sexta-feira, 28 de março de 2014
DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (63)
CLÁUDIA, UMA DAS INVISÍVEIS DAS RUAS BAURUENSES e A HISTÓRIA AINDA NÃO REVELADA DO GOLPE E DOS GOLPISTAS PELO INTERIOR PAULISTA (O CASO DE PIRACICABA)
Eu aqui nesses personagens escrevo de quem eu conheço, de quem eu conheço pouco, de quem eu conheço bastante e de quem eu não conheço nem um tiquinho. Para escrever de alguns personagens gostaria sim de saber muito mais do que escrevo, mas com alguns tenho uma dificuldade enorme em conseguir obter alguns dados. E como quero continuar escrevendo assim mesmo de certas pessoas, faço um esforço danado para produzir algumas linhas e nelas eu despejo uma carga imensa de sentimento recolhido, de algo latente, pulsante e prestes a explodir. Qualquer saída às ruas torna-se uma verdadeira sessão de tortura quando ao se deparar com gente largada pelas calçadas, pedintes com aquela carinha de fome diante de você numa fila de casa lotérica, ou mesmo adentrando um banco para pagar uma conta atrasada. Impossível permanecer indiferente e não querer ajudar, fazer algo, mas nem sempre isso é possível. Na produção do texto dessa personagem foi mais ou menos dessa forma, uma velha conhecida, de3ssas que cruzamos constantemente pelas ruas, nem ao menos a cumprimentamos, a saudamos, mas a enxergamos e sabemos que vive nas ruas, mas e daí e se logo na virada da esquina, quando nem bem ainda esquecemos a fisionomia dessa e já surge outra e mais outra. As pessoas sensíveis sofrem muito mais.
CLÁUDIA é moradora de rua e nem sei se o nome dela é esse mesmo, quanto mais seu sobrenome. Vive perambulando dia e noite pela região central da cidade, em andrajos e falando sozinha. Desce e sobre ruas, veste-se com o que lhe dão, lava-se nem sei quando, demonstra sofrer de algum distúrbio mental. Circula o dia todo e difícil quem não a conheça na região central da cidade. Em alguns momentos já a vi falando alto com alguns, talvez por medo ou receio de aproximações. Hoje voltei a vê-la, com um cabelão todo esgrouvinhado e do mesmo jeito de sempre, numa penúria de dar gosto. Muitos já devem ter tentado tirá-la dessa situação, eu nunca, mas me padeço toda vez que a vejo. Resolver isso é um tormento, pois não se trata só dela e sim de uma legião, crescente, os tais invisíveis aos olhos da maioria. Cláudia sobrevive aos trancos e barrancos e a história que tenho dela foi de algo ocorrido no dia do desfile do bloco Bauru Sem Tomate é Mixto, em pleno sábado de Carnaval. Nós todos reunidos lá na praça Rui Barbosa, ela se aproxima observando o barulho e começa a se interessar pela coisa. Tatiana saca e a convida para se aproximar, ela chega e é toda pintada. Na sequência ganha uma camiseta do bloco. Ela toda feliz desfila conosco e até canta alegre e pimpona. Terminado o desfile nem sei para que lado foi. Só hoje fui revê-la e estava do mesmo jeito de sempre, suja, olhar distante e cheirando mal. Alguém sabe onde ela dorme? Onde guarda suas coisas? Se seu nome é esse mesmo? Mais e mais perguntas e todas sem resposta, como sem resposta é algo sobre o futuro de tantos iguais a ela vivendo comas migalhas que lhe são atiradas. Cláudia continua sobrevivendo. É só o que sei dela.
Obs.: As fotos dela foram tiradas com o celular de Tatiana Calmon e por Neiva Santos.
NO COMEÇO DA MANHÃ - 50 ANOS GOLPE MILITAR E A IMPRENSA - Dia 1º de Abril, dia da mentira é a data fatídica para uma triste recordação, a dos 50 anos do atentado às liberdades nesse país. Muita coisa saindo pela mídia. Destaco duas. Na primeira, a excelente REVISTA DO BRASIL (www.redebrasilatual.com.br), com a edição 93, março 2014, com a capa 'GOLPE NUNCA MAIS', textos que são um primor. Essa revista é distribuída gratuitamente pelos sindicatos ligados à CUT e nela um resumo dos mais instigantes sobre o Golpe. Aqui em Bauru pode ser conseguida ali na Central Sindical da rua XV de Novembro. Edição histórica para ser lida e guardada. Já a edição que chega nas bancas amanhã da CARTA CAPITAL (www.cartacapital.com.br), com conteúdo especial sobre o tema traz na capa "OS 50 ANOS DO GOLPE", pelo que já vi e li pela internet, uma edição para ser guardada, divulgada, espalhada e mostrada em praça pública. É o que de melhor estou vendo sobre uma séria discussão sobre o tema. Vale a pena ter as duas em casa.
Ainda sobre o golpe, algo que ainda está muito mal explicado é como se processou as engrenagens, as entranhas desse golpe pelo interior paulista. Aqui mesmo em Bauru ainda temos muitas coisas não reveladas, gente que patrocinou, bancou os ditadores, fez e aconteceu se beneficiando com o regime de exceção e hoje, passados 50 anos, estão mais do que caladinhos e não possuem a mínima vontade de revelar o algo podre do passado. Isso não só aqui, mas pela maioria das cidades brasileiras. Tomo conhecimento de que na cidade de Piracicaba um grupo de pessoas faz um sério levantamento sobre o tema e tenta lançar um livro. O mesmo sofre um cerceamento e após isso, pela união dos seus idealizadores, talvez a obra saia. A história deles lá em Piracicaba é a mesmíssima história de muitos outros lugares. Aqui em Bauru ainda não vi nada sendo feito nesse sentido, um levantamento sério com dados e nomes de pessoas e empresas, de quem esteve por detrás do golpe. Leiam sobre o caso Piracicaba e vamos refletir sobre o que também não teria acontecido em Bauru: http://www.kickante.com.br/campanhas/piracicaba-nos-tempos-da-ditadura-0 MUNDO AO CONTRÁRIO, POR EDUARDO GALEANO: Alguém consegue ter um sono tranquilo com tanto iniquidade solta pelo mundo? Eu não durmo direito já faz um bom tempo. Quando você tem consciência de certos procedimentos, seu sono vai para as cucuias. Vejam do que escrevo, assistindo o vídeo com EDUARDO GALEANO escancarando um bocadinho mais da podridão humana nesse "mundo de merda" (frase dele): https://www.youtube.com/watch?v=vM7FP0nMFK0.
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10 comentários:
Além do lerem e curtir aqui.... se quiser dar um prato de comida, avise. Essa moça é doente, vive nas ruas, e outros doentes fazem filhos nela. Ao menos 4, já sei que a justiça tomou dela...... e quem pode dar algo a ela. SO conheço quem lhe tire
Tatiana Calmon
Henrique
Sim ela está sempre pela Rodrigues Alves ela dorme em frente ao restaurante TEMPERO MANEIRO ,vejo muitos desses personagens aqui no centro , lembro de um velho forte e bravo que atravessava a rodrigues toda hora e discutia quando encontrava alguem no caminho , nunca mais foi visto .
leandro Gonçalez
Henrique
Esses dias conversando com o Sebastião, irmão do Caleb ele me disse que essa senhora foi casada e morava vizinha dele, tem filhos, porem ficou com problemas mentais, o Tião costuma ficar no antigo bar primeiro de agosto em frente o banco do brasil no centro da cidade....
José Eduardo Ávila
Eu encontro com ela todos os dias na rua ali perto do viaduto da Duque indo para a Falcão, ela costuma vir caminhando da Rodrigues, passa pelo viaduto e as vezes sobe até a Falcão, muitas histórias com esta senhora, acho que uma das que mais marcaram foi um dia que ela estava bem calminha e conversando comigo perguntou se tinha algum dinheiro, dei dois reais que estavam no meu bolso, alguns dias depois ao revê-la, ela tira dois reais do bolso e vem me dar agradecendo pela ajuda aquele dia e agora queria devolver, disse a ela que não precisava e aquilo marcou muito e nos traz uma reflexão que liga ao seu segundo tema e que precisa começar a enxergar que é o seguinte, este mundo dos invisíveis e de todos os outros visíveis mas cegos pelo estado em seu mais alto consumismo, só prova que 64 é o golpe que nunca acabou, os golpistas de hoje, são os "heróis" de ontem, e todas as bases seguem intactas do capitalismo.
Camarada Insurgente Marcos
Caro Henrique, segue um excelente trabalho do Célio Losnak, que explicita as relações e o desenvolvimento do maior Grupo de Comunicação de Bauru (JC) e seus proprietários, a maioria esmagadora filiada a ARENA, partido que dava sustentação aos governos militares e suas atrocidades, que era comandado por Alcides Franciscato, que foi prefeito, e deputado federal por dois mandatos.
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
V Congresso Nacional de História da Mídia – São Paulo – 31 maio a 02 de junho de 2007
Jornalismo e Política na Cidade1
Célio José Fernando Fabio Losnak- FAAC-Unesp-Bauru
http://www.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-1/5o-encontro-2007-1/Jornalismo%20e%20Politica%20na%20Cidade.pdf
Roque Ferreira
A Claudia é uma das tantas outras mulheres sem lar, que moram nas ruas. Ele tem problema mental e não sei se já foi acolhida para um bom tratamento. Só que um dia ela adentrou um consultório. Lhe dei água, tomou 3 copos, pegou o álcool gel, passou no cabelo, pescoço, e estava bastante exaltada, falando palavrões, batendo no balcão, então pedi para que fosse embora e ela me deu o maior trabalho para sair. No caso de surto acredito que ela seja uma pessoa agressiva e precisa ser tratada com psiquiatra e acompanhada por Assistente Social e Psicóloga.
Nessa foto ela está arrumadinha e até de baton!!! Mas, no decorrer dos dias, vive mau cheirosa, cabelo bagunçado e com roupas sujas, farrapos mesmo. Infelizmente somos incapazes ou até acomodados, com relação aos menos favorecidos, deixamos pra lá, eles tem a vida deles e nós temos a nossa. Passamos, notamos, temos dó e vamos embora...
Deise Sanches Oliveira
Deise, a Claudia tem mesmo esses surtos na maior parte do dia, quando agressiva fica difícil segurá-la, já precisei tirá-la do meio da Duque de Caxias onde estava com sacos de lixo jogando para o alto e correndo risco de acidente. Várias vezes tentaram lhe dar tratamento, abrigo, mas infelizmente no estágio atual que se encontra, ela não para em lugar algum mais, a sociedade teria que ter tratado dela antes, mas não faz isso, pelo contrário, exclui cada vez mais, destrói vidas e levam loucuras. O que nós como indivíduos podemos fazer pela Claudia e outros é apenas o paliativo, dar algum "conforto" momentâneo, mais nada, somos todos algemados no capitalismo e dia primeiro de abril vai estar cheio de pelegos aí falando de democracia de boca cheia.
Camarada Insurgente Marcos
Henrique, esse link que o Roque postou, eu também havia recebido por email, bem interessante mesmo, coisas que há tempos já falávamos.
A pergunta agora é: a tal comissão aí da verdade vai expor tudo isso, você tb e outros com espaço na cidade, irão denunciar o grande chefe da cidade?? Irão fazer um informativo impresso com tudo isso e espalhar para a população já que no jornal não sairá nada?? Franciscato será convocado a falar?? Continuarão bundões elogiando o JC?? É a hora de derrubar a máscara, não só pelo passado, mas acima de tudo pelo presente, o cara que realmente manda em Bauru, que teve participação na derrocada das ferrovias, o cara que disse uma vez que iria cercar a cidade e de certa forma o faz até hoje, que demite funcionários para aumento de lucro. Quem enfrentará e denunciará esse grupo cidade??
Se agora não fizerem isso, calem a boca, parem com hipocrisias e voltem para debaixo da cama.
É hora de expor de uma vez por todas quem comanda a cidade.
Camarada Insurgente Marcos
Sem carimbo e muitas vezes amigo sem identidade perante a Sociedade camuflada de falsos intelectuais.
Caro amigo Henrique ainda bem que Bauru tem alguns malucos iguais Eu e Você que tem a coragem de sair por ai com uma câmera fotografica na mão, mostrando o lado B da cidade sem limites, muitasvezes estou ai no Parqe Vitória Réia e vejo as cenas que muitas vezes é invisível para os olhos dos que finge de cego para não enxergar a Realiddae nua e crua estampada nas ruas.
Amigo Henrique vamos fazer um trabalho mostrando o outro lado da cidade sem limites, amigo eu me prontifico pegar minha câmera e mstrar os anonimos da sociedade os excluídos do mesmo mundo onde eu e você vive, a realidade com certeza vai chocar muita gente, bem gente que ainda tem Solidarieade, porque os glamourosos nem vê, e nem olha, para essas pessoas que a nossa sociedade excluiu da estatítisca chamada de seres Humanos.
Jaime Prado- Bauru/SP
Mto oportuno esse tema, Henrique! Não só pela data de hj, mas para que pessoas que não viveram aquele período possam estar convictas de que, se ruim c/ democracia, mil vezes pior sem ela. Vejo cada "heresia" política aqui, proferida(s) nas maioria das vezes pelos totalmente inconscientes politicamente, que é de arrepiar... Esse debate pode despertar em alguns (que oxalá se tornem propagadores da boa política e da democracia!) uma nova consciência, sobretudo naqueles que ainda mantêm a ilusão de que aquele período horroroso da nossa história tenha trazido algum benefício ao país e entendam que nada na política pode ser proveitoso sem liberdade! Por isso, viva a liberdade, sempre! E viva a democracia! E viva a verdade!!!
Oscar Naufal - Bariri SP
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