sexta-feira, 21 de outubro de 2016

RETRATOS DE BAURU (193)


CHICO DEMOLIDOR COLOCOU ABAIXO BOA PARTE DESSA CIDADE
Conheci ontem, ou melhor revi, após longo tempo sem botar os olhos nele, um atarracado senhor, que me reconheceu e logo ao meu ver foi se lembrar de algo passado, acredito que lá no distante 2006 ou 2007, quando foi demolido o Hospital Salles Gomes (também conhecido por aqui como Banuth). Estive lá, com uma turma do CODEPAC, o Conselho Defesa do Patrimônio, que presidia e ele, com uma memória de elefante, reavivou minha memória. Ele estava lá a demolir aquela edificação e eu, buscando resgatar algo, mas tudo já estava irremediavelmente perdido. Conto a história desse senhor, algo tão envolvente, que certamente daria um livro. Por hoje fico nessas poucas palavras.

FRANCISCO BELISÁRIO CORDEIRO, 61 anos é o famoso CHICO DEMOLIDOR. A segunda denominação foi juntada ao seu primeiro apelido, pois após mais de 34 anos só botando abaixo edificações dos mais diferentes tipos, foi normalmente incorporada e aceita. Sua história em Bauru remonta o anos de 1977, quando aqui aportou vindo Ceará, sua terra natal. Por algum tempo foi vigia no IBC – Instituto Brasileiro do Café, tomando conta de tudo por lá com seus olhos de lince e por mais de duas décadas atuou como vigia na Receita Federal. Em 1982, não se esquece mais, convidado por Dolírio Silva fez para ele a demolição de uma casa, pegou gosto e seguiu em frente, pegando experiência e fama. Não mais parou e passado esse tempo todo, hoje muito brincam ao vê-lo: “Eis quem bota essa cidade abaixo”. Homem de poucas palavras, muito observador, contido, comanda uma equipe de pessoas próximas dele, nesse serviço bruto, onde pega a empreitada de botar tudo abaixo, depois vende o que coletou, para remunerar os seus. Continua do mesmo jeito que começou, pagando as contas, mas sem sobrar muita coisa disso tudo. Hoje mora num terreno numa beirada de vila, na Nova Esperança, passando o viaduto dos trilhos férreos e virando à direita, em um local todo remontado com madeira advinda das demolições. Anda com suas roupas todas amassadas, mas mantendo algo que o guia a vida inteira, a integridade. Parando para conversar, ele vai desfiando o rosário e as peripécias de tantas demolições: Casa Rasi, Pernambucanas, Bradesco, casas nobres e menos nobres, redutos chiques e menos chiques, tudo posto abaixo com a força de sua marreta.

Vivências feitas de “sangue, suor e lágrimas” são revividas aqui no www.mafuadohpa.blogspot.com

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