segunda-feira, 22 de março de 2021

UM LUGAR POR AÍ (146)


POR QUE A HAVAN TEM TANTO PRIVILÉGIO NESTA CIDADE?
Há quase uma década atrás estive junto dos que resistiam pela não chegada da loja de departamentos das HAVAN em Bauru. O assunto rendeu e acabei dando entrevista até para o New York Times. O motivo principal da resistência, ainda sem conhecer de fato qual era a do tal Véio da Havan, residia na grotesca Estátua da Liberdade defronte cada uma de suas lojas. Não faz nenhum sentido algo assim defronte uma loja brasileira. O bloco farsesco, burlesco e algumas vezes carnavalesco Bauru Sem Tomate é MiXto colocou a imagem na camiseta e passando um rodo derrubando-a ao chão. Obra do artista Fausto Bergocce é muito comentada até hoje. Hoje, passado tanto tempo, a certeza do quanto estávamos certos na resistência e enfrentamento. A loja é uma versão pasteurizada de tantos outros magazines, sem nada de novo, reunião de importados de baixo custo, poucos atrativos. O proprietário desse negócio se mostrou pérfido para com o país, primeiro pela sonegação da qual a imprensa divulga, depois pela participação deste no golpe que desde 2016, primeiro derrubou a presidenta legalmente eleita, depois insuflou Bolsonaro ao poder.

A partir de então, a país conheceu de fato quem é o tal Véio. Hoje algo mais e envolvendo BAURU. A cidade, aos trancos e barrancos se fecha e toma os cuidados necessários diante de uma pandemia descontrolada e o estado inteiro na fase vermelha. Os dois shoppings center se mantém fechados neste final de semana e ontem leio algo aqui num comentário de post de minha lavra: “ontem a Havan estava lotada. Uma pessoa que foi lá disse que não dava nem pra andar lá dentro”. Daí a pergunta que não quer calar: Por que esses privilégios? Como a Prefeitura nada faz e não autua a Havan? Qual o acordo existente entre a Prefeitura, seu Setor de Fiscalização e a prefeita? Se na maioria das lojas em funcionamento, todas com barreira na entrada, só delivery, ninguém com acesso, por que na Havan persiste o regime do Liberou Geral? Por lá, pelo que se constata, as pessoas circulam livremente no interior da loja. Será que para este senhor a pandemia nada representa? Que seria isso, alguém consegue me explicar...
OBS: A foto deles foi tirada da janela de casa e nela percebo movimentação no estacionamento, pois vejo a loja pela parte traseira e não dianteira.

COLOCARAM FOGO NO JORNAL PORQUE ELE DEFENDIA AMPLIAÇÃO DO ISOLAMENTO SOCIAL NA PANDEMIA - EIS O BRASIL DAQUI POR DIANTE
https://brasil.elpais.com/.../negacionistas-da-pandemia...
José Antônio Arantes é presidente da Rádio Cidade e é editor da 'Folha da Região', único jornal impresso de Olímpia, no interior de São Paulo. Na 'Folha da Região' e na sua rádio, cobriu os protestos contra as restrições. Ele também denunciou a aglomeração e o não uso de máscaras em protestos dos comerciantes nesta segunda (15). Logo, de acordo com Arantes, começaram as represálias, culminando dias atrás com o incêndio criminoso, quando um motoqueiro, flagrado por câmaras de segurança, para diante do prédio e joga algo para o lado de dentro, tendo início um imediato incêndio no local.

Um jornal com 40 anos de existência e uma cidade com 55 mil habitantes. Esse o palco dos acontecimentos e por detrás a bestialidade em curso no país e incentivada por mentes doentias que, mesmo diante desse número avassalador de mortes e internados pelo Covid, acham que tudo deve permanecer aberto, portas escancaradas e liberadas. A mensagem está sendo passada para todos nós em drops, aos poucos e chega clara, límpida, transparente: discordou do que manda o senso comum vigente, não existirá mais diálogo, pois esse como se mostra não é possível, daí, sendo diferente, farão isso como se vê neste exemplo, fogo, tiro, mesmo o aniquilamento de quem prega o bom senso. Um país doente, com mentes mais que distorcidas e prontinho para na sequência aniquilar seus adversários ou simplesmente quem pense diferente. Se ainda não chegamos, estamos a um passo do fundo do poço e se nada for feito, daí para muito pior. Intolerância em todos os sentidos bate à nossa porta e pede passagem: vamos deixá-la entrar?

MENTIRAS FASCISTAS CIRCULAM LIVREMENTE E DISTORCEM MENTES
Escrevi disso ontem, sobre as novas narrativas em circulação. Por exemplo, Bolsonaro e Suéllen fazem uso de uma justificativa para deixarem de atuar. Mesmo sendo situação, são os governantes, se apresentam como oposição e impedidos de atuar, pois algo sempre os impede, o que não é verdade. Tentam passar uma situação de querer fazer algo e serem impedidos. Essa narrativa faz parte de uma estratégia e ao me aprofundar mais sobre o tema encontrei texto dos mais interessantes na edição de ontem, domingo, 21/03 do jornal argentino Página 12. Em entrevista do jornalista Horacio Bernades, "Federico Finchelstein e um alerta sobre o perigoso avanço dos direitos do mundo". Eis o link para a leitura da entrevista: https://www.pagina12.com.ar/330932-federico-finchelstein....

Em seu livro recente "Uma Breve História da Mentira Fascista", o historiador radicado nos Estados Unidos identifica as graves continuidades que figuras como Trump e Bolsonaro encarnando o fascismo como era conhecido no século 20, com suas consequências criminosas. Tem tudo a ver com o que escrevi ontem. Ele diz textualmente: "há uma continuidade direta que vai do fascismo "clássico" aos florescentes populismos de direita de hoje. Essa continuidade se dá tanto pelo desprezo pela democracia e pelas tendências ditatoriais, quanto pelo culto sistemático à mentira. (...) Na era da pós-verdade, das redes de direita e das notícias falsas, tudo isso está mais intrincadamente entrelaçado, tornando a verdade e as mentiras às vezes indiscerníveis".

Este tema me fez ir em busca de mais informações, pois se não soubermos como tratar e rejeitar, vencer a mentira, ela poderá prevalecer. Finchelstein traça a história do fascismo e suas expressões em diferentes partes do globo, levando ao populismo representado, entre outros por Trump, Bolsonaro, o movimento Vox espanhol, a Liga Italiana e o ditador húngaro Víctor Orbán. O jornalista faz a seguinte pergunta ao escritor: Os atuais líderes populistas de direita acreditam em suas mentiras ou são apenas cínicos, convencidos de que se mentirem e mentirem, algo permanecerá? Sua resposta: "Na minha opinião, os populistas mentem como outros políticos de outras tradições, liberais, conservadores, comunistas, socialistas. Como disse Hannah Arendt, política e mentira andam de mãos dadas, mas no fascismo as mentiras adquirem cortes de tipo quantitativo e qualitativo. Os fascistas mentem muito mais e também acreditam em suas próprias mentiras e através dessa crença tentam transformar a realidade. Nesse contexto, as mentiras de Trump têm uma inspiração mais fascista do que populista. (...) O que se apresenta como pós-verdade, são na verdade mentiras. O que mostra que muitos desses mentirosos acreditam na verdade de suas mentiras, e isso leva a uma questão bastante filosófica, que muitos já haviam levantado. (...) São pessoas que têm a necessidade de que a complexidade do mundo lhes seja explicada de forma simples, por meio da ideia de que tudo o que o líder diz é verdade. É neste contexto que este tipo de mentiras e delírios se tornam ainda mais virais".

A entrevista num todo é muito reveladora. Continuo compartilhando alguns trechos: "Apesar da derrota de Trump, esses populismos de extrema direita, em muitos casos aspirando à ditadura e ao fascismo, continuam a representar um perigo concreto. (...) Para mim, o risco que representam esses grupos para a democracia deve ser assumido com grande preocupação e, no quadro da lei, limitar drasticamente a sua atividade, que em muitos casos é ilegal. (...) É preciso lembrar que o fascismo triunfou no passado quando a justiça e o Estado ignoraram a ilegalidade de sua violência. (...) O perigo de que alguém se apodere e aumente ainda mais esse ódio, essa vocação ditatorial, essa militarização da política, é real”.

Ao final um breve currículo do autor, com sua vida ao estudo do fascismo. Muito mais existe sobre este tema. Hannah Arendt, Humberto Eco, Noam Chomsky e tantos outros abordam muito deste avanço. Entender o que de fato se passa e dessa apropriação de um momento frágil, onde a população está um tanto desorientada, culminando por aceitar com maior facilidade ideias mirabolantes de salvamento, idênticas com as que tentam passar certos líderes e governantes, se mostrando como querendo realizar e dos impedimentos encontrados para concretizar o intento, se utilizando de uma narrativa mentirosa, falsa e perigosa. Primeiro conhecer o que de fato ocorre e depois, num outro momento, traçar também uma estratégia de combate, eficiente e restabelecendo a verdade dos fatos como mola mestra.

FANECO, SEU MURO E A "BISCATE"
Maria Inês Faneco dispensa apresentações. Possui o muro mais famoso da cidade, na boca de saída da vila Falcão e nele já produziu inscrições as mais variadas, na maioria das vezes em firmes e contundentes posicionamentos. Sempre presente, retira do muro os escritos de seu negócio, paralisados neste pandêmico momento e lá escreve mensagem de esperança. Faneco não deixa o momento passar, não perde a oportunidade. Dias atrás publica triste história, bem com a cara destes tempos, com ampla repercussão: “Saiu com a biscate, voltou pra casa dormiu com a esposa, no domingo foram almoçar na casa da mãe, biscate ligou na Segunda-feira dizendo que estava com febre ele mandou dinheiro ela foi fazer teste de Covid deu positivo, avisou o lindo, ele ficou com o cu na mão, a tarde a mãe ligou que não estava bem, foi para o hospital, a esposa também com febre, médico, o filho já começou a tossir, médico, ele em pânico, resumo morreu a biscate, a mãe dele ,esposa, e ele está internado, o filho está com Covid mas fora de perigo...triste né? Por causa de uma trepada já tem 3 mortes, fora o que deve ter transmitido. É, gente o efeito dominó é bravo, em época de pandemia melhor vc ficar só com a sua esposa”. Enfim, Faneco é única, autêntica e continua batendo um bolão, por tudo isso e muito mais. Muito mais.

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