quinta-feira, 21 de junho de 2018

RETRATOS DE BAURU (215)


DAMIÃO COM SUA INCREMENTADA BICICLETA ALEGRA AS RUAS DA CIDADE
Paro no sinal e uma moça simples me entrega um folheto de revenda de carros. Lá o último lançamento, um que custa a bagatela de R$ 200 mil reais, fora a manutenção. Ao meu lado, vejo um senhor passar com um galão nas mãos e seguindo cabisbaixo em direção ao posto de combustível. Com certeza vai gastar algo além do que pode, tudo para manter rodando seu meio de locomoção. Sigo em frente e na Baixada do Silvino eis que encontro alguém a me alegrar o dia. Barra das calças amarradas por um saco plástico feito cordão para não enroscar no cilindro de sua “magrela”, alguém com um sorriso a me fazer ganhar o dia. Paro tudo, o abordo e aqui conto algo de sua história. Assim como ele mudou o meu dia, espero que mudem o de muitos vendo algo no horizonte descolorido, insosso, inodoro e insípido do mundo atual. Sempre existirá algo para nos ajudar a reverter o desânimo, eis um exemplo.

DAMIÃO DE OLIVEIRA BARRETO, 56 anos, mora na Pousada da Esperança e diariamente cruza a cidade, ida e volta, mais de 8 km, até seu local de trabalho, a sede da editora Edipro (a da Jalovi) na rua Primeiro de Agosto, circulando e pedalando sua incrementada bicicleta, seu meio de locomoção. É porteiro há 22 anos e nesse tempo todo fez muito pouco uso do ônibus circular, pois circula mesmo é com sua potente “magrela”. O que chama a atenção é como foi ao longo do tempo a transformando numa peça colorida e chamando muito a atenção por onde passe. Fui lhe perguntar como tudo começou? Religioso, diz ter “sido um projeto divino, dos céus. Ele me deu a inteligência e eu a usei”. Ele a adesivou com logomarcas de várias empresas, uma ao lado de outra, numa composição tipo a dos parangolés do Hélio Oiticica ou mesmo as peças do Bispo do Rosário e assim as expõe à visitação pública, advinda dos olhares a ele dirigido pelas ruas. Em cada nova abordagem, explica em detalhes cada colagem e do que vai juntando, do gosto por embelezar aquela que o leva cidade afora e como produz com esmero a manutenção do aparato. Nas horas vagas, numa oficina em sua residência ainda encontra tempo para manter ativa uma oficina de conserto de guarda-chuvas, essa funcionando há 18 anos (pedidos podem ser feitos na portaria da Edipro). Um senhor de bem com a vida, fazendo algo que gosta, feliz por ter conseguido com o que fez, atraiar novas amizades, conversas variadas e dessa forma, não passar despercebido. Estampado em sua face um permanente sorriso, advindo das explicações nas abordagens. E na despedida, monta na sua possante, que diz custar mais de R$ 2 mil e segue seu caminho. Diz ter que sair mais cedo de casa todo dia, pois muitos o param e daí, com as conversas tem receio de chegar atrasado ao serviço.

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