domingo, 3 de junho de 2018

MEMÓRIA ORAL (225)


O BAURUENSE DOIDO PARA CONHECER PELÉ – O SONHO DO CHICO É LEVAR SUA COLEÇÃO PARA O REI E CONHECÊ-LO DE PERTO*
* Algo desses intrépidos colecionadores e o que os move a vida inteira, sempre na busca da peça ainda não conseguida e das peripécias para conhecer a pessoa alvo da realização de um sonho.

Colecionadores juntam de tudo, cada qual ao seu modo e jeito. Elas existem nos mais variados e múltiplos motivos e movem vidas. Quem inicia alguma coleção, quando menos espera está envolvido em algo pelo qual o move mais que tudo. Com José Francisco Bartolomeu, o Chico, tratador de piscinas ocorre exatamente. Tenta tocar sua vida normalmente, mas desde ter iniciado uma coleção com objetos relacionados ao rei do futebol, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, sua vida se transformou para algo além dos objetos juntados ao longo dos anos, hoje estando resumido no sonho de conhecer o ídolo pessoalmente.

Começou tudo despretensiosamente, com algo aqui, um álbum de figurinhas aqui, uma camisa do Santos, outra da Seleção, fotos e quando se deu conta, além das centenas de peças, todas ocupando um espaço considerável em sua casa e algo pelo qual não consegue mais dar um breque. Mostra peça por peça e em cada uma delas uma história própria de como foi conquistado o troféu, pois é exatamente dessa forma como considera cada peça juntada à coleção.

Mostra um quadro com uma matéria que o Jornal da Cidade fez com ele e saiu publicada em sua edição de 12.03.2012, o “Relíquias de Pelé”, onde além de tudo o que havia juntado até ali, já acalentava o sonho de conhecer Pelé pessoalmente. Começou logo depois a visitar regularmente a cidade de Santos, onde descobriu o endereço da empresa Pelé Promoções e Eventos Ltda, na rua Riachuelo, centro daquela cidade e de tantas idas e vindas, foi conhecendo os funcionários e ali deixava seus álbuns, fotos, revistas, livros sobre Pelé e os pegava um mês depois, todos devidamente autografados. Fez isso seguidas vezes e diz: “Isso valorizou muito a coleção, pois tudo o que juntei de papel e podia ter a assinatura do rei, eu deixava lá e passava buscar. Para mim são todas muito valiosas”.

Espalha sob uma mesa as muitas camisas conseguidas, algumas em especial, como a Anti-Racismo da Nike, que um amigo lhe trouxe dos Estados Unidos, algumas do Santos e outras da Seleção. “Não consegui achar uma do BAC, o Bauru Atlético Clube, onde começou a jogar com menos de 17 anos e daí mandei fazer uma, levei para bordar igualzinho a uma original e ele a autografou”, conta Chico. Mostra também uma bandeira da Copa de 1970 e uma camisa também única, tendo de um lado a cor amarela da Seleção e do outro a vermelha do Noroeste.

Em sua casa, ocupando quase todo um cômodo, estão muito bem guardados todos os objetos, em armários, caixas e pendurados num guarda-roupas, tudo devidamente catalogado e recebendo cuidados especiais. “Tenho também muitos quadros, todos bem acondicionados. Não me descuido de nada o tempo todo. Poucos têm acesso a tudo o que fui juntando. Só deixo tocar na minha presença. Nem sei qual vai ser o destino disso tudo no futuro, mas sei que não foi fácil conseguir tudo o que consegui. Foi um trabalho de duas décadas de pesquisa e dedicação”, resume ele sobre o espírito que o move.

Durante um bom tempo enviou seguidas cartas para todas as emissoras de TV e entristecido conta que nenhuma lhe respondeu. Achava que poderia levar tudo para ser filmado e daí conseguir sensibilizar o rei para lhe conhecer pessoalmente. O intento ainda não foi concretizado e agora, ciente da saúde do ídolo estar um tanto abalada, volta à carga e liga novamente para Santos, onde a secretária do escritório lhe promete estudar com carinho algo de um encontro, mas somente para depois da Copa do Mundo.

Espera dessa vez conseguir sensibilizar o rei do futebol, pois segundo gosta de enfatizar, não quer ficar enchendo muito a sua paciência, quer somente conhece-lo, levar algo do que juntou para ele ver, apesar que muita coisa Pelé já teve em mãos quando dos autógrafos na sede do seu escritório. “Quero realizar meu sonho, o de toda minha vida. Coleciono tudo o que se refere ao Pelé. Tenho uma medalha do ano 1938, do cara que o descobriu para o futebol, Waldemar de Brito”, relembra e assim o faz a cada instante. Em cada nova lembrança de alguma peça significativa, faz questão de ressaltar sua importância. Faz o mesmo para um álbum de figurinhas com os craques da Copa de 1958 e onde o destaque é, como não poderia deixar de ser, Pelé.

Chico quer muito realizar esse sonho e para tanto, procura ajuda em todo lugar onde estejam dispostos a escutá-lo. Ligamos juntos para Santos e ele se enche de esperança com a promessa de algo para depois da Copa. Se segura nisso, seus olhos brilham e já faz planos de como irá para Santos, quando for chamado para o encontro de sua vida, o que irá levar. Prepara-se em todos os detalhes e treina o que irá dizer para Pelé quando diante dele e nos poucos minutos que, sabe, terá quando esse dia chegar. Enquanto o dia não chega, pede para um fazer uma matéria, outro escrever uma carta, mais outro através de um amigo em comum fazer um contato e assim seu sonho vai sendo levado adiante até sua realização. Sonhadores aão assim, movem moinhos.

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