segunda-feira, 3 de julho de 2017
BEIRA DE ESTRADA (80)
GRIFFES DA ZONA SUL SÃO DE FUNDO DE QUINTAL – CADÊ AS FABRICAS? Quem circula pela abastada Zonal Sul da cidade de Bauru se depara com inúmeras grifes regionais famosas. Para o leigo, por detrás de cada uma delas existe uma fábrica, com funcionários devidamente registrados e amparados pela legislação trabalhista ainda em vigência (por quanto tempo, hem?). Ledo engano. A imensa maioria não possui fábrica alguma, muito menos funcionários registrados e fazem uso de uma vertente muito em voga nos tempos atuais, a da terceirização da mão de obra. Ou seja, a precarização é a regra. O esquema é o seguinte. Espalhadas pela periferia da cidade, uma legião de eficientes costureiras, dessas que fazem de tudo, todas com equipamentos próprios e trabalhando sob encomenda, ou seja, os proprietários das tais grifes as contratam, na maioria com contratos de boca, deixam remessas de peças e cada uma faz o serviço designado. Umas cortam, outras costuram, outras aplicam detalhes como silk screen, bordados e outros adereços, como a própria fixação da etiqueta da loja. Verdadeiro corre-corre de um lado a outro, cada um cumprindo prazos e se esforçando para agradar tão chique e criteriosa clientela.
Certo isso? Espalhado pelo mundo dito moderno, algo desta natureza, onde passou a ser normal fazer uso de mão de obra sem registro, sem nenhum tipo de obrigação fiscal e trabalhista. A isto é dado o nome de eficiência empresarial, uma forma criada por eles para ir driblando a legislação existe e, é claro, auferindo mais e mais lucros com seus negócios. Na ponta de tudo, as costureiras, trabalhando em suas próprias residências e contribuindo com a Previdência Social se assim o conseguirem, mas nunca pelos que lhe trazem serviços a executar. Ou seja, se não ficou mamão no mel, o peso dos encargos não mais existe sobre quem as contratam. Conheço várias nessa situação e algumas, já se sentido donas de um negócio mais que próprio, chegam a reterceirizar o trabalho, pois não dando conta de fazerem o combinado, contratam outras em ainda pior situação. Se forem perguntar a essas, se encolhem, pois ainda são procuradas e possuem o que fazer, diante de algo, que segundo elas, poderia estar até em pior situação. Ninguém se atreve a mostrar o rosto, pois perderão todos os serviços no mesmo dia.
A fiscalização deve ocorrer, mas deve estar com os dias contados, pois dentro da nova mentalidade sendo já calcificada na mente de todos, isso faz parte de um mundo em transformação e tudo a partir de agora deve seguir parâmetros mais ou menos idênticos. Segundo ouço sendo repetido como mantra nos dias de hoje, a concepção do trabalho mudou e tudo à sua volta necessita mudar. Para mim, tudo muito simples, alguém está driblando as adversidades e obtendo mais lucros e outros se fragilizando cada dia mais. Quem perde e quem ganha com tudo isso? Se forem perguntar para, por exemplo, o presidente da FIESP, Paulo Skaf, isso de férias, 13º salário, horas extras, piso salarial e até mesmo contrato registrado de trabalho são coisas do passado, pois o país precisa avançar e dar um passo a mais para se juntar à nações mais modernas do mundo. Bangladesh que o diga, com suas oficinas de costura aos moldes dos tempos da escravidão. Isso que ocorre hoje é um passo bem dado para esse estado de coisas. Grandes redes, lojas famosas nacionalmente fazem uso deste expediente e até de trabalho semiescravo. Se aqui por Bauru não vemos os bolivianos trabalhando clandestinamente em oficinas clandestinas, temos essa situação, plenamente tolerada e dita como algo sólido e a ocorrer para projetar as grifes locais, fazendo com que o preço do produto cai quando chega ao ponto de venda. Balela para boi dormir.
Isso é só o começo e se forem perguntar para todos os donos dessas grifes, notem o mesmo discurso na boca de todos: “A corrupção deste país é mesmo algo alarmante”. Durma-se com um barulho desses...
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