domingo, 28 de março de 2021

RELATOS PORTENHOS / LATINOS (89)


NOSSOS VIZINHOS
* Hoje resolvi escrevinhar algumas poucas coisas dos nossos vizinhos e de como estão a levar a vida. Vai sendo parido em drops, aos poucos, conforme as coisas vão fluindo na minha cabeça.

1.) A BOLÍVIA VAI SE REENCONTRANDO CONSIGO MESMO
Ufa! Esse meu vizinho passou por perrengue tão ou mais escabroso que o Brasil passa com as artimanhas proporcionadas pelo descabido ex-capitão. Um golpe, com proporções dantescas como o que ainda está em curso no Brasil, botou pra correr o presidente no poder, Evo Morales e num conluio - igualzinho aqui -, tomaram de assalto o poder. Jeanine Añez, auto-proclamada presidente instituiu a perseguição política aos até então no governo e linchamentos ocorreram nas ruas. O que ela e os seus não conseguiram por muito tempo foi manter o estado de sítio e com as eleições ocorrendo perderam o poder e o deixaram. Quem assume? Luis Arce, o MAS, mesmo partido do presidente ilegalmente deposto e até então exilado na Argentina. Arce, conta com intensa resistência do lado empresarial e da região mais rica do país, Santa Cruz, malversação capitaneada pelo golpista e agora eleito governador, Fernando "Macho" Camacho. Um insuflador do que de pior existe no discurso antiesquerdista e separatista. Arce segue em frente, às voltas com o combate à pandemia, concessão de créditos para estimular a indústria, a taxação das grandes fortunas e bônus contra a fome no valor de mil bolivianos (cerca de 800 reais) oferecidos a milhões de cidadãos. A Bolívia tem 11 milhões de habitantes e com a retomada de algo oxigenante, ainda há muito ressentimento e virulência, enfrentados com muita coragem. Numa frase, vejo como mais do que acertado tudo o que fazem para punir os causadores dos transtornos golpistas: "Não temos ódio, temos memória", sintetiza o professor de História de La Paz, Marco Antonio Espinosa. A Bolívia conseguiu rever a normalidade através das urnas, algo ainda em curso no Brasil. Luta agora para vencer os que preferem o país enfurnado na bandalheira do fascismo e do neoliberalismo predatório. Tudo o que ocorreu por lá me deu uma vontade incontida de por lá aportar tão logo consiga me desvencilhar dessa pandemia nos nossos calcanhares. A vizinha Bolívia se oxigenou, nós ainda não.

2.) PARAGUAI VAI PRAS RUAS PROTESTAR CONTRA GOVERNANTE NEGACIONISTA E IRRESPONSÁVEL
O que acontece no Paraguai neste exato momento é de causar inveja diante da inércia brasileira. Se o presidente lá deles, o neoliberal Mario Abdo Benítez apronta das suas, o daqui muito mais. A diferença é que lá o povo não está sendo besta e protesta de forma veemente nas ruas e aqui, ainda somente pelas redes sociais. Benítez tem sucessão de percalços pela frente, desde aumento do preço dos combustíveis e do custo de vida, denúncias de corrupção e, como aqui, deficiência no combate a pandemia. Nos cartazes nos protestos pedidos de mais vacinas e menos roubalheira. Por lá, até semanas atrás somente 4 mil doses de vacina e famílias de enfermos tendo que vender objetos pessoais nas ruas para sobreviver. Insensibilidade de igual teor a vislumbrada aqui pela ação do ex-capitão, ora presidente. A diferença é que aqui temos o SUS, com abrangência nacional e lá não, aumentando o caos. Cá e lá presidentes desdizendo e minimizando a gravidade do Coronavírus. Lá foi o bastante para o povo ir pras ruas, aqui, infelizmente, ainda não. Lá, o partido Colorado domina o país há mais de 70 anos, o que dificulta a possibilidade de impeachment, mas o caldo proveniente das ruas engrossa e a efervescência proveniente do povo nas ruas é sempre inesperada e causadora de medo para governantes desplugados de ações em benefício popular. No Paraguai, como se vê, algo em curso, apreensão dos que tentam engambelar o povo e continuar no poder e este clamando por mudanças, melhorias e vacinas. Qualquer tipo de reação neste momento, ainda mais diante de governantes atrelados a interesses das minorias exploradoras, sugere prováveis mudanças e isso sempre é oxigenador. Ah, como seria salutar que dessas manifestações brotassem mais e mais transformações por essas bandas da América Latina. Sempre tive imensa vontade de conhecer Assunção, a capital paraguaia, cidade de uns 800 mil habitantes e com encantos que vão muito além destes que a maltratam. Tomara viremos todos nossas mesas, lá e cá, pelo bem de uma América Latina livre e soberana.

3.) VENEZUELA PREOCUPADA COM VARIANTE BRASILEIRA DA COVID
O ilustríssimo presidente deste Brasil hoje nada varonil, o ex-capitão faz questão de apregoar aos quatro ventos ter chegado ao poder para impedir que o Brasil se transforme numa Venezuela. Ironia do destino, o que de fato ocorre desde que esse despreparado e despropositado senhor chegou ao poder foi exatamente levar o país para algo pior do hoje vivenciado pelo país vizinho. Todos sabemos que a situação da Venezuela não é das mais fáceis, vivenciando um caso nada atípico de bloqueio comercial, eles padecem muito deste mal e de outros causados pela eterna dependência do petróleo. Maduro não é Chávez e a Venezuela segue sua sina, tentando sobreviver diante de tantas adversidades. De algo a gente do lado de cá observa e fica seduzido: na Venezuela não tivemos golpe de estado nestes tempos, enquanto no restante dos países da América do Sul, isso algo mais do que natural. Chávez e agora Maduro souberam garantir algo inimaginável, por exemplo no Brasil, que as Forças Armadas sejam fiéis a ele e não aos interesses externos. Daí, ele se sustenta e o país segue aos trancos e barrancos, mas segue. Em notícia de ontem, mais uma confusão propiciada pelo Ministério das Relações Exteriores, quando a Venezuela está disponibilizando em cortesia a remessa de tubos de oxigênio para os estados brasileiros com o material em falta. Pois, nem de graça e com caráter humanitário Bolsonaro aceita a doação, pois com isso estaria tendo que passar vergonha, diante de tudo o que já falou sobre o doador. Mas o caso é representativo de algo em curso no país, descalabro de cabeças batendo biela em todos os sentidos, desvario de mentes, todas não atinando mais o lé com o cré e agora, sendo praticamente obrigadas a aceitar tubos de gás de um país que até então era o próprio reduto do capeta. Por lá a situação da covid não é das melhores, mas pelo visto está mais controlada do que aqui e as vacinas existem de fato e em quantidade suficiente para não agravamento e descontrole. Maduro deve oferecer a ajuda por razões realmente humanitárias, mas ao mesmo tempo dá com luva de pelica na cara do genocida. São lições que o Brasil, hoje descaradamente caminhando a passos largos para uma situação de isolamento muito pior do que a da Venezuela, pois seremos rejeitados e bloqueados por medo coletivo contra o que representamos. Enfim, quem vai querer se aproximar de um brasileiro daqui por diante diante de tanta barbaridade ocorrendo por aqui? Já com a Venezuela e venezuelanos isso não ocorre.

4.) EQUADOR VAI CONSEGUIR REVERTER O LAWFARE PELA VIA ELEITORAL?
O ex-presidente equatoriano Rafael Correa sofre perseguições mesmo depois de algum tempo fora do poder e elas continuam impedindo-o de disputar eleições, agora com a confirmação de forjadas condenações. Lula foi impedido de concorrer a eleição, preso e só agora começa a respirar. Cristina Kirchner só consegue reverter a situação por ter sido eleita senadora e agora vice-presidenta, comprovando na mesma Justiça que a perseguia o descalabro montado contra ela. Deu-se o nome de LAWFARE a esse novo modal de perseguição, aparentemente tudo legalizado, mas na verdade, uma armação ilimitada para defenestrar todos os que ousem governar tendo como pauta atender interesses populares. No Equador, depois da Bolívia, pelo visto as urnas, segundo turno em abril, devem desmontar a farsa e eleger alguém comprometido com uma América Latina mais independente e soberana. Ares mais arejados, com o povo votando livremente e tendo o poder de escolher quem de fato confia e sabe irá fazer algo por eles. O economista de esquerda Andrés Arauz, ligado ao ex-presidente Correa e o ex-banqueiro de direita Guillermo Lasso disputarão o segundo turno da eleição presidencial do Equador. O medo que Bolsonaro possui de enfrentar Lula é o mesmo ocorrido com Macri na Argentina, pela direita boliviana e agora, latente e pulsante no Equador, pois os que danam com o povo, quando nas urnas, essas em condições normais, muito difícil ocorrer desvios de grande monta. Tudo bem que, como ocorreu no Brasil, teve de tudo nas nossas eleições e só assim Bolsonaro chegou ao poder. Com estes perversos na disputa, quando sabem que perderão nas vias normais, criam algo mais, como esse lawfare, nada mais do que mecanismos sofisticados de repressão autoritária, espécie de ditadura do Judiciário, muito em voga aqui e espalhado hoje como praga. No Equador, tudo para darem uma banho eleitoral na direitona e daí, preparem-se, pois algo mais deve vir para as nossas, pois os genocidas não querem deixar o poder de jeito nenhum. As operações de lawfare cumprem o papel que já foi operacionalizado pela Operação Condor, de troca de informações entre esses países latino-americanos com o intuito de difundir uma nova tática antidemocrática de aniquilamento das forças opositoras e hoje se não vergadas, querem se impor sem luta nas ruas, impingindo uma normalidade não existente. O Equador deve desmontar mais essa farsa e depois virá a nossa eleição. Muita luta pela frente.

5.) FUGINDO PRA CUBA NUM BARCO PESQUEIRO - INVERTENDO OS PAPÉIS
Cuba não é nosso vizinho parede meia, mas é vizinho latino americano, país hoje considerado uma espécie de oásis global, diante de tantos lugares cheios de problemas para o ser humano levar uma decente vida. Por aqui, malversadores da verdade falam o tudo e algo mais de Cuba, mas falseiam com a verdade e na verdade, temem Cuba exatamente por ela ser uma exceção, país pobre, vivendo dignamente e sem se vergar aos interesses dos poderosos do planeta. Algo inadmissível, e daí, um lugar admirável e por muitos alvo de fixação. Eu sempre tive fixação positiva por Cuba e mais agora, quando procuro porto seguro para passar o que ainda me resta de vida. Matutei e cheguei à conclusão: tem que ser Cuba. Reuni seleto grupo, secretas reuniões e acabamos de adquirir um barco, destes confortáveis, onde cabem, mais de cinquenta pessoas e estamos planejando - de forma secreta - abandonar o país bolsomínion e navegar secretamente até a ilha caribenha. Fizemos tudo em cotas iguais, cada qual pagando regiamente as suas e agora, com o barco já adquirido, o próximo passo será marcar data para a debandada, mas diante de tudo o que estamos vendo de não aceitação de brasileiros mundo afora, a preocupação é se Cuba não nos aceitar. Pensando sobre o assunto, cada qual fez uma Declaração de Princípios, desdizendo de qualquer aproximação com algo bolsonarista, se dizendo brasileiros à moda antiga, ou seja, arejados e soberanos. Na ilha, a ideia é viver a vida que nos resta da forma mais aprazível possível e também nos prepararmos para um triunfal retorno, em condições totalmente diferentes das onde Bolsonaro enfiou o outrora país da esperança. Quase não temos mais vagas, disputadíssimas até o momento e para não levantar suspeita, pensamos primeiro em boias ao mar, mas a distância inviabilizou o projeto, daí fingiremos grande evento pesqueiro e daí, quando darem conta já estaremos em mares cubanos. Eis nossa chance de salvação, com planos em estado adiantado de consolidação. Vamos? Lá a cloroquina não tem vez, ninguém presta continência pra ela e nem se recusam a tomar vacinas. Eu quero viver num lugar, no mínimo, NORMAL.

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