BEIRA DE ESTRADA (47)

O BOM É QUANDO RECLAMAM DA GENTE*

*Texto de minha lavra e responsabilidade exclusivo para jornal pederneirense Pedra de Fogo (do Chu Arroyo), edição nº 15, 30/04/2015:
Jornal bom é aquele que faz barulho, produz encrenca, divide opiniões e ao escancarar problemas, causa reações. As favoráveis são maravilhosas. Quem não gosta de ser elogiado? Todo mundo, né! Isso afaga o ego de qualquer um. Mas nem tudo são elogios nessa vida e é também mais do necessário receber umas cobranças e até bordoadas de vez em quando. Para esses momentos uso muito uma frase lapidar do ex-presidente corintiano, o folclórico Vicente Matheus, que certa vez disse: “Quem entra na chuva é para se queimar”. Sim, todo bom jornalista entra na chuva e deve estar pronto para garoa, trovada e até tempestades.

O intrépido jornal Pedra de Fogo, tocado aos trancos e barrancos (maravilhoso isso também) pelo irreverente e audaz Chu Arroyo foi lembrado da tribuna da Câmara de Vereadores de Pederneiras e taxado de “vermelhinho”. Em primeiro lugar, parabéns ao Chu, pois se incomodou o motivo é somente um, cumpriu o seu papel de cutucar quem deve ser cutucado. Denúncias tem que ser levadas às últimas consequências e na publicação, a maior demonstração do exercício livre e soberano da liberdade de expressão. Imprensa livre é isso. No caso do que fez tempos atrás o jornal com quem hoje o critica, nem foi denúncia, foi simplesmente a reprodução de algo que já era por demais conhecido, tinha domínio público e só faltava sair num jornal impresso. Saiu.

Adoro os corajosos, pois nesse nosso mundo está imperando cada vez mais o anonimato e o espírito do avestruz, o de enfiar a cabeça num buraco diante de um problema. É muito simples e fácil criticar quem está longe. Falar de Dilma, Alckmin, Lula, Serra, Zé Dirceu ou FHC é fácil demais. Todos eles estão bem longe daqui e nem vão ler o que escrevemos. Já falar de um desmando de alguma autoridade municipal, criticar o grandão, o poderoso local é algo feito por poucos. Vejam o que se passa no facebook. Quando escrevo de algo bonitinho, uma festa, por exemplo, as curtições e comentários são muitos. Já quando cutuco um político local, desses que posso encontrar ali na curva da esquina, as curtições e comentários minguam. A maioria até lê, mas se omitem. Estamos todos um tanto acagalhados.

Quando o jornal também se omite ficamos sem saber do que de fato ocorreu. Millôr Fernandes disse certa vez e adoro reproduzir sua frase aos quatro cantos: “Imprensa é oposição, o resto é balcão de secos e molhados”. Vou mais a fundo. Aqui em Bauru nos áureos tempos do rádio tínhamos um radialista na Auri-Verde, o Netão, lendo diariamente as notícias policiais ocorridas na cidade e seu slogan era esse: “Se você não quer ser notícia não deixe acontecer”. Pois bem, dito isso tudo, o Pedra de Fogo está no caminho certo. O que aconteceu na Câmara veio premiar o bom jornalismo. Vida longa ao jornal.