domingo, 26 de março de 2017

RETRATOS DE BAURU (199)


FLÁVIO GUEDES E A GARRA DE CONTINUAR VIVENDO DE TIRAR FOTOS
Primeiro conto uma historinha envolvendo um personagem que nunca me sai da cabeça. Tenho alguma andança pelo Rio de Janeiro, desde os anos 90 vendendo chancelas e aproveitando a estada para sassaricar em shows e espetáculos variados. Conheci um senhor, engravatado, sempre nos trinques, circulando de show em show com sua máquina fotográfica pendurada ao pescoço e tirando fotos de nós, os pobres mortais ao lado de personalidades, artistas, políticos e afins. Não era um, eram vários. Um deles, relembro sempre. Certa feita, no show dos 50 anos do Aldir Blanc, no Canecão, ele tirou uma foto minha com o homenageado e me deu um cartão e uma numeração. Era a senha para localizar o seu flash. Era ligar, ele vinha te entregar a tal foto já revelada. Vivia disso, cidade afora, muitos o fizeram. Alguns resistem ao inexorável tempo.

FLÁVIO GUEDES é fotógrafo na aldeia bauruense e sempre viveu de algo no entorno do tema Fotografia. Sua família, os Guedes tiveram ali na Batista, quadra entre a Gustavo e a Rio Branco uma loja de especialidades fotográficas (rivalizou por décadas com a Cherry). Enquanto perdurou a maravilha do papel fotográfico ser levado para residências como lembrança, deitou e rolou. Com o advento da foto virtual, tudo se esvaiu. Flávio seguiu até quando pode e ao fechar as portas não conseguiu fazer outra coisa na vida. Sabe tudo de fotografia, todos seus meandros e possibilidades. Desde então (e já deve ter transcorrido mais uma década) se inventa e reinventa. Hoje, aos 58 anos, não se aposentou e continua na ativa. Mesmo todos tendo seu meio de fotografar, com maquininha automática ou celular, ele insiste e está na porta de inúmeros shows oferecendo seus serviços. Vive hoje mais do Society desta Bauru, faz seus flashes, anota o fone da pessoa e depois leva até eles as fotos revelados e chanceladas com seu nome, o único meio para tentar diminuir a reprodução imediata pelas redes sociais. Simpático, conversador, sensato, bom observador, ágil e fagueiro, Guedes toca seu barco e tenta se manter numa atividade, se não extinta, em vias de, a de fotógrafo de eventos. A atividade é mais do que justificável, pois a imensa maioria das fotos tiradas hoje em dia são sofríveis. As dele não, mantém algo aprendido e colocado em prática ao longo de muitas décadas, passadas de pai para filho. Ele possui todo meu respeito e consideração, cobra o justo, pois faz um trabalho verdadeiramente profissional.

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