sábado, 31 de maio de 2014

FRASES DE UM LIVRO LIDO (79)


AS CARTAS RECHEADAS DE INVERDADES E OS LIVROS CONTANDO ALGO DA VERDADE QUE POUCOS AINDA SE PRESTAM A VALORIZAR
Toda vez que me deparo com alguém desmerecendo tudo o que de ruim acarretou ao país os anos de ditadura militar, além da imensa tristeza, bate algo mais intenso. O desmerecimento de um longo período de lutas é algo feito com o intuito de encobrir, talvez recontar a história com uma nova versão, a de que o período não tenha sido tão nefasto assim. Com que intuito fazem isso? Movido por quais intenções? Hoje muitos agem dessa forma e a forma mais comum de vê-los é pelas páginas dos jornais, pelos comentários dos facebooks ou até mesmo acompanhando discussões em mesas ao lado das suas em restaurantes pela aí. Os donos dos jornais parecem incentivar a reprodução da deslavada mentira, não se sentem nem na obrigação de colocar uma ‘nota de esclarecimento’, dizendo ser a mera opinião de um missivista e que, mesmo contrariando a verdade dos fatos está sendo publicada. Tudo sai com o claro intuito de continuar promovendo uma confusão danada na cabeça dos desavisados de plantão.

Li mais uma estocada nesse sentido e nem me atrevo mais a responder, pois muitos outros serão publicados na seqüência. Os jornais devem ter em estoque bestialidades desse tipo, iguais a lida no JC, Tribuna do Leitor, “Ditadura? Quando, onde e como?”, de um tal de José Mauro Paganini Lourenço (http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=2343460). Leio isso assim meio que consternado e dou aquela olhada de soslaio pelas estantes aqui no mafuá. Livros e mais livros comprovando as atrocidades de uma cruel e insana ditadura. Folheio cada um deles, vejo as frases grifadas, fotos da violência da repressão, as liberdades suprimidas e me vem alguém pelo qual nunca vi na vida dizer que tudo foi brando, “meia dúzia de pessoas que se diziam comunistas insistiam em subverter a ordem a qualquer custo”. O cara afirma assim galantemente “nunca fui importunado por ninguém, foi uma época de paz, ordem e respeito, exceto aos que preferiam a anarquia”. Tudo o que consta nesses livros diante de meus olhos, tudo o que aprendi até aqui nos bancos escolares, nada vale mais diante de argumento como esses. Eles sabem de tudo, nós, os outros, de nada.

Escolho um livro aleatoriamente na estante e o que me cai às mãos é o “68 A PAIXÃO DE UMA UTOPIA”, Daniel Aarão reis Filho e Pedro Moraes (editora Espaço & Tempo, 1988). Na página de agradecimento lá está: "Aos que não esqueceram nem se arrependeram”. Depois um diálogo de Eli Wiesel:

“- Você se arrepende?
- De modo algum- E se fosse preciso recomeçar?
- Eu recomeçaria.
- No entanto, você já sabe: os homens não mudam e detestam lembrar.
- É um problema deles. Mas eu não esquecerei”.


De que me vale eu não me esquecer de nada, se a maioria tripudia sobre os fatos? “lembra o tempo que você sentia e sentir era a forma mais sábia de saber e você nem sabia?”, leio na página 11 uma frase de Alice Ruiz. Depois uma de Vladimir Palmeira, na famosa Passeata dos 50 mil, que muitos nunca ouviram falar: “A gente é contra essa estrutura, e na rua a ditadura tem medo da gente, porque sabe que da voz do povo e da voz dos estudantes, sai a condenação dos grandes donos, dos grandes exploradores desse país”. Depois uma frase de José Celso Martinez Correa, sobre a peça Roda Viva: “O objetivo é abrir uma série de Vietnãs no campo da cultura, uma guerra contra a cultura oficial, de consumo fácil”. Continuo folheando o livro e nas fotos uma resistência nas ruas e com muita luta. Na página 73 a reprodução de um diálogo entre um policial e um estudante em julho de 1968:

“- Eu vi um rapaz morrer ao meu lado, quero uma ambulância!
- Você é estudante?
- Sou estudante, som é preciso arranjar uma ambulância!
- Se é estudante, vai preso!”.


Na página 162 outro diálogo, esse entre um servente do restaurante Calabouço e o padre Vicente Adamo, do Colégio Zaccarias, em 28 de março de 1968:

“ – Padre, morreu um estudante aqui no Calabouço.
- Chame a polícia.
- Impossível. Foi ela quem o matou”.


Eu não quero ler mais nada. Fico com as minhas certezas e questiono aos que escrevem e aos que reproduzem escritos cheios de inverdades, como se verdades fossem. Fecho o livro, guardo-o novamente na empoeirada estante e vou dar uma volta na rua, pelo menos enquanto ainda posso fazer isso sem ser perseguido pelo que penso. Do jeito que as coisas andam, aproveito cada minuto como se fosse um tempão. Temo pelo que virá pela frente. Boa tarde a todos.

4 comentários:

Anônimo disse...

http://blogconvergencia.org/blogconvergencia/?p=2097

O golpe, a grande mídia e os torturadores
blogconvergencia.org
“Raízes da Ditadura – Livros de Elio Gáspari, Daniel Aarão Reis, Marco Napolitano e outros analisam fatores decisivos para a instauração do regime militar em 1964, como a anarquia das forças armadas, a tradição autoritária nacional e o apoio da sociedade civil.”

Almir Ribeiro

Anônimo disse...

http://www.bbc.co.uk/.../140530_tortura_grabretanha_dg.shtml

Britânicos ensinaram 'tortura psicológica' a militares brasileiros na ditadura - BBC Brasil -...
www.bbc.co.uk
BBC revela documentos mostrando que técnicas torturantes de interrogatório substituiram agressões físicas para arrancar informações de presos durante a ditadura.

Paul Sampaio Chediak Alves

Anônimo disse...

eu li a carta ontem, fiquei com nojo!!!!!!
Vilma Padilha

Anônimo disse...

Henrique, vivemos um momento em escala mundial onde proliferam as manifestações "fascistas". Temos que sempre combater estas posições, mas compreendendo o que se passa de forma mais geral. A situação do que ocorre na Ucrania, os resultados das eleições europeias mostram isso. http://www.marxismo.org.br/.../para-onde-esta-indo-ucrania
Roque Ferreira