PRECONCEITO AO SAPO BARBUDO (71)

AMIZADES QUE SE ROMPEM, JUNTO DAS QUE SE INICIAM E SE FORTALECEM – MAS COMO?

“ESTOU VENDO AMIZADES SE ROMPEREM NESSA COISA CHAMADA FACEBOOK, RESPEITAR AS DIFERENÇAS SERIA IMPORTANTE PARA A PRESERVAÇÃO DA RAÇA HUMANA, MAIS UMA VEZ OS PODEROSOS MANIPULADORES SEJAM ELES DOS PÊS QUE SEJAM ACABANDO COM POBRES MORTAIS! SEJAMOS MAIS HUMANOS E MENOS CYBER IDIOTAS! BOM DIA!”, texto de Mariza Basso hoje pela manhã pelas redes sociais.

Sim, a carapuça me serviu. Faço minha mea culpa, sempre. Porém, isso não ocorre só comigo e sim, com a maioria das pessoas. O facebook é um campo minado e as pessoas (a maioria delas) hoje não estão mais abertas ao diálogo. É feita a exposição de uma linha de pensamento (político, religioso, esportivo, cultural, culinário, ideológico, etc) num post qualquer e quando ocorre alguma discordância, talvez alguém chamando a atenção por algum erro de interpretação, a resposta não é mais de diálogo e sim, de confronto. Ironia, grosseria, xingos, afronta, admoestação, provocação e até intimidação. Esse o lado mais triste da coisa. Pessoas que já adentram esse campo minado para provocar, espezinhar e quando recebem a devida resposta não dialogam. Estou cada vez mais postando meus textos e entrando poucas vezes ao dia para ver a repercussão. Eu confesso ser também um tanto “cabeça dura”, mas não me nego nunca de dialogar, debater à exaustão, desde que os argumentos do outro lado sejam convincentes. Ontem fui tentar dialogar com alguém desses acostumados a enxergar todos os males do mundo somente no PT (“esses fdp dos petralhas”), nada nos demais e desisti. Foi a gota d’água. Pura perda de tempo querer comprovar algo se essa possibilidade não existe do outro lado. Daí o que vem na sequência é a mais inconsequente perda de tempo da história da humanidade nos dias atuais. Sabe como resolvo isso comigo mesmo, saindo de casa e construindo amigos novos e consolidando outros em cada esquina. Querem exemplos? Os dou. Abaixo alguns deles:

1 - 70 ANOS HOJE - Acabo de pisar os pés em casa, 23h30, voltando mais meia boca impossível de uma festa que começou hoje, pouco depois das 20h30, a dos 70 anos do ALEMÃO, o da KANANGA. Tive um espanto quando soube que ele estava fazendo 70 anos hoje, pois o achava ter ainda uns sessenta e pouco. O gajo é conservado em formol, tá nos trinques, um excelente ser humano, cantando coisas maravilhosas e esbanjando simpatia. Não tem como não gostar do Alemão e por ele se apaixonar. Estávamos eu e Ana, até minutos atrás envolvidos com aquela música inebriante do seu regional, casa lotada, dona Cleusa em estado de pleno contentamento e ele lá com o violão na mão, cantando todas e mais algumas. Sai de sua casa só porque ele é mesmo "phoda" e marca festa para domingo a noite quando sabe que a gente é obrigado a acordar cedo na segunda. Essa a única reclamação que tenho a fazer dele. Externo aqui e agora o contentamento por ter caído nas graças do Alemão e ser seu amigo. Ele hoje setentinha, mas com corpinho de 60. Vai continuar encantando a gente por muito tempo. Um baita abracito nele, desse que é fã incondicional desse agora velhinho. Sai de lá e o regional arrasava o quarteirão e como sei que a coisa ia acabar na polícia, pois somos barulhentos, resolvi dormir em casa, no quentinho de minha cama e deixei eles que ficaram para se entenderem com o dr delegado.

2 - ESSAS FOTOS SÃO PARA HOMENAGEAR TODOS OS QUE MONTARAM SUAS BARRACAS NA PARTE SUPERIOR DO SAMBÓDROMO. Mais de 70, segundo a Prefeitura. Uma coladinha na outra e no meio daquele mar de barracas, essas duas figurinhas nada carimbadas lá estavam vendendo um lanche de lagarto frio acebolado. Gostei tanto que quero mais e como não sei se elas vão ter coragem de repetirem o feito, poderíamos marcar um evento só para saborear os quitutes dessas duas (na verdade era um trio). Gostei demais. Comi um em cada dia de Sambódromo e até levei pão para saborear no dia seguinte em casa. Essas também são do balacobaco, Audren Victório, cantora da melhor cepa bauruense e Priscila Medeiros, fotógrafa de quatro costados. E quituteiras de mão cheia.

3 – “CERTO TRIO, NUMA CERTA NOITE ANTECEDENDO ALGO A MAIS NO CARNAVAL, NUM CERTO BAR DEFRONTE O AEROPORTO (o verdadeiro, o da cidade), NUMA CERTA MOTO, NUM DIA INCERTO E NÃO SABIDO... Eu estava de passagem e só cliquei... Nada mais me foi permitido fazer...”. Na verdade quando escrevi esse texto e o publiquei foi com a intenção de homenagear uma pessoa que aprendi a admirar pela sua simplicidade e originalidade em tudo o que faz, a fotógrafa SANDRA RUBIN, também motoqueira nas horas vagas. Tempos atrás deu um workshop na Oficina Cultural e a partir daí caiu nas graças minhas e da Ana Bia. Somos diferentes num monte de coisas, mas nos respeitamos e conversamos numa boa, sem problemas maiores por causa disso. Ela é do time dos novos amigos (as) e já ocupa o devido lugar, conquistado só pelo jeitão despojado de ser e de estar.

4 - O Carnaval além de todas as coisas maravilhosas possibilita ir conhecendo gente nova a todo instante. Eu sempre achei que já conhecia muita gente, mas a cada investida pelos bairros da cidade, percebo que não conheço é nada. E como surgem pessoas maravilhosas, astral lá em cima, belas experiências de vida, cheias de um encanto mais do que natural, uma luz só delas. Daí eu não me seguro, tiro fotos e já quero escrevinhar delas todas. Hoje, mesmo não sabendo quase nada dessa, achei que precisava registrar sua simpatia. KELLEM GOMES é aquilo que muitos no seu entorno denominam carinhosamente de BAITA NEGONA. E ela não pode negar, é uma baita de uma pessoa mesmo, imensa não só no tamanho, mas no esbanjar de simpatia, irradiando alegria por todos os poros. Como é gostoso se deparar com gente assim, uma boca escancarada de orelha a orelha, simpatia em pessoa. A conheci nos preparativos da Escola de Samba Tradição, lá na casa/barracão do Chiquinho Saes e da Gisele Baroni, num dia de muita correria, ela muito bem acompanhada e ao chegar, marcou presença, ocupou todos os espaços, não tinha para mais ninguém. Depois a Gisele Barone, me disse que foi madrinha de bateria, passista e hoje ajuda em tudo, prestando sua contribuição na Harmonia da escola. Hoje mora lá do outro lado da cidade (em relação ao Mary Dota da tradição), no Nova Esperança, trabalha lá pelos lados do Hospital de Base, onde atua no meio da enfermagem, além de ser também cuidadora de enfermos e nas horas vagas irradia e esbanja cidade afora um bocadinho de um malemolente gingado conquistado ao longo da vida. Fico sabendo de outra, mãe de quatro filhos, durante um período de sua vida praticou Boxe (valente até nisso, ui!). No sábado de Carnaval mostrou outro bocado na Batista com o Bauru Sem Tomate é Mixto e é dessa forma que segue sua vida, rindo das adversidades, linda e feliz, dessas que sabe muito bem brincar de viver.

5 – Quer coisa mais gostosa do que ir trombando com gente que te lê por aí e queria muito te conhecer pessoalmente, buscando a ajuda de um amigo em comum para essa finalidade. Com esse personagem de hoje ocorreu algo assim. Tio Gui, uma valorosa pessoa, instigante provocador e ótimo observador desse mundão aí fora, me apresenta esse jovem artífice envolvido com o samba. Diz que havia me proposto amizade pelo facebook e não o havia respondido. Não o conhecia e após a conversa inicial, pronto, tudo resolvido, pelo pouco que conheci, deu para saber tratar-se de uma imensa pessoa. Já é meu amigo, não só desses via facebook. DONIZETE CAMPOS, 48 anos, nasceu para o samba, bem no berço da Mocidade Independente da Vila Falcão, sendo também conhecido como o criador da primeira paradinha na Cartola, lá do Parque Vista Alegre. Sua revolta é ter sido obrigado a parar com tudo por dez anos, fruto dos que viam na festa algo com intervenção direta do malvadão de plantão, um tal de “diabo”. Ao voltar, rindo diz ter percebido que “deus está comigo”, pois desde então já foram emplacados três sambas enredos de sua autoria. O primeiro no Pé de Varsa, com o “Desce uma cerveja na mesa” e dois no também bloco Lagoa do Sapo, em dois consecutivos anos. Do resultado da festa desse ano diz: “Apesar dessa dificuldade de julgar, ainda saímos vencedores, pois muitos dos jurados são nossos amigos ou conhecidos”. Esse ser pensante do mundo do samba bauruense é casado com a Cristina, mora no Parque União e ganha a vida como pintor de paredes, uma atividade que, assim como o samba, toma boa parte do seu tempo. Se no samba, muitos vivem no seu encalço, devido ao reconhecido talento, no ofício diário a procura se faz com a mesma intensidade. E dessa forma, Donizete vive sua vida, pintando, compondo e sambando.

Paro nesses cinco. Querendo mais é simples. Estou escrevendo de pessoas diariamente no facebook, os tais PERSONAGENS SEM CARIMBO – O LADO B DE BAURU e nos meus textos no blog Mafuá do HPA. Tem amigos de verdade que te respeitam, te entendem, te espezinham, mas não fecham a questão com nada. Todos nós temos que, num certo momento, dar um breque em algumas coisas que fazemos, uma bela reflexão nos procedimentos tomados e conversar mais, não se achar o único com razão sob tudo e todos. Esse é sempre um bom começo. Dos ditos amigos perdidos via facebook, todos, tenho quase certeza, foram por bestializações políticas, que poderiam ser evitadas, mas de ambos os lados. No mais, aos 53, continuo agindo como me prescreveu mestre Aldir Blanc: “Envelheci, mas continuo em exposição, a ex-mulher me chama de sardinha de balcão...”.