sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017
MEMÓRIA ORAL (207)
SEXTA É DIA DE PEGAR MAIS LEVE, POIS A MÃE DO RALINHO JÁ CONSEGUI INTERNAÇÃO E ATÉ A CHUVA DEU UMA TRÉGUA CONTO ALGO DE UM SHOW AQUI OCORRIDO NO SESC E NA QUARTA PASSADA, REVIVAL COM HENRIQUE ROSA
Quem é do cenário musical bauruense, algo em torno de aproximadamente uns vinte anos atrás (Será tudo isso? Mais ou menos?) com certeza conhece Henrique Rosa. Pois bem, o danado ao perceber ser Bauru pequena para embalar seus sonhos bateu asas e foi ser gauche na vida. Deu voltas pela aí e se fixou não tão longe de sua Piratininga e também de Bauru. Enfim, Piratininga e Bauru são quase a mesma coisa, uma embalando os sonhos doutra. É um tal de um aprontar ali e se esconder aqui e vice-versa. Rosa cantou e encantou por aqui junto de uma pá de gente de responsa e toda vez que anuncia vir ter com os de sua aldeia, muitos aparecem. Dessa vez tudo ocorreu lá nas hostes do SESC e da reunião de antigos músicos, alguém ao final da contenda musical disse acertadamente: “Se soltassem uma bomba aqui e agora, boa parte da música bauruense teria fim”. A bomba não vingou.
Os amigos músicos bauruenses são acolhedores e nos reencontros surge de tudo. Abreuzinho (quem não se lembra do Abreuzinho, filho do dr Abreu, o médico de todos lá de Pira?) estava num contentamento de dar gosto. Ria a cântaros e num certo momento se enlaçou ao Paulinho Saca (foi difícil separá-los) e disse mais ou menos isso, gravado num vídeo para não me chamarem de mentiroso: “Eu sou a pele mais fina do saco desse aqui. Amo ele”. Sinceramente, não sei se isso tudo vai dar em casamento, mas o Saca ficou um tanto tocado. Encontros e reencontros como esse se davam a todos instante do lado de fora do palco, enquanto Rosa e sua banda arrasava corações e matava muitos de tardia saudade. Num sofá do lado esquerdo do palco, bem ao lado do bar, muitos se revezavam, ao lado de Ralinho e sua Cláudia. O percussionista Nem foi um deles, pois tocou com quase todos por ali. O ilustrador Fernandão conversou de montão com o guitarrista Carlão.
Não quero ficar aqui enchendo linguiça. Conto só algo bem rápido. Cada um dentre os muitos por lá deve ter muito mais histórias junto do Rosa do que as minhas. Eu quase não assisto o show, foi por pouco. Chego atrasado, depois das 21h30 e os portões já fechados. Os seguranças não me deixaram entrar. Não sou dado a dar carteiradas (nem tenho cacife para isso), nunca faria isso, mas abro a carteira e tento me dizer jornalista, até mostro minha surrada carteirinha, naquele momento de pouca valia. A situação estava incontornável, mas eis que chega por ali, também atrasada, a bela loira Lizete Agnelli. Disse a ela em voz baixa: “Tente tu, pois eu não consegui entrar”. Quando ela ia jogar aquele charme para cima do porteiro, eis que vem lá de dentro outro segurança com a notícia de que naquele dia o horário máximo de entrada foi estendido para 22h. Deve ter ocorrido algo em quem nos via pela câmera de segurança, claro, só por causa dela, não desse careca e ainda por cima mafuento. Adentramos e diante de nós aquela imensidão de gente saída das catacumbas bauruenses, ops, digo, essa imensa legião de bons músicos e amigos variados e múltiplos, gente a enaltecer essa terra dita “sem limtes” muito fora dos seus territoriais limites.
Como tentava dizer, cada um tem histórias mil com esse meu xará. A minha é das mais simples. Não sei tocar nem caixa de fósforos, mas sempre gostei de música e conheço uma pá dessa gente que toca e canta em Bauru. Fiz boas amizades com todos. O Rosa eu conheci no antigo O Braseiro, lá na Duque, que foi de meu cunhado, o Paulão e da mana Erci. Muita gente tocou por lá e esse só um dentre tantos. Mas o Rosa marcava presença por onde posava e acabei o vendo em vários outros lugares. Acho até que ele vai se lembrar de outras tantas histórias e pode enriquecer esse escrito. Eu estou ficando um tanto gagá e minhas lembranças estão se dissipando com o passar dos anos. Preciso que me reativem o cerebelo, daí embalo. Ando tão esquecido que acabei comprando o CD dele e, é claro, já o tinha, comprado num sebo, num lugar que se contar nem ele acreditará, na vizinha Marília. Agora tenho dois e para quem quiser, empresto um, o sem o autógrafo, mas só com promessa de devolução.
Durante a semana passada passei lá pelo Templo Bar, para ver a apresentação de dois diletos amigos lá cantando e ao final, uma conversa sobre esse outro dileto amigo em comum. Foi com Audren Ruth e Marquinho Wanderely. Esse parou de comer (é sabido que o Fernando fornece um regabofe de responsa aos músicos no final das apresentações) e cantarolou uma do repertório dele assim na capela, de memória. Audren lembrou outras histórias. Ou seja, a imensa maioria tem coisas e causos envolvendo esse danado. Sim, ele foi e deve continuar danado, pois sua carinha não consegue esconder isso de ninguém. E com aqueles cabelos encaracolados, deve, mesmo bem resolvido ao lado da mulher amada, continuar causando pela aí. Mas não é disso que quero escrever. Queria ter o poder de possuir um gravador mental e de tudo o que ouvi dele ali nos bastidores, na dita coxia, pouco consegui guardar. O efeito da cevada consome meu cerebelo e diante de tanta coisa lá ouvida, nada mais me resta além do aqui já escrito. Rosa, portanto, escapou de contar por esse internético meio, algo embaraçoso dos seus áureos tempos pela Bauru de umas duas décadas atrás, pois a memória me falha.
O que vale disso tudo, além do maravilhamento do reencontro e de rever essa gente toda com a música na veia, foi perceber que, para o gajo o tempo passa muito lentamente. Continua afiado e na ponta dos cascos. Cantando e encantando muito. Lembro aqui para encerrar algo que nem deveria fazê-lo, mas o faço como prova de termos que superar tudo, pois além das ideologias e da linha de pensamento de cada um, estão esses laços da aldeia onde vivemos e construímos algo em conjunto. Pois bem, no auge daquele pauleira entre tucanalhas e metralhas do ano passado, devo ter trocado palavras ásperas com o Rosa, ele pensando tudo de um jeito e eu doutro. Superamos aquele triste momento e até podemos voltar a conversar a respeito, mas ontem não, pois foi um dia musical. Foi um dia para ouvir “Samambaia”, “O Homem Magro”, Embrulho”, Vício”, “Borboleta”, “À Revelia” e tantas outras canções. Foi mais ou menos isso, se não me falha a memória.
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