DUAS HISTÓRIAS DO DIA DE ESTRÉIA DO BRASIL NA COPA DO MUNDO
1.) ACORDO DOMINGO E VOU REVER MEU AMIGO...
A rotina dominical passa pelo Gustavo Mangili. Ele é filho de outro amigo, o Claudio Vieira, dono da banca de jornais e revistas do Paulistão na Nações. Antes tiveram uma banca na Duque, quase esquina com a Gustavo Maciel e era ali que comparecia todo domingo pela manhã. O faço para ir buscar a revista semanal que faço questão de ler, a Carta Capital. Enquanto o pai hoje toma conta da banca lá na frente do Confiança da Falcão, o filho abre essa na Nações e aqui permanece durante o dia todo. Ele já me confessou que o negócio de revistas está em baixa e para não fecha-lo, inovou e o incrementou com uma charmosa tabacaria. O local atrai clientes variados, fumantes de toda estirpe. Vejo desde seda como fumo para todos os gostos. Tem até para o nargilê, aquele que todo mundo fuma na mesma embocadura. Sei que o Gustavo não abre tão cedo como pai fazia, daí chego sempre entre 8h30 e 9h. Sou um dos primeiros a levar a revista. Não saio do estacionamento enquanto não a folhear por inteiro. Minha rotina dominical.
Hoje pego o Gustavo abrindo a banca e carregando para dentro uma pilha de jornais, os mesmos que ele espera saírem de lá nas mãos dos clientes. Nesse período de Copa, me diz, apareceram alguns a mais, tudo pelo motivo do futebol estar dominando a cena. Tiro uma foto sua carregando a pilha e ainda com a olheira da noite mal dormida. Jovem, mesmo apaixonado pela companheira colombiana, não tem cara de quem dorme cedo. O conheço desde muito moleque, dos tempos que o pai vindo de Marília aqui aportou e nunca mais parou com esse negócio de vender revistas. Moravam ao lado da banca ali na Duque e até em festas na casa deles acabei indo, amizade nascida do contato com isso de frequentar bancas.
Tenho uma linda história com o Gustavo e já a contei num longo texto no Mafuá. Ana Bia Andrade, a companheira de todas as horas herdou a biblioteca do pai após seu falecimento e depois de muito tempo no meio dos livros, alguns foram vendidos para um livreiro de Araraquara. Mas como levar os livros do Rio de Janeiro para o interior paulista? O Cláudio me emprestou sua pick-up e fomos ao Rio eu e o Gustavo. Passeamos um pouco, lhe apresentei a cidade, circulamos pelos pontos turísticos e voltamos com ela abarrotada. Descarregamos tudo na livraria em Araraquara. Coisa de amigos. Como não gostar deles? Minha fidelidade hoje demonstro comprando minha revista semanal ali com ele todo domingo pela manhã. Mantenho o contato e seguimos em frente com a amizade.
São dois batutas, cheios de boas histórias para contar. Se tivesse mais tempo sentaria lá numa das cadeiras de um bar que montaram junto da banca das Nações e ficaria registrando seus causos. Todo ambiente como o deles produz belos relatos de vida. Eu mesmo já presenciei gente paciente como eu esperando do lado de fora da banca, sentadinho no meio fio, até que o dono chegue com o seu objeto de consumo. Hoje compro o pouco que leio em duas bancas, essas dessa família e algo mais na da Ilda, lá defronte o Aeroporto. Até poderia fazer assinatura do que leio, mas não o faço, pois perderia o contato com eles e sem motivo para ir visitá-los com a frequência que faço, não tomaria conhecimento das belas histórias que me contam. E como sabem, não fico sem elas. Nada como acordar num domingo de manhã sabendo de antemão do roteiro a ser seguido, primeiro a banca, folhear a revista preferida e depois ir pra feira, a do Rolo e lá se esbaldar no recanto mais democrático desta cidade. o que vem demais eu não tenho programado, mas desses dois não abro mão.
2.) O SORVETEIRO SOZINHO NA PRAÇA
Meia hora antes do jogo começar eu volto pra casa. As ruas já estão vazias. Tudo bem, hoje é domingo e mesmo que alguns continuem afirmando não irão torcer pro Brasil, dificilmente deixarão de ao menos assistir o jogo de estréia na Copa. Venho subindo pela rua Antonio Alves e já na praça Rui Barbosa, pouco movimento. O movimento que vejo são dos apressados tentando de tudo para chegar em casa antes do apito do juiz. Eu um deles. Acelero, chego nos sinais, olho dos dois lados e atravesso, outros fazem o mesmo. Somos os apressadinhos de última hora.
Ao passar defronte a pista de skate junto do Aeroclube algo me chama a atenção. Uns três jovens ainda estão na pista, mas do lado de fora mais ninguém. Epa! Vejo alguém e é dele que quero escrever. Um sorveteiro, jeitão queimado pela inclemência do sol, desses que devem permanecer muitas horas por dia rodando por aí atrás de uns caraminguás. Está ali com seu carrinho e em busca de perdidos clientes. O dia não está tão quente, o que já é motivo para não ter uma clientela como nos dias onde suamos à cântaros. A sua imagem me faz até parar o carro e esquecer por instantes da pressa para chegar em casa.
Paro o carro e vou lá chupar um picolé. Comprei um de goiaba e puxei conversa. Perguntei se não iria assistir o jogo. Ele me disse que gostaria, mas pegou o carrinho cedo e ainda tem muito para vender. "Não foi um dia bom, está frio. Não posso devolver o carrinho pela metade. Vou insistir por aqui, pois os meninos lotam aqui de domingo à tarde, mas hoje vejo que não vai ser a mesma coisa. Sempre pinta alguém e depois me contam o resultado. Vejo os gols à noite, pois tenho que levar algum para casa", me diz. Nem um radinho de pilha o acompanha na sua rotina de trabalho.
Não lhe perguntei mais nada. Volto para o carro e antes de sair em disparada para casa, dou mais uma olhada para trás e ele lá, agora praticamente sozinho com seu carrinho. Quantos não estão pela aí tentando algo a mais para sanar buracos enormes no orçamento? E volto pensando cá com meus botões algo ainda mais triste: se agora, quase 15h, temperatura ainda quente, ninguém nas ruas, quando o jogo terminar, depois das 17h, o frio e vento vai estar se instalando lá naquela região da cidade e as chances de vender serão cada vez menores. Triste deixá-lo para trás. No caminho outros apressados e retardatários correm para chegar em casa antes da contenda começar. A TV ligada, jogo começando e eu pensando no sorveteiro lá na praça, ele e mais ninguém lá na praça. Uma hora dessas até os garotos já se foram. Tô quase saindo no intervalo só pra ver se ainda está por lá e escolher mais um picolé de fruta. Um pra mim, outro pra Ana Bia.
A rotina dominical passa pelo Gustavo Mangili. Ele é filho de outro amigo, o Claudio Vieira, dono da banca de jornais e revistas do Paulistão na Nações. Antes tiveram uma banca na Duque, quase esquina com a Gustavo Maciel e era ali que comparecia todo domingo pela manhã. O faço para ir buscar a revista semanal que faço questão de ler, a Carta Capital. Enquanto o pai hoje toma conta da banca lá na frente do Confiança da Falcão, o filho abre essa na Nações e aqui permanece durante o dia todo. Ele já me confessou que o negócio de revistas está em baixa e para não fecha-lo, inovou e o incrementou com uma charmosa tabacaria. O local atrai clientes variados, fumantes de toda estirpe. Vejo desde seda como fumo para todos os gostos. Tem até para o nargilê, aquele que todo mundo fuma na mesma embocadura. Sei que o Gustavo não abre tão cedo como pai fazia, daí chego sempre entre 8h30 e 9h. Sou um dos primeiros a levar a revista. Não saio do estacionamento enquanto não a folhear por inteiro. Minha rotina dominical.
Hoje pego o Gustavo abrindo a banca e carregando para dentro uma pilha de jornais, os mesmos que ele espera saírem de lá nas mãos dos clientes. Nesse período de Copa, me diz, apareceram alguns a mais, tudo pelo motivo do futebol estar dominando a cena. Tiro uma foto sua carregando a pilha e ainda com a olheira da noite mal dormida. Jovem, mesmo apaixonado pela companheira colombiana, não tem cara de quem dorme cedo. O conheço desde muito moleque, dos tempos que o pai vindo de Marília aqui aportou e nunca mais parou com esse negócio de vender revistas. Moravam ao lado da banca ali na Duque e até em festas na casa deles acabei indo, amizade nascida do contato com isso de frequentar bancas.
Tenho uma linda história com o Gustavo e já a contei num longo texto no Mafuá. Ana Bia Andrade, a companheira de todas as horas herdou a biblioteca do pai após seu falecimento e depois de muito tempo no meio dos livros, alguns foram vendidos para um livreiro de Araraquara. Mas como levar os livros do Rio de Janeiro para o interior paulista? O Cláudio me emprestou sua pick-up e fomos ao Rio eu e o Gustavo. Passeamos um pouco, lhe apresentei a cidade, circulamos pelos pontos turísticos e voltamos com ela abarrotada. Descarregamos tudo na livraria em Araraquara. Coisa de amigos. Como não gostar deles? Minha fidelidade hoje demonstro comprando minha revista semanal ali com ele todo domingo pela manhã. Mantenho o contato e seguimos em frente com a amizade.
São dois batutas, cheios de boas histórias para contar. Se tivesse mais tempo sentaria lá numa das cadeiras de um bar que montaram junto da banca das Nações e ficaria registrando seus causos. Todo ambiente como o deles produz belos relatos de vida. Eu mesmo já presenciei gente paciente como eu esperando do lado de fora da banca, sentadinho no meio fio, até que o dono chegue com o seu objeto de consumo. Hoje compro o pouco que leio em duas bancas, essas dessa família e algo mais na da Ilda, lá defronte o Aeroporto. Até poderia fazer assinatura do que leio, mas não o faço, pois perderia o contato com eles e sem motivo para ir visitá-los com a frequência que faço, não tomaria conhecimento das belas histórias que me contam. E como sabem, não fico sem elas. Nada como acordar num domingo de manhã sabendo de antemão do roteiro a ser seguido, primeiro a banca, folhear a revista preferida e depois ir pra feira, a do Rolo e lá se esbaldar no recanto mais democrático desta cidade. o que vem demais eu não tenho programado, mas desses dois não abro mão.
2.) O SORVETEIRO SOZINHO NA PRAÇA
Meia hora antes do jogo começar eu volto pra casa. As ruas já estão vazias. Tudo bem, hoje é domingo e mesmo que alguns continuem afirmando não irão torcer pro Brasil, dificilmente deixarão de ao menos assistir o jogo de estréia na Copa. Venho subindo pela rua Antonio Alves e já na praça Rui Barbosa, pouco movimento. O movimento que vejo são dos apressados tentando de tudo para chegar em casa antes do apito do juiz. Eu um deles. Acelero, chego nos sinais, olho dos dois lados e atravesso, outros fazem o mesmo. Somos os apressadinhos de última hora.
Ao passar defronte a pista de skate junto do Aeroclube algo me chama a atenção. Uns três jovens ainda estão na pista, mas do lado de fora mais ninguém. Epa! Vejo alguém e é dele que quero escrever. Um sorveteiro, jeitão queimado pela inclemência do sol, desses que devem permanecer muitas horas por dia rodando por aí atrás de uns caraminguás. Está ali com seu carrinho e em busca de perdidos clientes. O dia não está tão quente, o que já é motivo para não ter uma clientela como nos dias onde suamos à cântaros. A sua imagem me faz até parar o carro e esquecer por instantes da pressa para chegar em casa.
Paro o carro e vou lá chupar um picolé. Comprei um de goiaba e puxei conversa. Perguntei se não iria assistir o jogo. Ele me disse que gostaria, mas pegou o carrinho cedo e ainda tem muito para vender. "Não foi um dia bom, está frio. Não posso devolver o carrinho pela metade. Vou insistir por aqui, pois os meninos lotam aqui de domingo à tarde, mas hoje vejo que não vai ser a mesma coisa. Sempre pinta alguém e depois me contam o resultado. Vejo os gols à noite, pois tenho que levar algum para casa", me diz. Nem um radinho de pilha o acompanha na sua rotina de trabalho.
Não lhe perguntei mais nada. Volto para o carro e antes de sair em disparada para casa, dou mais uma olhada para trás e ele lá, agora praticamente sozinho com seu carrinho. Quantos não estão pela aí tentando algo a mais para sanar buracos enormes no orçamento? E volto pensando cá com meus botões algo ainda mais triste: se agora, quase 15h, temperatura ainda quente, ninguém nas ruas, quando o jogo terminar, depois das 17h, o frio e vento vai estar se instalando lá naquela região da cidade e as chances de vender serão cada vez menores. Triste deixá-lo para trás. No caminho outros apressados e retardatários correm para chegar em casa antes da contenda começar. A TV ligada, jogo começando e eu pensando no sorveteiro lá na praça, ele e mais ninguém lá na praça. Uma hora dessas até os garotos já se foram. Tô quase saindo no intervalo só pra ver se ainda está por lá e escolher mais um picolé de fruta. Um pra mim, outro pra Ana Bia.
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