terça-feira, 26 de junho de 2018

DIÁRIO DE CUBA (98)


MAIS UM AMIGO EM DIFICULDADE – QUANTOS NA MESMA SITUAÇÃO*

* Em Cuba não tem disso não.
Jornais estampam que o país volta aos poucos à normalidade. A TV não mostra o caos instalado junto ao povão, mas ressalta sempre o “esforço” dos atuais governantes em dar a volta por cima na crise. No rádio a mesma ladainha, mostrando um país que não condiz com a realidade das ruas. Isso tudo rolando recebo uma ligação de dileto amigo de uma cidade de médio porte também no interior paulista, quase do mesmo tamanho que Bauru, algo como um pedido de socorro. Está vendo sua situação por lá cada vez mais complicada e me pede abrigo para passar uns dias no mafuá, quando sondaria as possibilidades de aqui se instalar. Não vê mais condições de continuar dando murro em ponta de faca onde reside e quer tentar outros ares. O que dizer para ele? Como não o incentivar a continuar tentando, mesmo diante de todas as adversidades, as possíveis, as impossíveis e as inimagináveis?

Ele chega e permanecerá por uma semana nos aposentos do mafuá. Dói o relato de como se dava suas relações de trabalho, seus ganhos num passado não tão remoto e as portas todas irem se fechando, uma a uma, com uma hoje estagnação quase absoluta. Literalmente tira leite de pedra, mas não está mais sabendo como fazê-lo daqui por diante. Juntou uns poucos caraminguás e veio ver se em Bauru poderá encontrar algo novo. Desde sua chegada o vejo estudando todas as possibilidades que se apresentam e em cada novo contato, não posso desencorajá-lo de insistir, pois não encontrando uma saída, restará a pior, voltar para sua cidadezinha natal e morar com a mãe, que lhe dará o pouso até o momento de uma provável reabilitação.


No domingo o vejo logo cedo com o Jornal da Cidade nas mãos e em busca dos Classificados. “Mas os Classificados de Empregos são só esses?”, me pergunta. Digo a ele, que assim como ele ganhava muito mais no passado, o jornal anos atrás tinha um caderno bem gordinho com Empregos, mas hoje é isso que está diante dos seus olhos, uma mera página. Explico que, o mesmo jornal antes tinham centenas de funcionários na sua redação e na empresa, mas hoje estão trabalhando com um quadro dos mais resumidos, já tendo suprimido a edição de segunda e muitos cadernos continuam circulando agrupados. A mesma dificuldade sentida por ele, com tudo se fechando diante dos seus olhos, ocorre com o jornal daqui e tudo o mais. Essa a realidade, sem tirar nem por.

Ele ouve tudo e sabe que não pode desistir, nem desanimar, pois se o fizer estará num “mato sem cachorro”. O vejo efetuando gastos muito contidos. Pede indicações de restaurantes com preços bem baratos e ontem, quando foi numa entrevista na vila Falcão, o fez a pé, ida e volta. Contém os gastos em tudo. Sofro junto dele, pois ao vê-lo nessa busca por uma saída, penso no meu negócio, no que faço para obter renda e saldar meus compromissos. Como eram mais fáceis tempos atrás e como foram reduzidos nos tempos atuais. Sou obrigado a me desdobrar, descobrir atividades variadas para tentar continuar conseguindo algum. O faço, mas não são nem sombra da renda que tinha no mínimo uns cinco anos atrás. Com ele se dá a mesma coisa.


Não existe como acreditar em algumas manchetes apregoando a reação dos empregos no momento atual. Uma grande falácia para nos enganar. A dor que sinto em vendo tudo o que as ruas me mostram de crueldade sendo praticadas por um insano desGoverno Federal, com a conivência da mídia massiva, do Judiciário, do mundo político e das instituições, cresce o desalento. Abrigo o amigo que, se não em desespero, perto disso e querendo investir o pouco que lhe resta num negócio novo, numa cidade diferente, ares renovados. Sentados ontem na cozinha do mafuá ele me dizia do que já viu. Ouço e quero ajuda-lo, essa minha intenção. Não posso deixa-lo investir o que lhe resta em algo que não dará certo. Mas o que vai dar certo ou errado? Olho para sua expressão e juntos, nessa troca de olhares, ambos estamos cientes do Brasil que tivemos um dia e do que temos hoje, deixamos escapar nos dedos. Até quando vai perdurar o padecer de tudo, todas e todos? Que posso fazer além disso?

Ele se vai nos próximos dias e irá tomar decisões importantes em sua vida. Não posso fazer nada além do que faço e esse LAMENTO aqui descrito é feito para que não nos enganemos sobre os algozes de hoje e suas maldades para conosco. Não nos esqueçamos estarem esses destruindo um outrora soberano país. Destruindo o país, seu povo vai na mesma trilha. O exemplo vivenciado nesse texto se repete por todo lugar.

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