sábado, 8 de julho de 2017

DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (144)


CLAMORES

“Olá Como está? Estou desempregada. Há três meses consegui trabalho como secretária. Mas devido a situação financeira fui dispensada. Passo passar roupa pra vocês?”.

Chego das ruas e a primeira mensagem que leio em meu computador é essa. Venho de uma conversa das mais injuriantes. Uma baita amiga teve uma irmã acometida de espécie de AVC, está prostrada na cama, morta viva, já coisa de um ano. Vegeta e tem um filho. Histórias e mais histórias de tratamento bancado pela família, depois alguns pulam fora, até um bem próximo, que estava com imposição judicial de arcar com algo mensal, mudou repentinamente, esvaziou a casa e sumiu, tudo para não arcar com os compromissos. Ela e o namorado ali na lida, fazem de tudo para arcar com tudo, indo muito além do que a irmã recebe pela aposentadoria por invalidez. Internada numa clínica, tudo o que recebe ali vai e mesmo assim, os medicamentos e cuidados exigem mais e mais. Com a continuidade da situação até as brigas familiares aumentam de tom, desagregam e na desunião, tudo se torna mais difícil. Neste final de semana, essa baita amiga estará na feira vendendo rifas para ver se consegue suprir pelo menos o necessário para o que já venceu. Estará também oferecendo um pacote de três pasteis por um preço razoável.

Eu sentei com ela, pensamos juntos e saio de lá prostrado, sem encontrar uma solução. Outros amigos já lá estiveram e saíram na mesma situação. Comprei uns poucos números de rifa e não consegui dar outro tipo de ajuda. Chego em casa e essa outra, também no desespero se oferece para passar roupa em casa. Eu tenho minha vizinha, desempregada há mais de um ano e não tenho como deixar de continuar deixando ao seu encargo as poucas funções domésticas do mafuá. Com Ana Bia se dá a mesma coisa. Tem uma fila de gente na espera, se oferecendo a cada dia para fazer a faxina, antes quinzenal, hoje mensal. Noutro dia, um jovem rapaz, depois de tanto bater cabeça, resolveu entrar no ramo das faxinas. Deu-se bem no início, pois homem, podia até fazer algo mais pesado. Hoje reclama, pois sua agenda que antes estava lotada todos os dias da semana, hoje não tem mais ninguém. Quando o encontrei dias atrás me disse: “Não tenho nem como me deslocar para atender alguém que me chama. Outro dia foi assim, do outro lado da cidade, horário marcado, precisando como nunca e não tive como chegar lá. Perdi e naquele dia nem comi direito”.

Na feira o Barba reclama da queda do movimento em seu bar dominical. “Quem gastava vinte, hoje gasta cinco e outro dia ouvi de um feirante algo muito triste, que ele havia ganho no dia não dava para pagar nem metade do que gastou com ele, e olha que foi pouco”. Na saída do mercado, o casal com o filho no colo, me pede uma caixinha de leite e lhe dou as duas que havia comprado. Queriam me contar sua história, mas nada podia fazer além do que havia feito. A dona do restaurante aqui perto de casa, um bem simples, diz que todo dia um senhor senta do outro lado da rua e ali fica só olhando para lá, cheirando o que sai pela chaminé do lugar. Ela, a dona, não aguenta e está lhe levando algo para comer e ele dias atrás lhe disse: “Não vou ficar muito tempo vindo lhe pedir, viu! Eu só queria trabalhar e poder levar comida pra casa”. Batem no meu portão, era um desempregado da Ajax vendendo sacos de lixo: “Só hoje somos mais de vinte, espalhados pelo jardim Bela Vista. Foi a saída, não está fácil”.

Mas será mesmo a saída? Se é que ela existe...

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