COMPARTILHANDO E ASSINANDO EMBAIXO DO QUE ESCREVE MEU AMIGO TAUAN MATEUS - A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR...
"Todos esses canalhas da foto são corresponsáveis por nossa média diária de novos contágios, de mortes (5 por dia)... são eles os responsáveis pelos quinze seres humanos que perderam a vida em Bauru esperando por um leito de UTI".
RETRATO DO COTIDIANO - DIA A DIA DE UM UBERISTA
07:15 da manhã passageira entra apressada no UBER, olhos vermelhos, uma máscara descartável por cima de outra máscara de tecido, isso eu nunca tinha visto
--Moço lá no HC, meu pai morreu de COVID
--Puxa moça, meus sinceros pêsames--Você sabe chegar por trás? me falaram que o necrotério fica nos fundos
--Sim eu sei, é pela rua Padre Camargo, vão deixar você entrar?
--Não sei, a assistente social falou que tem uma tenda lá, só para assinar a papelada e liberar o corpo prá funerária
--Não tem ninguém prá ir com você?
--Não pode moço, só deixam uma pessoa entrar na tenda, minha irmã vai encontrar comigo lá, já saiu da casa dela, tá indo de UBER também
07:33 filas de carros funerários, a passageira desce abraça a irmã, choro compulsivo, sirenes de ambulância atrás de mim, subo com a metade do carro na calçada para dar passagem, socorristas com cara de zumbi, colocam uma pessoa que passou mal debaixo da tenda e empurram às pressas a maca dentro da ambulância
--Prá onde estão levando ela?Aqui não é um hospital?
--Não tem mais leito aqui, estamos levando para o Cajuru, entra aí, vamos junto, ela é cardíaca? Tá 18/21 senão voltar vamos desfribilar no trajeto
Sirenes de novo, saio da calçada, arranco o carro, dou mais uma olhada pra trás e vejo a tenda balançar, seria o vento ou mais alguém que caiu?
12:30 outra passageira
--Moço vai rápido, o pai do meu namorado acabou de falecer de COVID
--Sinto muitíssimo moça, mas o endereço que nós vamos não é de nenhum hospital
--Meu namorado tá em casa, de lá nós vamos para o hospital, você leva a gente? Ele não vai ter condições de dirigir
--Levo sim
Chegou na casa, entrou apressada, saiu 3 minutos depois--Moço, pode ir, não vamos para o hospital agora, falaram prá gente ir mais tarde, tá muito tumultuado agora
--OK, meus sentimentos
19 horas, uma fumaça estranha toma conta das ruas, a minha última passageira do dia me olha assustada
--Meu Deus! Que fumaça é essa? Que cheiro horrível de queimado!
--Estranho moça nunca tinha visto isso, entra no google e procura por alguma notícia sobre alguma manifestação, se estão colocando fogo para fechar alguma estrada!
--Descobri moço, é um incêndio florestal na região metropolitana
--Nossa! Esse foi dos grandes!
Toca o telefone
Um choro sentido e a passageira grita três vezes: não, não, não!
--Moço, moço vou ter que mudar o trajeto, minha vó morreu, estava entubada com COVID, vamos para o hospital agora, vou encontrar com minha mãe lá
--Puxa moça sinto muito
O carro corta a fumaça, o cheiro de queimado aumenta
Sirenes ao longe, nenhuma viva alma na rua, um carro funerário passa apressado , a luz do poste ao nosso lado se apaga
A passageira me pergunta:
--Moço, será que é o fim do mundo?
Eu engulo a seco e não respondo nada
ESSE FOI UM RELATO DE COMO FOI MEU DIA HOJE - Niltão, Motorista de UBER, 16 de março de 2021, Não consigo dormir.
EM BAURU É ASSIM E EM AREALVA TAMBÉM - A PERDIÇÃODesci para o centro mas não desci do carro. Nem tudo está assim tão fechado, ou seja, mesmo com a cidade vivenciando o caos, parece existir uma velada fiscalização e em alguns lugares um fingimento de existir um isolamento social. Ou seja, o clima no centro, onde todos os olhos se voltam, por ali a coisa é mais intensa, mas nos arredores, nem tanto. Chego no mafuá, o telefone toca e do outro lado uma amiga de Arealva.
- Estão certos, minha cara. Na verdade, diante da situação, creio não seria necessário nem isso, pois as pessoas cientes do problema, das mortes, não sairiam de casa por estes dias. Vi que aí, cidade pequena, morreram três seguidos, um por dia e a coisa não para. Pelo que vejo, está saindo de casa.
- Tô nada, tô quietinha, mas me contam tudo, cidade pequena as notícias correm. Outro me contou que o Distrito Industrial, como o ser sabe é lá na entrada da cidade, bem antes dos portal de entrada e os ônibus estão proibidos de levar e trazer os funcionários. As empresas deram um jeito e vão continuar funcionando, mas os empregadores terão que se virar, pois nem quem os leve terão. Tudo a pé. Esses podem continuar abertos, são os únicos, pois no resto a cidade está deserta.
- Diante de tudo o que a gente está em curso no momento, parando agora, tudo volta ao normal mais rápido, do contrário quanto mais demorarmos para tomar consciência, mais tempo vai demorar. Que acha?
- Eu só acho uma coisa, nós nunca tivemos algo parecido e o povo está perdido. O povo daqui de Arealva precisa dos poucos empregos e os donos das empresas não querem parar e se eles não irão parar, o que nós podemos fazer? Nada. Nós estamos nas mãos deles e a Prefeitura fecha a cidade quase inteira, mas não toca no negócio dos mais poderosos. E se a gente pode ir trabalhar, agora a pé lá naquela lonjura, por que não posso ir para os outros lugares? Eu vejo as coisas na TV, mas acho que enquanto não acontecer com a gente, a gente não vai mudar muita coisa. Parece tudo tão longe da gente.
Que o presidente é GENOCÍDA, disso não existe a menor dúvida. Evidências que o mundo todo reconhece e quando alguns são inqueridos sobre isso, fácil a justificativa, pois a somatória de atos danosos à Saúde da população é o somatório de atitudes, resultando no caos atual. A aberração vivenciada hoje é o grande problema da sociedade. Por mais que o culpa pessoalmente, nunca pode ser creditada somente a um homem. A liderança é apenas o espelho, a condução de algo enraizado na estrutura social. O presidente virou escravo dessa massa ensandecida. Sabe que depende destes para continuar a ser o que é. Qualquer mudança sua de rota, é rapidamente reconduzido ao jeito cruel e insano, pois a turba que o segue e o mantém no poder assim exige. Não vejo mais saída para isso. Ele é assim - ele e todos que os segue -, criminoso e pronto. Vivemos num país onde a elite sempre agiu assim, semianalfabeta, reducionista, não pensa em outra coisa que não dinheiro, dinheiro e dinheiro. Os grandes capitalistas do mundo já perceberam que a questão sanitária está cima, pelo menos neste momento, do que a econômica, pois tudo irá ferir gravemente seus negócios, mata economicamente seus negócios. Aqui não, este é o momento para algo mais que sério, uma ação coletiva pela vida, algo para valer, mas isso não ocorre. O presidente e os seus preferem seguir com o discurso da morte e assim o país é hoje o que mais preocupa o mundo. A grande preocupação é essa novíssima cepa escapar das vacinas. Ela pode barrar e isolar de vez o Brasil, inclusive comercialmente, quando até os produtos daqui serão evitados. Daí, o medo do vírus estar em algum produto exportado pelo Brasil. O deGoverno brasileiro não percebe o perigo eminente e continua agindo na contramão do mundo. Quem age assim só pode ser GENOCÍDA, sem tirar nem por.
"Todos esses canalhas da foto são corresponsáveis por nossa média diária de novos contágios, de mortes (5 por dia)... são eles os responsáveis pelos quinze seres humanos que perderam a vida em Bauru esperando por um leito de UTI".
RETRATO DO COTIDIANO - DIA A DIA DE UM UBERISTA
07:15 da manhã passageira entra apressada no UBER, olhos vermelhos, uma máscara descartável por cima de outra máscara de tecido, isso eu nunca tinha visto
--Moço lá no HC, meu pai morreu de COVID
--Puxa moça, meus sinceros pêsames--Você sabe chegar por trás? me falaram que o necrotério fica nos fundos
--Sim eu sei, é pela rua Padre Camargo, vão deixar você entrar?
--Não sei, a assistente social falou que tem uma tenda lá, só para assinar a papelada e liberar o corpo prá funerária
--Não tem ninguém prá ir com você?
--Não pode moço, só deixam uma pessoa entrar na tenda, minha irmã vai encontrar comigo lá, já saiu da casa dela, tá indo de UBER também
07:33 filas de carros funerários, a passageira desce abraça a irmã, choro compulsivo, sirenes de ambulância atrás de mim, subo com a metade do carro na calçada para dar passagem, socorristas com cara de zumbi, colocam uma pessoa que passou mal debaixo da tenda e empurram às pressas a maca dentro da ambulância
--Prá onde estão levando ela?Aqui não é um hospital?
--Não tem mais leito aqui, estamos levando para o Cajuru, entra aí, vamos junto, ela é cardíaca? Tá 18/21 senão voltar vamos desfribilar no trajeto
Sirenes de novo, saio da calçada, arranco o carro, dou mais uma olhada pra trás e vejo a tenda balançar, seria o vento ou mais alguém que caiu?
12:30 outra passageira
--Moço vai rápido, o pai do meu namorado acabou de falecer de COVID
--Sinto muitíssimo moça, mas o endereço que nós vamos não é de nenhum hospital
--Meu namorado tá em casa, de lá nós vamos para o hospital, você leva a gente? Ele não vai ter condições de dirigir
--Levo sim
Chegou na casa, entrou apressada, saiu 3 minutos depois--Moço, pode ir, não vamos para o hospital agora, falaram prá gente ir mais tarde, tá muito tumultuado agora
--OK, meus sentimentos
19 horas, uma fumaça estranha toma conta das ruas, a minha última passageira do dia me olha assustada
--Meu Deus! Que fumaça é essa? Que cheiro horrível de queimado!
--Estranho moça nunca tinha visto isso, entra no google e procura por alguma notícia sobre alguma manifestação, se estão colocando fogo para fechar alguma estrada!
--Descobri moço, é um incêndio florestal na região metropolitana
--Nossa! Esse foi dos grandes!
Toca o telefone
Um choro sentido e a passageira grita três vezes: não, não, não!
--Moço, moço vou ter que mudar o trajeto, minha vó morreu, estava entubada com COVID, vamos para o hospital agora, vou encontrar com minha mãe lá
--Puxa moça sinto muito
O carro corta a fumaça, o cheiro de queimado aumenta
Sirenes ao longe, nenhuma viva alma na rua, um carro funerário passa apressado , a luz do poste ao nosso lado se apaga
A passageira me pergunta:
--Moço, será que é o fim do mundo?
Eu engulo a seco e não respondo nada
ESSE FOI UM RELATO DE COMO FOI MEU DIA HOJE - Niltão, Motorista de UBER, 16 de março de 2021, Não consigo dormir.
EM BAURU É ASSIM E EM AREALVA TAMBÉM - A PERDIÇÃODesci para o centro mas não desci do carro. Nem tudo está assim tão fechado, ou seja, mesmo com a cidade vivenciando o caos, parece existir uma velada fiscalização e em alguns lugares um fingimento de existir um isolamento social. Ou seja, o clima no centro, onde todos os olhos se voltam, por ali a coisa é mais intensa, mas nos arredores, nem tanto. Chego no mafuá, o telefone toca e do outro lado uma amiga de Arealva.
Assim como eu, ávida por conversar. Queria me contar as novidades:
- Seu Henrique, se contar o sr não acredita. Aqui na entrada da cidade a polícia montou uma barreira e ninguém entra e sai sem mostrar a documentação do carro e dizer direitinho para onde vai e o que vai fazer. Teve gente que voltou, teve gente que já foi até levada pra delegacia. A coisa está feita mesmo.
- Estão certos, minha cara. Na verdade, diante da situação, creio não seria necessário nem isso, pois as pessoas cientes do problema, das mortes, não sairiam de casa por estes dias. Vi que aí, cidade pequena, morreram três seguidos, um por dia e a coisa não para. Pelo que vejo, está saindo de casa.
- Tô nada, tô quietinha, mas me contam tudo, cidade pequena as notícias correm. Outro me contou que o Distrito Industrial, como o ser sabe é lá na entrada da cidade, bem antes dos portal de entrada e os ônibus estão proibidos de levar e trazer os funcionários. As empresas deram um jeito e vão continuar funcionando, mas os empregadores terão que se virar, pois nem quem os leve terão. Tudo a pé. Esses podem continuar abertos, são os únicos, pois no resto a cidade está deserta.
- Diante de tudo o que a gente está em curso no momento, parando agora, tudo volta ao normal mais rápido, do contrário quanto mais demorarmos para tomar consciência, mais tempo vai demorar. Que acha?
- Eu só acho uma coisa, nós nunca tivemos algo parecido e o povo está perdido. O povo daqui de Arealva precisa dos poucos empregos e os donos das empresas não querem parar e se eles não irão parar, o que nós podemos fazer? Nada. Nós estamos nas mãos deles e a Prefeitura fecha a cidade quase inteira, mas não toca no negócio dos mais poderosos. E se a gente pode ir trabalhar, agora a pé lá naquela lonjura, por que não posso ir para os outros lugares? Eu vejo as coisas na TV, mas acho que enquanto não acontecer com a gente, a gente não vai mudar muita coisa. Parece tudo tão longe da gente.
Quando se é impedido de dizer, a gente deixa tudo escrito nas entrelinhas, mas não deixa passar em branco. |
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