quarta-feira, 26 de outubro de 2016

FRASES (148)


A CIA DO TIJOLO, FACE EM PLENA EFERVECÊNCIA NA CIDADE E O DISTANCIAMENTO DOS PREFEITÁVEIS EM RELAÇÃO À CULTURA


Aqui em Bauru, eleição para segundo turno e na disputa o ROTO e o ESFARRAPADO. Daí me pedem e a todos que se mostram não querendo votar em nenhum dos dois, para escolher o menos ruim. Não escolho. Numa eleição praticamente já decidida, não irão precisar do meu voto para nada, mesmo assim, a insistência perdura. Explico a seguir um dos motivos de manter distante de tudo o que vejo nas propaganda eleitoral e nas ruas da cidade.

Ontem fui assistir a mais um espetáculo dentro do 5º FACE (Festival de Artes Cênicas de Bauru 2016 – www.facebauru.art.br), algo grandioso e a movimentar parte significativa do que está agitando os movimentos alternativos nacionais. Um rica produção, atividades todas gratuitas, mostra não competitiva, contemplando o moderno, o novo, o inusitado, o ousado, o irreverente , por que não dizer, revolucionário e rico, também nem tão conhecido assim, dentro de uma pluralidade de expressões, desde dança, teatro, performance e circo. O evento invadiu a cidade e está mexendo com o metabolismo de todos e todas que se interessam por algo criativo e de qualidade. Sabe quais dos dois prefeitáveis estiveram por lá em um único espetáculo que fosse? A resposta é sabida por tudo, todas e todos: NENHUM. Não me perguntem como vai se dar a Cultura pelas hostes deles, pois decididamente não sei, como também ouvi somente o trivial dentro da propaganda eleitoral. E o FACE continua rolando solto, macio e ocupando espaços.

Ontem mesmo, estive no Teatro Municipal presenciando o espetáculo CANTATA PARA UM BASTIDOR DE UTOPIAS, de um grupo teatral paulistano mais do que especial, o CIA DO TIJOLO. Olha só como eles chegaram aqui, numa correalização do TUSP – Teatro da USP, aqui capitaneado pelo Chico, sempre antenadíssimo com essa vanguarda apostando numa proposta inovadora, política e co posicionamentos firmes, contundentes: http://prceu.usp.br/noticia/cia-do-tijolo-se-apresenta-nos-campi-do-interior-pelo-circuito-tusp-de-teatro/ . Eis só um bocadinho do que rolou no placo: “Mariana Pineda foi enforcada aos 26 anos por desafiar o poder do rei Fernando VII ao bordar uma bandeira para a causa liberal espanhola, no início do séc. XIX. Ela e sua história deram origem à peça de Federico García Lorca que é a base para o premiado musical da Cia do Tijolo. A criação se mescla a fatos da ditadura militar brasileira e teve auxilio de intelectuais, como Frei Betto. Lorca exaltou em poemas e canções a jovem heroína que desafiou o autoritarismo monárquico. Quase noventa anos depois, na adaptação da Cia do Tijolo, Mariana Pineda continua a bordar sua bandeira, símbolo da Utopia. Nos intervalos da cantata, nos bastidores, os atores da montagem conversam, fazem cenas e cantam músicas de resistência, ampliando a discussão referente aos temas do amor, da liberdade e da revolução. Contemplado pelo PROAC – Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo, o espetáculo destacou-se com premiações no 26º Prêmio Shell (Cenário e Música), indicado ainda na categoria Direção; prêmio da Cooperativa Paulista de Teatro 2013 na categoria Projeto Sonoro, com outras três indicações – Melhor Elenco, Trabalho em Espaço não Convencional e Projeto Visual; e indicação ao Prêmio Governador do Estado para a Cultura 2013.”.

Querem mais? Teve muito mais. Na apresentação de segunda duas pessoas foram convidadas para dar depoimentos num dos intervalos da peça, MILTON DOTA, DARCY RODRIGUES e PAULO NEVES. Na apresentação de terça, ARTHUR MONTEIRO e ROQUE FERREIRA. Arthur não falor de si, mas de um rico personagem que Bauru teve o privilégio de viver entre nós, o militante ALBERTO PEREIRA, que dentre tudo o que fez na vida, foi um dos participantes da Coluna Prestes. Roque também não falou de si, mas de um agrupamento dos ais significativos na cidade, o dos FERROVIÁRIOS e contou histórias, relembrou fatos marcantes da resistência dessa categoria profissional. Foi um momento mágico, envolvendo Bauru com todos os demais lembrados pela peça, desde Frei Tito a Iara Iavelberg, companheira de Carlos Lamarca. Aqui um pouco mais da peça: http://teatrojornal.com.br/2013/08/obra-de-lorca-sustenta-musical-da-cia-do-tijolo/. E para os curiosos, onde certamente não deverão estar nenhum dos prefeitáveis bauruenses, recomendo adentrarem o facebook da troupe: https://www.facebook.com/ciadotijolo/.

Poderia discorrer mais e mais sobre os maravilhamentos proporcionados por uma peça, onde o público interage com os atores, todos no palco, lado a lado e depois conversam, dialogam, ajudam a decifrar o enigma de Lorca, tudo feito em conjunto. A intenção aqui foi a publicar as fotos tiradas ontem, mostrar o que se perdeu não indo até o teatro e espiando pessoalmente, in loco quando algo assim aporta por Bauru. Volto aos prefeitáveis e vejo faltando quatro dias para o pleito. Deixo novamente no ar, a falta de interesse dos políticos (ou de boa parte deles, ou mais, parte significativa) em espiar, ou melhor, entender a Cultura. Essa sempre está relegado a um plano inferior dentro das campanhas e, consequentemente, dentro dos Governos.

Encerro esse escrito com um trecho de fala de uma pessoa do ramo, o diretor regional do SESC em São Paulo, DANILO MIRANDA, sobre essas coisas de Cultura e Política não se bicarem, em entrevista publicada na revista Brasileiros, edição nas bancas bauruenses, outubro 2016 “Não existe esse convencimento efetivo por parte da nossa elite dirigente de que a educação e a cultura são fundamentais para que o País melhore, cresça e se desenvolva no sentido pleno e não puramente no desenvolvimento econômico. Porque o desenvolvimento econômico sozinho não é efetivamente adequado, como também pode gerar ais problemas ao só quere melhorar a infraestrutura, só o material, o econômico. A gente precisa melhorar a condição da felicidade das pessoas, e aí que eu falo do bem estar social. Essa cultura é a tradução do que interessa para as pessoas”.

Mas vai colocar isso na cabeça deles, os nossos candidatos. Missão impossível.

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