quinta-feira, 27 de julho de 2017

RETRATOS DE BAURU (203)


VANDERLEI, O PORTUGUÊS, FERROVIÁRIO SEMPRE EM ESTADO DE ALERTA
Ontem mais uma lição. Conto primeiro dela e depois descrevo quem a propiciou. A luta a favor do trabalhador é sempre cheia de encantos mil. Dos desencantos e decepções é melhor nem tocar, para que a decepção com esse mundo não exceda os limites do tolerável. Lá ontem no embuste que foi a expulsão do Paulinho, do antes de luta Sindicato dos Bancários mais uma lição entre os presentes ali na calçada e conclamando sua solidariedade para o sindicalista ferido pela traição. Um senhor, aposentado tempos atrás, sem acesso às redes sociais, toma conhecimento do fato pelo boca a boca e faz o que sempre fez a vida inteira, me diz numa conversa informal, para lá se dirigiu e foi prestar seu apoio de companheiro para outro igual a ele. Não era bancário, mas de luta e também segundo me diz: “Como não atender a um chamado desses e deixar de vir defender um irmão na luta e precisando de apoio e solidariedade? Vim e me coloco à disposição para a luta”. Comovente vê-lo falando sobre isso de não conseguir permanecer em casa quando um igual a ele está em perigo.

VANDERLEI é ferroviário da hoje extinta Noroeste do Brasil. Lá na lida o chamavam de PORTUGUÊS e o apelido o acompanha desde então. Suas histórias de resistência, greves, trabalho madrugada adentro e a luta inclemente por melhores salários para sua categoria e todas as demais é dessas que te faz sentar e ficar ouvindo, lições de uma vida inteira, contadas por quem sempre foi protagonista da história. Bauruense, mas deslocado pelo Sindicato dos Ferroviários, atuou por décadas no trecho férreo entre Três Lagoas a Campo Grande, no Mato Grosso. Percebe-se ser desses, sem muita teoria, mas com a prática e a sapiência de saber muito bem o lado onde deve estar e se posicionar. Desses que não muda de lado nem que a vaca tussa. Um bravo, na acepção da palavra. No ajuntamento de gente a defender Paulinho, quando da montada artimanha que o defenestrou do Sindicato, lugar onde atuou uma vida inteira, de forma íntegra, soberana e altaneira, lá estava Português, desses que, para ali se dirigiu, sem necessidade de ser convocado, pois isso para ele é algo inerente à sua linha de pensamento e ação. Vem e está sempre em lugares assim por pura convicção. Quando ficou sabendo, também já conhecendo o Paulo, imediatamente deixou tudo o mais de lado e foi lá se juntar a outros com a mesma disposição. E quando ocorreu um confronto, não arredou pé e com seus 70 anos, se postou na linha de frente. Levou um esfregão no braço e permaneceu sangrando por bom tempo, mas dali não saiu até sua missão estar terminada, ou seja, ficou até o fim, um dos últimos a ir embora. E assim foi, é e continuará sendo sua vida, construída na luta, perseverante e altaneiro, desses briosos, que qualquer um encara e sabe ser dos inflexíveis. Hoje, quando enalteço a resistência da qual participei de forma modesta ontem, ressalto ele, alguém a dignificar qualquer luta. Se todos fossemos como ele não levaríamos golpes e mais golpes nos costados.

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