quarta-feira, 11 de março de 2015

BEIRA DE ESTRADA (44)


AMANTINI E O ESTÁDIO*

*Coluna mensal publicada na revista AZ!, n° 23, março 2015, 10 mil exemplares. Diretor Geral: Rodrigo Chiquito e Jornalista Responsável: Bruno Martinelli. A AZ! É uma diferenciada revista em Bauru, possui uma tiragem verdadeira. Chiquito é rigoroso nisso. Prefere não soltar a revista sem tudo estar redondinho e ela, confesso, está linda em todos os quesitos. Belos temas, abordagens alvissareiras e um primor de visual. E a partir desse mês com mais uma novidade. Esse HPA é um dos seus mais novos colunistas. O primeiro texto é esse reproduzido abaixo e na última página algo mais, ela toda só com fotos do bloco Bauru Sem Tomate é MiXto:

"Um espaço novo, ou um novo espaço? O fato é que a revista AZ! abre as portas para meus escritos. Penso numa sugestiva coluna mensal. Algo despertando interesses variados e múltiplos. Pronto! Quero ir revendo aqui histórias de pessoas conhecidas por todos nós. Bauruenses sobreviventes deste pós-centenário. As boas histórias permeiam nossas vidas, rimos delas e com elas. Algumas bem simples, até por isso boas e cheias de encantos mil. Vida na sua essência. Começo com uma do empresário Cláudio Amantini, o melhor presidente que o glorioso Esporte Clube Noroeste teve em toda sua trajetória.

Amantini é uma rara pessoa. Fez parte de uma época de ouro do futebol interiorano paulista. Ele aqui em Bauru, Alfredo Metidieri em Sorocaba, Romeu Italo Ripoli em Piracicaba e Benedito Teixeira, o Birigui, do América de Rio Preto. Formavam o pé de ferro do interior. Junto deles, outros como Valdemar Bauab do XV de Jaú, Pedro Pavão do Marília e José Ferreira Pinto Filho do Juventus, o único da capital do estado. Tinham algo em comum: folclóricos por natureza, caipiras assumidos e fervorosos torcedores de seus times. Igual a eles só Vicente Matheus do Corinthians.

Todos rendiam belas histórias no entorno do que faziam e do como faziam para tocar seus times, dignos representantes de suas cidades. Imagine a história de cada um sobre como foram conseguidos os respectivos estádios!

No caso de Claudio Amantini, a estória trata do momento no qual o estádio de Bauru estava em vias de ser perdido. Foi construído por ferroviários, era propriedade federal, porém relegada a interesses dispersos. Conta que: “Na ocasião, Orestes Quércia era o governador. Pedi o estádio para ele. Disse que se fosse paulista já seria do Noroeste, mas era federal. Insisti. Ligava sempre e o cercava nas visitas. Levava dossiês, papéis de tudo quanto é tipo. Ganhou não sei quantas camisas do Noroeste.”

O desfecho foi emocionante. “Um dia ele falou na TV que iria conseguir o estádio. E conseguiu. Mas não foi fácil. A compra foi assinada na casa do Galli (Reinaldo Galli, ex-presidente e juiz de direito em Bauru). Dois empresários deram a entrada e depois tinham as parcelas mensais. Nunca ninguém pagou. Arquei com tudo. Meu filho Claudinho assinava os cheques. Até que um dia o Jornal da Cidade deu em manchete, ‘Tudo Pago!’. Foi uma brincadeira caríssima, mas não me arrependo”, confessa.

Hoje, aos 85 anos, presidente de honra da FPF – Federação Paulista de Futebol – Interior, relembra isso com emoção. Consegue rir ao ler no prefácio do livro “Noroeste – 104 anos de um Teimoso”, do jornalista Paulo Sérgio Simonetti, a frase escrita pelo também jornalista e amigo Zarcillo Barbosa: “Se a família soubesse o quanto gastou do bolso, há muito estaria interditado”. Fez exatamente isto e por puro amor. E faria novamente se o permitissem. Claudio Amantini sofre com os tempos atuais. Mas, não se verga! É do tipo Quixote com sua lança, esgrimando contra moinhos e até dragões. Aroeira pura, de uma estirpe de dirigentes praticamente extinta. Os tempos são outros. Infelizmente. Amantini continua o mesmo, irredutível e com um único foco diante de si: Noroeste, sua vida."

3 comentários:

Anônimo disse...

Que lindo meu irmão !!! Parabéns !!! E parabéns tb ao Amantini, patrimônio bauruense .... rsss ....

Helena Aquino

Anônimo disse...

Henrique, aprecio sua prosa, encarnada no cotidiano: é delicada, amorosa e singela, flui a vida pelos seus textos. Você nos dá um belo exemplo da frase: quando o menos é mais!

Margarida Mendes, de Botucatu.

Anônimo disse...

Henrique,
A imprensa esportiva de Bauru deificou a familia Garcia esquecendo-se que a logística só existe até hoje graças ao sr.Claudio Amantini......como ele nunca deu "mimos" para ninguem é quase que esquecido pela cronica.
Holmes Rodolfo Martins, o Lelo