sábado, 2 de junho de 2018

CHARGE ESCOLHIDA A DEDO (134)


A CRUELDADE SERÁ A TÔNICA DOS PRÓXIMOS TEMPOS – CONVERSA COM UM MÉDICO LOCAL
Laerte é o máximo, pois diz tudo numa charge. Eu tento com mil palavras e nem sempre consigo.
Estou tendo essa certeza a cada NOVO contato com os ditos “forças vivas” (termo utilizado aqui em Bauru para designar os próceres defensores das leis de mercado e do capital como única saída). Minha última conversa foi com um dos meus médicos (tenho vários, a saúde anda claudicante). Um senhor de meia idade, sorriso maroto nos lábios, jeito de quem amealhou ao longo da vida o suficiente para falar do alto de um pedestal, onde a maioria desses se arvora em olhar para os debaixo e deles fazer referências sem nenhuma complacência. Falávamos sobre como enxergam o mundo de hoje e o de amanhã. Conversa mais que reveladora e a demonstrar como deve ser a linha de pensamento neoliberal daqui por diante:

- Você sabe, meu caro, daqui por diante, acabou isso de beneficiar as classes menos favorecidas, as massas como vocês dizem. Está esgotada essa possibilidade. A tecnologia no campo da saúde atinge níveis tecnológicos nunca vistos. Você consegue detectar um câncer, por exemplo, no interior do corpo humano e levar até ele um micro robô, mais fino do que um fio de cabelo. Ele chega lá perto da célula ruim e a consome, destrói. Isso é fantástico, revolucionário, mas entenda, isso não é e não será para todos. Esse mundo, o das facilidades tecnológicas só beneficiará uma parcela da população e não a todos. Tenha isso bem claro.

- Mas o que fazer com o excedente da população? Com tudo robotizado, o ser humano não terá mais emprego e sem renda, como sobreviverá?
- Eu vejo que esses serão mantidos cada vez mais com algo bem simples, pão e circo. Mais e mais futebol para os entreter, eles adoram essa polêmica criada pela rivalidade e o fazem ficando no canto a eles reservados. O ócio criativo não foi pensado para eles, pois não sabem o que fazer com ele. Vão se esfolar entre si, como você viu na cena do posto de combustível na greve dos caminhoneiros, brigando para encher um galão de dez litros. Vão ter cada vez menos educação, menos entendimento, mais religiosidade e no conjunto da obra permanecerão contidos, isolados desse mundo do lado de cá.

- Uns terão tudo e outros terão nada, então não existirá outra saída? Igualar impossível, muito menos diminuir a pobreza?
- Isso já está decretado, sacramentado. O tempo de governos como os de Lula, Chávez, Nestor Kirchner, Evo, Mujica já acabou. Os tempos são outros e o conjunto nobre da sociedade tem como missão estancar qualquer novo avanço. Não será mais permitido pela via legal a chegada de qualquer desses líderes ao poder. Eles vão desequilibrar a balança e ao pender para atender seus clamores, o outro lado, o que impulsiona uma nação, as suas forças capitais, esse perdendo força, o país patina e quando não enquadrado no mesmo padrão dos grandões do mundo, estará alijado de tudo. Isso de atender as necessidades do povão onera demais o orçamento de um país e fazendo isso, não tem como o país acompanhar o ritmo do mundo hoje. Ou faz uma coisa ou outra. Não é que eu pense assim, mas é que tudo hoje é assim, é aceitar ou aceitar. Os bolsões de pobreza, imensos conglomerados humanos, tipícos em lugares remotos como na África, podem ser resolvidos com guerras. Ou eles se digladiam entre si ou como Israel faz, com um botão, acionado por três ou quatro pessoas se destrói milhares de uma só vez. Já é assim, você que não quer enxergar.

- Ações coletivas, feitas para um todo não serão mais possíveis?
- Possíveis até são, mas não serão mais viáveis. Ou se faz uma coisa ou outra. Nesse momento, o político neoliberal não pode estar com os pés em duas canoas. Sendo cordial ele vai afundar a embarcação e se o fizer, perderá o poder e os populistas retomarão o poder. Chegamos num ponto onde é impossível o retorno ao passado e todo aquele que claudicar e tentar tomar qualquer atitude possibilitando essa volta, será perseguido e massacrado. Não vai ser mais permitido ser bonzinho. Voltamos para a saúde, a sua inclusive, você veio aqui para ser atendido por um plano de saúde privado. Esse plano me paga uma miséria e essa saúde que eu lhe disse, essa de ponta, você não vai conseguir usufruir dela através de um planinho desses. A solução dos problemas de saúde do ser humano são possíveis de serem solucionados, mas isso tem um custo e repito, será cada vez mais para poucos. Um plano de saúde como o seu vai ser, no máximo, para ir remediando sua situação, nunca para solucionar, pois para isso vai ter que colocar a mão no bolso e gastar muito. O que é bom custa caro, muito caro.

Eu não discuto mais. Queria era isso mesmo, aprofundar o debate, ouvir mais, querer entender o que se passa na cabeça dos que estão hoje dominando o cenário mundial. Esse o pensamento dos mandachuvas das corporações, dos grupos financeiros, dos próceres do pensamento ideológico neoliberal. Diante desse quadro, ciente de como agem e o farão daqui por diante, se faz necessário uma nova estratégia para reverter o quadro. Algo eu subtrai da conversa: a possibilidade de diálogo acabou. Daí...

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