do Geisel.
O QUE ACHO DISSO: Juarez é um professor da Unesp, desses
chegados recentemente, coisa de uns dois anos e nesse período o cara já se enfurnou
pela Bauru do seu interesse e não é pessoa desconhecida dos meios do samba,
carnaval, político, etc e etc. Sabe ocupar espaços e sabe muito bem o que quer.
Professor da área de comunicação social, hoje já ocupa cargo de direção por lá
e comanda um grupo de estudos dos mais interessantes e instigantes, o Neo
Crativo. Foram eles, juntos de outro grupo de estudantes da Unesp, o Lab Sol
que revolucionaram o que a Escola de Samba Coroa Imperial, lá do Geisel
produziu na avenida esse ano, saindo de um último lugar para um terceiro e com
muito louvor.
Juarez é marxista, não esconde isso de ninguém e onde está, se a
estrutura tem algo corroído, carcomido pelo tempo, não se sente bem ali e quer
dar o seu quinhão transformador para torna-la mais palatável, dentro de uma
concepção mais justa. A Coroa, não sei se pela primeira vez em sua vida, mas
com certeza algo inédito em sua história, aboliu a participação de políticos ou
quem quer que seja com intenções nesse sentido na escola. Caminharam com suas
próprias pernas, usando de muita criatividade, com um grupo interno muito unido
e coeso, contando também com algo decisivo vindo do professor Cláudio Goya, o
estreante como carnavalesco na avenida. Nem bem a escola sabe dos resultados,
em São Paulo a Mocidade ganha seu tri campeonato e Juarez marca posição com
algo contundente, forte e que certamente abalará estruturas. Sua proposta é
clara e muito bem objetiva, fundamentada. E se deu resultado lá, porque não
aqui. O seu escrito não foi assim jogado ao léu, escrito por acaso. Ontem mesmo
conversamos sobre o assunto na rua defronte a casa das irmãs do presidente da
escola. Como escrevi, Juarez sabe ocupar espaços, como sabe lançar ideias no
momento certo. Isso deve estar na pauta do dia por lá dede agora. E vos digo,
gostei da proposta. Tentadora e revolucionária, como tudo que vem dele. A Coroa ficou em terceiro lugar na classificação das escolas de samba.
4 comentários:
Henrique: a Mocidade Independente de Vila Falcão, agora Mocidade Unida de Vila Falcão... criou, há 26 anos atrás, as equipes de criação de cada quesito... e desde lá... do ano de 1988, até quando participei da escola em meados dos anos 90... o carnavalesco é apenas aquele que desenha... e não o que manda em tudo. Na Mocidade, a equipe de enredo ia elaborando e deixando o barracão livre para criação das alegorias... deixando também livres cada equipe para criação daquilo que era sua responsabilidade. Já experimentamos muito disso daí... e vamos voltar a experimentar no carnaval de 2015... e você é nosso convidado desde já! Abs
Reginaldo Tech
HPA, para funcionar de acordo, primeiro precisava "banir" os profissionais que pouco contribuiram para o Carnaval de Bauru da LESEC ... Esta liga precisa ser oxigenada e trabalhar pelas escolas e não ser cabide de alguns "profissionais" ...
Reginaldo Tech disse tudo ... Por isso é que acho que "algumas pessoas" morrem de medo da Mocidade da Falcão voltar, agora a Unida, porque a Independente estas pessoas fomentaram seu fim ... Não é possível que "forças ocultas" não trabalhem nos bastidores para que a Mocidade continue sem comando ...
Beto Grandini
Henrique
Anti-comunista, está vendo "forças ocultas" até debaixo da cama. Lamentável
Que arrogância meio fora de contexto dentro da proposta da Mocidade Unida - unida a quê? só a um grupinho? Vamos respeitar as outras agremiações, que estiveram lutando a duras penas todos esses anos
Ou seja, ninguém presta... além de sua agremiação, que coisa feia. Em São Paulo e Rio, a coisa não funciona assim, em clima de guerra; A competição, sadia, é apenas na avenida. Por isso o Carnaval de Bauru ainda dá mostras de subdesenvolvimento - com pitadas de coronelismo e interferência clara da classe média ( o embranquecimento do samba). É uma pena.
jornalista João Ranazzi
Essa é uma das magoas de nós ritmistas mas o motivo do Markinho Pires indagar o cometário de deixar o carnaval foi um dia antes da apuração. Nossa indignação é outra.
Paulo Alessandra
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