Os tempos não estão nada fácil para quem ousa se manifestar aqui pela Argentina, porém vejo clara e nítida resistência, brotando mais e mais. O atual desGoverno, que não paga nada, inclusive a universidade pública está prestes a fechar as portas por insuficiência de recursos, mas os gastos com armas e tudo o que diz respeito a ampliação da repressão está sendo feito em grande escala. Os argentinos possuem isso no sangue e estão, mesmo na mais completa adversidade, minandio pouco a pouco o inapetente Milei e os seus bárbaros de plantão. Mesmo o país muito contido e calado, pois nunca havia presenciado tanta gente de cabeça baixa, quietos, talvez ainda vendo como farão para dar cabo do opressor.
Observo isso, sinto isso no ar e com este espírito vou pra praça de Maio, a da Casa Rosada e lá, toda quinta, desde o final da ditadira militar, quando milhares de crianças desapareçam junto com seus país, estes mortos. As crianças foram espalhadas, a maioria sendo adotadas por militares. Suas famílias originais reclamaram desde sempre seus filhos. Na maioria quem o fez foram os avós, as abuelas e o local onde ficou marcado como o do grito delas é o centro da praça principal da cidade, onde o presidente lá do alto de sua janela observa tudo. As avós nunca mais pararam de se reunir, gritar em alto e bom som e como hoje, vão repetindo os nomes dos seus desaparecidos e todos repetem em alto e com som, PRESENTE. Uma cena para arrepiar. Coragem nunca lhes faltaram.
Muitos já tentaram calar suas vozes, mas nenhum consegue, pois elas representam algo dessa resistência popular, na sua forma mais singela e soberana. Tive o prazer de estar presente em algumas dessas quintas, hoje mais uma. O ato delas é um lamento, um grito, algo como, a reação possível delas, que sem armas, usam as que possuem, seus corpos, gritando o nome dos seus desaparecidos. A ditadura se foi, muitos netos foram descobertos e essa história, a as descobertas e reaproximação com seus verdadeiros familiares é tocante. Porém, a luta continua e hoje, com Milei no poder, algo já foi tentado para minimizar o ato defronte o Palácio Presidencial. As avós são irreditíveis. O povo argentino as apóia e com elas segue na luta por dias melhores. Elas representam muito dentro da historiografia de luta e resistência deste país.
Estar aqui é um orgulho. Vivo intensamente o momento e o registro com algumas poucas fotos.
Estar em Buenos Aires, poder circular ainda livremente pela cidade, ainda sem ser barrado, como Milei já propõe, inclusive a entrada na Casa Rosada só de jornalistas e pessoas a dizer AMÉM, aceitando suas condições, é algo bem ditatorial, ao estilo de um desGoverno, sem propostas para o país, com muita repressão e licenciosidade ultra-direitista. Por outro lado, na praça, bem defronte o palácio, a resistência acontece e de forma contundente, sem interrupções. Toda quinta, elas, as avós da Praça de Maio ali estão e não só marcam presença, mas atuam politicamente, num momento onde tudo o que venha a ser demarcado como oposição sofre perseguições. As abuelas resistem...
EU E AS ALPARGATAS ARGENTINAS, ANTIGA HISTÓRIA DE AMORAté alguns anos atrás o domínio era da PAEZ alpargatas con diseño, famosas por aqui e a dominar o mercado de alpargatas mundial. Acabei comprando uma vez e hoje não tiro mais dos pés. É meu pisante preferido, algo inseparável. Todo retorno para cá, comprava mais algumas. Em princípio fáceis de encontrar, pela cidade de Buenos Aires inteira. Depois, foram rareando, mas ainda ssim, conseguia alguns endereços. De uma hora para outra sumiram do mercado e fui saber que, a marca foi vendida para empresários portugueses e, assim sendo, não mais fabricada no país. Num dos locais onde comprava todo ano era uma pequena loja no Caminito e ano passado, encontrei ainda algumas da Paez, as últimas existentes e já uma nova marca a substituí-la, a NIPA. A qualidade é praticamente a mesma e assim sendo, já tenho algumas com essa bandeira. Ano passado fui pela primeira vez em Portugal e na cidade de Lisboa, achei uma loja da PAEZ. Trouxe uma, com algo diferente das que comprava na Argentina, ou seja, a fabricação portuguesa alterou alguns detalhes. Neste ano, cliente da loja do Caminito fui lá e não vendem mais. Desolado, pesquisei pelo google e encontrei um endereço na calle Armenia. Fui lá e comprei duas, poucas unidades e alguma explicação do Pato, o comunicativo faz tudo da loja e fábrica. Diz tudo estar em plena transformação e talvez, pintando no mercado algo novo, uma nova marca, algo além da NIPA, mas englobando a sapiência adquirida em fazer alpargatas, numa nova concepção. Pediu para acreditar que, em breve, algo novo estará disponível e em vários pontos, com a mesma agilidade com que encontrava as das PAEZ no passado. Trouxe o cartão com o contato do Pato, feliz da vida com duas para o dia-a-dia , ou seja, pisantes garantidos para mais um ano e assim sendo, sigo, calçando o que me faz bem, sempre uma boa alpargata nos pés.
HOJE SE FOI UM BAITA AMIGO, DANIEL CARBONE, 65 ANOSDaniel é meu amigo dos tempos de adolescente. Tenho lembranças de quando íamos juntos, caminhando pela beirada do rio Bauru, adentravámos a estação da NOB, atravessávamos toda a esplanada de trens e íamos parar na Escolinha da Rede, onde estudávamos. Ele estava alguns anos na minha frente, não éramos da mesma classe, mas a prosa nas idas e vindas juntos foram para mim algo engrandecedor dentro daquele meu período de vida. Ele morava na rua São Gonçalo, algumas quadras acima do rio e eu do outro lado da margem. Marcavámos e o encontro se dava na ponte, assim seguíamos até a Escolinha.
Hoje revivi isso tudo, pois logo pela manhã sua esposa, a Maria Carbone através do whats dele me comunica seu falecimento. Foi um choque. Ultimamente conversava pouco com ele, pois ele se foi de Bauru ainda jovem, deixando para trás um emprego na Rede Globo, quando foi cinegrafista, tudo para fazer vingar outro sonho, o de ganhar o mundo numa outra estação. Desde então, voltava sempre pra cá, pois seu irmão até hoje está com um escritório de contabilidade ali perto do Senai. Fui algumas vezes para lá, me hospedando em sua casa, sempre cheia de pássaros - como gostava de pássaros. A intimidade concebida quando jovem perdurou e entre eu e ele sempre revelações que a gente leva para túmulo. Quantos sonhos dividimos juntos, nas conversas e planos, alguns realizados, outros interrompidos e deixados para trás.
Pois o danado se foi hoje, aos 65 anos, um só há mais que eu. Quando a notícia chegou, parei na rua onde estava, me enconstei numa árvore e fiquei a pensar nele e no nosso tempo de juventude, algo já se esvaindo até da memória. Estou muito triste. Fiquei devendo algumas visitas em sua casa, sempre adiadas e nunca realizadas. Com ele se vai junto parte de uma fase de minha vida, quando dividíamos sonhos em comum e trocavámos figurinhas juntos, as conversas tão próximas e tendo como pano de fundo, sempre a esperança, o sonho de construir algo sólido. Ele chegou lá, foi professor uma vida inteira, escola pública, depois com sua loja de rações para animais e tudo o mais na cidade que o recebeu, São Bernardo do Campo. Cá estou neste momento olhando lá para trás e relembrando o grande amigo que hoje se foi.
Hoje revivi isso tudo, pois logo pela manhã sua esposa, a Maria Carbone através do whats dele me comunica seu falecimento. Foi um choque. Ultimamente conversava pouco com ele, pois ele se foi de Bauru ainda jovem, deixando para trás um emprego na Rede Globo, quando foi cinegrafista, tudo para fazer vingar outro sonho, o de ganhar o mundo numa outra estação. Desde então, voltava sempre pra cá, pois seu irmão até hoje está com um escritório de contabilidade ali perto do Senai. Fui algumas vezes para lá, me hospedando em sua casa, sempre cheia de pássaros - como gostava de pássaros. A intimidade concebida quando jovem perdurou e entre eu e ele sempre revelações que a gente leva para túmulo. Quantos sonhos dividimos juntos, nas conversas e planos, alguns realizados, outros interrompidos e deixados para trás.
Pois o danado se foi hoje, aos 65 anos, um só há mais que eu. Quando a notícia chegou, parei na rua onde estava, me enconstei numa árvore e fiquei a pensar nele e no nosso tempo de juventude, algo já se esvaindo até da memória. Estou muito triste. Fiquei devendo algumas visitas em sua casa, sempre adiadas e nunca realizadas. Com ele se vai junto parte de uma fase de minha vida, quando dividíamos sonhos em comum e trocavámos figurinhas juntos, as conversas tão próximas e tendo como pano de fundo, sempre a esperança, o sonho de construir algo sólido. Ele chegou lá, foi professor uma vida inteira, escola pública, depois com sua loja de rações para animais e tudo o mais na cidade que o recebeu, São Bernardo do Campo. Cá estou neste momento olhando lá para trás e relembrando o grande amigo que hoje se foi.
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