sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

UM LUGAR POR AÍ (63)


ÁGUA – O CASO DA HOLANDA E ALGO QUE PODERIA SER EQUACIONADO PELO DAE

Chove em janeiro. Ufa! O Batalha parece que atingiu um nível onde, se não é a normalidade, também não é uma catástrofe. Troveja lá fora, venta também e em alguns casos a cidade fica às escuras. Eu escrevo e muitas vezes perco tudo o que estou fazendo. Aqui em casa a luz vai e volta, mas vejo que em muitos lugares da cidade a situação é infinitamente pior. Com a água a situação é ainda pior. Se não falta aqui em casa, vejo que falta em muitos lugares, todos periféricos, nenhum em lugar abastado. Todos afastados. É chato ficar insistindo em escrever mais uma vez desse negócio de água, falta dela, mas quero fazê-lo de um jeito diferente. Aqui em Bauru tudo parece mais difícil. Uma espécie de privilégio ao contrário. A grana para o tratamento de esgoto chegou faz tempo e ele não rola, não saí do lugar, patina. Nem a estação lá no Gasparini, começada tempos atrás, nada mais ouço falar dela. Vejo a Nuno de Assis toda de pernas para o ar, interceptores chegando ou só um balão de ensaio. Fura, tapa, fura de novo, deixa destampado. Nem sei mais o que dizer. Daí fui buscar um exemplo bem longe daqui.

Continuo lendo minhas revistas. Numa delas, na BRASILEIROS, nº 90, edição de janeiro, um Especial Hídrico e num dos textos algo mais do que interessante. “OS HOLANDESES E SUAS ÁGUAS”. Fui ler e lá na chamada do texto da jornalista Martina Jung, isso aqui: “A geografia, a história e a seca transformaram a paisagem do país em um mosaico de rios, lagos, canais e represas organizado em um sistema complexo. Toda essa engrenagem garante água de boa qualidade, até mesmo aquela que não serve para o consumo humano”. Sei que a Holanda não é bom lugar para efeito de comparação com o Brasil. Primeiro porque é pequeno demais, depois porque tem grana demais, mas mesmo assim acho que vale a pena ver o que acontece por lá e tentar dar uma comparadinha com o que não acontece por aqui. Não existe ainda nenhum link disponibilizado pela revista para leitura do texto, daí um resumo de minha lavra.

A história da água na Holanda é tudo. Lembram-se da estória do menino Hans Brinker que permaneceu uma noite com o dedo num orifício de um dique, tudo para impedir que ele rachasse e suas águas invadissem o país? A maior parte da Holanda vive abaixo da linha do mar. Terreno extremamente plano e isso é fonte de terna preocupação. Sempre tiveram que conter as águas do mar. “Hoje, o que impede o país de se inundado completamente é um complexo sistema de diques, canais, represas e lagos”, diz a matéria. Possuem o maior projeto de defesa contra inundações do mundo. São experts nisso. Por ironia sofrem também os efeitos da seca, períodos longos de estiagem e todo excedente de água da chuva são guardados em lagos, ribeiras e utilizados nas emergências. Eles fazem uma gestão eficiente da questão da água e daí por que não conhecer algo disso? Existe uma pasta com gestão independente do governo para cuidar só disso, a Dutch Water Authorities, com eleição de quatro em quatro anos. Tudo é discutido por eles. Pagam anualmente pelo tratamento da água e para ter água potável, algo em torno de 180 euros por família/ano.

Toda água é reciclada e reutilizada de várias formas. Quase nada se perde num processo onde o setor privado e as universidades investem em pesquisa na área. Diferente daqui do Brasil, quando existe água em abundância, ela é utilizada com desperdício, lá não. Nem pode, não deixam. Essa a grande diferença entre os dois países. Não desgosto do meu país, nem devo ficar enaltecendo experiências em países ricos e querendo que tudo ocorra aqui da mesma forma. Talvez isso seja impossível, mas para sair do caos, quando já se chegou quase ao fundo do poço, vejo como solução uma tomada de atitude. Privatizar nossa água e entrega-la de bandeja para a SABESP é a pior solução. Ali existe a mercantilização da água tratando-a como mero negócio nas mãos de comerciantes. O nosso DAE poderia agir diferente aqui na fonte e mostrar ao resto do país a possibilidade de uma alternativa viável e concreta. Mas eles querem fazer isso? Algumas medidas poderão até ser duras demais no início, mas abrangendo a todos indistintamente e não só a alguns, esse já um bom começo. Basta de privilégios e privilegiados. Ou todos pagam essa conta ou faz-se a revolução. E a água é um ótimo motivo para isso.

Reutilização da água em todas suas instâncias e uma gestão mais do que séria, enfrentando inclusive os ditos malversadores da água pública, os que não pagam adequadamente suas cotas. O DAE poderia ser essa nossa pasta independente, com gente séria só pensando nisso, mas sem vínculos políticos ou entreguistas. Para começar, acredito que, sem uma limpa geral lá dentro será difícil querer propor algo parecido com mudança. Não chegariam a lugar nenhum. Quem melhor sabe disso é o Giasone Candia, o atual presidente da autarquia. Pergunte a ele se é fácil negociar algo lá dentro com tantos interesses conflitantes. Diante da resposta dele, talvez um recomeço seja mais urgente do que se possa imaginar. O caso da Holanda é só mais um bom exemplo. Do contrário, se falta água hoje no mês que mais chove no ano, imaginem o que vai ser dessa cidade no segundo semestre.

Um comentário:

Anônimo disse...

Henrique , é certo quando voce fala da dificil comparacao, afinal o territorio é pequeno e a populacao tambem. O pais enriqueceu , é verdade, com o colonialismo. Mas se manteve rico - diferente de Portugal, por exemplo, muito pelo carater do povo mesmo. Eu acho os holandeses muito "chatos", mas por conta dessa "chatice" as coisas funcionam bem.
Márcia Nuriah - morando na Holanda