quinta-feira, 15 de maio de 2014

DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (102)

DUAS HISTÓRIAS ESTRADEIRAS

HISTÓRIA 1 – NUMA VIAGEM DE ONIBUS BAURU RIO DE JANEIRO

Sexta passada, 09/05 entro num ônibus da Reunidas com destino ao Rio de Janeiro num dia onde estava cansado pra dedéu. Comprei uma janelinha e esperava dormir daqui até a manhã seguinte no desembarque. Ao meu lado um senhor de uns 75 anos, cabelos brancos e nem sei por que, mas iniciamos uma conversa, ele morador numa cidade vizinha, havia chegado na rodoviária horas antes e me disse algo que de cara me doeu muito: “Eu não consigo dormir em ônibus”. O homem queria conversar e logo no início do papo percebi estar diante de alguém bem culto, instruído, aposentado quase trinta anos de suas atividades. Pois foi dela, a sua atividade, que surgiu o papo que nos conduziu a noite toda, me fez perder o sono, descer em todas as paradas e um papo sem fim, com troca de telefones e um interesse desmedido de minha parte pela sua história. Seu desabafo foi ouvido e instigado por mim durante a noite toda. Ele foi militar no período mais duro do regime e vivenciou algumas histórias. Resvalo em algumas delas aqui e agora.

“Fui transferido para o Quartel de Quitaúna seis meses depois da saída do Lamarca e senti o quanto ele era respeitado por lá, mesmo tendo saído da forma como saiu. As histórias dele querendo constituir um grupo de ação já eram conhecidas dos superiores antes dele fugir. Não tomaram providência nenhuma talvez porque queriam dar mais corda a ele, pegá-lo no momento da ação, mas não deu tempo. Vivenciei a ação das pessoas que lá permaneceram e eram próximas de Lamarca, tudo o que foi feito com eles, a investigação familiar, uma devassa até terem absoluta certeza de que não tiveram envolvimento com ele. Na dúvida, a investigação era com uma pressão massacrante. Conheci outro militar que havia sido segurança pessoal do presidente João Goulart e quando esse caiu passou por um processo de profunda investigação, em todo o seu círculo familiar, permaneceu dias e dias num intenso interrogatório, sem poder dormir, com os interrogadores sendo substituídos de forma ininterrupta. Quando tiveram a certeza de que nada tinha de comprometimento o transferiram para Lins. O militar passava por uma perícia familiar intensa, contínua e me lembro de um que possuía um filho homossexual e não imaginam a perseguição que ele sofria por ter permitido que isso ocorresse em sua família. Qualquer comentário, mesmo que em forma de brincadeira, de algo sobre a atuação do regime, chegava logo na boca dos superiores e isso já era caso para inquérito interno. Um simples boato podia gerar sérias consequências para a promoção. Quem não queria ter problemas dentro dos quartéis passou aquele período de boca fechada”, alguns dos seus comentários e mais não conto.

HISTÓRIA 2 – VOLTEI AGORINHA MESMO RECARREGADO DE JAÚ
Toda vez que vou até Jaú fico em dúvida se passo ou não na casa de um dos maiores músicos do Brasil, o baterista Nino. A dúvida faz sentido. Se não passo, meu dia rende, aproveito para visitas mil de meu negócio particular. Passando, meu ganho é outro. Nino, um professor de redação como poucos está lá quieto no seu canto e quanto provocado, vendo gente interessada em sua trajetória, abre não só sua casa, mas seu coração e daí dá o melhor de si. O motivo de hoje foi apresentar Chu Arroyo para entrevista ao jornal República Jahuense e tudo se estendeu (como sempre), papo dos mais agradáveis, além daquilo que ele mais gosta de fazer, sentar no banquinho atrás de sua bateria e tocar o que mais gosta, clássicos e mais clássicos da Bossa Nova. Um catedrático em Bossa Nova, um músico grandioso, com uma rica história de vida e musical, com monstros sagrados da música brasileira nos anos 60, 70 e 80. Falamos muito de um deles, falecido recentemente, Jair Rodrigues. A história dele sairá novamente publicada, dessa vez no nº 2 do novo jornal jauense.

“Tive o prazer de aprender uma batida de samba carioca que poucos tiveram, tudo por causa de uma doença infantil. Era levado constantemente ao Rio, fiquei na casa de parentes no Flamengo e o que ali presenciei foi decisivo em minha vida toda. Fui contaminado pela Bossa Nova e seus maiores interpretes. De lá, em Jaú e depois em São Paulo, segui numa vitoriosa carreira ao lado de Dick Farney, Johnny Alf, Zimbo Trio e outros. Tenho a honra de ter sido a pessoa que impulsionou a carreira do Jair Rodrigues, que o levou aos lugares certos e as pessoas certas, direcionando-o para ser o grande astro da música. Sempre fui um bom capoeirista e certa vez o livrei de um encrenca comprando a briga para mim. Cheguei ao sujeito e disse que se quisesse pegar o Jair teria que me pegar primeiro e o bicho pegou. Numa outra, no começo da carreira dele, um namorico não queria largar do pé dele e ele não podia ficar preso a ninguém. Ele pediu a mim e fomos juntos comunicar a ela que naquele momento ele não podia ter nada com ela, que tivesse paciência e que se ele tivesse que ser dala o seria, mas não naquele momento. Meu relacionamento com ele era dessa forma, arrumava músicos para sua banda, tal a confiança que possuía em minha pessoa”, conta Nino, num dos trechos ouvidos da tal entrevista. O restante só quando o jornal sair. Nino merece ter um vídeo seu gravado, num eterno registro de sua obra, verve, sapiência e conhecimento. Com as baquetas na mão não conheço outro, sem falsa modéstia e quem o conhece sabe do que falo.

4 comentários:

Anônimo disse...

ANO DE 1998
Estamos em ano eleitoral, já vivi e participei de muitos, hoje o amadurecimento e expansão de um ideal na mente não permite mais cair em enganações, anos como este são repetitivos, políticos e suas militâncias de laranjas se digladiando na mais perversa e falsa arena.

Para refletir mais sobre algumas mudanças de comportamentos e incoerências de discurso de vários amigos que fiz ao longo desses anos de participação política, resolvi revirar alguns arquivos meus, sempre tive o costume em guardar recortes de jornais, toda a história que íamos escrevendo juntos, retornei nesta minha "máquina do tempo" ao ano de 1998, uma época que não havia ainda internet, redes sociais de alienações, tudo era feito nas ruas, nos livros, jornais etc.

Mas por que voltei ao ano de 1998?? Era um ano de eleições, ano da reeleição do tucano FHC, por mais que brigamos nas ruas, não tinha como convencer o povo do contrário, ele levou fácil, no primeiro turno, principalmente a uma politica econômica maquiada num ilusório plano Real, e sabe-se quando no capitalismo maquiagens são feitas, lá na frente a bomba explode, é uma eterna dança das cadeiras, e nos quatro anos seguintes aconteceu o quebra inevitável.

Esse fato é conhecido por quem viveu aquela eleição, mas voltei nesse ano não por causa dos anos FHC, mas do combate que fazíamos a ascensão do neoliberalismo, a luta contra as privatizações e o foco principal, o sempre ataque ao capitalismo.

Revendo recortes da Tribuna do Leitor do jornal local naquele ano, tanto eu como vários amigos, escrevíamos denunciando tudo isso, o mais legal de tudo eram os discursos bem fundamentados, um domínio teórico incrível de militantes mais experientes, um ataque ao capital que honraria Karl Marx. Atacávamos com fatos o assistencialismo daquele governo creditado a primeira dama na época a Ruth Cardoso, o quanto era ilusório e massa de manobra, tudo era provado por A + B, o desespero dos tucanos nas respostas era total, mil desculpas e números forjados para convencer as pessoas do absurdo que se seguia, corrupção era escondida pelos seus pares, e nós estávamos lá com o grito esquerdista sonhando com uma realização diferente.

CONTINUA...

Anônimo disse...

CONTINUAÇÃO...

Depois de ler e rever parte do que fizemos naquele ano de 1998, olho para o que vários daqueles amigos falam e escrevem hoje nas redes e tribunas região afora, é nítido uma inversão total de valores, como um fundamentalismo destrói com o juízo mental do indivíduo, comparei os discursos destes hoje com os que defendiam os tucanos em 98, é impressionante a semelhança, estão escondendo corrupção, defendendo privatizações, embora não assumam publicamente, dizem que é concessão, é diferente de privatizar, pura balela, outro dia encontrei um desses na rua e ao expor fatos que derrubavam todas as justificativas para um governo que é igual e não diferente, este parecia um cão raivoso, de tanto que babava de nervoso na falta de argumentos, justo uma militância tão culta, tão revolucionária que conheci, hoje se resume a isso, a fanatismos, a egos inflados, a falta de humildade para reconhecer o erro.

Já escrevi aqui uma vez, que todos nós, ou a grande maioria que caminhava pela esquerda, nutríamos de grandes esperanças e defendíamos com unhas e dentes o PT, só que há tempos não dá mais gente, é preciso ter coerência e entendimento de um ideal, nosso inimigo sempre foi o capitalismo, e nossa arma o comunismo, os partidos políticos são frutos deste sistema, não há diferenças estruturais neles, é uma mesma regra para todos, quem está fora quer entrar e quem está na gerência não quer sair, todos a serviço do capital.

Esses clichês da cartilha do partido que hoje o Brasil foi reinventado, não ficamos com pires nas mãos, não somos submissos ao imperialismo, isso é insanidade de gente retardada, essa é a realidade, estamos as vésperas de uma Copa do Mundo onde a corrupção corre livre e de forma monstruosa, uma Lei de Exceção a Fifa, estamos de joelhos, mais de 170 mil famílias removidas e jogadas ao vento pelos interesses da Fifa, e onde está aqueles combatentes de 1998?? Estão todos escondendo os fatos, reproduzindo números e notícias produzidos pela cartilha dos laranjas, iguais aos tucanos de 98.

Gostaria demais que a lucidez voltasse a estes amigos, nem que fosse um breve insight, mas acho mesmo que qualquer forma de religiosidade é mesmo algo maligno.

Esconder e justificar corrupção, é o pior dos bandidos.
Camarada Insurgente MARCOS PAULO

Anônimo disse...



MEU CARO HENRIQUE
Hoje sua reportagem foi para humilhar os concorrentes ,arrasou .

LÁZARO CARNEIRO

Anônimo disse...

Deu show com a pena hoje, caríssimo

(aos desavisados) Pena= usada anteriormente, para escrever, quando a esferográfica, a máquina de datilografia e o computador ainda não existiam.

Paul Sampaio Chediak Alves