sábado, 20 de julho de 2024

BAURU POR AÍ (229)


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Tudo tem começo, meio e fim. Pois bem, minha curta viagem pras terras argentinas chega ao fim. Foram oito intensos dias, vividos ao meu modo e jeito. Enquanto Ana Bia num Congresso Acadêmico, que neste ano não participei, estive nas calles fazendo o mais gosto por onde esteja, bater perna, ver e conhecer lugares e pessoas. Já conheço quase todos os museus portenhos e neste ano, os deixei de lado, pois queria ruar muito. O tempo sempre é curto demais da conta pra quem quer circular. A metrópole diante de si e você podendo escolher, de suas tantas possibilidades, algumas a lhe preencher o tempo. E em alguns casos, mesmo com agenda pré-concebida, tudo acontece ao contrário, pois o inusitado se apresenta e daí, o roteiro vai pras cucuias e algo novo se apresenta, se impõe e tudo de novo diante de si.

Redescobri por alguns dias algo dos detalhes nunca antes observado numa cidade grande. A observando em seus mais mínimos detalhes, algo sempre surpreende e desta feita, impossível não destacar a miséria humana se ampliando e ocupando espaços urbanos, em algo muito doloroso, primeiro para quem nele está inserido e depois, para quem não veio somente em busca de atrações turísticas e sim, também em tentar entender deste momento conflitivo por que passa o país hermano e tão querido por mim. Não escondo de ninguém, possuo imensa admiração por tudo o que representou pra Argentina, gente como Che, Perón, os Kirchner, tanto Nestor como Cristina e agora, a esperança sendo depositada em Axel Kicillof, o administrador peronista da província de BA e, talvez - tomara - seu futuro presidente.

Na cidade, o antagonismo está presente e lantente. De um lado, uma prefeitura e o governo federal, ambos odiosos, nojentos e asquerosos, representando o retrocesso ultra-direitista e por outro, algo novo, sério, competente e com compromisso popular, representado por Axel e tentando fazer na província, sendo bloqueado em quase tudo por Milei. Um não faz e por outro lado, impede o outro de fazer, dificulta seu caminhar. E quem padece mais é o povo, cada vez com sua renda mais reduzida, encurralado por uma repressão progressiva, com policiais armados por todos os lugares, prontos para reprimir qualquer tipo de manifestação - dois se encontram presos sem justificativa para tanto - e não atendendo em nada suas necessidades básicas. O povo passa fome, evidente isso nas expressões dos empobrecidos cidadãos, enquanto Milei, não governa, mas viaja de um país a outro, só eventos da ultra-direita, sem um programa que pense em solucionar o triste momento.

Optei por rever pessoas queridas, todas envolvidas na resistência. Queria ter ido para o Uruguai, tentar uma entrevista com Mujica, mas ele, muito deonte, está muito reservado. Fiquei e depois, a intenção era ir ver se conseguia uma boa matéria com a bauruense foragida, a protegida e mantida pela ultra-direita brasileira, que fugiu e montou em La Plata, um abrigo para outros igual a ela. Uma casa abrigo para foragidos da lei brasileira, todos bolsonaristas e com mais de 15 anos a cumprir nos costados. Aguardei contato com Adham Marim, lá morador e estudante de Medicina na escola pública. Não consegui e permaneci pela grande metrópole, a observar as modificações visíveis desde a chegada de Milei ao poder.

Nem tudo o que observei pude transcrever por aqui, mas meu livrinho de anotações voltou cheio, de fatos, dados e muitos contatos. Muitos estavam dispostos a conversar e o fizeram, mas também pediram anonimato, pois o país está perigoso e se na Feira de Santelmo, não se vê mais fileteados com a marca peronista, isso se deve ao medo de que, isso ocorrendo, perseguição ocorra. Nos eventos, muitos pedem para falar de tudo, menos de política. Na maioria das vezes, uma esperança coletiva, "vai passar". "Tomara não demore", complementava. Aprendi algo com outro brasileiro por aqui, a de deixá-los falar sobre sua situação e opinar pouco, pois não vivenciando o dia a dia, passo algo do meu entendimento e talvez, desta forma, queira impor meu ponto de vista. Exercitei isso na sua plenitude e o resultado, pretendo colocar no papel nos próximos dias - quando me sobrar tempo.

Acompanhei o que rolava em Bauru como pude, em fragmentos. Vejo que as UPAs continuam uma catástrofe, matando muito gente e sem ainda ser responsabilizada essa inócua administração suellista. Ouvi daqui uma entrevista com Gazzetta na Top FM, manhã de sexta, investido como pré-candidato tendo o PT como referência. Não dá pra engolir. Evidente ter ocorrido, no mínimo um golpe e ele, o pré-candidato ter participado de toda trama. Impossível querer se safar como ingênuo, tendo somente colocado seu nome e este ter sido referendado. Essa história ainda vai render muito e estes meandros, o dos acordos espúrios virão à tona. Se o mesmo não cair em si, não refletir na besteira sendo feita, irá se perpetuar como mais um golpista, diante de outros execrados ao longo de nossa historiografia. Bauru padece de algo novo e evidente, nada virá com um PT dominado por uma só pessoa, tendo até sua direção na macro agindo em prol dos interesses dela e não do todo. Participo do Fora Gazzetta, pois sei dos malefícios embutidos quando da escolha de seu nome. Volto ciente de que, muita água passará por debaixo dessa ponte. Na próxima quarta, 24/7, das 7 às 8h da manhã, o locutor Rafael Antonio abriu espaço na TOP FM, para este grupo, do qual faço parte, possa explicar sua versão dos fatos sobre a punhalada que o PT levou pelas costas. E assim, vou retornando aos poucos para a vida bauruense.

Cheguei de volta no sábado à noite e diante da porta de entrada de minha casa, duas revistas semanais e todos os jornais da semana ali acumulados e a espera de leitura. Passo o domingo desfazendo malas, lendo isto tudo, me inteirando das conversações em curso, tento perambular pela Feira do Rolo, pois ninguém é de ferro e me posicionando aqui e acolá, como sempre fiz. Continuo pela aí e para reflexão final, algo retirado de um pensamento de Oscar Wilde, já antecipando pedido de perdão pelo atrevimento, "eu posso resistir a tudo, menos à tentação". Agora mesmo sou tentado a deixar de lado a escrita e ir correndo pra "calles" desta minha querida aldeia.

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